O tempo no Olimpo não passava como o tempo no mundo dos mortais. Ela sentia que estava ali há uma semana, mas um mês já havia se passado. Ela já havia criado uma rotina.

                Todos os dias Calypso e Hermes passeavam juntos e ele mostrava a ela uma parte nova do Olimpo. Ele a apresentava aos sátiros, as ninfas e aos deuses menores. Alguns heróis imortais também foram apresentados, mas ela resolveu que já havia sofrido demais por heróis.

                Um dia, enquanto passeava sem Hermes, ouviu uma ninfa contar para outra sobre uma semideusa filha de Atena que iria reconstruir o Olimpo. Hera já havia aprovado e até mesmo Zeus cedeu. A ninfa disse também que Hefesto lhe ajudaria sempre que precisasse.

                No dia seguinte Calypso saiu de casa uma manhã e percebeu uma certa agitação perto do jardim de inverno. A deusa foi até lá, procurando saber o motivo do tumulto. Era tanto falatório, que a deusa se sentiu confusa. Estava tão acostumada ao silêncio de Ogigia que qualquer multidão era desconcertante para ela.

                Ficou parada olhando para o aglomerado, tentando entender o que estava acontecendo. Estavam todos contentes e bastante animados. Cansada de esperar, Calypso cutucou um sátiro que pulava, tentando ver o que estava acontecendo.

- Beeeeeh – o sátiro fez, se virando para Calypso.

- Desculpe incomodar, mas o que está acontecendo?

- A garota que veio arrumar o Olimpo chegou. – o sátiro esclareceu e voltou a pular.

                Depois de dois minutos, a multidão se espalhou. A garota de que todos falavam ficou visível e o coração de Calypso pareceu ter sido arrancado. Era a namorada de Percy. Seus cabelos loiros estavam presos em um coque desajeitado, firmado apenas por um lápis. Usava uma camisa laranja igual a que Percy usava no dia que chegou a Ogigia.

                A garota olhava ao redor, enquanto batia um lápis no queixo, pensando no que faria primeiro. Ela estava confiante e Percy havia lhe dado todo o apoio possível. Além disso, ela confiava em sua habilidade.

                Calypso caminhou lentamente até a garota, que estava de costas para ela. Cada passo era inseguro e Calypso tinha medo de cair. Colocou uma mão no ombro da garota, que se virou para encarar a deusa.

- Meu nome é Calypso. – a deusa falou insegura.

                Annabeth revirou a mente, tentando lembrar aonde tinha ouvido esse nome. Não era nenhuma deusa que ela conhecia e, a julgar pela beleza, poderia ser uma ninfa facilmente. Mas mesmo para uma ninfa, sua beleza era descomunal.

- Meu nome é Annabeth. – a garota respondeu. Não conseguia tirar os olhos de Calypso, tentando a reconhecer de algum mito ou aula de Quíron. Por fim, resolveu perguntar: - Eu já ouvi seu nome, mas não sei da onde. Você não é nenhuma deusa menor e também não é nenhuma ninfa conhecida. Quem é você?

                Calypso sorriu. Annabeth parecia realmente intrigada, com certa desconfiança. A deusa falou com a voz suave:

- Sou uma nova deusa.

                A garota levantou as duas sobrancelhas, de um modo descrente. Annabeth não estava sabendo de nenhuma nova deusa.

- Conhece a historia da filha de Atlas que foi aprisionada em uma ilha? – a deusa perguntou.

                Annabeth se lembrou antes mesmo que Calypso terminasse as palavras. Agora tudo fazia sentido. Percy havia pedido para que os filhos de titãs que haviam sido punidos injustamente fossem libertos – ou tinha pedido algo assim.  Fez que sim com a cabeça.

- Zeus me deu uma nova chance, graças a um herói. – Calypso contou.

- Isso é ótimo. – Annabeth falou. Segurava em uma das mãos um laptop. Abriu-o e Calypso ficou abismada, nunca havia visto nada assim. – Tem algum pedido especial? Se possível, seu desejo será uma ordem.

                A garota olhava para Calypso, esperando uma resposta. Ao invés de pedir qualquer coisa a ver com obras, disse apenas:

- Pode me encontrar no jardim de outono quando terminar o que tem que fazer hoje?

                Annabeth nem mesmo pensou em recusar. Quando uma deusa te chama para ir com você a algum lugar, aceite. “Vamos para o Tártaro, Annabeth?” diga sim. “Vamos matar seu pai?”, bom, essa pergunta você pode considerar dizer não. Mas, mesmo assim, não foi por esse motivo que ela resolveu aceitar. Algo dizia que Calypso era uma deusa diferente.

- Te encontro em três horas. – Annabeth falou. – Nenhum outro pedido?

                A deusa fez que não com a cabeça e se afastou. Calypso observou enquanto a garota fazia anotações em seu aparelho esquisito e parecia observar cada detalhe do Olimpo. Ao invés de ir para casa, resolveu que iria direto para o jardim de outono. Ainda não havia aprendido muito bem como o tempo funcionava no Olimpo e não queria perder esse encontro.

                Enquanto esperava, Calypso caminhou pelo imenso jardim. Folhas secas cobriam o chão e ela se divertia as chutando levemente para longe. No meio do jardim, dois bancos de mármores estavam posicionados um em frente ao outro. Calypso simplesmente pensou em um toldo que as cobrissem do sol e um toldo de seda verde cobriu o espaço. Depois, imaginou uma mesa com néctar, ambrosia e comidas e bebidas para mortais. Assim como o toldo, a mesa apareceu.

                Ainda não satisfeita com o lugar, ela imaginou algumas flores da lua ( para quem não sabe é a planta que ela dá para o Percy ) e elas imediatamente apareceram em cima da mesa. Contente com a aparência de tudo, ela sentou-se.

                Não se passaram nem dois minutos que ela havia sentado e Annabeth apareceu, carregando consigo vários papéis, um laptop e um lápis. Parecia tão afobada, que Calypso não resistiu. Estalou os dedos e uma mochila apareceu. Estalou de novo e tudo de Annabeth estava lá dentro. Mais um estalo e a mochila estava nas costas de Annabeth.

- Ser deus deve ser um negócio interessante. – Annabeth comentou, ajeitando a mochila nas costas.