Mais um domingo na catedral, lotada por famílias da grade social mais alta da cidade. Tive que passar a reunião inteira, vendo Jimmy sentado ao lado daquela garota. E eu não podia dizer, nem demonstrar nenhum sentimento, pois estava sentada ao lado de meu pai. Mesmo que ele nem prestasse atenção em mim, sua esposa querida fazia isso pelos dois.

Depois da reunião, meu pai se levantou como sempre e se pôs a conversar com seus eleitores e apoiadores, na porta da igreja. Ele ainda estava dentro da catedral, e dois padres estavam unidos a pequena reunião particular. Já próximos ao altar, a família de Jimmy conversava como o bispo oficial da nossa igreja. Deveriam estar tratado do casamento de Jimmy com aquela garota, pois eles estavam juntos.

-Valerie. –disse Anette me vendo sentada ainda no banco- Vá para a sala de confissão, o padre irá ouvir voce assim que terminar o assunto com seu pai...

-Eu irei quando ele terminar...

-Vá agora, e aproveite pra rezar. Vi que voce não prestou atenção em nenhuma palavra do bispo a cerimônia inteira. Faça o que eu mandei...

-Voce não é minha dona Anette...

-Não, mas sou responsável por voce. Agora faça o que eu disse garota... –ela me pegou pelo braço me tirando do banco-

-Eu odeio voce... –eu disse em frente a ela-

-Me odeie o quanto quiser isso não mudará nada! Agora vá...

Virei-me tremendo de ódio daquela mulher, e fui fazer o que ela ordenou. Passei pelo altar, com alguns metros de distancia de Jimmy, e sua família. Não os olhei apenas me dirigi até a sala, separada por uma imensa e grossa cortina vermelha. Lá eu esperei...

Vi a cortina se erguer um pouco e alguém colocar as mãos por entre ela. Deveria ser o padre vindo pegar minha confissão. Levantei-me do banco em que estava sentada de frente para uma santa qualquer. Mas quem vi atravessar as cortinas foi Jimmy. Olhei-o nos olhos, e em seguida me virei para sair pelo outro lado da catedral. Mas Jimmy me segurou pelo braço, me fazendo ficar. E disse:

-Valerie, espera... Ouça-me...

-Não tenho nada pra falar com voce Jimitry... Deixe-me em paz... –tentei me soltar, mas ele agarrou meu braço com mais força-

-Preciso te contar uma coisa...

-O que? Que voce esta noivo e mentiu pra mim quando te perguntei sobre o assunto? Isso eu já sei.

-Não. Tem mais sobre isso que voce precisa saber...

-Tambem já sei que voce é um mentiroso e que só queria se divertir comigo antes de se casar... Poupe-me das suas explicações falsas... –tentei mais uma vez me soltar-

-Eu não vou me casar Valerie... Escuta-me...

-Tira as suas mãos de mim, ou eu vou gritar... –eu estava com muita raiva-

-Então vá em frente, grita, por que eu não vou soltar voce... Não ate que voce me escute...

-Não há nada que saia da sua boca mentirosa que eu queira ouvir...

-Meu noivado com Jessica é uma armação... Eu não quero me casar com ela, nunca quis... Nós tínhamos um acordo, de convencer meus pais de que isso era um erro, mas agora Jessica mudou de idéia, e decidiu que tambem quer esse casamento. Mas eu não...

-Puxa! –comecei a ser irônica- Que historia triste Jimmy, quase parece real. Voce devia chorar um pouco pra passar mais credibilidade...

-Valerie, é verdade. Meus pais querem que eu me case com ela, por que acham que isso é bom pra mim. Acham que eu preciso de uma esposa como ela, pra estar ao meu lado quando eu assumir os negócios da família. Mas eu não ligo pra nada disso. Nem sei se quero seguir os passos do meu pai...

-Fale com o papai! Talvez ele fique com pena de voce, e te liberte desse grande peso... Agora me deixa em paz...

-Valerie, eu não consigo mais ficar longe de voce. Não sei por que, eu não consigo. E eu sei que voce sente o mesmo. Precisa acreditar em mim.

-Eu não acredito em uma palavra do que voce disse. Nada do que voce diga ou faça vai me fazer acreditar em voce outra vez. –eu tive vontade de chorar olhando nos olhos dele, mas não- Voce não sabe o mal que me fez Jimmy. Não deveria brincar com os sentimentos das pessoas assim...

-Me diz o que voce quer... Qualquer coisa... Eu faço qualquer coisa que voce quiser pra voce acreditar em mim. Eu sei que o que eu sinto por voce é real, e sei que voce tambem sente isso por mim, só tá magoada demais pra admitir, mas eu sei.

-Faça o que quiser... Não vai adiantar... É tarde demais... –eu disse me afastando dele-

-Tem uma coisa... –ele abaixou a cabeça e ficou com o olhar fixo no chão- Voce vai acreditar em mim. –ele ergueu os olhos na minha direção- Vai ver que eu to falando sério...

