A Última Chance escrita por BailarinaDePorcelana


Capítulo 52
Parte IV - Capítulo 52 - Cinco Meses


Notas iniciais do capítulo

Ooooi genteee! Como estão? :3
Era para eu ter postado antes de ontem, mas meu pc ta desligando toda hora, e por causa disso eu sempre perdia o que não tinha salvado e tinha que escrever tuuuudo de novo. affe.
Capitulo dedicado a todos os meus lindos leitores. Sem vocês eu não seria nada ♥



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Capitulo 52

Cinco Meses

                      Um mês depois

             Trinta e um dias.

             Esse era o tempo que eu e Ethan estávamos na estrada, e nada de pistas desde a pulseira com o nome Connie gravado jogado perto da mini van em Saint Clarion. Não que eu estivesse contando por querer, mas a cada anoitecer eu pensava mais um dia, e acabava contando. A única coisa boa era o gelo que já tinha se derretido por completo e agora o único frio era o do vento que ultimamente estava mais forte que o normal.

             Nunca me senti tão exposta quanto durante esse tempo, andando pelas estradas sem nenhuma proteção além do carro e ás vezes, nos piores momentos, á pé. E era ainda pior nos momentos em que tínhamos que fugir de zumbis. E ainda pior quando eu começava a passar mal.

             Estava assim desde antes de sairmos, mas se Ethan soubesse adiaria até eu estar bem, então fingi que estava melhor e, quando não consegui mais me segurar e acabei desmaiando, ele quis voltar para me deixar com os outros e continuar sozinho. Depois de uma pequena cena consegui convencê-lo de que não seria a melhor opção e continuamos em frente. Mas ainda sim as palavras que Lori havia me dito no mês anterior martelavam em minha mente como nunca.

             O dia estava no fim e eu e meu querido primo estávamos num mercado no qual grande parte parecia ter sigo destruída num incêndio, mas a outra estava intacta. Inclusive alguns alimentos. Provavelmente porque quem passou por ali pensou que não havia sobrado nada. Pegávamos tudo o que era comestível e que podíamos carregar, além do extremamente necessário. Nossas mochilas, que estavam vazias havia quase uma semana, ficaram estufadas e pesadas, quase impossíveis de carregar. Isso atrapalharia no caso de um de nós ter que atirar, então Ethan ficou com as quatro mochilas e eu com meu arco em mãos, pronta para atirar.

             Estávamos passando pelo ultimo corredor, que estava praticamente incinerado, quando vi uma coisa caída no chão, intacta. Me abaixei para pegar e franzi os lábios diante da caixinha azul. Parecia que a vida estava me empurrando por aquele caminho.

             Numa decisão e coragem repentina, coloquei a caixa dentro da aljava improvisada e tomei a dianteira, saindo do mercado primeiro para conferir se não havia nenhum perigo e fomos para o carro. Abri a porta de trás e Ethan jogou as quatro mochilas no banco e ocupamos nossos lugares ali. 

             - Nós já vamos parar? – perguntei tamborilando os dedos no painel.

             - Em meia hora, pelo menos. – respondeu dando partida no carro – Porque está nervosa?

             - Não estou nervosa. – bufei.

             - Ok. Mas você está estranha.

             Não o respondi, permanecendo calada pelo resto do percurso até pararmos num acostamento.

             - Você dorme primeiro. – falei colocando as pernas sobre o painel.

             - Certeza?

             - Não estou com sono.

             Não costumávamos sair do carro, preferíamos ficar dentro das barreiras de metal e vidro dali que não eram tão fortes, mas com certeza estávamos mais protegidos ali. Normalmente tentávamos contar aproximadamente seis horas, o tempo que tínhamos para ficar ali, durante três eu ficava acordada vigiando enquanto Ethan dormia, e nas outras três fazíamos o contrário.

             Esperei um bom tempo até ter certeza de que ele estava realmente dormindo e então o cutuquei de leve para ver se não acordaria. Ele nem se moveu, então peguei o arco e a bolsa que estava usando como aljava e coloquei sobre os ombros, saindo do carro o mais silenciosamente possível á procura de algum lugar menos á vista. Minhas mãos estavam tremendo enquanto me lembrava da conversa que havia tido com Lori.

