A Ovelha e o Porco-espinho escrita por Silver Lady


Capítulo 9
Capítulo o- A Roupa Nova do Príncipe Parte II




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A porta se abriu. Bulma começou a se virar, desejando que Vegeta tivesse ficado mais tempo no banheiro. Subitamente, não sentia vontade de vê-lo. As palmas de suas mãos ainda guardavam o calor da pele dele; sem saber bem o porquê, sentia-se um tanto insegura, quase como uma menina de quinze anos ao descobrir o amor pela primeira vez. A comparação era idiota, é claro: fazia muito tempo que não era mais menina, e... mesmo se estivesse realmente apaixonada pelo Vegeta, aquele não seria seu primeiro amor. Então, por que estava pensando essas bobagens?

—Voltou ligeiro... — virou-se, com um sorriso automático no rosto. O sorriso se congelou no rosto alguns segundos antes da frase se transformar num grito de horror:

—AAAAAHHHH!!!!

Não era Vegeta. A cientista recuou apavorada, ao mesmo tempo em que apalpava a mesa às cegas, apanhando a primeira coisa à mão para usar como arma.

—Não se aproxime! Eu não vou pedir desculpas!

—Bulma, não seja infantil! Eu não vim aqui pra brigar! — Chichi abanou a cabeça, com ar reprovador.

—Não veio? — Bulma largou a “arma” (que por acaso era uma lapiseira) de volta sobre a mesa — Você não está mais zangada comigo?

A filha do Rei Cutelo suspirou.

—Oh, sei que você não falou aquelas coisas por mal. Acho que nós duas nos exaltamos um pouquinho, e depois Goku achou exagero ficarmos brigadas por causa das bobagens que dissemos uma pra outra. Isto é pra você. _ mostrou um imenso pacote que carregava e abriu-o em cima da mesa — Kuririn nos disse que você precisava do uniforme dele pra uma experiência, e Gohan quis mandar o dele também.

—Oh... é muito gentil, Chichi, mas eu não...

A morena se ofendeu:

—Você ainda está aborrecida comigo.

—Não, é que eu não preciso de mais um...

Chichi agarrou Bulma pela roupa:

—Escute aqui: eu sempre quis jogar essa coisa horrível no lixo, mas Gohan nunca me deixou sequer chegar perto dela! E agora que ele me pede pra dá-la a você, você me diz que NÃO QUER? Como pode fazer isso comigo?

É incrível como algumas pessoas conseguem fazer você se sentir um monstro por uma coisinha de nada. Porém, antes que Bulma pudesse responder, Chichi a largou e, surpreendentemente, começou a chorar:

—Você não imagina o inferno que eu venho passando! Gohan esteve muito deprimido nessas últimas semanas, cheguei até a chamar um médico. Mas aquele charlatão me disse que meu filho não tem nada, apenas que ele está sofrendo muita pressão, que deveria dar uma folga aos livros e brincar mais! Parecia até o meu pai falando, você acredita?

Bulma podia perfeitamente imaginar o que acontecera ao pobre médico por se atrever a falar tamanha "heresia" na frente de Chichi. Mas a morena continuava:

—Já que ele precisava tanto assim de ar puro, mandei dar um passeio com Goku e Kuririn, antes que a saúde dele se arruinasse completamente! Mas continuo não achando justo! Se ele se sente pressionado é por causa daqueles malditos treinos que o coitadinho é obrigado a fazer, e não por causa dos livros! Ele já estuda tão pouco! Além disso... — parou um instante, e deixou cair os ombros, com ar cansado, os olhos tristes —... a verdade é que Gohan não tem ninguém pra brincar. No povoado não tem ninguém da idade dele, e também não posso deixar que ele arrume más companhias! Ele vive me pedindo para brincar com aquele dragão horroroso que vive rondando a nossa casa, mas isso só no dia em que eu morrer!

—E...eu sinto muito, Chichi — Bulma finalmente arriscou uma frase quando a amiga parou para respirar, e também para chorar mais um pouco — Mas o que é que eu tenho com... isso é, o que eu poderia fazer pra ajudar?

