Equinocio escrita por Ana Carolina Correia


Capítulo 8
A caminho do paraíso


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora...Nos vemos la em baixo!



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Bem, eu sei que vocês estão curiosos para saber o que aconteceu com Allie depois de John ter invadido seu quarto, mas como eu já lhes disse, essa historia é cheia de faces e de fases.

O semestre estava próximo ao fim e logo Allie voltaria para casa. Tudo continuava como nos últimos meses. John ainda a rondava, mas Allie tinha aprendido sua lição.

Ela não andava mais sozinha por aí. Na verdade, ela não ficava sozinha nem mesmo na hora de tomar banho. Passava metade do tempo ao lado de Edrick, que era a fim dela desde o primeiro ano de faculdade, e a outra metade estava com Amber. Até fazia chantagem emocional para que a moça a esperasse do lado de fora do box enquanto tomava banho.

Desde o incidente em seu dormitório, ela decidira que não daria brechas para que coisas como aquela voltassem a acontecer, e, por algum motivo, ela sabia que John não a atacaria enquanto estivesse acompanhada.

Portanto, nada acontecera. Nada além de seus “bons” e velhos pesadelos.

Agora que já lhes expliquei os últimos acontecimentos da vida de Allie, vamos ao presente. Para que não fiquem tão perdidos, eu lhes direi onde e quando estamos:

Silent Hill, 23h45min, 25 de outubro de 2012.

Faziam três anos. Três anos desde a morte de Katherine Longfield.

Eu já lhes disse que a história oficialmente contada era de que Kate havia morrido em um ataque animal, certo? Bem, essa era apenas a história oficial. Como também já expliquei a vocês, Silent Hill era lar não apenas de seres humanos comuns, como também de criaturas sobrenaturais.

Embora alguns dos membros desta família desconheçam tal fato, a Família Longfield era parcialmente composta por conjuradores que leigamente são chamados de bruxos.

Richard Longfield. Esse era o nome do homem que tinha a função de manter o equilíbrio. Todos tinham sua parte a cumprir, mas às vezes as coisas ficam fora de controle.

Um acordo havia sido selado há muito mais de um século. É incrível como as coisas podem sair de nosso controle.

Katherine havia sido morta por um lobisomen no dia de seu aniversário de casamento. Richard não perdoaria tão facilmente a morte de sua esposa. Levou três anos para descobrir quem tinha sido responsável, mas finalmente ele descobriu.

Estavam todos no subterrâneo da delegacia, onde agora é o ponto de encontro dos paria*. Pessoas responsáveis pelo equilíbrio entre as raças.

– Nos entraremos por aqui – disse Richard apontando o local no mapa. – Eles costumam se reunir por aqui, portanto o grupo do sargento Jeod montará o cerco pelo lado norte da campina, o grupo do senhor August montará o cerco pelo lado sudeste e os outros devem vir comigo para montarmos o cerco pelo lado sul. Eles não terão como escapar.

– Senhor? – disse Marc, um assistente de Richard que havia acabado de se formar em direito. – Como o senhor pode ter certeza de que estarão lá?

– Marc, amanhã é lua cheia e aqueles miseráveis se trancarão. Hoje, no entanto, eles se reúnem para realizar um de seus rituais.

– Não seria mais fácil se fôssemos amanhã? Quando eles vão estar presos?

– Seria arriscado demais. Quando sentissem o cheiro de nossa carne, ficariam ainda mais perigosos. O risco de conseguirem se soltar seria grande demais.

– Nós vamos matar todos?

– Sim.

– Mas isso é... Bem. Isso acabaria com o equilíbrio.

Neste momento Richard puxou Marc pela gola de sua camisa e disse:

– Esses malditos mataram minha mulher! Dane-se o equilíbrio! — E entregou a cada um deles uma tira de couro. – Está enfeitiçada, eles não vão sentir nosso cheiro.

E com isto saiu pela porta... Saiu para encarar seu destino, seu carma.

Caso vocês estejam se perguntando: “onde anda aquele velho mal humorado? O senhor destino?”. Bem, eu estou aqui, estou apenas lhes poupando de meu atual estado de humor que atualmente está para lá de assíduo.

