Thalia:

Eu acho que tenho todo direito de estar uma pilha de nervos agora, certo?

Meu pai quase me pegou dando uns amassos no meu namorado, me traz a notícia que eu vou ter que participar de um “torneio” de desafios dos deuses, e Ártemis provavelmente vai me enterrar viva e dançar frevo no meu túmulo quando for a vez dela de nos desafiar.

É... A minha vida é um inferno.

Pelo menos agora eu consigo rir um pouco com a imagem de Ártemis dançando frevo.

Bem... Hoje faz exatamente um mês que Zeus nos visitou. O que quer dizer que nosso prazo acabou.

Pode ser que tudo acabe hoje, eu não sei. Mas nem tenho certeza se quero continuar.

De que adiantaria continuar se ainda estivéssemos presos?

Minhas mãos estão suadas e frias. Não consigo sentir meu nariz por causa do frio e minha cabeça lateja, mas não consigo parar de pensar em qual será o primeiro desafio que teremos que enfrentar quando chegarmos ao Olimpo.

Nico inclina a cabeça em minha direção, e toca os lábios levemente na minha têmpora direita. Ele também está tremendo, mas não sei se por motivo do frio ou do nervosismo. Movo as mãos lentamente na direção de sua bochecha. Ele está gelado também.

– Como você está? – pergunto baixinho.

Ele finalmente abre os olhos. Acho que andou chorando, já que estão meio avermelhados, e suas maçãs do rosto estão levemente inchadas.

– Nada bem... – admite num suspiro.

Assenti. Ele não tem do que se envergonhar. Quem, em sã consciência, seria idiota o suficiente para não ter medo dos deuses?

Todo deus deve ser temido e respeitado. E, cá entre nós, isso quer dizer alguma coisa...

–Sinto muito. Por ter te colocado nessa. – digo. Ele bufa, num riso.

– Não teria feito diferente, Thals. E acho que você também não teria. – ele ri novamente, sem graça. – Não tem por que se desculpar.

Assinto novamente.

Acho que meio que me acostumei a fazer isso desde que estamos juntos. Normalmente ele está certo.

É assim que funciona agora. Ele me puxa de volta para analisar a situação antes que eu faça algo impulsivo. É meio frustrante pensar que de nós dois, ele é o mais sensato...

Argo estacionou o carro na frente do Empire State Building há dois segundos, e seus milhares de olhos já estão sondando Nico e eu. Ele indica a porta com a cabeça. Quer que saiamos do carro.

Abro a porta com um empurrão, e caminhamos para a morte iminente.

[...]

A sala dos tronos está vazia. Estranhamente silenciosa. E isso com toda certeza não é um bom sinal.

Caminhamos de mãos dadas até o centro do salão, nossos sapatos fazendo barulho no piso de mármore branco. Não sei o que estamos procurando exatamente, mas... A nossa única opção é continuar procurando alguma coisa.

Tenho certeza que dessa vez não me atrasei para nada. Zeus disse “Vocês tem um mês”, e o mês acabou.

Será que eles perceberam que isso era uma grande idiotice que poderia acabar em morte, e finalmente nos deixaram em paz?

É, eu sei que foi muita idiotice de minha parte pensar isso, mas... Ver Nico tão exausto e triste acabou comigo. Vê-lo observar o trono de estígio negro de Hades e apoiar uma de suas mãos no apoio com o semblante tão sério me deixou com vontade de chorar.

O eco dos sapatos voltou, mas... Nós estávamos parados!

Olhei em volta, procurando a pessoa que caminhava ali. Pude ver a expressão confusa de Nico antes que ele também começasse a procurar... Quem quer que estivesse ali.

Droga, não saber das coisas me deixava hiperativa. Mais do que o normal.

Os “clacs” de sapatos continuaram soando, cada vez mais próximos e rápidos. Agora estava ficando assustada.

Me aproximei de Nico, recuando devagar. O que diabos estava acontecendo ali?

Aquele barulho infernal estava começando a me dar dores de cabeça. Estava ficando confusa... E meio zonza, pra falar a verdade. Aquele cheiro maldito era tão doce que...

Espera um pouco. Cheiro... Doce?

Ai, droga!

Antes que eu pudesse sequer abrir a boca para avisar Nico, um furacão cor-de-rosa passou por nós correndo e parou ao chegar á porta, percebendo que estávamos ali. Deu meia volta, e abriu o “sorriso Colgate” mais branco que eu já havia visto em minha vida.

Ela ficou ereta, e se dirigiu a nós com um risinho um tanto malicioso.

– Meus pombinhos chegaram, afinal!