Chichi acalmou-se um pouco:

—Ah, bem. Depois que nós duas brigamos, Goku andou tentando me convencer a fazer as pazes com você. Eu ainda estava muito zangada, mas ele me disse que nós já vivemos isolados demais pra eu ficar brigando com todo mundo que chega lá em casa. Que já é muito ruim Gohan não ter ninguém pra brincar, e que do jeito que estavam as coisas nós não íamos mais receber visitas, e aí Gohan também não ia ter ninguém mais pra conversar também. E ele vai acabar ficando cada vez mais deprimido e não vai mais ter vontade NEM DE ESTUDAR!! — a idéia era tão horrível que fez a morena pendurar-se novamente no pescoço de Bulma, quase a esganando desta vez — Você não pode arruinar o futuro do meu filho!

Aquele malandro do Goku... Bulma poderia até achar graça nas artimanhas dele para conseguir a paz entre os amigos e a esposa, se não fosse o descaramento de Chichi. Bruscamente, soltou-se e deu um passo para trás, fitando a outra mulher com olhos gelados:

—Ah, então é isso? Quer fazer as pazes pra garantir que pelo menos eu volte a visitar vocês, e assim Gohan recupere a vontade de estudar? — deu-lhe as costas e cruzou os braços, imitando a atitude de Vegeta —"Goku achou exagero ficarmos brigadas". Ha! Eu deveria ter desconfiado! Desde quando você ouve o que outra pessoa diz, especialmente o Goku?

Os olhos de Chichi cascatearam lágrimas magoadas:

—É claro que eu não vim só por causa disso! Você é a minha melhor amiga, a única que eu tenho, na verdade! Acha realmente que eu seria tão interesseira a ponto de vir aqui só por causa do meu filho?

—Você mesma acabou de d... — Bulma ia dizendo, quando cometeu o "erro" de olhar por cima do ombro. A imagem patética de Chichi, com os olhos inchados e metade do rosto enterrado no lenço, desencorajava qualquer bronca. Bolas. Não dava para ficar ressentida com uma pessoa chorando. Caminhou até a desolada mãe e deu-lhe uns tapinhas no ombro:

—Está bem, calma. Eu não vejo porque Gohan não possa brincar com o dragão... — os olhos de Chichi emitiram um brilho de aviso e Bulma recuou, prudentemente — Mas acho que posso arrumar algum uso pra essa roupa. Mande a ele meus agradecimentos, depois.

Chichi respondeu com uma fungada agradecida, e a mulher de cabelos azuis aproveitou para escapulir por um instante, com a desculpa de trazer-lhe um copo de água com açúcar.

Como nas novelas, mal Bulma saiu, Vegeta voltou, com os cabelos ainda úmidos (lavara várias vezes o rosto com água fria - imaginem como ficou o banheiro). Imediatamente percebeu que a mulher no laboratório não era a mesma que ele deixara:

—A mulher do Kakaroto? Que veio fazer aqui?

Chichi se virou, franzindo a testa ao ver aquele homem seminu. Sentiu por ele uma antipatia imediata.

—Quem é você, algum amigo da Bulma? Por que está quase sem roupa nesta casa de família?

Ele cruzou os braços e soltou o rosnado de sempre.

—Mesmo se eu estivesse completamente nu, não seria da sua conta. Eu sou Vegeta, o príncipe dos Saiyajins: já deve ter ouvido falar de mim.

Certamente ela já ouvira falar nele, porque ficou branca - porém não de medo, como Vegeta pensou.

Nunca conseguiu entender como pudera se descuidar a ponto de deixar que ela o esmurrasse; é verdade, entretanto, que não esperava que uma reles fêmea humana pudesse se mover tão rápido, muito menos que pudesse fazê-lo sentir dor. O soco não o machucou de verdade, é claro, porém foi forte o bastante para empurrar sua cabeça para trás.

—Como se atreve, sua mulherzinha ordinária?! — segurou o queixo ultrajado, os olhos pegando fogo.

—ISTO É POR TER BATIDO NO MEU GOHAN!!!

A mão de Chichi doía, mas mesmo assim ela preparou-se para o segundo ataque. Não chegou a sair do seu lugar, entretanto, porque naquele momento Bulma atirou-se porta adentro (deixara cair o copo d'água no corredor, ao ouvir os gritos)e agarrou-a por trás:

—Chichi!!! Está maluca? Ele pode te matar!

