Capitulo 5

Um Visitante

           A preocupação que tomava meu corpo me impulsionava a andar de um lado para o outro. Já eram duas da manhã e nada da Emma.

           - Devíamos ir atrás dela. – falei olhando pela janela pela milésima vez.

           - Mas ela pode ter sido pega... Não podemos nos arriscar desse modo. – Ethan falou tranquilamente como se isso não fosse nada. Olhei-o incrédula.

           - Mas nós temos que ir. – insisti e ele revirou os olhos.

           - Lia, escute. Temos duas crianças aqui que dependem de nós. Não podemos nos arriscar desse modo. Se Emma estiver bem, ela voltará, se não...

           - Então porque me acordou? Para me deixar desesperada? – indaguei com raiva. – Se não quiser ir, eu vou. Você pode cuidar deles.

           Ethan apenas me ignorou, se espalhando pelo sofá. Ficamos algum tempo em silêncio, até que uma voz diferente ecoou pela sala.

           - Se permitirem posso ir procurá-la.

           Olhei para Savannah e, apesar de sua proposta ser sincera, em seus olhos era evidente o apelo desesperado de que não aceitássemos. Dei o melhor sorriso que podia e neguei com a cabeça. Mesmo que ela realmente quisesse ir, não deixaria. O sumiço de Emma era uma responsabilidade minha e de Ethan.

           Depois de mais um hora de espera, minha mente já estava viajando pelos lugares mais estranhos, ponderando situações em que Emma poderia estar. Ela poderia ter se perdido, talvez se machucado, quem sabe ter ido muito longe para buscar as ervas e ainda estar voltando. Talvez ela tivesse ido á cidade, o que eu odiei imaginar, pois se ela tivesse ido para lá... Bom, não haveria motivo para procurá-la.

           Balancei a cabeça tentando expulsar todos os pensamentos ruins e voltei me levantei no sofá, recomeçando a andar. Sem mais o que fazer, fui para o meu quarto. Fiquei por algum tempo mexendo em tudo, trocando de lugar, apenas para manter minhas mãos e quem sabe minha mente ocupada. Quando me cansei de toda aquela preocupação sai do quarto pronta para encarar Ethan para que fôssemos procurar Emma, uma mão puxou minha blusa, me assustando. Quando me virei, vi Kalem coçando os olhinhos com a mão.

           - Lia, vai na cozinha comigo? Eu ‘tô com medo de ir sozinho. – ele falou com a voz sonolenta.

           - Claro, lindinho. – falei pegando sua mão, sentindo um nó estranho na garganta, que não era de choro.

           Emma teria que me perdoar, mas eu não poderia nunca deixar Gael e Kalem ali daquele jeito. Eu a amava como se fosse minha mãe, mas aquelas pequenas crianças eram meus irmãos. Eu havia ajudado a criar eles, tinha um afeto que poderia ser comparado ao de uma mãe.

           Fui com ele até a cozinha e o ajudei a pegar um copo de água. Levei-o de volta para o quarto e lhe dei um beijo na testa. Voltei para a sala me sentindo completamente desesperançada.

           - Você está bem, Delilah? – Savannah pediu franzindo a testa, preocupada.

           Suspirei, sem saber a resposta.

           - Estou sim. – optei pela resposta que renderia menos assunto.

           Sentei-me ao lado de Ethan e encostei em seu ombro. Só então percebi como estava cansada. Fechei os olhos por um segundo sendo tomada por uma completa escuridão, e quando os abri novamente tudo estava diferente.

           O sol já estava nascendo e eu estava deitada no colo de Ethan, que também dormia. Olhei em volta vendo Savannah acordada sentada na poltrona enquanto brincava com uma faca.

           - Alguma coisa? – perguntei a ela me referindo a Emma.

           Nesse momento, o portão foi acionado e eu me levantei num pulo, fazendo Ethan acordar assustado, já empunhando sua arma por reflexo. Quando viu o motivo de minha agitação, arregalou os olhos e correu para a porta, destrancando-a, e fez o mesmo com a grade.

           Corri junto com ele pelos oito degraus - que naquele momento pareceram bem mais que apenas oito – me agarrei ao seu Graco, ansiosa.

           Logo o portão abriu completamente, revelando Emma. Mas ela não estava sozinha; havia com ela um homem.

           Ele tinha cabelos castanhos, olhos claros – não sabia se azuis ou verdes – e aparentava ter um pouco mais que trinta anos. Sua roupa estava suja – assim como sua pele – e com algumas partes rasgadas.

           Ethan me parou antes de conseguir seguir em direção á Emma e se colocou á minha frente, a arma segura em sua mão. Os olhos do homem estavam na arma, mas ele não aparentava estar preocupado.

           Emma passou á frente do homem e veio correndo em nossa direção. Ela parecia cansada e em alguns locais seus braços estavam arranhados. A mulher veio diretamente a mim, me abraçando forte.

           - Onde você estava, Emma? – perguntei ainda abraçando-a – Quase tive um ataque!

           - Me desculpe. – ela  pediu envergonhada – Mas eu andei demais, e nem percebi que havia me distanciado demais da casa, e não tinha levado nenhuma arma. E quando trombei com alguns... Você sabe o que... Eu fiquei assustada e corri, mas aquele homem me ajudou.

           Ela se virou para o homem sorrindo, e ele apenas correspondeu com um aceno de cabeça.

           - Rick Grimes. – Ele se apresentou, oferecendo a mão.

           Ethan continou olhando-o desconfiado, então dei um passo á frente, apertando sua mão.

           - Delilah Valentine.

           Ele acenou com a cabeça novamente.

           - Agora que já sabemos seu nome, já pode ir. – Ethan falou ríspido. Revirei os olhos e sorri para Rick.

           Ele parecia ter algo a dizer, e acho que Emma também percebeu.

           - Ele tem algo a falar com vocês.

           Voltei a atenção para Rick, acenando para ele falar.

           - Bem, há um assunto que gostaria de tratar com vocês. – ele finalmente falou, olhando para mim.