             Já não me sentia bem havia dias, e, durante a discussão sobre as novas pessoas ali, meu estômago pareceu piorar se contorcendo e repuxando em todas as direções.

             - Eu vou vomitar – foi a única coisa que consegui dizer antes de sair correndo por entre as árvores.

             Não consegui ir muito além antes de me curvar sentindo tudo o que tinha comido subir por minha. Após colocar tudo para fora, deixando um gosto horrivel em minha boca, continuei na mesma posição arfante, tentando me recompor.

            - Você está bem? - senti uma mão em meu ombro, me amparando.

           - Sim. - respondi me endireitando e sentindo o enjoo passar completamente, encontrando os olhos preocupados de Lori.

           - Podemos conversar?

          Antes que eu respondesse, ela começou a andar e eu a segui. Ela observava o céu como se ele fosse a coisa mais interessante do mundo, e então se virou para mim séria.

          - Devia tomar mais cuidado consigo mesma. - começou - Com você e Daryl. Não se preocupa com sua saúde? Tem sofrido com esses enjoos e quase desmaios constantemente.

           - Mas o que uma coisa tem a ver com a outra? Eu... - e então minha ficha caiu - Quem disse que tenho algo com Daryl?

          - Ah, por favor, eu não sou cega! Enfim, isso não é normal. Devia cuidar de sua saúde. Você tem tido muitos enjoos e tonturas, fome exagerada, dorme a maior parte do tempo... Bem, eu sei do que estou falando. Estou grávida pela segunda vez.

           - O que? Está sugerindo que estou grávida? - minhas voz saiu alguns oitavos mais alta.

           - Não exatamente... Na atual condição de alimentação que temos, e o fato de ter levado dois tiros, me faz pensar que você não esteja grávida. Só estaria com um milagre muito forte. Só quero que pense bem, e tome cuidado. Não pense que só porque estamos no fim do mundo coisas como gravidez não possam acontecer. Não cometa o erro de pensar dessa forma como eu. Não quero que passe pelo que estou passando, que corra os riscos que vou correr. As chances de eu sair bem dessa são poucas. Só... Tome cuidado. O problema não é o ato, são as consequências.

           Revirando a caixinha nas mãos, desejei ter escutado Lori e ter tomado mais cuidado. Ou não ter dormido com Daryl. Fazia exatamente um mês e os sintomas estavam ficando cada vez mais fortes. Tinham começado poucos dias antes, mas pareciam durar uma eternidade. Desejei ter tomado mais cuidado naquela noite, mas é lógico que não diria "pode esperar só uma ou duas horas até eu ir numa farmácia pegar camisinhas?". Apenas... Aconteceu.

              Fiz o que as instruções da caixa mandavam e coloquei a palheta por cima da caixa no chão, me sentando do lado, pronta para esperar os cinco minutos para o resultado. Não sabia o que queria que fosse, e estava preocupada. Meu coração estava acelerado e deseja que o tempo passasse rápido, mas nem todos os nossos desejos podem ser atendidos.

              Os cinco minutos - que na verdade contei seis, como precaução - se passaram devagar e a cada segundo me sentia mais irritada. Quando finalmente deu o tempo já não sabia mais se queria saber o resultado. Minha mão estava estendida a centímetros do teste, mas não conseguia fazê-la se mover mais. Mordi os lábios com a respiração arfante. Meu coração batia tão rápido e alto que parecia que meus ouvidos e meu peito iriam explodir. Me obriguei a pegar a palheta e a caixa para interpretar o resultado. Quando achei o resultado na caixa, senti meus olhos se enxerem de lágrimas e meus lábios tremerem.

             - Delilah? - ouvi uma voz me chamar, mas não tinha como responder; estava sem voz - Delilah, o que você... Ah, não. Só pode estar de brincadeira. Por favor, me diga que isso não é um teste de gravidez. Ou que pelo menos não está gravida.