Chichi se debateu:

—Eu é que pergunto: VOCÊ está maluca? O que esse criminoso está fazendo na sua casa? E quase pelado, ainda por cima? — olhou a amiga por cima do ombro, com ar desconfiado. Bulma corou.

—Vegeta, bota logo essa camisa antes que Chichi tenha um insulto cerebral! — ordenou, largando a mulher de Goku_ Chichi, não é nada do que você está pensando! Vegeta mora aqui, ele é meu hóspede - e um tanto abusado, às vezes. Gohan e os outros não lhe contaram?

—Claro que contaram, mas não pude acreditar! Você viu comigo na tevê o estrago que aqueles Saiyajins horríveis fizeram! Onde está com a cabeça de dar abrigo a um desses monstros?

—Já fiz a mesma pergunta. _ Vegeta zombou, abotoando a camisa.

—Cale a boca que você não está ajudando em nada! Chichi, esse "monstro" agora está do nosso lado! Precisamos dele para ajudar Goku a salvar o mundo dos androides.

O príncipe protestou:

—Eu não estou do lado de ninguém. E não tenho a menor intenção de ajudar o Kakaroto! Já disse que vou acabar com os bonecos de lata sozinho!

—Ha! Que pretensão! — Chichi lançou-lhe uma olhadela de desprezo — O meu Goku vai acabar com eles antes que você possa descruzar esses bracinhos. Você vai é levar uma surra!

O ki dele começou a subir.

—Mulher, se não quiser morrer, retire...

Bulma o interrompeu com um dedo erguido:

—Se você quer o seu uniforme novo, baixinho, é melhor ficar quieto.

Os dois briguentos se calaram instantaneamente. Chichi fitou Bulma de queixo caído:

—U-Uniforme novo? É por isso que ele — apontou Vegeta como se apontasse uma barata em sua cozinha — estava sem camisa?

—CLARO QUE É! — Bulma e Vegeta gritaram em coro — O que pensou que fosse?

Chichi corou e se encolheu sob os olhares furiosos dos dois. Então olhou as roupas em cima da mesa de trabalho, e as peças se juntaram. Encarou Bulma friamente:

—Então... é pra isso que você queria essas roupas, não é? Pra fazer uma roupa nova pra ele?

—E o que tem isso?

—Tem que eu não vou ajudar você a vestir esse miserável! — Chichi avançou para a mesa de trabalho e agarrou não só o traje de Gohan, mas o de Kuririn também — E não acredito que Kuririn emprestaria a roupa dele pra você se soubesse que era pra fazer alguma coisa pro Vegeta! Estou muito decepcionada com você, Bulma!

Embora não precisasse mais dos dois uniformes, a cientista não ia aturar uma coisa daquelas. Plantou-se resoluta na frente da outra e tentou arrancar as roupas das mãos dela:

—O que você tem com eu fazer ou não uma roupa nova pro Vegeta? É a minha colaboração na luta contra os Androides!

—Nós não temos nada a ver com isso! Goku e os outros que cuidem deles! — Chichi puxou de volta.

Outro puxão:

—Temos TUDO a ver com isso! São os nossos amigos e o SEU MARIDO que vão arriscar suas vidas por nós e pelo mundo, se é que você ainda não se deu conta! E qualquer um que os ajude - mesmo que não tenha essa intenção — frisou, olhando de soslaio para Vegeta — merece o nosso apoio! O Piccolo, por exemplo! O que me diz do Piccolo?

Puxão:

—O que tem Piccolo a ver com isso?

Puxão mais forte (ainda bem que os tecidos eram resistentes):

—Você o odeia, mas mesmo assim pagou pra ele um curso de direção, não foi?

—Como é que é? — Vegeta abriu a boca num “O” de espanto, distraindo Bulma momentaneamente. Chichi aproveitou pra dar um puxão mais violento, arrancando sua presa, digo, os dois uniformes das mãos da adversária:

—Nunca deveria ter te contado isso! — censurou, ajeitando as peças de roupa nos braços — Eu não suporto aquele demônio rondando a minha casa, e, se dependesse de mim, Gohan nunca mais chegaria perto ele. Mas, por mais que eu o deteste, ele salvou a vida do meu filho, enquanto o "seu" Vegeta tentou matá-lo!

—Mas depois ele também salvou a vida do Gohan!

