Só Mais Uma Vez escrita por Anna Liberatori


Capítulo 14
Capitulo 13- Uma Alma Dilacerada


Notas iniciais do capítulo

Voltei, zamores :* E o próximo capitulo já está com meio caminho andado! Uhul! Esse ficou um pouco maior que o normal, eu gostei bastante. Vou tentar fazer Capítulos assim, só não sei se consigo haha Nele eu tentei expressar algumas idias minhas por meio das personagens, eu gostei bastante rss Espero que vocês também gostem!



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A noite chegou logo, junto ao sono, mas dormi apenas por uma hora. Meus olhos não se cerravam, meus pensamentos não se inquietavam, meus cortes ardiam. Era quase prazeroso, um tanto masoquista. Mas entendam, quando doía muito, eram as únicas vezes que meus pensamentos ficavam em segundo plano. Quando adormeci, foi um sono leve, tive uns sonhos esquisitos, assustadores, tristes e principalmente, confusos. Acordei com o primeiro alarme do despertador, em um pulo só. Estava suando, com enormes olheiras e meus olhos ardendo, prestes a chorar. Me levantei, coloquei o uniforme e um casaco mesmo estando um dia quente (para esconder minhas novas cicatrizes) e sentei na cama. Meu olhar estava perdido, o dia ainda estava amanhecendo, eu ouvia os pássaros cantando, mas eu meus ouvidos, suas melodias soavam como ruídos mal definidos, fazendo minha cabeça, cada vez mais, doer e latejar. Eu estava deplorável.

Cheguei cedo na escola. Ainda havia poucas pessoas. Fiquei sentada, olhando pro nada. Por algumas vezes, achei que tivessem pessoas olhando para mim. Tanto faz, isso realmente não me importava no momento. Eu estava em transe, e só sai dele quando Ale chegou:

–O que houve com você?!

–O que?- Falei em tom relapso, lento e confuso.

–Como o que?! Olha pra você!

–O que tem?

–Está acabada!- Eu olhei pra ela de uma forma que dizia "Sério?! Nem havia percebido."- Vem, vamos te arrumar antes que o Pedro te veja.

–Como?

–É, ele não pode te ver assim! Vai pensar que tem você na mão, vai pensar que está horrível pelo que ele fez.

–E não estou?- Ela olhou pra mim com certo espanto.

–É, mas ele não precisa saber disso. Prove a ele que você é superior, que não se importa com ele.

–Mas eu me importo.

–Mas ai ele vai ver que pode brincar facilmente com você!

–Pelo amor de Deus, Alessandra! Acha que estou mesmo ligando pra isso? Tá parecendo uma adolescente de 13 anos! Seu tempo com aquele grupinho te fez mal para a cabeça?!- Ela parou, me olhou, sentou do meu lado e recostou no meu ombro. Ficamos olhando para o nada. Acho que o contrário que deveria acontecer, eu que devia me recostar nela, mas a inocência daquele momento, a simplicidade dele, foi boa. Talvez ela estivesse precisando disso... Será que eu tenho me esquecido muito dela? Será que eu a fiz se sentir mal? Quando citei o período que ela passou com aquele pessoal? Será que... Bom, até que é verdade o que ela falou. Por mais que isso não me importe muito, talvez seja importante pra ela.- Tudo bem, dê um jeito na minha cara.- Dessa vez ela me puxou e foi correndo para o banheiro.

Passou um milhão de coisas na minha cara, minhas olheiras ficaram quase invisíveis, meu rosto estava bem mais apresentável. Nunca imaginei que maquiagem pudesse fazer um milagre desses. "Pronto, agora é só sorrir e fingir que está bem quando ele for falar com você.", ela disse como se fosse a coisa mais simples do mundo.

–E esse casaco? Está quente.- Olhei pra ela, ela entendeu. Me abraçou por um longo tempo, beijou meu rosto e me olhou. Segundos depois, ela me deu um tapa na cabeça e disse -Você não precisa disso.- Sorriu e me abraçou novamente. Foi a primeira coisa que me fez abrir um meio sorriso aquela manha.

O sinal bateu e fomos para a aula. Finalmente eu consegui dormir. Essa professora mal comida bem que podia me dar aula a noite. Bateu o sinal do intervalo, um colega me acordou. Eu olhei para ele com cara de sono e com a maquiagem meio borrada e agradeci por avisar. Mas porra, ele tinha mesmo que me acordar? Arrumei o cabelo, limpei um pouco da maquiagem. Estava guardando meu material quando Pedro chega:

–Ah, oi! O que houve com você?! Te liguei várias vezes, deixei recado no seu facebook, até pra Alessandra eu mandei uma mensagem! Estava preocupado com você.- Ele parecia agitado e confuso. Eu apenas olhei pra ele com irritação.- O que houve?! O que eu fiz?! Eu juro, seja o que for, não queria te magoar, não queria mesmo! O que foi que eu fiz?!

–Nada.- Sorri e sai da sala. Ele ficou. E ficou com uma cara de decepção. Ele acha mesmo que sou tão idiota?

***

–Ele veio falar comigo.- Contei indiferentemente para Alessandra. Apenas achei que ela gostaria de saber.

–E ai?!

–Ele me perguntou o que houve. Falou que tava preocupado comigo e blá blá blá. Ele te mandou mensagem?

–É... Mandou.

–E por que você não me falou?

–Achei desnecessário.

–Ok, vou no banheiro.

Andando pelo corredor, esbarrei em uma menina.

–Desculpa.

–Tudo bem.- Eu conhecia aquela voz!