             Um soluço irrompeu por meu peito ecoando pelas árvores e a grama. Até o vento deve ter sentido a intensidade da minha dor naquele momento.

             - Lia, por favor, responda. Está grávida? - sua voz estava á beira do desespero.

            - Não. - consegui responder entre um soluço e outro, com a voz fraca.

            - Então porque está chorando? - perguntou dessa vez tranquilo, mas ainda confuso.

            - Eu não sei.

            Na verdade eu sabia muito bem. Só não sabia como explicar que queria estar grávida, mas não queria. Queria poder segurar o meu bebê em meus braços, ver os olhos de Daryl em seu rosto. Eu queria ter um filho. Mas não dessa maneira, não nesse mundo. Era como fazer uma pequena criatura pagar pelos pecados que não tem. Com isso em mente me peguei perguntando a mim mesma se Lori nunca pensou em aborto. Eu pensaria, embora nunca fosse conseguir fazer algo desse tipo. E também como Rick reagiu, e como Daryl reagiria. Talvez ficasse furioso e quebrasse tudo á sua volta, ou passasse a me evitar e ignorar.

               - Venha, vamos embora. - Ethan passou os braços por meus ombros me ajudando a levantar - Vou voltar a dirigir enquanto você dorme. Próxima parada St. Louis.

               Assim que chegamos no carro desabei no banco e me encolhi num choro silencioso, que durou até eu cair no sono. E essa foi a melhor coisa que me aconteceu o dia inteiro,

                      Cinco meses depois

               O tempo passa tão rápido, e é tão frustrante.

             Cinco meses de busca e nada. Nenhuma pista. Apenas a casa da vovó Eleanor revirada, nenhuma roupa nos armários, a caixa de lembranças sumiu. Provavelmente alguém havia saqueado, mas quem levaria uma caixa de lembranças? Talvez os outros tivessem chegado antes e ela estivesse viva juntamente com eles.

             Mas, também, depois desses cinco meses, eu e Ethan ficamos cansados. Precisávamos de  um descanso. Nosso plano era encontrar o grupo e ficar com eles até decidirmos se voltaríamos a procurar nossa família ou não, mas havia uma falha. Não saíamos onde eles estavam. Talvez em Powder Springs realmente tivesse um lugar seguro para ficar, e ali seria nosso ponto de partida. Mas a partir dala nada era seguro.

               Nesse meio tempo muitas coisas acontecerem. Quase morremos um milhão de vezes, e eu duas vezes  a mais, e  elas foram por causa do meu cabelo, motivo pelo qual logo pedi para Ethan cortá-lo*, deixando-o alguns centímetros acima do ombro. Nunca havia usado ele tão curto, mas era algo não questionável. Era apenas necessidade. Tínhamos que abrir mão de certas coisas, e uma delas era do livre arbítrio, além de amadurecer. Era completamente impossível viver no caos sem crescer. 

                Outro acontecimento foi um certo carro que começou a nos seguir por todo o país. Não o víamos sempre, mas de vez em quando podíamos vê-lo passando lentamente em frente á casa onde ficamos para descansar, ou na rodovia onde estávamos estacionados para passar a noite. Tentávamos fugir a todo custo, mas não importava o que fizéssemos aquele maldito carro prata com linhas pretas nas laterais sempre voltava.

                   Mas, no momento, eu e Ethan estávamos no porão de uma casa abandonada aos arredores de Atlanta - estávamos a caminho de Powder Springs - , ele limpando nossas armas, enquanto eu me contorcia por dentro. Infelizmente existe uma coisa horrível chamada cólica, também conhecida como amostra grátis do parto, que complicava tudo, principalmente quando era necessário se mover; isso é necessário para fugir de zumbis. Então preferimos fazer uma pausa num lugar escondido.

                       - Eu vou procurar uma farmácia. - Ethan bufou se levantando com sua arma e meu arco (ele era melhor que eu em atirar flechas).

                        - Não é preciso. - falei mesmo que eu gritasse "vá logo!" por dentro.

                        - Está sentindo dor, e você parece um bebê quando está assim. - ergueu a sobrancelha pegando uma mochila.

