Outono Em Paris escrita por alebazi


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem do primeiro capitulo...



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Hoje separando as roupas dela para dar para caridade, já estava chorando, cada roupa que eu segurava na mão, era uma lembrança que vinha a minha cabeça dela vestida com aquela roupa; mas, não foram as roupas que me fizeram transbordar em lagrimas.

Quando abri a gaveta de camisas dela, bem escondidinho debaixo das camisas, encontrei um desenho, já amarelado de tão velho que estava.

No pequeno rabisco, um esboço da torre Eiffel e duas meninas de costas, observando a torre.

De repente já me encontrava mergulhadas em memórias de uns vinte anos atrás, na época do desenho.

Devíamos ter uns sete, oito anos de idade.

Ela chegou a mim com um papel na mão, e fez um gesto para que eu pegasse aquele pequeno rabisco.

Então delicadamente retirei o papel de suas mãos e observei a imagem.

_somos nós?

_Sim, quando crescermos vamos a Paris - disse ela com convicção.

_É o meu sonho – eu disse, sorrindo.

Ela rapidamente me corrigiu.

_é o NOSSO sonho.

Então sorrimos uma para a outra em um ato involuntário.

Depois de relembrar essa conversa que tive com ela, chorava mais ainda. Nada mais faria sentido sem ela, não conseguiria realizar sonhos, porque só tínhamos sonhos compartilhados, eu não conseguiria realizá-los sozinha, só de pensar que ágora no ‘’eu’’ e não mais em ‘’nós’’ já era um verdadeiro pesadelo.

Ainda relembrando o passado agora já não mais tão distante, mas precisamente, na nossa adolescência. Relembrei de como éramos unidas talvez até dependentes uma da outra.

Lembro-me que adorávamos jogar futebol e basquete. Mas, só jogávamos juntas se uma não quisesse ou parasse de jogar, a outra rapidamente arranjava uma desculpa para o resto do time e também parava de jogar.

Muitos achávamos que não tínhamos vidas individuais, tínhamos sim, mas nada que fizéssemos teria graça se a outra não participasse.

E agora esse pesadelo me assombrava mais uma vez, não existíamos mais ‘’nós’’ e sim só o ‘’eu’’.

Dessa vez junto com as lagrimas veio o arrependimento.

Arrependo-me amargamente até hoje de não ter dito que a amava não que eu não a amasse, apenas achava melhor não ficar recitando essas três palavras, pois achava que se um dia terminássemos, ela sofreria menos, ela nunca soube o motivo de eu nunca dizer ‘’eu te amo’’ para ela, devia pensar que eu era insensível. Em vários pontos nunca tivemos pensamentos iguais, esse era um deles, sempre que me via ela dizia ‘’eu te amo’’eu apenas sorria e perguntava ‘’por que sempre que me vê diz que me ama?’’ ela apenas sorria e dizia ‘’por que meu amor por você se renova e se fortalece cada vez que te vejo’’e eu então apenas lhe beijava delicadamente a testa e dizia ‘’você está linda’’talvez esse seja a minha forma camuflada de dizer que eu a amava.

Não sei como conseguíamos ser tão perfeitas juntas, como conseguíamos ser tão unidas, se éramos tão diferentes.

Talvez a teoria ‘’os opostos se atraem’’ tenha algum fundamento.

Ela sempre acordava primeiro, ia até a janela e a abri-a para que o sol pudesse iluminar o quarto ,em seguida,corria até a cama e pulava em cima de mim,como uma criança .E dizia ‘’acorda amor,hora de acordar!’’eu apenas me virava para o lado e dizia ‘’me deixe dormir, ainda é madrugada’’(mesmo quando o relógio já apontava para as onze horas da manhã) mas, ela insistia ‘’não vou deixar que o amor da minha vida perca esse dia lindo. ’’eu então me rendia àqueles olhos fascinantes e me levantava.

Era impressionante como ainda agíamos como eternas adolescentes perto da outra, mesmo já beirando os trinta anos de idade.