Ah! A burrice humana me irrita profundamente! Querem sempre ser tão moralmente corretos, e na maioria das vezes acabam se perdendo. Perdem de vista qualquer chance de se tornarem realmente felizes. São sempre tão irracionais, vingativos... Patéticos.

Enfim. Vou continuar livrando-lhes de meu mal humor.

As coisas começariam a mudar a partir daí. Este é o ponto critico onde nossa saga realmente tem inicio.

 As atitudes de Richard mudaram completamente o rumo das vidas de nossos personagens. Eles entraram na reserva florestal sul da cidade de silent Hill, conforme o combinado, e cada grupo seguiu na direção que lhe cabia. E antes que os seus relógios marcassem meia noite, eles atacaram.

É verdade que os lobisomens eram bem mais rápidos, mas o que o grupo de licans* não esperava era ser atacado. Muito menos por um grupo de humanos. Mas não eram simples humanos. Não eram humanos desavisados. Eram humanos que contavam com a ajuda de um Longfield. Um muito poderoso por sinal.

Os licans não sentiram o cheiro dos inimigos que se aproximavam e tampouco ouviram os ruídos de seus passos. Os humanos estavam munidos de armas especiais, de balas especiais.

Sim, sim as tão famosas balas de prata. E a carnificina foi feita.

Apesar do elemento surpresa, e do fato do número de humanos ter sido maior, os lobos estavam em fase de transição, e a sua força era bem maior. Eram vinte e oito humanos contra nove lobisomens. Três humanos morreram. Eram eles Mary Logan, uma das policiais de silent Hill, David Moriart, médico do hospital central e um dos melhores amigos de Amee e Dorian Rardwey, este último dono de um dos melhores restaurantes de frutos marinhos de Silent Hill.

O número de feridos foi maior. Oito humanos feridos, entre eles o próprio Richard, que teve o braço direito praticamente esmagado por um deles.

O momento de sua vingança foi... Não tenho outras palavras para usar que não seja cruel. Ele foi cruel. A luta estava formada a sua volta quando ele pôde ver o responsável pela morte de Kath. Um jovem com pouco mais de vinte e dois anos. Rudolf Leving. O assassino miserável que acabara com sua vida.

 Quando o viu, o jovem teve um vislumbre de compreensão. Entendeu o porquê de tudo aquilo. Ele tinha de lutar pela sua vida. Agora ele tinha uma família. Tinha um motivo para viver.

 Saltou em direção a Richard, mas Longfield foi mais rápido, e em pleno voo o jovem foi atingido por uma bala de prata. Richard desviou, fazendo com que Rudolf caísse contra o chão aos pés de um salgueiro espinhoso. A bala já espalhava o veneno por seu sangue. Ele se virou e fitou Richard.

– Olá, Sr. Leving! Como vai?

– Bem. Eu estaria melhor se não estivesse com essa coisa em minha perna – disse o rapaz, apontando a coxa onde fora atingido. – Mas o que podemos fazer? Acidentes acontecem, não é mesmo, senhor Longfield?

– Sim – disse Richard, entre risos. Foi quando atirou contra a outra perna de Rudolf. – Isso, por exemplo, foi um acidente. Isso também. – E atirou em seu ombro.

– Está fazendo isso por conta do acidente que aconteceu com sua mulher? Foi um acidente, senhor Longfield! Não tive culpa alguma!

– Claro, claro. Assim como isto – atirou novamente contra o rapaz, desta vez em seu outro ombro. – Acidentes acontecem!

 O estado de Rudolf era deplorável, mas o Longfield não parou por ai.

– Eu ainda me lembro da noite em que você nos atacou – disse ele. – Era nosso aniversário de casamento. Ela queria visitar o lugar onde nos beijamos pela primeira vez, há quase trinta anos. Ela estava radiante. – Rich se abaixou para poder olhar nos olhos de Rudolf. – Estava tão feliz! Tinha decidido trazer nossa filha mais nova para casa. E então... Você arrancou o coração dela! – gritou, enfiando a lâmina afiada de sua adaga de prata no estômago do rapaz.