–Espera.

–Oi?

–É você... É você que estava no banheiro aquele dia. Você entrou chorando.

–Como assim, Amanda?- perguntou seu amigo, que estava ao lado dela.

–Eu não a conheço, nem sei do que ela está falando.- Falou em resposta a ele.- Me desculpe, mas está me confundindo. Não sou eu.- E saiu andando.

Fiquei parada, olhando para a menina se afastar. Eu tenho certeza que é ela. Pelo menos agora sei quem é. Magra, muito magra, cabelos escuros, compridos e ondulados, se chamava Amanda. Muito bonita, pra falar a verdade. Sei também que tem um amigo que anda com ela, ou pelo menos é o que parecia. Agora só falta encontra-la novamente nesse mar de gente.... O resto da manha correu bem. Pedro tentou falar comigo mais umas duas vezes, voltei pra casa normalmente. Finalmente meus pensamentos se desligaram um pouco do Pedro. Agora o que dividia espaço com ele, era essa tal misteriosa garota.

Antes de dormir, abri meu armário e peguei minha lâmina. Eu não precisava daquilo, mas eu queria. "Só mais uma vez", falei pra mim. E lá fui eu. Fiz mais um corte em minha pele, apenas um. Mas fiz. O sangue escorreu pelo meu pulso, doce e suculento. Como uma pesada lágrima que insistia em cair.

O resto da semana passou dolorosamente normal. Algumas ligações do Pedro, alguns novos cortes, algumas promessas quebradas, noites de insônia e alguns sermões e palavras de apoio da Ale. Tentei procurar a misteriosa Amanda, olhei pelos corredores, pelas salas de aula, procurei até pelo amigo dela. Sem sucesso, desisti... E foi a melhor escolha que eu fiz: estava arrumando minha mochila, quando ela aparece na porta da minha sala de aula.

–Oi...

–Oi!- Levei um pequeno susto, porém falei em tom um pouco animado e dei um pequeno sorriso.

–Era eu sim. Boa percepção. Me reconheceu apenas pelo meu "tudo bem" quando esbarrou em mim.

–Ah, seus sapatos ajudaram também. Belos tênis velhos.

–Obrigada. São bastante confortáveis. Está melhor?

–Não. E você?

–Estou vivendo. Prazer, Amanda.

–Sou Alice.

–Gosto desse nome.

–Obrigada. Também gosto.

–Você deveria parar com isso.- E apontou com os olhos para meus pulsos.

–Não, jura?!- Nós rimos.

–Sim, eu juro. Você não precisa disso. Agradeça pelo que você tem. Fiquei sabendo de você, é bem conhecida na escola...

–Infelizmente.- Falei interrompendo-a.

–Pode ser, mas é. Só você pode mudar sua vida. Muitas vezes eu preferiria ser você.

–Bom, eu duvido muito. Só um louco iria gostar de ser eu.

–O que coincidentemente, eu sou.- Ela deu uma breve pausa e continuou.- Sua vida, muda a todo instante. As coisas acontecem para você. Sejam elas boas ou ruins, elas acontecem. Tem graça viver sua vida. Mesmo que o gênero não seja comédia, e sim drama, é um filme que se pode assistir.

–O que quer dizer com isso? Minha vida está uma merda.

–Exato. Ela está, não é. Acredite, no fim, isso terá um final feliz. Me corrija se estiver errada: passou um tempo de sua vida inerte, mergulhada em suas tristezas, até que tudo se agitou, você melhorou por um tempo, e agora as coisas estão fodidas novamente, certo?

–Sim.

–Pois é. A minha ainda está no início. E sempre estará. As coisas não acontecem como mágica para mim. Sei que para você nunca havia acontecido, mas aconteceu, comigo não. Ainda estou consumida por meus demônios, e ninguém tem a menor noção disso. Nada, absolutamente nada muda para mim. Não tenho momentos bons, e nem momentos ruins. O mal não pode existir sem o bem, e para mim não tem o bem. Tenho nada. Tenho o tédio, a ausência. Nada tem graça, nada tem um motivo, uma razão, um porquê. Muito menos minha vida.

–Já reparou que nada é imutável? Os continentes se movem, as coisas se deterioram. Nada nasce igual ao que morre. Você poderia contestar "E o amor? Não pode ser eterno?" Claro que pode. Porém nunca igual. Sempre tem suas mudanças. Em algumas fases você não quer largar, em outras você não quer nem ver a cara da pessoa. Porém continua sendo amor. Encontro apenas 3 exceções a isso: o passado, a morte e cálculos. Porém todas as três são relativas. O passado não vai mudar, mas uma lembrança nunca é igual a outra; você pode ter problemas de memórias e essas se modificarem, então para você, o passado será diferente (por mais que ele não mude). A morte também não há como mudar, porém, você pode fantasiar, afinal, quantas são as pessoas que não querem acreditar na morte de um ente querido e criam um mundo apenas delas, onde talvez, essa pessoa nunca tenha existido; pode também ter doenças mentais e não se lembrar, então para você a morte dessa pessoa nunca existiu (por mais que tenha acontecido). E entramos nos cálculos... 1+1 sempre será 2. Porém, se somar uma barra de chocolate de 500g e uma de 250g, poderá ter uma barra e meia em relação a de 500g ou três barras em relação a 250 (por mais que ainda tenha 2 unidades, não importando sua medida). Logo, se nada é eterno e tudo é relativo, por que sua dor seria eterna?

–E então, por que continua fazendo isso consigo mesma?

–Porque é a forma com que lido minha dor de agora.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! :*