O relógio despertava, já eram dez horas da noite e Laura se levantava da cama para esperar seu marido. Era o grande dia, Daniel, esposo de Laura, iria ganhar sua tão sonhada promoção no trabalho.

Laura esperava ansiosa, a emoção deixada por Daniel antes de sair a deixou tão feliz e ao mesmo tempo preocupada que suas emoções eram divididas, caso ele não recebesse essa promoção a decepção seria muito grande. Sem conseguir ficar quieta, Laura foi olhar as crianças que dormiam sossegadas no quarto, Alice e Rafael eram as maiores riquezas do jovem casal Laura e Daniel.

Alice era uma linda garotinha de cinco anos que tinha os cabelos dourados como os da mãe, a pele branca e lindos olhos azuis que cintilavam na noite. Rafael era o caçula tinha apenas três anos e tinha os cabelos castanhos, a pele tão branca quanto a da irmã e seus olhos eram verdes como de seu pai. Ambos eram crianças calmas, que se divertiam, mas pouco aprontavam.

Satisfeita, Laura foi para a sala onde tentava relaxar enquanto esperava seu marido. Ligou a TV com esperança de achar algo que a mantivesse mais calma, mas era impossível, nada conseguia lhe tirar a preocupação, então desligou a TV e viu seu reflexo nela, seus longos cabelos loiros caídos sobre seus ombros destacavam seu reflexo, sua expressão era assustadora, como uma pessoa poderia ficar tão nervosa com uma coisa tão simples? Seus olhos verdes vidravam na janela da sala onde avistava a lua cheia que estampava o céu.

A maçaneta da porta girava, Daniel acabara de chegar, neste momento Laura não conseguia se quer levantar, esperou que seu marido entrasse e lhe desse a notícia. A expressão de Daniel era incrivelmente pior que a de Laura, estava com uma expressão de desgosto que marcava seu rosto. Passaram-se 10 minutos e nenhuma palavra foi dita até que Daniel quebrou o silencio perguntando:

– Não vai me dar parabéns? – foi então que a expressão no rosto de Daniel mudou completamente, de depressivo passou para o homem mais feliz do mundo.

Laura deu um salto do sofá e agarrou-se em Daniel dizendo:

– Agora seremos a família mais feliz que o mundo já viu! – os olhos de Laura brilhavam mais que a lua que ela avistava anteriormente, a partir dessa conquista, ela conseguiria realizar todos os seus sonhos.

O notebook foi ligado e logo Laura e Daniel começaram a procurar uma casa própria, já que estavam passando a terceira em um hotel situado no fim de uma pacata vila, apenas esperando a promoção de Daniel. Com sono, Laura vai dormir, deixando Daniel sozinho na cozinha com seu notebook. O brilho no olhar de Daniel era simplesmente indescritível, mais forte que o brilho de Laura, já que Daniel sempre sonhou com a família perfeita, a casa perfeita, a vida perfeita e seu sonho finalmente vai se completar.

Daniel está muito cansado e acaba cochilando, entretanto logo acorda, sentindo algo lhe puxar quando olha para o lado vê que não tem ninguém, mas resolve ir ver se estava tudo bem com Laura, seus passos passam a ficar mais lentos cada vez mais próximos do quarto, ele sentiu algo lhe puxando, será que alguém entrara no quarto? Será que aconteceu algo com os amores de sua vida? A cabeça de Daniel esta movida por duvidas, e quando finalmente chega ao quarto vê que sua mulher esta dormindo tranquilamente com um lindo lençol branco sobre seu corpo, agora mais tranqüilo Daniel sai do quarto da esposa e vai olhar seus filhos, ao chegar vê que uma das camas esta vazia.

Alice não estava na cama, assustado Daniel passa então a procurar sua filhinha, mas sem êxito, desesperado ele volta para o quarto de sua esposa e vai ao encontro dela, é então que ele percebe que sua mulher esta morta, o cadáver foi largado na cama com marca de um brutal esfaqueamento no abdômen que passa a expor suas tripas, o sangue se destaca em meio ao lençol branco que trajava no momento de sua morte, Daniel fica aos prantos e abraça o corpo frio de sua mulher, resolve então ligar para a policia mas antes deveria levar seus filhos para outro local, pois não queria que eles vissem uma cena tão brutal.

Vai então para o quarto das crianças para acordar Rafael, mas então percebe que ele também esta morto, seu pescoço foi cortado por uma faca muito bem amolada, com certeza a mesma faca que usada para assassinar sua mulher, sem saber o que fazer Daniel leva o corpo do filho em seus braços e coloca do lado de sua esposa.

Daniel não para de chorar, tudo o que ele queria era ser feliz, com a família perfeita e depois de tanto sonhar isso acontece, estava tão triste que se quer conseguiu se alevantar para poder procurar sua filha, ele não tinha força para ver sua filha morta também, mas não foi preciso ele ir procurá-la, pois ela mesma apareceu, não estava morta, mas pelo que Daniel viu era melhor que estivesse. Alice estava com uma faca ensangüentada em suas mãos, era a faca que foi usada para matar sua própria mãe e irmão, Daniel não conseguiu falar uma palavra, apenas chorava no canto da parede enquanto que a menina o observava.

A menina estava de pijama; uma calça que cobria seus pés e uma blusa de mangas compridas, só era possível ver as mãos da garota pelo fato de que estava segurando a faca, os olhos da garota estavam completamente negros, com certeza algo havia acontecido com Alice, ela amava a mãe e adorava o irmão por que faria isso? Depois de todo o silencio Alice finalmente fala:

– Agora vamos brincar somente nós dois não é papai – um sorriso sarcástico brotava no rosto da tão meiga garotinha

Daniel juntou todas as forças que tinha e se alevantou do frio chão onde sentara, foi caminhado em curtos passos, viu que sua filha não era mais a mesma, viu que seus sonhos nunca seriam realizados, pois toda sua família foi morta, a cada passo que dava lembrava que Laura estava vendo coisas; sombras, vultos, mas ele nunca acreditava, estava preocupado com seu trabalho e havia deixado sua família de lado, agora era tarde demais, não era mais Laura que estava vendo vultos ou fantasma, era ele mesmo que estava vendo o que era o inferno.

Daniel parou com seus passos já estava de frente para uma parede com uma janela, foi então que ele fez a decisão mais cruel de sua vida: “já que não tenho um motivo para viver, não preciso se quer viver”, e foi falando essas palavras que ele se jogou do décimo terceiro andar do Hotel onde estava habitando com sua família a apenas três dias... o quarto do fim do corredor.