Lílian estava em um sono pesado, havia dormido tarde noite passada devido aos primos, que ficaram insistindo que ela continuasse na cozinha conversando com eles. Mas hoje era o dia.

–Hugo, oi. –Lílian disse, abrindo os olhos com certo pesar. Viu que o primo estava levantado do seu lado, ainda de pijamas.

POV Lílian

–Lílian, levanta... –ele disse sonolento. –Mamãe me mandou vir te acordar.

–Por quê? São 7 horas da manhã!

–E que dia é hoje?

–Não sei...

–1 de setembro.

–Ah, certo. Maravilha. Ok, tchau. –eu disse, puxando as cobertas para cima da cabeça.

–LEVANTA LÍLIAN! –Hugo gritou.

–NÃO! –retruquei, me agarrando mais ainda às cobertas, receda de que Hugo a puxasse. Mas ele foi mais rápido, e puxou a coberta.

–Levanta Lílis.

Concordei depois de Hugo insistir muito, e fechei a porta na cara dele. Depois que ele puxou a coberta, já acordei, e agora não dava pra dormir mais.

“Muito obrigada, Hugo” pensei.

Então, vesti uma calça jeans qualquer e uma regata. Peguei meu malão, que já estava pronto, e desci as escadas. Primeiro de Setembro... Pois é, como o tempo passa rápido.

–Obrigada mamãe, por ter ido comprar meus materiais de Hogwarts deste ano. –agradeci, lembrando-me de estar muito cansada ontem para ir para o Beco Diagonal.

–Imagina querida. Eu sei que estava muito cansada... Então eu fui ontem para você. –a mãe deu um sorriso fraternal.

Sentei-me à mesa, onde toda a família já estava tomando o café da manhã. Comi alguns bolinhos de amora, uma das especialidades de sua avó Molly, e tomei um copo de suco. Subi as escadas novamente, e entrei no meu quarto. Depois que terminei minha higiene matinal no banheiro de meu quarto, fui para fora da casa, aonde um carro nos aguardava.

–Tio Rony, você tem certeza que sabe dirigir isso?-eu disse, arqueando as sobrancelhas. –Quer dizer, esse modelo de carro trouxa é mais complicado.

–É claro, Lílian. Está duvidando da minha capacidade como motorista? –ele disse sarcástico.

–Não não, claro que não tio! É só que eu quero chegar a Hogwarts INTEIRA!

Rimos daquilo, e entramos no carro. Apenas eu, Hugo e o tio Rony. Apenas nós três. Sem pais (exceto por Hugo, que é filho do Tio Rony), sem irmãos... Apenas nós e a ansiedade do último ano em Hogwarts.

–É, parece que somos apenas nós dois esse ano, Lílis. –Hugo disse.

–Pois é... –eu comentei, com certa tristeza. Mas minha amiga Kate com certeza iria estar me esperando na nossa cabine habitual, a última de todas. Às vezes Hugo ficava lá conosco, mas raramente deixávamos outra pessoa, além de nós duas, sentar-se na última cabine.

Como senti falta de Kate nesse verão. Ela foi passar as férias no Brasil com seus pais e seu irmão gêmeo. Ambos estudam em Hogwarts.

Kate Faith, a única. Conhecida como uma bagunceira, mas ela é uma excelente aluna quando quer. Às vezes não liga muito pro mundo, e quando liga, eu a ajudo a voltar ao normal. Ela me chama de DiLua... Só ainda não descobri o motivo. Talvez seja pela mulher de quem eu herdei meu segundo nome. Meu pai um dia me contou uma história sobre ela, que envolvia testrálios e o ministério da magia, mas não me lembro muito.

Pensando em reencontrar minha amiga, finalmente percebi que havíamos chegado à estação Kings Cross. É meio triste ver essa fachada pela última vez, como uma aluna embarcando.

