Há mais ou menos uma semana Sadie e Walt foram avisados que participariam de um torneio que testaria suas habilidades, não teriam preparo nenhum, e ainda por cima tinham que estar com as malas prontas para ir para a tal escola de magia e bruxaria de Hogwarts. Nada demais. E nada melhor do que ficar praticamente um mês em uma escola sendo forçada a se comportar, pensou Sadie. A ideia de seu pai – que por acaso também era um Deus, mas isso não vem ao caso – ter colocado seu nome no estúpido cálice para começar já lhe irritava, mas o que mais a incomodava era o fato de que existiam bruxos e deuses gregos. Desde que entrara na casa do Brooklyn ninguém nunca havia lhe falado nada sobre a existência de outras divindades e nem mesmo de pessoas que faziam magia com gravetos. ‘’Até pouco tempo nem mesmo eu sabia.’’ Foi o que seu pai lhe disse. Mas Sadie obviamente não acreditou. Não era idiota. Muito menos ingênua para cair numa lorota dessas.

-Cadê você, cajado idiota? – Bufou exasperada enquanto procurava o objeto no Duat. Já era bastante difícil para a garota conseguir se concentrar e manter um portal para o Duat aberto, era ainda mais ter que ficar procurando o cajado fujão.

– Ãh... Quer ajuda? – Carter perguntou timidamente aparecendo ao lado de Sadie.

-Se você tiver algum comando para invocar meu cajado... – Ela disse apontando para o buraco negro pairando ao seu lado.

-Heqat – Carter disse e o cajado simplesmente apareceu ao seu lado.

-Legal, feitiço do cajado instantâneo. – Sadie disse irônica.

-Você podia ao menos agradecer. – Disse Carter emburrado.

-Me desculpe. – Falou a garota sentando na borda da cama – É que eu não entendo... por que não escolheram você? Você é que sabe todos os comandos e é o talentoso. O máximo que vou conseguir fazer é estragar tudo.

Assim que disse isso, Sadie estranhou. Não era de seu feitio ficar desabafando com seu irmão ás vésperas de uma viagem para um torneio que poderia a matar. Não. Não matar, mas ferir gravemente. (N/a: doby *------*).  Para aumentar ainda mais sua perplexidade, Carter a abraçou, coisa que também não era muito normal.

-Você vai se sair bem. – Ele disse, tentando consolá-la. – Vou estar lá com você.

-Obrigada. Eu acho... – Ela disse meio confusa. – Mas e aí já arrumou suas malas?

-Sim. Na verdade vim aqui para te apressar. O tal de Zeus apareceu num monte de névoa  enquanto eu estava no banho e me deu um baita susto. Segundo ele era uma mensagem de íris, ou alguma coisa assim – Sadie tentou não rir com as imagens da cabeça de um homem aparecendo do nada no box e Carter dando um pulinho – Bom, de qualquer jeito, eles vão mandar alguém vir nos buscar daqui a uma hora. Ao melhor terminar de arrumar essa bagunça.

Carter disse apontando para a pilha de roupas que estavam acumuladas ao lado da mala quase vazia da irmã.

-Tá! – Resmungou Sadie enquanto invocava alguns comandos, fazendo as roupas se dobrarem como seu houvesse mãos invisíveis segurando as roupas. Carter revirou os olhos enquanto saia do quarto.

-Preguiçosa...

-Eu ouvi isso!

-Que bom! – Carter gritou, a essa altura já estava no corredor.

Sadie fechou a porta e ligou seu ipod em uma música qualquer enquanto terminava de arrumar as coisa. Depois de meia hora – quando conseguiu colocar tudo o que queria dentro da mala sem que essa estourasse, explodisse ou algo do gênero – foi ver como Walt estava. Da última vez que tinha falado com ele, ele parecia nervoso e aflito. Não que Sadie não estivesse, mas aprendeu a camuflar a ansiedade por causa de seus alunos.

-Hey. – Ela disse timidamente quando o encontrou observando com muita atenção com concentração e astúcia a parede branca á sua frente.

-Ah... Oi! – Ele disse balançando a cabeça ligeiramente.

-Vim ver como está.

