LIV — Benévola

(...)

Isabella não podia estar mais corada. Suas bochechas estavam coloridas em todos os tons de vermelho. Não poderia mentir sobre a origem das marcas. Mesmo Edward tendo prometido não marcá-la, inconscientemente ele o fez. E agora ela arcaria sozinha, com as consequências do “avanço” no baile à fantasia.

— Foi... — abaixou a cabeça, enquanto soluços saiam de sua garganta e impediam a sua fala.

— Eu sei muito bem quem foi o responsável. Quero saber até que ponto vocês foram — articulou Renée, limpando com os dedos a umidade na pele da primogênita. — E se fizeram a besteira se usaram alguma proteção! Você é nova demais para ter um filho, Bella — o timbre de Renée voltou à sua serenidade.

— Mãe! — conseguiu dizer em meio aos soluços. — Não fizemos... sexo — encolheu-se ao proferir a última palavra. Era a primeira vez que conversariam sobre o assunto.

— Certo. Então ele não se enfiou entre as suas pernas — disse, deixando Isabella completamente surpresa. Os olhos da menina pareciam dois discos. — Mas com certeza se enfiou entre os seus peitos!

— Mãe... isso é tão... constrangedor — desviou os olhos dos orbes azuis de Renée. — Só uma vez. E não foi por muito tempo.

— Tempo suficiente para deixá-la marcada — disse compreensiva. — Você tem noção do quão bravo o seu pai ficaria se fosse ele a ver essas marcas em seu pescoço? Ele não acreditaria em nenhuma palavra sua sobre continuar virgem e, pior, afastaria você de Edward. Esses “avanços” fazem parte da adolescência dessa nova geração, mas você precisa ter cuidado para não deixar as coisas irem longe demais. Além de você ser nova, apenas dezesseis anos.

— Eu não quero... fazer... não agora!

— Edward já sabe disso? — perguntou, afastando um fio de cabelo castanho que estava na face da menina.

— Hum... Não, mas eu acho que ele sabe.

— Você precisa contar.

— Mãe! Isso é constrangedor!

— Bella, meu anjo, Edward é um garoto. Ele pode ser gentil o quanto for, mas ele tem... desejos, entende? Essas suas marcas apenas comprovam isso. Se você consentir isso sempre ele pode ter a ilusão de que você quer fazer.

— Eu não posso falar isso. Acho que sou capaz de morrer de vergonha antes de proferir as palavras — balançou os ombros.

— Com que frequência isso acontece? — Bella olhou para a mãe pronta para perguntar “isso o quê”, mas Renée adiantou-se em sua explicação. — Esses beijos libidinosos. Depois de mãe, eu sou a sua amiga, Bella. Você pode me contar tudo.

— Eu sei mamãe — sorriu-lhe. — Foi a primeira vez.

— Vocês beberam algo?

— Não! Apenas refrigerante — respondeu irresoluta. — Aliás... Edward e Jasper estavam bebendo ponches. Mas eu não sei se tinha álcool.

— Edward não parecia estar bêbado — comentou Renée.

— E eu não senti o cheiro de álcool. Nem o gosto, quando ele... me beijou.

— Vocês precisam conversar, Bella — suspirou Renée. — Seu pai está a caminho da casa do Sr. Cullen e esposa. Ele quer... conversar com Edward.

Bella sentou-se na cama desajeitadamente.

— Conversar? — repetiu.

— Ele não está irritado, ou algo do tipo. Ou ele está, mas soube fingir muito bem!

(...)

Charlie estacionou a viatura policial em frente à residência de Carlisle e Esme Cullen. Desligou-a, e abriu a porta deslizando para fora do veículo. Colocou as chaves no bolso, enquanto seguia em direção à entrada da casa. Ainda subindo os dregraus, ele repassava em mente todos os pontos que precisava abordar naquela conversa com o moleque do Edward. Tocou na campainha, e demorou alguns minutos até que alguém vir lhe atender. Esqueceu-se de que ainda era cedo da manhã, e provavelmente todos os residentes da mansão estavam em um profundo sono. Quando desceu um degrau, se preparando para voltar mais tarde, a porta lhe fora aberta, e a figura de Esme Cullen trajando um robe de seda na cor de ameixa, o rosto amassado e os cabelos presos em um coque malfeito lhe encarando com confusão.

— Charlie? — ela perguntou. Logo atrás surgiu Carlisle, também vestindo um roupão pesado, só que azul-marinho. — O que faz aqui tão cedo? — ela perguntou com o mesmo timbre amável.

— Eu quero falar com Edward — respondeu, curto e direto.

— Oh!, Edward ainda está dormindo... — franziu a testa e curvou os lábios em um sorriso decaído. — Eu posso acordá-lo se for um assunto de urgência.

— É uma urgência.

— Entre — afastou-se da porta para que ele pudesse passar pela abertura.

— Doutor Cullen — cumprimentou ao médico que estava com os braços cruzados. — Sinto muito acordá-los, mas é um assunto de urgência.

— Sem problemas, Charlie. Você pode vir aqui quando quiser. Independente do horário.

— Vou subir e... chamar Edward — avisou Esme enquanto sumia em direção as escadas.

— Eu poderia saber desse eu... assunto de urgência com o meu filho? — indicou-lhe com a mão um dos sofás para Charlie se assentar. — Teria algo a ver com Bella?

— Eu não me daria ao trabalho de acordá-los se o assunto não fosse a minha Bella — disse com azedume. — O seu filho é um irresponsável, Carlisle! Levou a minha Bella, uma criança, até aquela festa com bebidas alcoólicas e drogas!

— Era uma festa estudantil... — citou o médico com a mesma benevolência em seu timbre. — E creio que Edward não agiu de forma irresponsável quando ele não saiu às escondidas com a namorada. Ele teve a nossa permissão para ir, assim como Bella teve o seu consentimento e de sua esposa. Então, erramos nós, os pais, por permitir que eles fossem.

— Bella é uma criança!

— Uma adolescente — Carlisle corrigiu. — Veja, Charlie, os filhos crescem. Você não pode prendê-los e sempre considerá-los uma criança. Bella é uma adolescente, e ela é diferente das outras. Entendo a sua preocupação de deixá-la ir a uma festa com bebidas, mas tenha certeza de que essa festa não será a última que haverá bebidas e drogas. O fato de deixá-la presa ou impedir que ela namore o meu filho não impedirá que ela conheça essas duas coisas em outro lugar.

— Onde ele está? — sentia-se sem argumentos para contrapor o médico.

— Edward demora... um pouco para acordar — respondeu. Charlie não pôde ver que seus lábios se repuxaram em um sorriso. Edward provavelmente já estava acordado, mas incentivado por Esme, não desceu.

— Tudo bem — levantou-se. — Tenho coisas para resolver na delegacia. Mais uma vez desculpe por atrapalhar o seu sono. Repasse as minhas apologias à sua esposa.

— Volte quando quiser Charlie — acompanhou o chefe até a porta. O policial respondeu com um bufar. — Diga a Bella para vir aqui hoje à tarde. Esme pretende fazer uma torta de maçã. Você e a sua esposa também estão convidados.

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