POVs Valerie

Meu pai resolveu me dar uma folga essa semana. Então resolvi dormir na casa de Morgana, pra ficar um pouco longe de Anette, que não parava de me interrogar com suas desconfianças sobre a atitude de Jimmy na igreja. Meu pai podia ter esquecido o que Jimmy disse, mas ela não, aquela peste tinha uma memória de um elefante.

Estive dois dias sem noticias de Jimmy. E isso estava me deixando maluca. Nem Morgana estava conseguindo me distrair, e ela era boa nisso. Pelo menos sem meu pai, e a vaca da Anette por perto, nós poderíamos sair sem ficar dando mil explicações, ou sem ter que pular a janela. Os pais de Morgana eram ótimos. Lembravam muito minha mãe. Sempre cuidadosos, mas jamais tentando tomar decisões pelos filhos, mas sempre apoiando as suas decisões com amor e compreensão.

Saímos da casa dela por umas cinco horas da tarde, e fomos encontrar Serena e Live, uma conhecida que fazia academia com Morgana. Ficamos centro da cidade, em uma praça, conversando e comendo besteira até anoitecer. Mais tarde, quando estávamos voltando para casa, meu telefone tocou. Era Jimmy:

-Jimmy? –atendi-

-Onde voce tá? Preciso te ver... –ele pareceu nervoso-

-To voltando pra casa da Morgana... O que aconteceu? Voce tá bem?

-Me encontra na igreja, eu to indo pra lá agora... –ele estava ouvindo musica pois eu podia ouvi-la ao fundo pelo telefone- 

-Jimmy? Ta tudo bem? –notei que a voz dele estava muito séria-

-Eu to te esperando Valerie... Por favor...

-Tá bom, eu vou pra lá...

Desliguei o telefone e Morgana estava no banco da frente do carro ao lado de Live, olhando pra mim.

-O que foi? –disse ela-

-Era ele... –não disse seu nome por medo de Live conhecê-lo-

-O que ele queria?

-Quer me ver... E ele parece nervoso...

-Onde ele tá?

-Na igreja.

-Live, pode levar agente até a catedral? –perguntou Morgana-

-De boa! Aconteceu alguma coisa? –disse ela curiosa-

-Nada demais! Mas parece que um amigo nosso tá com problemas... –disse Morgana-

-Ah ok! Vamos lá então... Eu deixo vocês lá...

Viramos-nos a estrada e voltamos pelo mesmo caminho ate estarmos na frente da igreja. Avistei o carro de Jimmy estacionado logo no outro lado da rua. Imaginei que ele estivesse me esperando dentro da catedral. Então pedi que as meninas fossem embora e me deixassem ali. E assim elas fizeram.

Atravessei a rua, e entrei na igreja a procura de Jimmy. Ele estava em pé, em frente ao altar, olhando para uma imagem de Cristo, na cruz. Andei devagar até que ele ouvisse meus passos, e se virasse. Notei que seus olhos estavam agoniados, e melancólicos. Ele parecia não dormir a dias, e estava com o cabelo despenteado. Quando me aproximei, e o olhei nos olhos, ele simplesmente deu dois passos a frente e me abraçou, com força como se nunca mais fosse me ver de novo. Isso me fez sentir uma imensa sensação de vazio por dentro. Tive medo que algo ruim fosse acontecer.

-Jimmy... –eu disse abraçada a ele-

-Obrigado por vir... –ele se afastou e me olhou-

-O que aconteceu?

-Precisava te ver... –ele tocou meu rosto- Saber por que to fazendo isso...

-Fazendo o que? –comecei a ficara agoniada- To ficando preocupada Jimmy aconteceu alguma coisa?

-Voce me ama Valerie? –ele segurou meu rosto com ambas as mãos-

-O que? Por que tá perguntando isso?

-Preciso saber se voce me ama tanto quanto eu amo voce...

-Jimmy, voce tá me assustando...

-Só responde a pergunta...

-Sim! Amo... –fui pega de surpresa pelas minhas próprias palavras, mas sim. Eu o amava-

-Quanto?

-Como assim quanto? Voce quer uma porcentagem?

-Ate aonde voce iria?

Eu o olhei nos olhos e meu coração estava apertado, mas eu tinha certeza:

-Pra qualquer lugar... Eu faria qualquer coisa por voce... Qualquer coisa...

-Meus pais adiantaram a data do meu casamento com Jéssica...

-O que? –isso foi como uma facada no meu peito-

-Mas eu não estarei aqui pra vê-la subir até esse altar...

-O que vai fazer?

-Foge comigo? –ele foi direto ao assunto-

-Fugir? –hesitei- Fugir pra onde?

-Pra qualquer lugar... Longe daqui, onde nenhum deles possa se meter na nossa vida. Nossos pais nunca vão deixar agente viver em paz... Eles vão acabar nos matando...

-Jimmy isso é serio...

-Eu nunca falei tão sério na minha vida. Eu to disposto a fazer qualquer coisa por voce... Se voce me pedir pra ficar e enfrentar essa loucura, eu fico. –ele segurou ainda mais firme meu rosto- Mando-os pro inferno se for preciso. –ele ignorou totalmente que estava dentro de uma igreja- Mas não vou permitir que eles controlem minha vida assim. Nem a sua...

-Deve ter outro jeito de resolver isso...

-Não há... –ele disse sério, com tom mais alto na voz- Voce e eu sabemos muito bem disso. Vivi minha vida inteira sufocado pelo que meu pai queria que eu fosse. E minha mãe nunca se opôs a ele... Ninguém quis saber o que eu queria... E isso não é diferente com seu pai.

-Como vai ser depois? –eu estava mesmo pensando na possibilidade de fazer o que ele dizia, mas aquilo era assustador-

-Eu não sei... Mas precisa confiar em mim... Voce confia em mim Valerie?

-Sim...

-Então o que me diz?

Eu sabia que dizer sim aquela loucura toda, seria a coisa mais idiota e impensada que eu faria na vida. Nós não tínhamos nada pra levar conosco. Seriamos apenas nós dois, sem rumo por ai, sem nada além do que sentíamos um pelo outro. E apesar de amara Jimmy com todas as forças que eu não sabia que existia dentro de mim, eu não era iludida a ponto de achar que amor enche barriga. Como seria depois que estivéssemos longe o suficiente dos nossos pais? Como viveríamos? Mas nada no mundo seria motivo suficiente pra desistir de Jimmy...

-Sim... –respondi sem pensar mais- Mesmo que essa seja a coisa mais idiota e estúpida que eu esteja fazendo... Mas eu vou com voce pra qualquer lugar... Que se dane o resto...

Jimmy sorriu levemente, e então se aproximou de mim e me beijou. Depois olhou nos meus olhos e disse:

-Eu nunca vou magoar voce... Entendeu?

-Eu confio em voce...

-Eu amo voce Valerie...

-Tambem amo voce Jimmy...

...