Thalia:

Acordei com o sol batendo em minhas costas, e com a lama cobrindo praticamente TODA a cama! Onde estavam as caçadoras?!

Ouvi alguma coisa vindo do banheiro. Agarrei o arco instintivamente até que um garoto saiu de lá secando os cabelos molhados com uma toalha vermelha.

– Ah! Oi, Thals. - Nico disse, dando um de seus muitos sorrisos tortos. - Espero que não se importe, mas eu tomei banho aqui.

Me apoiei num cotovelo, ciente da minha dor de cabeça.

– Por...?

Ele revirou os olhos.

– Porque as caçadoras saíram em uma missão, e Phoebe me mandou tomar conta de você até elas voltarem amanhã de manhã. Acho que elas não confiam muito nas ninfas do hospital... - respondeu.

–Você não deveria ter me colocado na cama nesse estado... - resmunguei, tentando inutilmente limpar a lama dos lençóis. Desisti, e voltei a me deitar na sujeira. - Phoebe vai me matar...

– E eu tive escolha? - respondeu irônico. - Você simplesmente desmaiou no caminho pra cá, garota! E quando eu te coloquei na cama, você me AGARROU! De novo!

Eu bufei.

– Suponho que você também não tenha tentado evitar isso, certo? Isso já está virando um hábito... - comentei. Ele se sentou na posta da cama, perto de mim, e acariciou meu cabelo. Não impedi, admito. Aquilo era... Reconfortante.

– Um hábito muito bom, eu espero. - ele deu aquele sorrisinho, do tipo " só responda que sim e cale a boca".

– Veremos, di Angelo... E nuca mais me chame de " garota" com esse tom de voz! - respondi. Odeio quando me fazem parecer uma garotinha frágil.

– Tecnicamente, é isso que você é. - começou, se acomodando mais no colchão, ainda acariciando meus cabelos. - Afinal,eu sou até um pouco mais velho que você agora. - brincou.

– Eu teria 25 anos agora se contar os anos que passei como pinheiro e se não tivesse me tornado imortal, Nico. - retruquei e ele sorriu.

– Anos de imortalidade não contam. Muito menos como uma árvore. Eu tenho 16 anos e meio, e você tem um pouco menos. Fim da história. - rebateu em tom zombeteiro. Odeio quando ele faz isso.

– Tudo bem, di Angelo. Mas isso não acaba aqui! - exclamei teatralmente, me levantando. - Vou tomar um banho.

– Tô te esperando aqui.

Retirei algumas roupas do armário prateado do lado da cama, e me enfiei no banheiro por um tempo. Quando coloqueio short preto que tinha separado, ouvi sua voz em minha cabeça.

"Oh, Thalia... Você tem tanto que aprender sobre como se vestir para a sedução..." - disse uma voz melodiosa e um tanto... melosa.

Não havia dúvidas sobre quem estava falando comigo.

" Afrodite?" - respondi mentalmente.

" Claro que sim, minha querida... Agora, chega de papo. Vamos dar um jeitinho nesse romanca... Está indo muito devagar, não acha?"

"Não. Não está INDO. E também não IRÁ. Saia da minha cabeça. AGORA!" pensei, com raiva. Quem ela pensa que é para ditar o que eu devo fazer?

" Pelo contrário, minha querida... Não vou apenas DITAR o que você deve fazer. Vou Fazer!" ela disse, e senti meu corpo todo se mexer contra minha vontade em direção a porta. Não!

" Me devolva o controle! Esse corpo é MEU!" gritei mentalmente.

" Relaxe, Thalia. Isso vai ser divertido!"

MInha mão abriu a porta, e minha cabeça se pôs para fora. Minha boca se mecheu e falou com Nico contra minha vontade.

–Nico! - Afrodite chamou. Aquela voz NÃO ERA minha!

Ele levantou a cabeça. Já havia se deitado em outra cama.

– Pode pegar meu sutiã aqui no guarda roupa?