-Estou ótimo. – Ele disse tentando não deixar o nervosismo transparecer em sua voz, mas falhando miseravelmente.

-Hm... Sei – Sadie o encarou cética. – Bom, de qualquer maneira eles estarão aqui daqui á pouco para nos levar para a tal escola... Só espero que não tenhamos que estudar! – Ela disse juntando as palmas das mãos e elevando-as na altura do peito, como se estivesse rezando.

Walt deu uma risada anasalada antes de encarar a garota com um semblante sério.

-Que coisas você acha que vão colocar para nos testar? Quero dizer, não podem nos matar não é?

-Não faço a mínima ideia – Disse Sadie dando de ombros – Mas estou com fome, quer comer alguma coisa?

-Claro – Respondeu Walt sem animação. Sadie não entendeu o motivo de tanta preocupação. Afinal, Walt era um mago excepcional e ainda tinha uma penca de amuletos em qualquer parte da pele exposta. Decidiu deixar a questão de lado e se concentrar na comida em seu prato. Mas agora que tinha parado para pensar melhor, o que ela tinha? Carter era bom com comandos, Jaz era boa curandeira, Walt tinha seus amuletos. O que, afinal, Sadie teria. Pela primeira vez desde que parou para pensar direito ela sentiu-se com medo. Preferia mil vezes que Carter tivesse sido escolhido em seu lugar, mesmo que fosse egoísmo de sua parte. Não teve muito mais tempo para ponderar sobre o assunto, pois logo ouviu batidas na porta da frente. Sadie e Walt se entreolharam. A garota, como uma boa anfitriã abriu a porta, mas logo se arrependeu do gesto, pois ao fazê-lo deu de cara com um homem que vestia roupas de ginástica e tinha chifres na cabeça. E a pior parte não eram os chifres. Ao analisá-lo por inteiro, Sadie percebeu que o homem também tinha, ao invés de pernas, cascos de bode.

-Ãh... Olá – Cumprimentou

-É melhor se apressarem. – Ele disse brandindo o taco de Baseball, que só agora Sadie percebera que o homem segurava, e passando por ela e indo direto para a sala de estar – Não temos o dia todo.

-Mas é claro que você pode entrar, sinta-se á vontade – Ironizou ela. O homem (ou seria o bode?) baliu e perguntou:

-Onde estão suas coisas? – Ele indicou Walt com o queixo e continuou – E as dele?

-Lá em cima, mas... – O homem-bode não deu tempo á Sadie para completar a frase, pois desatou a subir as escadas á procura das malas. Sadie e Walt trocaram olhares cúmplices. Talvez fosse uma boa ideia amarrar o chifrudo falante perto de Filipe da Macedônia e espera-lo sentir fome. Alguns minutos depois lá estava o homem-bode empurrando a mala de todos degraus abaixo.

-Hey! Tome cuidado, tem coisas que quebram aí! – Brandiu Walt.

-Tenho cara de carregador moleque? – O homem-bode desafiou, arqueando uma sobrancelha.

-Tem cara de bode, na verdade. – Walt retrucou.

-Ah, você quer brigar é? Então cai dentro – Disse o homem-bode brandindo seu taco – MORRA! MORRA!

-Por que tem um sátiro querendo matar Walt? – Perguntou Carter horrorizado quando apareceu onde estávamos.

-Oh, então  alguém aqui fez o dever de casa! – Disse o sátiro parecendo esquecer completamente da existência de Walt. – Muito bem garoto, eu sou um sátiro. Agora andem, não temos o dia todo.

Depois de algum esforço para colocarem as malas dentro do que parecia uma carruagem com espaço para umas vinte pessoas, Sadie, Walt, Carter, Zia e Jaz entraram no ‘veículo’.  Lá já se encontravam oito adolescentes. Todos olharam para eles e para o sátiro que se achatou ao lado deles assim que entrou. Depois que se acomodaram um silêncio constrangedor se instalou enquanto a carruagem, que por acaso era puxada por dois cavalos alados, começava a pairar no ar, perto das nuvens, os levando direto para o local onde a primeira tarefa aconteceria. Estavam indo para Hogwarts.