Nico:

Bom... Era uma boa para todo mundo que o “torneio” começasse com Afrodite. Afinal de contas, ela estava do nosso lado quando os deuses votaram por nos deixar vivos ou não.

E – para que negar agora? – eu e Thalia tínhamos alguns assuntos para acertar com ela.

A deusa girou ao nosso redor com um sorriso digno de um psicopata, daqueles que se sentem imensamente felizes ao encontrar uma possível vítima. De todos os olimpianos, sinceramente, era dela que eu tinha mais medo.

Ela soltou um gritinho histérico antes de falar diretamente conosco, e não fico muito feliz em declarar aqui que ela nos arrastava até uma mesa cheia de quitutes e bules de chá enquanto isso.

- Ah, meu casalzinho perfeito! Venham, venham comigo! Vocês irão adorar a surpresa que eu preparei...

Thalia soltou um gemido em reprovação, e cochichou para mim.

- Reza para seu pai, Zeus... TODOS os deuses que conseguir se lembrar, mas eu juro que se ela me fizer usar alguma coisa rosa irei matá-la.

Eu ri baixinho.

- Ela é imortal, Thals. E você iria para o Tártaro só por ter tentado.

Ela me encarou, e disse o óbvio.

-Iria feliz e sem pestanejar. – e voltou a caminhar atrás de Afrodite.

Balancei a cabeça. Ela é exagerada. Pra caramba.

Nos sentamos á mesa. E, como era de se esperar, Afrodite desandou a falar mais que uma cacatua, e quando finalmente parou para respirar, Thalia aproveitou a deixa.

- Porque, exatamente, você decidiu me possuir? – perguntou um tanto entediada, jogando um muffin mais duro que uma pedra por cima do ombro.

A deusa fez um gesto de desdém com a mão, como se não desse muita importância para o fato.

- A pergunta que deve se fazer agora é: ... Onde estariam se eu não o tivesse feito? – respondeu dando um risinho, e voltou a tomar nas mãos a xícara de chá.

- Garanto a você que bem longe daqui. – argumentou Thalia.

Afrodite respirou fundo e deixou de lado o chá e a comida para encara minha namorada.

- Se está tão furiosa assim comigo, porque não pergunta a Nico o que ele achou do meu desempenho no seu corpo? – ela lhe lançou um olhar malicioso. Thalia corou.

-Eu... Ele... Não importa! Você não tinha o direito de roubar meu corpo! O MEU CORPO! – ela gritou, e novamente Afrodite fez um sinal com a mão para ela, fazendo pouco de seu ataque.

Só eu estava completamente perdido no meio daquela conversa maluca?

- Com licença, mas alguém pode me explicar o que, por Hades, vocês estão falando?

Elas se entreolharam por 2 segundos, e voltaram a mim.

- Isso não vem ao caso agora. – declarou Thalia, novamente corada. Afrodite a encarou, séria.

- Se eu fosse você, garota, não deixaria nenhuma outra mulher se aproximar mais de 20 metros dele... – confessou, e eu senti minha pele quente.

- Principalmente suas filhas. – Thals concordou, e Afrodite sorriu.

-Principalmente elas... – concordou.

-D... Desculpe? – finalmente descongelei. A má notícia é que continuava completamente vermelho.

A deusa sorriu para mim.

- E é inocente até demais... Acho que o ajuste ideal seria de 40 metros... – e mais uma vez, Thalia concordou com um movimento de cabeça, enchendo a boca com um biscoito queimado enquanto eu passava os olhos de uma para a outrz em busca de respostas.

Thalia suspirou.

- Esse é seu desafio, então? Um chá da tarde?

- Está reclamando?

- Não mesmo! Quer dizer... Só pensei eu fosse um desafio mais... Desafiador. – respondeu. Afrodite riu.

- Se soubesse o que vem pela frente, agradeceria a mim por não preparam algo mais mortal que leite e biscoitos...

Eu a encarei. Não estava participando muito da conversa das duas garotas, mas não importava muito agora.

- O que quer dizer? – perguntei receoso.

- Quis dizer que terão muita sorte se voltarem para o Acampamento Meio-Sangue inteiros ao final dos desafios. E que precisarão de mais do que sorte para vencê-los.

- Não entendo... – comecei novamente. – Os deuses que nos apoiam não farão o mesmo que você, obviamente, mas...

- Não, eles não irão lhes propor desafios muito pesados também. Em geral lhe pedirão algum favor, ou solicitarão ajuda com alguma coisa. Mas não esperem o mesmo dos outros deuses. Eles com certeza tentarão compensar os desafios leves com brutalidade, e mesmo que queiram que vocês continuem juntos ao final de tudo, colocarão seu amor a prova.

Respirei fundo e encarei Thalia, que mantinha a cabeça abaixada e as mãos pousadas nas coxas nuas.

- O que... O que eles vão nos mandar fazer? – Ela gaguejou.

Afrodite se aproximou de nós, se esticando sobre a mesa.

- Só vocês poderão descobrir isso. E, lembrem-se: enquanto durarem os desafios, não estou autorizada a dar qualquer tipo de ajuda a vocês, assim como nenhum outro deus está. Ártemis exigiu que pelo menos esta regra estivesse clara para todos.

Ártemis. Mordi a língua até sentir gosto de sangue para não xingá-la de todos os nomes que conhecia.

- E eu que pensava que ela reconsideraria a hipótese de nos deixar em paz... – Murmurou Thalia.

- Só mais uma coisa antes de voltarem ao acampamento e esperarem para o próximo desafio: Não tenho certeza disso, mas acho que os desafios irão por ordem de adoração a vocês. – Afrodite continuou.

Thals a encarou, confusa.

-Como assim?

A deusa olhou para o teto balançando a cabeça. A ouvi murmurando algo como “semideuses...”, e ela voltou a nós.

- Os primeiros desafios serão feitos pelos deuses que querem que vocês continuem juntos - começando por mim, obviamente – seguidos dos desafios dos que não se importam com o desfecho dessa história, e por fim, aqueles que querem os dois separados ou mortos.

Engoli em seco.

-Uau, essa é uma notícia maravilhosa: Vão nos engordar e nos mimar para depois nos mandarem direto para o Tártaro! Emocionante! – declarei, ironicamente. – Posso jogar confete agora ou devo esperar até os fogos explodirem?!

- Nico? – Thalia me chamou.

-Sim?!

-Cale-se.

-Tudo bem.

Afrodite sorriu novamente.

- Estão avisados. Aguardem o próximo contato e... Não sejam mortos.