“-Nos veremos  de novo?

-Sim

-Promete?

-Prometo.Agora vá e não olhe para trás.”

Estas são as palavras que martelam minha mente dia após dia nesse período de sete longos anos... Minha despedida com Haku... Algo que precisou acontecer, mas às vezes sinto que não deveria.

  Neste meio tempo tudo que consigo sentir é um desconforto enorme no peito... Parte de mim falta, e meu coração falha cada vez que penso no momento em que ele soltou minha mão...Sempre que alguém chama meu nome eu acabo inconscientemente o procurando com os olhos,mas me decepciono quando percebo que não é ele...E que talvez nunca mais será.

-Você prometeu... Seu mentiroso-Sussurrei a mim mesma sorrindo de forma desgostosa. Mas um dia terminava no colégio.

-Chihiro,Chihiro-Ouvi algumas vozes me chamando e me virei,vendo algumas garotas da minha sala virem até mim já começando a falar um monte de coisas.Engraçado como a voz delas parecia ir sumindo aos poucos.

 Como tudo havia mudado... Sempre as mesmas coisas aconteciam,as mesmas pessoas falando sobre os mesmos assuntos,os dias terminando da mesma forma e nunca...Nunca mais noticias dele...

-Chihiro?Hey!

-Hã? Ah desculpem, não estou me sentindo muito bem, conversamos depois, sim?-Disse nem ao menos reparando em quem realmente se direcionava a mim.

-Mas Chihiro...

Girei os calcanhares voltando a caminhar para a saída da escola, sempre era desse jeito, algumas garotas da minha classe vinham falar comigo, eu me perdia em pensamentos e acabava as ignorando. Nunca liguei, mas infelizmente boatos correm, e eu já estava sendo chamada de anti-social.

-Filha, aqui!-Ouvi a voz de minha mãe e logo a procurei com os olhos, localizando o carro a poucos metros de distância.

Apressei o passo logo abrindo a porta e entrando, me sentei no banco de qualquer forma, soltando um suspiro cansado e fechei os olhos.

-Como foi seu dia?-Minha mãe perguntava com a típica animação de sempre...Nem ela nem papai nunca se lembraram de nada do que houve.  

-Como sempre mamãe. -Respondi com certo descaso olhando para a fora da janela.

-Chihiro... Já faz algum tempo que quero te perguntar isso... Se sente feliz nessa escola?

-Sim, por que a pergunta?-Menti descaradamente... Mas ela não notaria.

-Sempre que sai dela parece farta... Cansada de algo que está acontecendo,me conte,existe algo te chateando?

-Não mamãe, é apenas cansaço de último ano de escola. -“Na verdade mãe... O nome disso é duvida e solidão”-Pensei comigo mesma olhando fixamente para o transito.

-Sabe que se tiver algo lhe incomodado pode me dizer... Não sabe?

-Sim, sei mamãe. -Respondi forçando um sorriso vendo-a retribuir.

 Logo minha mãe desistiu de falar sobre minha vida escolar, começou a falar sobre flores e lugares paradisíacos onde gostaria de levar a mim e meu pai, eu como sempre, apenas sorria forçado e concordava com as coisas que ela falava tentando ser o mais natural possível, afinal minha família não tinha culpa de nada,e alias,desconhecia os fatos do meu cansaço mental.

 O caminho de volta para casa era sempre o mesmo... Três avenidas principais e logo a frente uma longa subida... Nada disso me chamava à atenção, exceto o fato de que esta subida ficava ao lado da pequena estrada de terra que um dia meu pai tomou para tentar achar nossa nova casa. A mesma estrada que me levou a ele... A mesma que o tirou de mim... E também a mesma que eu jurei não ultrapassar por ódio da promessa não cumprida.

 Alguns minutos depois chegamos em casa...um lugarzinho modesto e tranqüilo em uma vila qualquer,meu pai ganhava bem e minha mãe também com seus artesanatos mas preferíamos manter uma vida simples.

 Subi as escadas indo até meu quarto, joguei minha mochila em qualquer canto pegando uma muda de roupa para me trocar ali mesmo, depois disso desceria até a cozinha, ajudaria minha mãe com o almoço e depois disso mais um longo dia tedioso me aguardava.

  Terminei de vestir minha blusa e por um segundo corri meus olhos pela janela...

-Que bela ironia, não é?-Falei comigo mesma olhando para fora.

Daquele local, eu podia ver exatamente a pequena estrada... E ao final dela uma grande construção caindo aos pedaços. Havia dias em que eu passava horas olhando para aquele lugar, me perguntando se em algum momento mais alguém passou por aquele portal... E se mais alguém voltou de lá. Tsc... Acho que estou imaginando coisas, já faz tantos anos que é possível até mesmo que nada mais daquilo exista... Que aquele mundo tenha sido completamente dizimado do mapa.

-Se eu soubesse que tudo sumiu... Talvez eu fosse mais conformada hoje em dia e seguiria minha vida normalmente. -Repeti meu pensamento em voz alta enquanto apoiava meus cotovelos na janela. -Bem, sumindo ou não, você me esqueceu, o certo é que eu te esqueça também, não acha?

O certo é que eu te esqueça... Como pode tão poucas palavras doerem tanto?Como pode um ser humano ficar vivendo de um passado que eu nem ao menos sabe ainda existe em alguma parcela do mundo?...O certo no final das contas era que por mais que eu quisesse esquecer tudo aquilo e principalmente você Haku... Eu não conseguia.

-Chihiro venha cá me ajudar!

-Já estou indo!-Respondi desviando minha atenção daquela vista por um segundo. Olhei para fora novamente e cerrei os punhos. -Chega de sonhos, Chihiro.

 Fechei os vidros da janela e desci as escadas indo ajudar minha mãe.

 Por lógica, hoje aos meus 17 anos eu deveria estar totalmente focada em terminar a escola, me entrosar com as pessoas, procurar um namorado e me ligar em assuntos que as outras garotas gostavam... Impressionante como não me imagino fazendo isso.

 Ri de mim mesma por um instante chegando à cozinha em seguida, recebendo uma pergunta de minha mãe do por que estava rindo... Se ela soubesse que eu ria de mim mesma...

 Ajudei-a no que foi preciso, sempre ouvindo os inúmeros planos que ela tinha para um final de semana em família, aquilo tudo conseguia até mesmo me angustiar... Era complicado ver felicidade em algo quando por dentro só restam pedaços de sorrisos e risos.

  Depois de ajudá-la, meu pai chegou em casa e almoçamos,minha mãe aproveitou a deixa para anunciar que no sábado nós iríamos até o parque central nos distrair um pouco.A idéia até era boa...Exceto pelo fato de eu não estar com um pingo de vontade de ir para lá,mas acabei aceitando,seria estranho se eu recusasse um programa em família.

 O almoço terminou e depois de lavar a louça subi para meu quarto, tinha que fazer minhas tarefas de casa e depois me jogar na cama para mais uma vez, agozinar um pouco.Sabem...essa alto piedade que eu tenho já está no limite!