A Profecia: Guerra Nos Campos De Tandara escrita por MisuhoTita


Capítulo 15
A Hope




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O rosto da morena está totalmente molhado de suor, enquanto seus olhos azuis denotam toda a confusão que sente após este sonho tão esquisito que tivera. Nunca, em toda sua vida sonhara com algo assim... Tão profundo... Tão... Real...

Desde criança, sempre sonhara em ser uma guerreira... Um desejo incomum para damas e senhoras... Se bem que, filha de camponeses como é, está longe de ser qualquer uma das duas coisas... Mas, mesmo assim, mulheres não são educadas para pegarem em espadas e armas... Mas ela sempre teve este desejo... Sempre teve este espírito de guerreira indomável que seus pais em vão tentaram conter durante toda a sua vida...

Uma parte de seu coração lhe diz que nascera para algo grande... Algo que vai muito além de ser uma senhora ou uma dama... Algo que nem ela mesma sabe explicar o que é... A única coisa que sabe é que... Nascera para pegar em uma espada...

E agora, com este sonho, esta certeza só aumenta em seu coração... Não sabe por que... Mas está destinada aquela espada... Seu coração lhe diz isso claramente... E, toda vez que pensa nela, o desejo em seu coração apenas cresce de forma incessante...

Levanta-se de sua cama e caminha até a janela, olhando para o escuro céu de mais uma madrugada, sua vontade é de pular a janela e sair em busca da espada de seu sonho neste exato momento... Mas o bom senso fala mais alto e sabe que, para uma jornada demasiado perigosa como esta, precisa de alguns preparativos e, de mais algumas aulas com Raffi, pois, quando chegar o momento de ter a espada dos sonhos em suas mãos, quer saber manejá-la perfeitamente e, embora tenha um dom natural para pegar em uma espada, os treinos com Raffi estão melhorando e muito suas habilidades e perícias e, em breve, será uma grande guerreira de Tandara, que, com ou sem aprovação de seus pais, entrará para a força de resistência e ajudará a expulsar os usurpadores do trono de Tandara, para conhecer o reino de paz que seus pais tanto falam, um reino que acabou na época de seu nascimento...

Quando os usurpadores tomaram a força o poder, era apenas uma recém-nascida, e, por este motivo, não chegou a conhecer o esplendor de seu mundo. Só sabe que cresceu em um mundo que vive praticamente um regime de lei marcial, em que aqueles que não seguem as leis do usurpador são severamente punidos.

Para tentar dar a ela uma vida tranquila, seus pais a criaram em uma pequena aldeia o mais distante possível da cidade de Zakari, a lendária cidade das Sete Estrelas, um lugar que sempre sonhou conhecer. Mas, seus pais sempre se limitaram a falar qualquer coisa sobre a noite em que os usurpadores roubaram o trono do Rei Samir... A única coisa que dizem, é que ela deve ter respeito pelo rei Samir e Pela Rainha Madelaine... E que deve gostar deles... Por uma razão que, em seu coração sente, que vai muito além do que seus pais conseguem lhe contar...

O sono vai, aos poucos retornando e, cansada, Kacie volta para sua cama, e, rapidamente, caindo no doce mundo da inconsciência, onde, volta a sonhar... Desta vez com uma mulher que chora, e que tem olhos idênticos aos seus...

 

 

*****

 

 

“O poder da Hope já foi despertado... O momento do confronto entre a força da luz e as forças das trevas se aproxima cada vez mais. A princesa da luz e o príncipe das trevas estão cada vez mais próximos... O apocalipse se aproxima... O poder da Hope já foi despertado...”

Samir, Madelaine, Lamar, Oliver e Nadja escutam com atenção a profecia que Sabina acaba de proferir. Mago e rei sabendo exatamente o que uma frase em especial da profecia quer dizer. Uma frase que, em todo o mágico mundo de Tandara, só os dois sabem o que significa. Para os outros, palavras que simplesmente não conseguem compreender.

― O que eu acabei de dizer?! – pergunta Sabina, confusa – Mestre, pela primeira vez, não consigo compreender o significado do que acabo de profetizar.

― Acho que não é só você que não conseguiu compreender, Sabina. – comenta Nadja – Pois devo confessar que, suas palavras foram demasiado confusas. Especialmente no que se refere ao “poder da Hope”.

― Lamar, o que é “Hope”? – questiona Oliver, tão intrigado com as palavras da profecia como qualquer outro.