Fez-se um silêncio sepulcral. Vegeta encarou a mulher com o rosto pálido e os olhos arregalados de espanto:

—Quem lhe contou isso?

Chichi fitava-o incrédula. Se não fosse a reação dele, teria pensado que Bulma estava mentindo.

—Você... você salvou mesmo a vida do meu filho? — o queixo dela caiu. Vegeta deu-lhe as costas.

—Não quero seu agradecimento, se é isso que está receando! — rosnou, visivelmente constrangido — Precisava do moleque, e não ia deixar meus planos serem arruinados porque o idiota não sabia se desviar de um ataque!

As duas mulheres olharam feio para ele. Chichi olhou para um, depois para outro, ainda zangada, mas com uma pontinha de dúvida. Bulma aproveitou:

—Está vendo, Chichi? Mesmo que Vegeta tenha agido com segundas intenções, Gohan não estaria vivo agora se não fosse por ele. Todo mundo tem alguma coisa de bom: lembre-se que quase todos os nossos amigos já foram criminosos, e hoje...

—"Todos os nossos amigos"? — Vegeta ironizou, do seu canto — Está dizendo que essa mulher não foi uma criminosa, também?

Se Chichi ainda quisesse matar Vegeta, Bulma teria alegremente se juntado a ela. O que aquele doido estava querendo fazer? A morena, claro, se eriçou de novo, e desta vez com ampla justificativa:

—Ora, seu insolente! Eu sou tão limpa quanto um banheiro recém-lavado! Ninguém pode achar nada de errado em mim!

Ele se virou e olhou-a bem nos olhos.

—Por mais desinfetado que um banheiro seja, ele sempre tem germes. Mesmo se você não tenha aparentemente feito nada, pode ser alguém da sua família... um parente, talvez? — os olhos negros pareciam varar através dela.

Chichi perdeu a cor; por um instante, pareceu-lhe que Vegeta havia criado chifres e rabo.

O dinheiro de seu pai, o mesmo dinheiro que agora sustentava sua família, não fora ganho de maneira honesta. Ela nunca julgara o pai; os tempos eram diferentes, e, na terra selvagem aonde viviam, acumular uma fortuna a partir das posses alheias era um jeito como outro de ganhar a vida. Também era perfeitamente natural que defendessem suas posses de ladrões, mesmo que para isso fosse necessário matar. Porém, pelas leis de agora, o Rei Cutelo seria considerado um ladrão... e um assassino.

Finalmente, ela desviou os olhos e largou os trajes de volta na mesa, de má vontade.

—Está bem. Eu prometi que não ia mais me meter na sua vida, Bulma. Mas ainda acho que está se metendo em encrenca mantendo esse... esse mau elemento em sua casa. — disse, dirigindo-se à porta — Se ele tentar alguma coisa com você, me avise!

—Está bem, está bem, eu aviso se ele me atacar ou coisa parecida... Eu juro, pode deixar — Bulma praticamente empurrou a amiga pra fora, e ainda teve que prometer mais umas dez vezes que avisaria se Vegeta aprontasse alguma. Finalmente, conseguiu fechar a porta, com um “ufa” de alívio.

—Não sei como ficou sabendo que eu salvei o moleque, mas você não tinha o direito de me expor! — Vegeta esbravejou atrás dela.

Ai... um depois do outro, era coisa demais para uma Bulma só! Virou-se para encarar o novo oponente:

—Eu não sabia de nada! Estava só blefando!

—Não preciso que me defenda!

—Eu não estava defendendo você, seu egomaníaco metido! Apenas não admito que me digam quem eu tenho o direito ou não de hospedar em minha casa! Era verdade, então?

Vegeta acalmou-se um pouco.

—Sim. Mas não me olhe desse jeito! Já disse que salvei o moleque apenas porque ele era uma peça importante em meus planos! Além disso... ele teve o atrevimento de salvar a minha vida — confessou, desviando os olhos para o chão.

Cada vez que Bulma pensava que conhecia Vegeta, descobria nele uma novidade. Embora tentasse permanecer séria, havia um brilho suave em seus olhos.

—Entendi. Seria muito humilhante você ficar devendo.

Ele deu o grunhido costumeiro.

—Chega de conversa fiada! Termine de me medir - e desta vez, sem massagens nem enrolações.

