Diário de Semideuses escrita por Karla Aguiar


Capítulo 5
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

Esse foi o mais demorado que eu fiz, então, espero que gostem. *o*



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Dessa vez tive um sonho com o mesmo cara com um cavalo ao invés de pernas e com o garoto de cabelos louros e olhos castanho-claros. Mas dessa vez, tinha também um outro homem na cena. Era do tipo de cara que eu esperava que passase o dia inteiro num bar jogando baralho e usasse ténis de corrida apenas porque eram confortáveis. Ele era rexonxudo, bochechas rosadas, não pude deixar de imaginar, mesmo em sonho, que quando criança ele deveria ser um dos mais bonitos. Já tinha visto pesquisas assim: crianças bonitas viram adultos feios. Ele não era exatamente feio, só... Com rosto desproporcional à idade.

- Chamou, Quíron? – Falou o Miguel (já tinha decorado o nome dos personagens dos meus sonhos). – Olá, Senhor D. –Ele fez um tipo de reverencia, coisa que o rexonxudo apreciou muito.

- Sim, Miguel. – Falou Quíron, mas percebi agora, ele estava diferente. Estava em uma cadeira de rodas. Imaginei onde estaria sua parte cavalo. – Estavamos comentando aqui sobre o semideus que foi raptado pelos nossos inimigos. E também sobre a probabilidade de haver outro raptado juntamente com este.

- E... ? – Ele perguntou um tanto impaciente, esperando que Quíron chegasse ao ponto em que essa história começasse a ter haver com ele.

- E daí que pensamos que uma missão em busca dele seria importante. Talvez até para descobrirmos mais sobre a senhora da terra e seus exércitos. E talvez, até para resolver o clima no olimpo. Está havendo uma guerra particular entre Poseidon e Hades contra o resto do olimpo, como motívo, esses semideuses que foram raptados. – Ele deu um suspiro. – Nunca pensei que diria isso; mas Hades e Poseidon estão unidos com um propósito; Colocar a culpa em Zeus pelo sumiço desses dois semideuses. Um filho de Hades e outro de Poseidon.

- Só porque Hades e Poseidon não se dão bem com Zeus e porque Zeus odeie partircularmente semideuses filhos desses dois deuses, não quer dizer que ele queira que a mãe terra os sequestre. Talvez ele os queira mortos, mas sequestrados, Quíron? Isso já é demais. – Ele usou sarcásmo em toda parte que falou, mas na parte de “mãe terra”, foi mais acentuado, como uma piada particular. Da mesma forma que alguém chamaria uma dessas mulheres que dão o corpo por dinheiro de boas mães.

- Se eu fosse você, poupava seu sarcásmo para a missão. Você irá. – Disse o gordinho com cara de bebê pela primeira vez. Ele tinha a voz que eu esperava. De alguém que passou a noite bêbado e acordou hoje de manhã com uma enorme ressaca, a voz era firme, porém, voz de bêbado, e um bêbado extremamente mal humorado.

- O quê? – Ele olhou do Sr. D para Quíron como se eles tivessem acabado de sugerir que ele vestisse um daqueles tutús de balé, colocasse uma toalha na boca e dancesse alguma música com gestos e letras obsenas.

- Não é exatamente agora. Estamos esperando algum semideus chegar. – Quíron disse pacientemente. – Uma semideusa, filha de Zeus, em particular.

- Uma filha de Zeus salvando um filho de Hades e outro de Poseidon? – Miguel sorriu com desdém. – Ah, estou dentro, com certeza. Isso vai ser bem... – Ele entrou momentaneamente em um estado de concentração, como se procurasse a palavra certa. – Interessante. – Concluíu com o sorriso mais largo, se possível, como se ele realmente gostasse de ver uma grande encrenca.

Quíron e Sr. D. não se importaram com a reação de felicidade do garoto por ver desespeto alheio. Pareciam quase... acostumados.

- Não vai ser assim tão interessante se também tiver no meio um filho de Apolo, com o nome de Miguel, e para sermos mais específicos, um garoto extremamente irritante que vai separar quaisquer sinais de briga, confusões ou coisas do tipo. – Disse Sr. D. Miguel fez um muxoxo, parecendo desapontado.