Rei e Mago se entre olham, comunicando-se em silêncio, como sempre foram capazes de fazer ao longo da vida. Um é capaz de compreender os pensamentos que passam pela cabeça do outro apenas pelo olhar. E, os olhos azuis de Samir não deixam dúvidas de que o verdadeiro rei de Tandara está bastante preocupado, e isto nada tem a ver com o poder da Hope, pois, de toda a profecia, esta é a parte da verdadeira esperança.

O Mago mais poderoso de Tandara pega seu cajado e começa a desenhar no ar uma nuvem invisível, que começa a emanar um brilho dourado que se transformam em letras, formando versos de uma antiga profecia, conhecida apenas por dois homens:

 

“Quando o caos a este mundo chegar

E a esperança de todos acabar

O poder da Hope deverá brilhar

Para o poder das trevas enfim derrubar”

 

― O que significam estes versos? – questionam Sabina.

― Versos de uma antiga lenda, conhecida apenas por membros da Família Real Ampere e pelos mais poderosos Magos, aqueles que lideram o conselho. – confessa Samir – Nesta era atual, Lamar e eu somos os únicos a conhecer todos os versos desta antiga lenda.

― Que lenda? – pergunta Oliver, sem esconder sua curiosidade.

― A lenda mais antiga de nosso mundo. – continua o verdadeiro rei de Tandara – Da época em que o grande rei Rabah regia o nosso mundo. Conta à lenda, que Rabah era o dono da mais poderosa das armas, uma espada chamada Hope, forjada do aço mais poderoso que Tandara já conheceu, Shandow, um aço raro que já não existe nos tempos atuais. Dizem que quem forjou a Hope foi o próprio Lancel, o Maior de todos os Magos que Tandara já conheceu. E, fora com esta espada, a Hope, que possui um poder que nenhuma outra espada possui, que Rabah derrotou os primeiros membros da Legião Maligna de Perrin. Após este ato, Lancel lançou um feitiço sobre a espada, e a mesma desapareceu.

― E, de acordo com a lenda, a Hope só pode ser encontrada e manejada pelo verdadeiro herdeiro do lendário Rabah. – completa Lamar.

― De acordo com a minha profecia, o poder da Hope já foi despertado. – fala Sabina, começando a compreender.

― Então, se o poder da Hope já foi despertado... – Oliver começa a divagar.

― Significa que Elie é a verdadeira herdeira de Rabah! – completa a rainha Madelaine, convicta.

― De fato. – concorda Lamar – Desde que peguei a pequena Elie no colo, há vinte anos, quando ela era apenas uma bebezinha, senti que a menina estava destinada há algo grande, além de minha compreensão. Porém, só agora consigo enxergar a missão dela, da verdadeira princesa de nosso mundo e herdeira de Rabah!

― Legal, isso tudo é ótimo! – diz Sabina, cortando seu mestre – Mas, nós ainda temos um pequeno probleminha, caso vocês ainda não tenham notado.

― Se o probleminha a que você se refere diz respeito à princesa ainda estar desaparecida, eu já levei isso em consideração. – fala Lamar.

― Já?! – questiona Sabina.

― Desde o princípio, Sabina. – responde Lamar – Inclusive, já levei em consideração coisas que nenhum de vocês levou.

O olhar do Mago é sério, enquanto sua mente relembra as palavras que Sabina proferiu, mas, ao contrário dos outros, as palavras que não saem de sua mente são as referentes à Princesa da Luz e ao Príncipe das Trevas. Os dois estão cada vez mais próximos, disso não há dúvidas e se, a verdade vier a ser descoberta antes que possa encontrar a princesa Elie, o destino de Tandara estará em grande perigo.

― Não temos tempo a perder! – anuncia Lamar, de forma séria – A partir de agora a nossa maior prioridade é encontrar a princesa Elie! Vamos recrutar toda a força de resistência para isso! Hannes não pode encontrar a verdadeira herdeira do trono antes de nós!

 

 

*****

 

 

― Pronta para mais um treino, minha bela dama? – com sua espada em mãos e um sorriso no rosto, Raffi encara Kacie, que está em posição ofensiva, com a espada preparada para mais uma aula.

― Eu sempre estou pronta, Raffi. – responde Kacie, com um sorriso gracioso – Ao seu comando!

― Vamos lá! – fala o moreno – Esquerda!

E mais uma aula começa, mestre e aluna dando um show de perícia com espadas. Exibindo um sorriso que vai além da admiração da perícia por sua aluna, Raffi não consegue deixar de se sentir satisfeito pela evolução na técnica de sua dama.

A garota começou as aulas mostrando que tinha um dom natural para manejar uma espada e, a cada dia, a cada aula, ela vem refinando sua técnica, aos poucos se tornando uma verdadeira guerreira.