Depois de ficar relembrando os belos momentos que passei com ela, a sua imagem e as palavras que me disse no hospital antes de partir insistiam em não sair da minha mente.

_você tem que ir para casa - disse ela.

_daqui a pouco eu vou – disse eu, mentindo.

_Você precisa se alimentar – Disse ela, com a voz falhando.

_eu já comi algo na cantina – disse eu.

_Você acha que eu vou morrer? – ela me perguntou.

Eu peguei sua mão cuidadosamente e a beijei de leve.

_não, se você morrer, eu também morrerei, até por que não existe ‘’eu sem você’’da mesma forma que não existe ‘’você sem eu’’, a única coisa que existe é o ‘’nós’’.

Ela então passou sua mão pelo meu rosto e disse bem baixinho.

_Querida, nós sabemos que as chances são poucas, mas, não importa o que aconteça, eu sempre vou te amar, até mesmo quando eu não mais estiver aqui.

Eu então deixei uma lagrima escorrer, não queria chorar, queria que ela me visse tranqüila para que ela também pudesse ficar tranqüila, mas, foi inevitável.

_vai ficar tudo bem – ela me disse tentando me confortar.

Eu então a beijei na testa e dei um leve sorriso para que eu parecesse bem.

Antes de a levarem para a cirurgia, ela abriu uma pequena gaveta que ficava no quarto e me presenteou com um caderno.

_é para você, abra em uma segunda-feira se eu não resistir a cirurgia - disse me entregando o caderno, e depois dizendo – Eu te amo,minha querida.

E então a levaram para a cirurgia.

Eu fiquei imóvel depois que ela me disse que me amava, ela sempre me disse isso, mas, aquele foi diferente soou como um som de adeus.

Eu ia dizer que a amava, mas como disse ,fiquei imóvel.

Depois de três horas informaram que ela não havia resistido, àquilo era o provável, mas eu não consegui me controlar, transbordei em lagrimas, eu acho que chorei o rio Nilo inteiro.

Quando cheguei em casa ,aquela que era símbolo de felicidade e união,se tornara um lugar vazio e sombrio.havia varias fotos nossas espalhadas ,todas com belos sorrisos ,mas eu não via mais nada além de uma casa fria e vazia.

Desde aquele dia eu não havia ainda conseguido ler o caderno que ela me deu, mas hoje era segunda, então resolvi ver o que tinha dentro daquele tão misterioso caderno, soltei o desenho que ainda se encontrava em minhas mãos e peguei o caderno.

Ao abri-lo ela havia escrito:

‘’minha querida. Sei que não vai conseguir se acostumar tão cedo com a minha partida, da mesma forma que eu não conseguiria viver sem a sua. Mas, eu não quero que fiques muito tempo chorando por mim, pelo contrario quero que você faça tudo que fazíamos antes ,jogue futebol,jogue basquete,veja aqueles filmes românticos e dramáticos que víamos nas tardes de sábado enroladas nas cobertas,bem,faça tudo o que te faz lembrar de mim.Deixei algumas folhas em branco no final do caderno use-as para relatar como foi essas coisas simples a e por favor não se esqueça de escrever sobre a viajem de Paris que você fará daqui um mês por que eu comprei uma passagem para você visitá-la daqui um mês.ah eu também escrevi para cada dia da semana durante um ano,um verso,poema ,letra de musica,memórias do nosso passado,enfim,algo que fizesse você se lembrar do ‘’nós’’.’’

Ao virar a folha lá estava:

‘’segunda-feira.

Há amores que passam rápido, num piscar de olhos. Mas o nosso foi feito para durar até o ultimo piscar.

Eu te amo’’

Eu já não sabia se eu sorria ou se eu chorava, minha vontade era ler o caderno inteiro, mas ela disse que era apenas um por dia,resolvi respeitar o seu desejo, então, delicadamente fechei o caderno e fui dormir para que na manhã seguinte eu fizesse tudo que me lembraria nela e para ler, mas um pedacinho daquele adorável caderno que ela havia me dado de presente.



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Notas finais do capítulo

Aceito criticas construtivas
e elogios também rsrs



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