As gotas da chuva batiam contra os vidros. O vento cortante agitava as árvores. Os raios brancos eram vistos a quilômetros de distancia. Os trovões eram ouvidos altos, como rugidos de um grande leão. A forte tempestade assustava os pequeninos presentes no castelo. O céu sem estrelas inspirava os mais poetas, fazia os pensamentos voarem, mais alto, talvez, do que o costumeiro céu estrelado.

Ele era um desses, que se sentia mais atraído por um céu cinza, do que por um céu negro cheio de pontinhos brilhantes. Mais atraído pelos raios, do que pelas estrelas cadentes. Mais atraído por trovões, do que por sons de animais noturnos. Mais traído pelos ventos, do que pelas brisas enfadonhas*. A chuva lhe inspirava. Muitos poemas e canções já haviam sido escritos no parapeito da janela, como que um filme especial para as tempestades. Muitas histórias de amor, com finais tristes e dramáticos, foram inspiradas nos temporais.

Para ela era diferente. Afinal, o que tem de tão especial em água que evaporou, foi para a atmosfera e voltou em forma de chuva? O que tem de tão magnífico em um monte de descargas elétricas? O que tem de tão diferente em propagações dos sons dos raios? O que tem de tão inspirador umas gotas de água escorrendo pelo vidro da janela? Nada, claro. Para ela tudo era visto cientificamente e não poeticamente, como era visto por ele.

Um relâmpago ilumina o céu. Uma trovoada é escutada. Uma rajada de vento faz gotas de chuva se espatifarem contra o vidro. Poucas coisas, mas que provocam resultados variados. Os poetas escrevem rimas e contos, os covardes fecham os olhos e abafam os ouvidos, os normais ignoram e ela repugna.

Você deve estar se perguntando: “De quem ela está falando?”.

É simples: Sirius Black e Lily Evans.

Ou então, simples para mim, afinal, onde se pode colocar Lily na história de Sirius? E Sirius na história de Lily?

Talvez eu possa, e deva, contar-lhe.

Tudo começou em uma noite fria e tempestuosa. Um de setembro. Os alunos haviam chegado à Hogwarts nesse dia.

Após a Cerimônia de Boas Vindas todos os alunos foram para os seus Salões Comunais. Bem, todos os alunos, exceto dois: Sirius e Lily.

Ele foi para o jardim, tomar um banho de chuva, purificar a alma, poetizar.

Ela foi para a biblioteca, mergulhar dentro de livros, esquecer os problemas, estudar.

Agora, uma simples pergunta: “O que isso tem a ver com a história?”.

E uma simples resposta: vamos ver o ponto de vista de Sirius, desde o momento em que deixou o Salão Principal.

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*Enfadonho: Que enfada, aborrece.