Três meses antes, quando começaram, as aulas, duvidava que ela fosse chegar a este ponto, de manejar uma espada quase como um homem. É capaz de dizer que sua dama é mais habilidosa do que muitos guerreiros até de sua própria guarda pessoal.

Kacie gira com a espada, a saia de seu vestido voando em perfeita sincronia com o vento, assim como seus longos e belos cabelos negros. Ela o ataca mais uma vez, e ele se defende. Seus corpos param a pequenos centímetros de distância um do outro, as espadas em mãos, suas respirações se misturam e o único som que conseguem escutar é o coração um do outro batendo de forma descompassada.

― Raffi... – sussurra Kacie com uma voz angelical.

Raffi sente seu coração batendo mais depressa, de uma forma que somente Kacie é capaz de fazê-lo bater. Não sabe explicar, mas esta dama que gosta de brincar de guerreira mexe com ele de uma forma que ninguém é capaz de mexer... Adora o jeito dela... A forma como ela não tem medo de nada... Diferente de todas as damas que conhece, com exceção de sua mãe e Bernadette, mas estas não devem ser levadas em consideração. Esta linda dama, como olhos tão cheios de vida e de coragem, é a coisa mais estranha que já conheceu, e isto é o que mais lhe agrada nela. O fato de ela ser diferente e gostar de guerrear.

E, é justamente por este motivo que não revelou a ela quem realmente é. Porque, no momento em que dizer a ela que é o Príncipe Raffi, herdeiro do trono de Tandara por direito conquistado!

Sabe perfeitamente que, no momento em que revelar esta verdade a sua dama, a estranha relação de ambos irá mudar. Pode muito bem leva-la a cidade de Zakari, casá-la a força e torna-la sua rainha, quer ela queira ou não. Mas, este caminho não o agrada. Faria isso sem pensar duas vezes com qualquer outra mulher, menos com Kacie, sua dama e aluna arisca, como uma gata selvagem. Uma gata selvagem com espírito indomável e beleza rara.

Domado por instinto que não sabe explicar, Raffi toma a boca de Kacie na sua, como sempre vêm fazendo, diariamente, após os treinos dela durante os últimos três meses, beijando-a de forma ardente, como não é capaz de beijar nenhuma outra mulher. No mesmo instante, Kacie abre sua boca em claro convite.

O gosto dos lábios de sua dama é mais doce do que o mel, e seus pensamentos desaparecem enquanto aproveita cada segundo deste momento que divide com sua aluna.

E, tão rápido quanto o beijo começa, ele termina, com Kacie juntando suas forças para se afastar dele, como ela sempre faz.

― Já chega. – ela diz com uma voz ofegante, tentando recuperar o ar que o beijo lhe arrancou.

O sorriso que Raffi dirige a ela é ardente.

― Não até que eu diga, minha dama. – fala o príncipe usurpador.

― Você não me dá ordens! – Kacie diz em tom de desafio.

― Não. – concorda Raffi – Você é selvagem demais para receber ordens de alguém como eu.

As palavras de Raffi fazem Kacie se sentir estranha. Se acha diferente, mas não selvagem. Olha para si própria. Seu vestido, violeta bem claro, um pouco sujo após o treinamento. As longas mangas um pouco rasgadas com cortes feitos pela espada de Raffi. Gotas de suor caindo pelo discreto decote de seu vestido fazem dela apenas uma guerreira, não uma selvagem. E, sem que perceba, seus olhos se enchem de lágrimas que, por orgulho, se recusa a derramar.

― Vou embora! – ela anuncia.

― Espere! – ordena Raffi.

― Já deveria ter aprendido, Raffi. – diz Kacie em tom decidido – Você não manda em mim!

E, dizendo estas, palavras, Kacie caminha em direção à floresta, deixando seu professor para trás e pedindo aos deuses para não ser seguida por ele. Após andar alguns metros, olha para trás, e, percebendo que Raffi não a seguiu, se senta no chão e começa a olhar para as árvores a sua frente.

Não consegue entender o porquê, mas as palavras dele tiveram o poder de magoar seu coração. Não gostou de ser comparada a uma selvagem, foi como se ele tivesse despertado uma parte dela que nem sabia que existia... A parte dela que consegue se comportar como uma verdadeira dama...

E, só porque gosta de espadas, não significa que seja uma selvagem... Significa que quer lutar por um mundo melhor...! Um mundo que possa voltar a ser governado por reis que lutem pela justiça, como seus pais dizem que faziam Samir e Madelaine...