– Ah! – Os gritos de dor emanavam de cada ponto da clareira. Dois lobisomens conseguiram fugir e os outros estavam sendo abatidos no local, mas o grito do rapaz transpassou a noite. Com certeza seria ouvido na autoestrada. – Foi um acidente! Não fiz porque quis...

– Sim, fez porque é sua natureza – cuspiu Richard. – Eu também tenho uma natureza. Extintos. Uma natureza que me diz que devo vingar a morte de minha esposa. Que diz que tenho que acabar com você e sua natureza podre para que não aconteça com outra pessoa o que aconteceu com Kath.

– Eu nunca teria matado sua esposa! Eu sequer a conhecia! Não fiz porque quis! – disse em meio às lagrimas. – Eu tenho uma família agora, minha filha nasceu há uma semana...

– Não é problema meu!

– Era minha primeira mudança! Eu não sabia o que estava acontecendo! Não podia me controlar!

– Não é problema meu! Você arrancou o coração dela!  E agora... Agora eu irei arrancar o seu também.

  Dito isso Rich estendeu sua mão em direção ao jovem e sem sequer tocá-lo, arrancou seu coração.

  Eu poderia continuar descrevendo sua dolorosa morte, mas não há necessidade alguma. A cena foi realmente deplorável. Foi uma das poucas vezes em que desejei ter olhos para poder fecha-los...

As coisas que Rudolf disse a Richard naquela clareira eram todas verdadeiras. Há pouco tempo sua filha tinha nascido. Ele tinha uma parceira em seu bando e agora ele teria a família que esperou ter por toda vida. Ele seria o pai que sempre sonhou ter. Mas como disse antes, é incrível como as coisas saem de nosso controle. Ele, mais que assassino, era uma vitima. Eu não vou dizer que ele era mais uma vítima do destino, afinal, eu não tenho culpa alguma. Já lhes foi dito que eu sou apenas uma consciência.

Duas semanas tinham se passado. Ao contrário do que havia pensado Richard, não se sentia melhor após a morte do responsável pela morte de Kath. Sentia-se apenas sujo. Vazio. As últimas semanas tinham sido as piores desde a morte de Kath. Ele não tinha mais propósitos em sua miserável vida. Já tinha matado o responsável pela morte de sua mulher e nada mais lhe restava.

Agora ele dirigia sua Mercedes a caminho do restaurante onde jantaria com sua filha Amee.

Ela estava parada em frente ao Le Parfte quando ele desceu do carro e entregou sua chave ao funcionário responsável.

– Boa noite, papai! – disse Amee, bem humorada. Mas ainda com sua inseparável ruguinha de expressão entre a linha das sobrancelhas. Ela havia adquirido tal característica muitos anos atrás.

– Boa noite, Amee! – respondeu Rich.

A noite tinha tudo para ser agradável. Mas é como eu havia dito anteriormente. As coisas às vezes saem de nosso controle.

Amee tinha deixado seu carro em um estacionamento mensal perto do hospital onde trabalhava antes de ir encontrar seu pai. Na volta para casa, ela seguia dirigindo a Mercedes de seu pai, uma vez que o mesmo havia bebido durante o jantar.

O ambiente no carro era silencioso. Silenciosamente angustiante. Amee sabia que seu pai não estava em seu estado normal desde a morte do lican, que havia matado sua mãe. Ela nunca fora a favor de atitudes como esta, apesar de ser impaciente na maioria das vezes. Sua mãe costumava dizer “não se apaga fogo com fogo”. E apesar disto parecer coisa de mãe, Amee sabia que Kath sempre estava certa.

Ao chegar a casa, Amee foi direto para seu quarto. Estava cansada demais para fazer companhia a seu pai. Ela não sabia que estes seriam seus últimos minutos ao lado dele.

Richard estava sentado no chão de seu quarto com o retrato de Kath em suas mãos. Lágrimas desciam por seu rosto. De alguma forma, ele sabia que aquele era seu fim. Tinha que ser. Ele não suportaria mais da mesma vida medíocre que vinha levando. A única coisa que ainda o fazia resistir à vontade de morrer era o amor por sua filhas. Elas não tinham mais ninguém alem dele.

