Tomei um banho, me vesti e peguei o telefone, disquei o numero de um mercado perto de minha casa, em meu distrito. Chamou varias vezes, até que um homem atendeu, com temor na voz.

– Olá, eu quero falar com Ella, uma garotinha que mora aí, ao lado. – Falei e depois de longos minutos, respondeu.

– Vou chamá-la.

– Alô? – Ouvi sua voz doce e inocente.

– Ella?

– FLINCH! Irmã, que saudade de você. Meu Deus, você vai demorar muito pra voltar? – Ela falou rapidamente.

– Ella, você não sabe o quanto sinto a sua falta, e a cada dia que passa, mais queria estar aí, com você, mamãe, Will. – Senti as lagrimas vindo e me calei.

– Eu também, maninha, mas fica calma, nós vamos estar juntas logo, logo. Você vai voltar, não vai?

– Claro que vou, amanhã eu vou descobrir onde Will está e em pouco tempo estaremos juntos, todos nós.

– Tudo bem, então.

– Te vejo em breve, Ella. Te amo. – Falei.

– Ok, te amo, Flinn!

Desliguei e aí sim deixei meus olhos transbordarem, queria tanto estar com minha mãe agora, deitada em seu colo, ela fazendo carinho em meu cabelo, levando todas as minhas preocupações pra longe. Que saudade dela, sempre cuidou tanto de nós e... Morreu o fazendo. Alguem bateu na porta, limpei o rosto e corri pra atender. Era Gale.

– Olha, agora não, por favor.

– Você estava chorando, Flinch? – Ele perguntou, preocupado.

– Não, não importa. – Era óbvio, meus olhos ainda estavam vermelhos, mas tentei disfarçar... Em vão.

– Pára de construir esse muro entre nós, por favor. Eu quero cuidar de você.

– Eu não quero brigar agora, Gale...

– Então não brigue. – Ele disse e me abraçou. – Pensei em ficar contigo até amanhã, não sei. Por favor, me dá esse espaço, Flinn.

– Tudo bem.

O deixei entrar, liguei a TV, Gale se sentou no sofá, eu deitei em seu colo e ele fez exatamente o que eu precisava, aquele carinho no cabelo. Encarei seu rosto perfeito em cima do meu, como eu podia querer fugir daquilo? Tenho certeza que centenas de garotas, ou até garotos enlouqueceriam por aqueles lábios. Cheguei a conclusão de que sou uma maluca. Ficamos ali por talvez horas, quando senti que estava na hora de eu parar com a idiotice toda de não querê-lo em minha vida. Me arrastei pra cima, ainda ao seu lado, até ficar a sua altura, ele estreitou seus olhos nos meus, segurei seu rosto com minhas mãos e encostei meus lábios nos seus, no meio do beijo ele sorriu e foi aí, que me deixei levar de vez. Entrelacei minhas pernas nas suas e acariciei seu cabelo, perto da nuca, senti que se arrepiou e sorri, Gale pousou sua mão em minha perna e... Então o telefone tocou.

– Mas o quê? – Ele disse, atordoado e eu ri.

– Alô? – Eu disse, ao atender.

– Flinn, sou eu, Kat. Consegui entrar em contato com Haymitch e ele disse que se vamos mesmo fazer essa loucura, devíamos agir hoje. Pelo visto, ontem foi aniversário de Snow, os pacificadores podem ter baixado a guarda.

– Tudo bem. E então, que horas será isso?

– Eu consegui um carro, saímos daqui mais ou menos as 23h e chegaremos na Capital de madrugada. – Ela disse.

– Ok, eu aviso Gale.

– Ele ta aí? – Kat riu do outro lado da linha. – Desculpa por interromper.

– Não interrompeu nada. – Falei baixinho. – Fica quieta!

– POR QUE QUIETA? ELE TÁ TÃO PERTO QUE VAI OUVIR? – Ela gritava e gargalhava entre as palavras.

– Calada, Kat. Eu vou desligar! – Ri de leve.

– Ah, minha barriga já ta doendo. Bom, felicidades ao lindo casal. – A garota gargalhou mais.

– KATNISS! Tchau.

– NÃO! Calma, calma. Olha... – Fez uma pausa pra respirar normalmente. – Não se esqueça, 23h, na minha casa. Até mais tarde.

– Ok, até.

– BEIJOS, GALE! – Ela riu mais uma vez e desliguei.