Não sabe por que, mas, pensar nos dois faz um sentimento estranho tomar conta de seu coração... Algo quente... Um sentimento gostoso... Todas as vezes que pensa nos verdadeiros reis de seu mundo este sentimento gostoso lhe preenche... E, quer ajudar na resistência... Quer lutar para devolver a este homem e a esta mulher que devem sofrer nas mãos dos usurpadores o que é deles por direito... E vai ajudar nisso com todas as suas forças...! Custe o que custar...!

Lembrar-se do verdadeiro rei e da verdadeira rainha de seu mundo lhe faz lembrar-se de seu sonho... O mesmo sonho que, nos últimos três meses vêm tendo... O sonho com o caminho que a leva até a espada...!

Não entende o porquê, mas, a cada noite que passa, a cada sonho, deseja mais e mais esta espada, como nunca na vida desejou alguma coisa em sua vida... Em cada sonho, a espada parece chamar por ela... Como se tivesse vida e um poder que só ela é capaz de usar...

Desde criança, sua mama lhe ensinara que às vezes, os sonhos podem ser sinais dos deuses, que querem mostrar algo que mudará seu destino... E, estes sonhos, o mesmo todas as noites, só lhe faz acreditar mais e mais nesta antiga crença contada por sua mãe.

Em seu mundo, a magia tem poder...! A magia é poder...! E, embora os usurpadores tenham proibido a prática de magia por pessoas que eles consideram “inadequadas”, o legado de outrora ainda existe! Sua mãe sempre lhe disse isso!

E agora, seus sonhos lhe deixam isso cada vez mais claro...!

Em seus sonhos, o caminho até a espada é cada vez mais claro, cada vez mais nítido. Se fechar os olhos, consegue enxerga-lo bem claramente...

Quando tivera o primeiro desses sonhos, três meses atrás, a primeira vontade que teve foi a de correr atrás da espada. Mas, pensara melhor e chegara à conclusão de que ainda não dominava perfeitamente bem a perícia com a arma por isso, resolvera treinar.

Passara os últimos três meses treinando dia após dia avidamente com Raffi, a fim de ser boa o suficiente para merecer a espada de seus sonhos. E, graças a Raffi, hoje já se sente pronta para ir atrás da espada.

― Vou em busca do meu destino...! – sussurra para si mesma.

Ela escuta passos se aproximando e pega a espada, já em posição ofensiva, pronta para acabar com quem quer que seja, especialmente homens do usurpador. Nunca antes tirou uma vida, e, mas, para trazer a glória de volta a seu mundo, não se importa em matar homens do usurpador! Homens que não tem escrúpulos e que apoiam alguém que está errado e que traz sofrimento a seu mundo!

Os passos se aproximam cada vez mais e, já de pé, Kacie está pronta para se defender.

― Quem está aí? – fala a morena com toda a sua coragem.

Do meio das sombras das árvores, surge um homem com aparentemente a mesma idade que ela. Pele branca, cabelos loiros claros e cacheados, chegando quase a serem platinados, desalinhados por sua cabeça. Olhos verde água que transmitem bondade e sinceridade. O homem tem um bom porte físico, não chega a ser muito musculoso, mas também não é magro demais. Usa uma blusa branca de linho, calças brancas e um sapato também da mesma cor. Em suas mãos, uma singela rosa branca. Ele olha para ela com um sorriso angelical e, por um momento, Kacie tem a impressão de que ele mais parece um deus personificado do que um homem, mas, no mesmo instante, estes pensamentos acabam de dissuadindo de sua mente. Os deuses não se personificam, muito menos para alguém como ela, que, não é ninguém, apenas uma pobre camponesa. Se os deuses pudessem tomar alguma forma física, certamente apareceriam para o Rei Samir e a Rainha Madelaine, ou a princesa deles, se ainda estivesse viva. Mas, não para ela...

Os dois se encaram por longos minutos e, sem que ao menos se dê conta, Kacie derruba a espada no chão. Não entende, mas, sente que, de alguma forma, seu destino pode depender do estranho a sua frente...

― Quem é você...? – Kacie pergunta, um pouco incerta. Seus olhos azuis não desgrudam dos olhos verdes do desconhecido.

― Eddard.* - responde o loiro de cabelos cacheados – E eu estava à sua espera, Lady Kacie, minha bela Princesa da Luz. Na verdade, estou há vinte anos te esperando.


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Notas finais do capítulo

*Homenagem ao Lorde Eddard Stark, O Primeiro de Seu Nome, Lorde de Winterfell e Protetor do Norte As Crônicas de Gelo e de Fogo.



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