Ele me encarou confuso. Tudo que eu queria era gritar para ele que aquela não era eu, que eu não tinha controle sobre meu corpo porque Afrodite tinha me possuído, mas quando Afrodite lhe lançou o MEU olhar de " e então? Pode fazer isso?", ele se deu conta de que eu (ou melhor, ELA), não estava brincando.

– Er... Claro... - gaguejou constrangido. Pode acreditar, ele era a última pessoa que eu queria mexendo na minha gaveta de roupas íntimas, então ele não estava mais constrangido que eu.

– Esse aqui tá bom? - perguntou, erguendo um sutiã vermelho rendado e praticamente o devorando com os olhos. Deuses, ele estava corando!

"CHEGA!!! AFRODITE, CHEGA!!!"

"Pare Thalia. Você não pode lutar contra mim..."

– Não tem um roxo aí não? - Ela me controlou de novo. Ela estava judiando de nós dois! Pude ver ele resmungar "Deuses..." enquanto jogava um sutiã e uma calcinha ambos pretos e quase transparentes por cima da cama.

Afrodite riu discretamente através de minha boca, e Nico puxou dois sutiãs roxos da gaveta. Ele se aproximou um pouco da porta, segurando-os pelas alças.

– Q... Qual deles? - perguntou, completamente vermelho.

Afrodite fingiu pensarum pouco colocando a mão sobre meu queixo.

–Hum... Qual deles você sugere? - perguntou em tom de inocência. Desgraçada!

" O que você está fazendo?! Pare!!!"

– Sinceramente... - Nico pensou um pouco, avaliando ambos os sutiãs. - O da direita.

Eu (lê-se Afrodite) assenti, pegando o sutiã de sua mão direita.

– Bem pensado. Também gosto desse! - Ela voltou com meu corpo pro banheiro, fechando a porta.

"Pronto! Já teve seu joguinho! Agora me devolva o controle de meu corpo!" exigi, mas ainda não tinha acabado. Ela colocou o sutiã e o avaliou na frente do espelho.

" Fala sério. Você já veio até aqui mesmo..." -Ela repsondeu, e voltou a se encaminhar para a porta.

"Não!!! Por favor!!!"

Ela saiu do banheiro com as mãos na cintura.

– Nico... Acho que não ficou muito bom... - disse, esticando os braços e dando uma voltinha, enquanto Nico esticava o pescoço pra apreciar melhor o seu corpo... O MEU corpo.

Ele abriu e fechou a boca diversas vezes até que consegui finalmente falar.

– Eu...Eu...Eu...Eu acho que você tá... Perfeita, Thals.

– Bem, ele ficou meio apertado... Pode pegar aquele vermelho pra mim? - perguntei de novo, e ele se esticou pra pegar o sutiã ao pé da cama, sem tirar os olhos de mim. Estava completamente constrangida com aquilo.

Ele se encaminhou até perto de mim. Perto DEMAIS!

– Toma. - soltou num sussurro.

Afrodite esticou o braço, e pegou o sutiã dando mais um passo pra frente, nos aproximando um pouco mais. Não conseguia deixar de encarar aqueles olhos nos meus.

Controle-se, Thalia. Controle-se.

Podia ver a hesitação em seus olhos perante a MINHA hesitação. Aquilo era tentador demais. Quase podia sentir o gosto de sua boca na minha.

Nos aproximamos um pouco mais, até que consegui voltar ao controle.

Ergui minha mão ( agora por conta própria), agarrei o sutiã, e foi minha vez de gaguejar.

– O...Obrigada. - Não esperei pela resposta. Virei as costas e corri de volta ara o banheiro, trancando a porta atrás de mim, e sentando no chão gelado com ela as minhas costas.

"O que aconteceu ali?!"

"O QUE ACONTECEU ALI?!"

Não sei exatamente quando, mas eu comecei a gritar de verdade, e só parei de chorar quando Nico começou a gritar meu nome, implorando para que eu abrisse a porta, e esmurrando a porta pedindo desculpas.

Começo a chorar mais ainda.

EU é quem deveria me desculpar com ele.