Jimmy se virou e passou pelas cortinas vermelhas indo em direção ao interior da catedral. Eu andei até a cortina e a abri parcialmente vendo Jimmy passando por Jessica e indo em direção ao corredor da igreja.

POVS Jimmy:

Passei por Jessica e meus pais no corredor da igreja, decidido a dar um fim naquilo tudo. Iria provar pra Valerie que eu não estava mentindo pra ela. E que eu realmente me importava.

-Jimmy? –Jessica me chamou, enquanto eu me afastava-

Ignorei-a, e avancei rapidamente em direção a porta, onde Gerard Scotfield conversava com dois padres e alguns políticos. Minha intenção era falar com ele. Estava disposto a dizer a ele que estava apaixonado por sua filha, e que arriscaria tudo por ela. Podia ser a coisa mais estúpida que já fiz na vida, e provavelmente era, mas não tinha outro jeito de provar pra Valerie que eu não a estava enganando.

-Senhor Scotfield... –o chamei-

Ele se virou devagar ao ouvir minha voz. Quando viu que era eu quem o chamava, me olhou com a testa franzida e com desprezo. Coisa que ignorei e segui com meu discurso:

-Queria a sua atenção por um instante... 

-Como é? –ele disse dando dois passos a frente- Como ousa se dirigir a minha pessoa seu moleque atrevido?

-Jimmy? –ouvi a voz de minha mãe um pouco atrás-

-Preciso de apenas um minuto da sua atenção, se me permitir... –continuei- Sei do seu problema com meu pai, mas este é um assunto particular, sobre sua filha e eu...

-O que voce tá dizendo aí seu fedelho? Que tipo de assunto pode ter entre voce e minha filha?

-Jimitry? –ignorei a voz do meu pai ecoando pela igreja em tom alto-

-Tá tudo bem pai, isso é assunto meu... –apenas respondi mantendo os olhos em Scotfield-

POVS Valerie:

Não acreditei no que Jimmy estava fazendo. Ou ele era completamente maluco, ou era suicida. Falar com meu pai, seria a ultima coisa que ele deveria fazer na vida. No que ele estava pensando?

Mesmo que eu pedisse alguma prova de sua sinceridade, jamais seria algo assim. Eu não queria ver o que meu pai faria com ele, se atrevendo a lhe dirigir a palavra. Seus pais deviam saber que aquilo não acabaria bem, pois eles ficaram tão nervosos quanto eu, ou mais. Decidi que impediria que ele continuasse com aquela loucura. Se ele queria me convencer de que estava falando a verdade, e realmente gostava de mim, já tinha conseguido.

Corri até eles na porta da igreja, e cheguei a tempo de impedir que meu pai avançasse pra cima de Jimmy.

-Pai... –gritei quase em um susto segurando-o-

-O que pensa que vai conseguir vindo me enfrentar desse jeito? –dizia ele com olhar enfurecido-

-Jimmy o que pensa que tá fazendo? –o pai de Jimmy o segurou pelo braço-

-Devia dar mais educação ao seu filho. É isso que voce pretende colocar no seu lugar para perpetuar seu império? –disse meu pai agora encarando Johnny Duckovsk-

-Meu filho tem muita educação, não preciso que me diga como educá-lo.

Eles começaram a discutir esquecendo que Jimmy e eu não éramos mais crianças. Olhei nos olhos de Jimmy neste momento, querendo esbofetear ele pela atitude mais burra que vi na vida. Se ele quisesse morrer, eu mesma cuidaria disso. Maluco...

-Pai, por favor, vai embora... –eu disse desesperada-

-Gerard, nós estamos em uma igreja, por favor... –era Anette dizendo pelo menos uma coisa boa na vida-

-O que esse moleque tem a ver com voce? –ele me olhou furioso-

-Nada pai... Não devia ouvir provocações, vamos embora... –argumentei como pude-

-Vamos Gerard... –disse Anette tentando puxar meu pai pra fora da igreja-

-Meus amigos tenham calma. –disse um dos padres- Estamos em um templo de paz, sejamos sensatos...

-Pai escute o padre. Ele tem razão, não vamos começar uma guerra por tão pouco...

-Pense nos nossos apoiadores Scotfield... –resmungou um dos sócios do meu pai logo atrás dele-

Meu pai se virou vendo que todos ali olhavam a situação. Creio que isso o fez cair na real, e recobrar o juízo. Então ele se afastou.

-Mantenha seu garoto bem longe da minha família... –disse meu pai- Se ele se atrever a me dirigir a palavra outra vez, ou a qualquer membro da minha família. Esquecerei nossa trégua, e acabarei com ele. –ele dizia ao pai de Jimmy-

-Meu filho jamais voltara a se aproximar de voce, te garanto isso Scotfield, nem da sua família... –respondeu o pai de Jimmy no mesmo tom-

Assim meu pai se retirou da igreja assim como todos nós. Aquilo que Jimmy fez, provou a mim que ele era sincero quanto ao que dizia sentir por mim. Porem tambem colocou em questão o que eu mais temia. Nossos sentimentos um pelo outro jamais apagariam todo o ódio que existia entre nossas famílias.