A Gaiola de Prata escrita por Débora Falcão


Capítulo 9
Abrindo os Olhos




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Fiquei parada um tempo, apenas escutando. Eu podia ouvir tudo. Era incrível e terrível. Eu ouvia passos dentro do lugar onde eu estava. Parecia uma sala, não sabia. Eu ouvia passos do lado de fora. Um grito de horror, parecido com os meus, ao longe.

Eu ouvi alguns passos se aproximando de onde eu estava. E uma mão macia acariciando a minha. Era macia para mim, pois eu sabia que minha pele e a de quem quer que estivesse me tocando eram duras como pedra.

Eu percebi que o indivíduo se curvava em minha direção, pois eu senti o ar se movimentar, e pude perceber o hálito que eu já conhecia em minha direção.

"Lisa." a voz musical falou. "Acorde, Lisa."

Respirei fundo. Um movimento inútil. Abri os olhos devagar.

Era incrível poder ver tão bem. Eu já esperava uma visão espetacular, mas eu não sabia que seria assim. Eu podia ver tudo. Estava escuro, mas para mim não fazia diferença. Eu via claramente as feições lindas do homem à minha frente.

"Rilley." eu constatei.

"Você ficou linda, sabia?" ele disse despreocupadamente.

Eu senti uma ira invadir meu ser. Linda? Ele disse que eu fiquei linda? Eu já sabia! Ele havia me transformado e era somente isso o que ele tinha para me dizer?

Ele percebeu minha mudança de humor.

"Olhe, eu não queria te transformar. Eu estava caçando e você me pareceu uma boa caça. Eu já tinha desistido disso quando você se agarrou a mim. Eu não podia resistir ao seu cheiro... eu quase não parei e então, quando vi que você ia morrer, eu simplesmente não podia deixar."

Eu olhava para ele. Ele esperava que eu estivesse surpresa?

"Você sabe o que aconteceu?"

Eu suspirei. Outro movimento inútil.

"Sim. Eu sei o que você é, e o que eu me tornei agora."

Ele me olhou intrigado, mas não disse nada.

"Você deve estar com sede." ele falou.

Era como enfiar um ferro quente em minha garganta. Eu estava com sede. Mas eu sabia no que isso implicava. Matar pessoas, e eu não podia permitir isso.

"Onde estamos?" eu perguntei, a queimação acabando comigo.

"Nas redondezas de Seattle, fora da cidade."

Fora da cidade, perto da floresta. Me levantei com um salto, quase não dava para acompanhar o movimento. Simplesmente eu estava deitada e, no segundo seguinte, de pé. Mas eu acompanhei cada detalhe da mudança, até as partículas de poeira à minha volta quando me movimentei.

Rilley deu um pulo para trás e eu sabia porquê. Eu era mais forte. Eu era uma recém-nascida.

"Lisa..."

Eu não o dei tempo para falar. Sem precisar inspecionar a sala, eu, com minha visão periférica, já tinha visto uma grande janela à minha direita. A sala estava repleta de camas e colchões velhos, alguns sofás. E tinham muitos, muitos deles. Muitos de nós.

Eu corri feito um raio para a janela. Tudo o que eu queria era sair dali.

Então, fui para a noite, para a floresta.

Eu precisava caçar.


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