- Que pena... Queria tanto ver o sangue de pessoas inocentes correr solto pelos caminhos difíceis que teremos que enfrentar nesta longa jornada... – Ele falou com ironia.

- Tudo bem, vocês não tem nenhuma captura à bandeira ou uma fogueira para ir? – Disse entediadamente Sr. D., que agora arrumava cartas de baralho como se fosse começar um jogo.

- Não. – Disse imediatamente Quíron. – Mas creio que meu assunto com Miguel está tardiamente encerrado.

- É, mas acho que ia ser legal um jogo de poker. – Disse o adolescente indo se sentar em uma das várias cadeiras vazias da mesa. Então Sr. D lhe lançou um olhar perturbador para Miguel, que ficou encarando alguns segundos as pupilas pretas arrocheadas do cara de bebê.

- Tudo bem, tudo bem. – Disse ele com as palmas da mão viradas para o Sr. D num gesto que significava algo como “entendi que não sou bem-vindo, mas não me machuque ou me deixa perturbado”. E então, meu sonho acabou.

Fiquei deitada na cama olhando o teto e pensando se a Cinderela se sentiu assim quando deu meia-noite. Mas a diferença é esse, primeiro: O meu era basicamente, um pesadelo. Segundo: Todos do sonho estavam longe de serem principes encantados, talvez o garoto de olhos castanho-claros luminosos. Mas isso também não vem ao caso. A questão é:  Estava tendo sonhos malucos em que as pessoas falavam de semideuses, deuses gregos, sequestros e tudo mais. Pra mim, isso só tinha uma explicação, era realmente difícil de aceitar. Mas eu vi isso, está tão óbvio. Mas mesmo assim, é duro de admitir que na cidade cujo país é a maior potência mundial as pessoas droguem sua comida.

Olhei para o relógio da mesa de cabeceira. Ainda era 3:47 da manhã. Fiquei rolando pela cama e tentando achar uma posição para dormir. Mas acho que era isso, não conseguiria mais dormir hoje.

Meti a mão debaixo do meu travesseiro, sempre deixava lá um livro para horas como essa. Peguei o exemplar surrado de Crepúsculo e comecei a reler-lo, mas parei no primeiro parágrafo. Não estava com cabeça para isso. Agora, não conseguia pensar em outra coisa se não o sonho. Depois de repassar-lo trilhões de vezes em minha cabeça, começei a prestar em detalhes simples. Como a lata de Coca Diet do roxonxudo, ou mesmo, como o garoto loiro era bonito.

Miguel, o nome dele. Ele era exatamente como eu imaginaria o Jace Wayland, da saga Os Instrumentos Mortais. Ele tinha cabelos bagunçados, loiros claros, do tipo de tom que eu sempre quisera no meu cabelo. Tinha também olhos castanho-claros lindos, meio dourados. Parecia como se tivessem derretido um anel de ouro e colocado no lugar das irís. Ele tinha também aquele formato de rosto do Alex Pettyfer, o que o só o fazia parecer mais bonito. Era do tipo que eu pensava que as garotas sempre desejavam, quero dizer, não só algumas garotas, mas exatamente todas. Ele era perfeito.

Fiquei sonhando acordada com o personagem imaginário dos meus sonhos por algum tempo. Até ver as horas. 5:19. Fui correndo ao meu notebook. O professor de biologia me recebera muito bem me mandando fazer um relatório do que tinha aprendido na minha última unidade. Tentei dizer a ele que não precisava, ele não teria nenhum trabalho comigo, tirara as melhores notas. Sempre. Mesmo em biologia.

Fui me arrumando, vesti um jeans skinny preto, uma camiseta do Red Hot Chilli Peppers e coloquei uma camisa xadrez desabotoada por cima. Coloquei os materiais escolares e o meu notebook dentro da mochila, esperava poder terminar no caminho, cancelaria a carona com minha mãe e iria de ônibus, daria mais tempo para terminar o relatório. E isso, colocando todas as minhas fichas em que tenha uma impressora na biblioteca do colégio.

Por algum tipo de intuição, coloquei algumas notas de dinheiro a mais na minha carteira e peguei meu livro Cidade dos Ossos, tinha impressão que não ia voltar tão cedo pra casa.