                       - Anda logo então, imbecil. - falei me encolhendo no colchão estendido ali.

                       Fechei os olhos e a única coisa que ouvi de Ethan foi a porta do porão sendo aberta. Depois disso fiquei simplesmente deitada ali, com os pensamentos vazios tentando ignorar a dor e cantarolando algumas músicas.

                        Não sei quando dormi, mas sabia que estava sonhando quando vi a cidade á minha volta, muitas pessoas caminhando, rindo, vivendo. Mas, ao fundo, havia uma cerca de arame e atrás dela algumas pessoas choravam sobre inúmeros corpos sem vida. Olhei para as pessoas rindo e andando á minha volta em perguntando se não estavam vendo aquelas pessoas precisando de ajuda. Os chamei, gritei, tentei puxá-los para a cerca, mas eu era inútil - como sempre fui. Nervosa, fui sozinha para a cerca tentar ajudar as pessoas do outro lado, mas parei assim que vi. Aquelas pessoas eram os meus amigos. Amigos que choravam por outros amigos mortos. Todos mortos. Ethan, Lola, Carol, Carl, Lori, Dennis, Mellany, Daryl, Beth, Glenn, Herschel, Ariane, Matt... Todos mortos. E mais á frente estava eu, chorando sobre o corpo de minha mãe, Damen... Kalem. Meu coração disparou e eu não conseguia mais respirar. E então era eu ali do outro lado da cerca encarando os corpos sem vida, mas dessa vez todos estavam mortos. Todos. Todos.

                         Abri os olhos assustada, arfante. Era normal ver mortos andando por aí. Mas nunca conseguiria ver alguém que conheço  morrer. Não aguentaria perder ninguém. Já tinha perdido tanta gente, sofrido tantas vezes. Se acontecesse novamente estaria completamente quebrada.

                      Sentei no colchão e me levantei sobre ele um pouco sonolenta. Dei um passo, para ir para o chão, e acabei caindo nele. Não me lembrava no colchão ser tão alto. Me levantei esfregando o braço no qual tinha caído e olhei em volta. Não estava mais no porão. Era um quarto simples, com paredes de pinturas azuis, do tipo para espantar abelhas carpinteiras. Estava bem cuidado, sem poeira ou qualquer coisa que indicasse que estava desocupado, como a maioria dos lugares parecia. A cama tinha vários travesseiros e um lençol florido a cobrindo. O armário de madeira branca com pintura de pássaros negros tinha a camiseta e a calça jeans que estava usando penduradas na maçanetas. Mas elas não deviam estar no meu corpo? Olhei para baixo e usava uma blusa rosa com bolinhas - ou seilá o que era aquilo - verdes e um short jeans, meias e sem nenhum calçado. Não gostava de shorts, me sentia mais exposta, com mais possibilidade de ser mordida. Mas ali não tinha nenhum zumbi. Eu acho. Mas no momento o que mais me intrigava era: quem tinha trocado minhas roupas?                

                     Dei uma volta pelo quarto procurando alguma pista de onde estava. Peguei um par de tênis que estavam perto das minhas mochilas - e as de Ethan, que tinham sido levadas juntas - e, da janela, podia ver apenas outra casa, essa com uma aparência abandonada, deteriorando, o sol forte quase me cegando. Não fazia a mínima de onde estava. 

                    - Está melhor? - uma voz falou da porta.

                   Franzi as sobrancelhas em reconhecimento e me virei, encontrando o homem escorado na porta, os olhos azuis me encarando tão profundamente que estava quase me sentindo nua. Eles continham tantas lembranças minhas que não sabia o que sentir, então fiz a primeira pergunta que me veio á cabeça:

                   - Como ainda está vivo?  


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Notas finais do capítulo

*coloquei essa foto só pra mostrar mais ou menos o comprimento do cabelo.
E então, quem é? -v-
Quem mandou personagens e ainda não mandou foto, ou ator/atriz, artista, para "representar" ele, podem mandar ainda! sz
Gatos e gatas, beijos e até a próxima ♥