Ele fechou os olhos e sentiu que a morte estava rondando-o. E ele não estava errado.

A janela que tomava uma parede inteira de seu quarto explodiu, lançando pequenas flechas de vidro em sua direção. A fera que disparou em sua direção não deu a ele muito tempo para pensar. Voou em direção ao seu pescoço, arrancando cada gota de vida miserável que ainda lhe restava.

Ele sabia quem ela era. Sabia que era a parceira de Rudolf. Sabia que ela viria atrás dele, da mesma forma que ele foi atrás de Rudolf. E mesmo assim não fez nada para evitar.

– Rich – chamou a voz suave. Voz que ele conheceria mesmo que estivesse ardendo em chamas, ou até mesmo debaixo d’água.

– Kath? Onde você está? – perguntou Richard, olhando a sua volta. Foi então que ele percebeu o cenário arrasador onde estava. Ele agora observava tudo de fora de seu corpo. Corpo este que jazia ensanguentado. Ao lado de uma Amee catatônica.

– Eu estou aqui, querido. Eu vim te encontrar.

– Estou morto? 

Ela o olhou com o olhar que faria com que qualquer um se enchesse de alegria. Um olhar de puro amor. Apenas Richard sabia quanto sentira falta daquele olhar.

– Sim. Você está.

– Você... Vem comigo? Seja lá o que isso quer dizer?

– sim, seja lá para onde você for. Nós não temos mais de ficar separados.

– Como... O que você faz aqui? Como conseguiu ficar neste plano por tanto tempo?

– Eu não fiz a travessia. Eu tinha que cuidar de você e das garotas.

Ele então se aproximou dela, testando. Queria saber se ainda podia tocá-la como antes.

A resposta era sim. Depois de tanto tempo, ele pode sentir o toque da mulher que amava.

Uma pergunta frequente em nossos pensamentos é: para onde iremos quando tudo isso acabar?

A verdade é que cada um tem aquilo que merece. Todos erram, é claro, e às vezes a caminhada se torna longa e imensamente cansativa. Muitas vezes nos perdemos daquilo que realmente molda nossa essência. Essa realmente não é a parte importante.

Como amostra do que digo, temos Rich. Ao lado de Kath ele agora ia a caminho do paraíso. O seu paraíso.       

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– Pai! Por favor! – gritou Amee, longe de estar calma. – Você não pode nos deixar! Nós não temos mais ninguém!

Ela tinha o sangue de seu pai espalhado pelo próprio corpo.

Pela segunda vez em sua vida, ela não soube o que fazer. O corpo de seu pai jazia morto em seus braços. O monstro que o tinha atacado sabia bem o que estava fazendo.

– Por favor, Deus. Eu sei que eu não mereço, mas eu... Eu estou implorando! Traga meu pai de volta! – ela disse em meio às lagrimas que faziam com que os resíduos de maquiagem se espalhassem pelo seu rosto, o que, misturado com o sangue de seu pai, a deixava ainda pior aparentemente. – Pai... Não vá! – disse em meio a sussurros.

E realmente as coisas mudariam agora.

Apenas para adiantarmos algumas coisas...

Com a morte de Rich, Amee agora era legalmente responsável por Liza e a traria de volta para casa. A morte de Rich também tornaria Amee a líder dos Paria. Allie Teria de voltar um pouco antes do esperado para silent Hill.

É agora que coisas realmente curiosas passariam a acontecer.

1- Lican: mais uma versão para o nome lobisomem.

2- Paria: palavra do latim par. Que relativamente quer dizer “equilíbrio”. Na historia é o nome dado aos grupos responsáveis pelo equilíbrio entre as raças.


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Notas finais do capítulo

Bem em primeiro lugar eu gostaria de me desculpar pela demora.... Eu tenho sido bem falha com relação a frequência de postagem. só o que eu posso fazer é me desculpar.
Bem, se ainda tiver alguem lendo por favor comente.Não acho que custe muito.
Desculpas a parte... Obrigadas a todos vocês que comentaram o ultimo capitulo! Bjo Bjo até mais



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