- Como se sente?- uma mulher vestida de branco, talvez médica, perguntou.

- Confusa.- respondi com alguma dificuldade.

- Lamento, mas agora todos têm de sair. Preciso de ficar a sós com a paciente.- a mulher disse com um sorriso amigável e depois de eles terem saído depositou toda a sua atenção em mim..- Pois vamos lá começar. O meu nome é Mafalda, sou a médica que está a tomar conta do teu caso. Posso fazer-te algumas perguntas?

- Claro que sim. Mas posso perguntar só uma coisa?

- Diz....Katherine, certo?

- Certo, mas pode chamar-me só Kate. O que eu quero saber é quem são aquelas pessoas lá fora.

- Não te lembras delas?- a médica parecia preocupada

- Não, apenas de Thomas. Deveria lembrar?

- Já reparei que o caso é mais grave do que aquilo que eu imaginei. Teremos de fazer mais exames....- a médica levantou-se e preparou-se para sair.

- Mas, e as perguntas?

- Sentes-te capaz de responder?- Mafalda abriu um sorriso simpático

- Sim eu acho que sim...

- Vamos lá ver isso então...- Mafalda voltou a sentar-se na cadeira ao lado da minha cama, sem nunca tirar o sorriso amigável e acolhedor da cara.- Lembras-te do teu nome, por isso passemos á próxima. Que pessoas da família te dás melhor?

- Sou amiga de todos. Mas a minha mãe está presa até eu provar que ela é inocente. A minha irmã está a caminho  porque vem para cá estudar, e o meu pai fica lá a trabalhar e a dar apoio á minha mãe.- respondi rapidamente

- Parece-me uma história interessante. Mas continuando, tens-te alimentado de forma diferente?

- Não, sempre comida saudável e equilibrada.

- Tiveste, recentemente, algum acontecimento que te tenha esgotado muito?

- Se tivesse sido só um..a minha vida tem andado confusa...

- Isso parece-me motivos suficientes para esse coraçãozinho não ter aguentado tanta pressão. Faremos assim, agora descansas, mais tarde Thomas pode entrar e ele explica-te quem são aquelas pessoas todas. Depois da visita dele teremos de fazer exames para perceber de onde vem essa amnésia. Pode ser?

- Isto é muito confuso...- confessei

- O teu caso não é grave, pelo menos até agora. Não desanimes. Segundo os meus anos de experiência estás a passar por uma amnésia temporária. Geralmente em casos como o teu dura alguns dias ou algumas semanas.

- O que a terá provocado ?- mostrei que estava realmente em pânico.

- Talvez a queda. Não te preocupes, nós vamos descobrir.- Mafalda levantou-se calmamente e abriu a porta.- Descansa.

Fiquei a olhar para a porta após ela sair. Como é que eu haveria de descansar? Eu não me lembrava de toda aquela gente e isso era demasiado egoísta da minha parte. Com certeza eram pessoas minhas amigas  ou colegas, mas eu não me lembrava de nada.

Eu estava tão confusa....eu precisava de alguma coisa que me fizesse lembrar de algo.

- Posso?- Thomas colocou a cabeça pela frincha da porta e pediu para entrar, algumas horas depois.

- Claro.

- Como estás?- perguntou-me depois de um curto abraço.

- Confusa...não me lembro de mais ninguém para além de ti.

- Estás a gozar certo?

- Não.

- Não te lembras do Jameson? Do Nathan, da Filipa...? Nada?

- Nada. Qual é  a parte que não entendes? Eu não me lembro de ninguém. nin-guém.

- Sabes quem é a Nicole?

- Sim, essa é fácil. Essa é a tua mãe.- sorri

- Não está tudo perdido...mas o que é que a médica disse?

- Que tenho de fazer mais exames. Que isto é uma amnésia temporária que pode durar dias ou semanas, mas voltará tudo ao normal.

- Mas isso é bom...quer dizer é mau..mas bom...- naquele momento ele estava com certeza, mais confuso do que eu.

- Posso pedir-te um favor?

- Diz. Tudo o que quiseres...

- Podes trazer-me fotos, albuns, filmes, sei lá...qualquer coisa que me faça lembrar de tudo e todos...

- Okay. Eu trago tudo o que tiver amanhã no horário de visitas. 

- Desculpem incomodar. Está na hora de fazer mais exames...- um enfermeiro abriu a porta e falou imediatamente.

- Não há problema. Já estava de saída.- Tom respondeu e recebeu um sorriso do enfermeiro de troca.- E quanto a ti, cuida-te. Chega o susto que nos pregas-te...está bem, mocinha?

- Vá...vai lá embora, já havias de ter ido.-sorri.- Mas antes anda cá e dá-me um abraço.

Thomas assim fez, e assim que nos largamos o enfermeiro levou-me pelo meu próprio pé até á sala de exames.

Lá estivemos mais de duas horas. Estive sempre rodeada de médicos e enfermeiros e sempre que necessário, repetíamos o mesmo exame vezes sem conta.

Fiquei completamente esgotada.

Assim que tudo aquilo terminou levaram-me de volta para o quarto. Só aí percebi que estava num quarto partilhado. Pois ao meu lado estava uma cama com um rapaz mais ou menos da minha idade. Ele dormia profundamente. Talvez por isso eu não tivesse dado conta mais cedo, de que tinha companhia.

- Preferes saber os resultados mal eu os descobrir ou mais tarde?- Mafalda que me tinha acompanhado no regresso ao quarto, perguntou

- depende, se eu estiver a dormir assim que os resultados saírem, eu prefiro saber depois. Isto se não incomodar.

- Claro que não. Estou no banco de urgência á várias horas, mas no te caso eu ficarei aqui no hospital o tempo que fôr necessário.

- Obrigado.- sorri

- Sabes, eu vou dizer-te uma coisa. O melhor agradecimento que eu posso receber após um longo e duro dia de trabalho é esse. È ter um doente com um sorriso maravilhoso como esse, estampado na cara.

- Eu acredito que sim.- continuei a sorrir.

E foi nesse momento que Mafalda se afastou, deixando-me a descansar. De uma coisa eu sabia, assim que acordasse, muita coisa iria ser diferente.