A Canção De Hohen escrita por MrMartins


Capítulo 16
Cidade Vazia - Parte VII


Notas iniciais do capítulo

Isso foi difícil de escrever. Cheguei até a achar que não ia conseguir.
Bom, no fim deu tudo certo. Ficou mais curto do que eu esperava, mas tudo bem. Acho que o resultado foi satisfatório.



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Dez.

Dez pares de olhos flamejantes. Dez corpos reluzindo sob o luar. Dez Gewen parados, encarando em imóvel silêncio suas presas.

Hart apertou os punhos, recuou para perto de Ellienne. Mas do que adiantava? Que diferença faria estar perto dela ou não quando aqueles inimigos atacassem? Apenas um Gew havia sido um desafio terrível. Dez deles? Não havia nada que ele pudesse fazer.

— Consegue fazer aquilo de novo? — ele perguntou para Ellienne. — O que você fez contra a Sombra.

— Não. Não por enquanto. Ainda não me recuperei completamente.

— Merda…

Um dos Gewen começou a avançar. Hart empurrou Ellienne para trás de si. Ao redor não havia lugar em que se esconder. Só havia uma coisa a se fazer.

Correr.

Agarrando a mão da princesa, Hart disparou na direção oposta aos Gewen. Ouvia os passos do assassino batendo, ecoando, ressoando em seus ouvidos, enquanto seu coração acelerava. Cada vez que escutava o tinir metálico dos pés contra o chão ele perdia o ar. Quanto demoraria até que fossem alcançados? Minutos, com muita esperança, mas, razoavelmente, segundos. Os passos cresceram em número. Vinte batidas arrítmicas como o coração do soldado. Vinte batidas que se aproximavam entoando uma marcha.

Hart subitamente parou.

Num movimento brusco, ele empurrou para trás a Princesa. Surpresa, Ellienne não pode fazer mais que esboçar uma interjeição, pois logo que a afastou de si, Hart investiu contra os inimigos. E enquanto caía no chão, ela via nas costas do soldado um grito congelado, uma batida violenta e brava de um tambor, uma canção de fúria e honra entoada pelo punho que se erguia, pelo esforço dos músculos, pela brutalidade sincera e nobre da postura. Não era a canção de um guerreiro que parte para a vitória, mas a daquele que, sabendo da derrota, investe para a glória. E quando o soco foi desferido, Ellienne viu, escancarado sem pudor e sem medo no rosto do soldado um sorriso desafiador.

O vento então gritou e sangue jorrou aos ares, vazando do corpo destruído em um único golpe. Todo movimento cessou por um instante, enquanto os restos de um Gew caíam no chão. Um passo rompeu o silêncio, uma figura trajada numa armadura branca rasgou a noite com sua espada dourada, carregando nas costas a capa, estandarte tremulante de nobreza e poder.

O sorriso no rosto de Hart se alargou e se ajustou para acomodar o som do nome proferido com absoluta admiração e respeito.

— Vance!

— Bom trabalho, Wagner — ele falou. — Daqui para frente eu assumo.

Sem dar espaço para mais palavra, os Gewen que restavam avançaram, todos juntos, contra o novo alvo. Eles mergulharam de garras prontas contra a cabeça, pernas e peito de Vance. Com o escudo, o coronel protegeu-se de dois ataques, enquanto com um golpe certeiro da Vollhiger derrubou outro inimigo. Uma série de investidas, cortes, batidas, bloqueios, todos os tipos de ataques e defesas se seguiu — uma dança de aço projetando na noite lampejos ardentes, cada novo golpe provocando rajadas de ar violentas. Ataques carregados de intenção assassina vinham de todas as direções, mirando cada parte do corpo de Vance,. Mas nenhum passava do escudo dourado ou da lâmina mortal da espada. Pouco a pouco, Vance forçou seus inimigos a cederem chão e abrirem suas guarda. Um deslize de um Gew e mais uma vez Vollhiger clamou uma vida.

Três Gewen já haviam caído.

Hart sequer conseguia respirar. A velocidade dos golpes, a precisão, a força eram sobre-humanas. Se Ellienne fora capaz de se aproximar do território das lendas, Vance se erguia nele com louvor. Uma lenda viva, o herói de Hohen, o Caçador de Monstros. Vance.

O primeiro embate terminou quando os sete Gewen que restavam recuaram.

— Se pretendem fugir, o façam logo — Vance falou. — Porém não esperem que eu permita.

— Fugir? — um dos Gewen disse. — Nós não fugimos. Admito, sua habilidade é impressionante, mas isso está longe de acabar. Na verdade, a luta vai começar agora.

Em um movimento conjunto, os sete Gewen romperam suas máscaras, libertando seus corpos negros. Hart correu até Ellienne e a agarrou pela mão.

— Vance! — ele gritou. — Eu vou tirar a Ellie daqui! Acaba com eles!

Vance apenas sorriu.

Dando as costas para a batalha, Hart desatou a correr. O som do aço se cruzando e das rajadas de ar logo se seguiu. Ainda assim, ele continuou a correr sem olhar para trás.

— Aonde iremos? — Ellienne perguntou.

— A torre do relógio! Vi uma saída naquela direção! De lá podemos ir para a floresta e seguir até o rio! É a nossa melhor chance!

— E Sir Hermann? E Hilde?

— Vance vai ficar bem! E a sua guarda-costas está com o Karl. Ele vai saber me encontrar. Nós só temos que escapar!

— Muito bem. Adiante!

Ellienne liberou sua mão com um puxão e acelerou o ritmo. Os barulhos da luta desvaneceram devagar e quando os dois finalmente alcançaram a torre do relógio, nada mais se podia ouvir. Diante dos dois, há poucos metros, estava a saída da cidade. Apenas mais alguns metros e estariam fora.

Apenas mais alguns metros.

Hart se atirou sobre Ellienne por puro instinto e apenas isso evitou com que o objeto a atingisse. Quando caíram no chão, o soldado conseguiu ver o que havia sido atirado. Uma espada. Sua espada.

— Pegue-a — uma voz desconhecida, pesada, abafada falou. — Vai precisar.

Por puro instinto, Hart se virou em direção à voz.

Sua visão então congelou assim como o sangue em suas veias.

— Não… — ele gaguejou.

Diante de seus olhos, parado na cidade vazia, iluminado pelo mórbido luar, Hart viu o Cavaleiro Negro.


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Notas finais do capítulo

Todo o arco da Cidade Vazia tem um clima estranho de "final do primeiro livro", algo parecido com Khazad-Dûm. O que, de certo modo, é cabível. Acho que num livro de fantasia normal, dentro do cabível, isso seria realmente o final do primeiro livro.
Naturalmente eles teriam feito a viagem mais longa, adicionado um monte de outras cenas e, no geral, seria algo bem diferente.
Ah, bem.
Até semana que vem.