Mas ao mesmo tempo me sinto aliviada: é o último ano, e finalmente vou poder fazer o que quiser da vida (se eu escolher em um ano, é claro, de acordo com o combinado com meu pai).

Avistei longos cabelos loiros com algumas mechas azuis de longe: Kate. Ela usava um macacão ridículo de flores, e me assustei com aquilo. Ela geralmente gostava de usar vestidinhos curtos, mas... Um macacão florido?

–Ei, MALUCA FAITH! –eu gritei rindo. Ela virou-se para trás e eu vi que não era Kate. E agora a estação inteira olhava para mim.

Meu Merlin, que vergonha. Eu chamei uma mulher brega de maluca.

Saí discretamente dali, quase esbarrando em todos. Alguns riam da minha cara.

Cheguei logo na barreira para o trem. Não pensei duas vezes e avancei com o carrinho no muro de concreto.

Ainda bem todos já estavam lá. Oras, já eram 10h50min da manhã, e o trem partia em 10 minutos.

–Tio Rony, diga a meu pai que ele vai se surpreender no fim do ano.

Eu disse aquilo e nem sequer disse mais nada nem fiquei para escutar uma resposta. Apenas saí andando com meu malão, em direção à entrada do expresso.

Cheguei à última cabine. E lá estava Kate.

–Katie MALUCA Faith! Onde você estava?

Eu contei o que aconteceu com a mulher do macacão, e ela começou a rir da minha cara.

–Isso, ri mesmo. –eu disse, rindo junto. –Ei, que vestido lindo esse! Você tem que me emprestar um dia. E que cabelo demais.

–Nos seus sonhos querida. Esse vestido é exclusivamente meu! –ela disse, se levantando e dando uma voltinha, exibindo seu lindo corpo e sua linda roupa.

Continuamos discutindo pelo vestido, e ela finalmente concordou em me emprestar.

–Posso sentar aqui? –Hugo disse entrando na cabine e se sentando.

–Agora que já sentou... –Kate disse. Ah é, já contei que os dois não vão com a cara um do outro? Pois é, inacreditável né? Nem um pouco. Eles são totalmente opostos em certas coisas.

–Uau. Caprichou hoje hein, Faith. –ele disse, recaindo os olhos sobre o corpão da minha amiga.

–Quem você pensa que é pra se quer olhar para meu corpo? –ela disse, arqueando as sobrancelhas.

–Eu sou... –ele foi responder, mas eu o cortei.

–Chega! Dá pra calarem a boca? Se vier causar, pode ir embora Hugo!

Ele levantou as mãos para o ar, em um ato de rendimento, e saiu da cabine, sussurrando para si mesmo.

–Nem sei como você ficou com ele, Lílian. –ela disse.

–Já disse pra não falar isso em voz alta! –eu disse suplicante. –Ele ainda acha que ninguém sabe. Mas só nós três sabemos, ok? Por favor, não toca mais nesse assunto!

–Você fala isso como se ele beijasse mal. - ela disse maliciosa.

–O problema não é esse. Ele até beija muito bem, mas... Pelas Barbas de Merlin, Kate, nós somos primos!

–Tá tá, já entendi, sra. Perfeita. –ela disse implicante.

E fomos brigando sobre isso até o meio do caminho. Ela cansou de gastar argumentos e colocou os fones de ouvido trouxas e começou a escutar músicas em seu celular também trouxa.

A música estava tão alta que não me concentrava no caminho.

–Pode abaixar, por favor? Ou colocar uma música melhor sem ser Green Day? –eu disse.

–Mas é claro Lílian. –então ela abaixou a música. Até parece que ela iria trocar de banda.

Adormeci com a cara grudada na janela. A paisagem não parecia muito interessante esse ano. Acho que depois de sete anos, fazendo o mesmo caminho, você já conhece árvore por árvore do caminho.

Finalmente, a monitora passou de cabine em cabine avisando para vestirmos os trajes de Hogwarts, e assim o fiz, pensando...

“Sétimo ano, já estou chegando.”