Quando passei pela cozinha bebi suco de laranja direto da caixa e fui correndo para não perder o ônibus. Quando cheguei na escola, as aulas ainda não tinham começado, fui prum banco terminar minha tarefa, estava concentrada em minhas tarefas até ouvir a voz familiarmente agradável gritar meu nome.

- Isa-isa-isabelle! – Disse Vick no tom normal dela. Já estava sentindo falta das maluquices dessa garota.

- Bom dia, Vick. – Disse salvando o documento num pen-drive.

- E então, animada para ler seu relatório na classe?

- Ler? Para a classe inteira? Você está no crack? – Disse indignada.

- Não soube? É isso que o professor vai mandar você fazer. É sempre assim. – Ela disse me puxando pelo cotovelo. – Vamos, o sinal já vai tocar. – E, como se esperasse essa deixa, o sinal tocou.

As aulas hoje foram normais, mas como se fosse para compensar, o lado de fora da escola não estava nada normal. Pode parecer loucura, e realmente parece loucura, mas tinham milhares de pessoas enormes causando a maior algazarra e animais medonhos que eu levei algum tempo para perceber que realmente estavam fora do normal.

- O-o quê? – Essa foi, sinceramente, a primeira vez que vi Victória gaguejando. Mas também não era pra menos. Não respondi, deixando o pouco ar que tinha ainda em meus pulmões para quando fosse necessário, também não sabia que se abrisse a boca conseguiria sair algum som dela, ou algo melhor que palavras emboladas.

Olhei para o lado e encontrei os olhos de Vick, certamente, nós duas estávamos vendo a mesma coisa, talvez todos estivessem vendo a mesma coisa, mas, ao contrário de nós duas, que estavamos paradas de boca aberta só olhando, eles corriam loucamente, fungindo dos monstros e se afastando das coisas que estavam pegando fogo. Fiquei ali por mais alguns instantes, que me pareceram horas, esperando por alguma coisa. Cadê os bombeiros? A polícia? A força armada? A marinha? A SWAT? O FBI? Cadê?

Ficaria ali parada por mais um bom tempo, mas então Vick reagiu, me sacudindo pelo ombro.

- Está vendo o mesmo que eu? – Ela perguntou, a voz um tanto rouca e vacilante. Concordei com um aceno de cabeça, não estava ainda pronta para falar. Na verdade, não estava pronta nem para me mexer, mas por algum motivo, senti correntes de adrenalina no meu sangue. Me desafiando a atacar-lós. Peguei alguma coisa da lateral da minha mochila e lancei numa tentativa desesperada de me salvar na cabeça do monstro que atacava algumas crianças pequenas. Me arrependi no mesmo momento.

- Ah, sim, nossa estrela, nosso prato principal. Faz anos que espero lhe reencontrar, filha do deus dos ares. – Não entendi o que ele disse, pois percebi que esse era o menor dos meus problemas. Eu o conhecia, isso veio como uma memória a muito tempo esquecida.

Quando tinha 6 anos, ele era o garoto que batia nas crianças menores, nunca havia percebido, mas agora, olhando direito, ele tinha um olho só.  Sempre atraía crianças com promessas de doces para cantos escuros. Se elas voltavam, tinham um olho roxa e milhares de arranhões. Mas na maioria das vezes elas não voltavam. A única criança que voltou foi uma pequena menina, de longe, a menor da turma. Ela tinha olhos azuis elétricos e cabelos loiros dourados. Mesmo com o olho roxo e os arranhões, ela exibia um olhar de orgulho no rosto, eram raras as vezes que essa menina chorava, e com certeza não ia ser aquela vez. Ela estava contente, tinha acabado, literalmente, com o grandão que batia nas menores, ela não teve nenhum reconhecimento por sobreviver ao gigante. Apenas o olhar assustado pelos colegas, alguns de admiração. Mas não, essa menina não tinha ganhado o que esperava, e nesse momento, fez uma promessa silenciosa, nunca mais salvaria ninguém á não ser ela mesma, e aqueles com quem ela se importava e que se importavam com ela. E essa menina, essa de olhar orgulhoso e rosto egoísta, essa menina era eu.

E esse gigante de um olho só, esse era o valentão que batia nas menores, e eu, seu alvo principal.


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Notas finais do capítulo

Gostam meu semideuses niendjos? *o*
Ficou assim um final do tipo, omg, o que vai acontecer? kkk, só q nã1.



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