Talvez por estar cansada de tantas brigas, o fato é que pela primeira vez Bulma obedeceu sem discutir. Terminou a medição rapidamente e em silêncio.

—Quer alguma cor em especial? — perguntou, enquanto desenrolava a fita dos tornozelos dele.

Mas Vegeta viajava em outro rumo.

—Por que será que Kakaroto escolheu uma mulher daquelas? — pensou em voz alta. Só então lembrou vagamente de que Bulma parecia ter dito alguma coisa. Lançou um olhar para o chão e viu que os olhos dela fuzilavam. Oh, droga...

—Você não estava me ouvindo? — ela rosnou, já com uma veia saltada fazendo "cruzinha" na testa.

*Rosnado de Vegeta*

—Não é minha culpa se você fala o tempo todo. Era alguma coisa importante? — tanto seu tom de voz como sua expressão deixavam claro que ele não acreditava que quaisquer coisas que ela dissesse pudessem ser de importância alguma.

—Não! Não era nada importante! Esquece! Eu não queria interromper os pensamentos de sua Majestade! — Bulma levantou-se numa fúria, enrolando a fita no próprio braço; então viu o que fizera e começou a desenrolá-la de novo, resmungando entre dentes — Depois, quando eu fizer o seu bendito uniforme roxo com bolinhas cor-de-rosa, não venha reclamar, mrmrmrmrrrummm....

—Diabos, o que está resmungando aí? Depois fica furiosa porque ninguém entende o que fala!

Ela não respondeu, felizmente. Deus do céu, homens eram todos iguais, em qualquer planeta. Nunca davam atenção ao que as mulheres diziam e depois reclamav...

—É verdade que está fazendo meu novo uniforme só para contribuir na luta contra os Androides? — ele perguntou de repente.

Bulma ficou tão atônita que deixou cair a fita métrica.

There's no storm yet I hear thunder.

Não há tempestade, porém ouço um trovão.

—É... claro que é!

—Então por que disse que queria me fazer uma surpresa?

And I'm breathless, why I wonder?

E estou sem fôlego, por que será?

—Eu... eu... — Bulma engoliu em seco, depois ficou vermelha — Ora, pense o que quiser! Qualquer coisa que eu disser você vai ficar ofendido! Tem tanta importância assim o motivo?

Weak one moment,

Sinto-me fraca por um momento,

Then the next I'm fine.

E no seguinte já estou bem.

—Nenhuma — ele sorriu, satisfeito. Já sabia o que queria.

—De qualquer jeito — acrescentou —, fique sabendo que pagarei o que está fazendo por mim. Não quero que venha jogar mais essa dívida na minha cara.

Por essa Bulma não esperava. Aquele era mesmo o dia das surpresas!

—E... aonde vai arrumar dinheiro pra me pagar? — arqueou uma sobrancelha desconfiada.

—Idiota. Dinheiro é a única coisa que tem valor neste planeta?

A moça ficou olhando até fazer um “O” com a boca, o olhar confuso dando lugar a uma expressão maliciosa.

—Que tipo de pagamento, então? — aproximou-se dele de maneira devagar e um tanto sensual. Vegeta já tinha visto um andar parecido antes num dos gatos do velho Briefs - antes do maldito enfiar as unhas em sua perna.

I feel as if I'm falling every time

Sinto como se estivesse afundando o tempo todo

—Saberá quando terminar.

Bulma inclinou-se sensualmente na direção dele, sem o tocar. Vegeta fez um esforço para não jogar o corpo para trás.

—Não pode me dar um pequeno adiantamento, hein? — ela piscou. As bochechas do príncipe ficaram rosadas, mas ele ergueu o canto da boca, tomando parte no jogo. Seus olhos estreitaram-se, e um brilho perigoso surgiu neles.

—Não me tente...

Ouviu alguma coisa e praticamente pulou para trás. Quase em seguida, a cabeça esfuziante da senhora Briefs apareceu pela porta:

—Hora do jantar! Oh, Vegeta, você está aqui! Que bom, assim não vai ter que comer a comida fria.

—Ah, que bom! Eu estou faminta... — Bulma se alegrou, porém Vegeta cortou-lhe o passo.

—Ela não vai jantar — disse para a senhora Briefs _Está preparando meu traje de batalha.

—Como é que é? É claro que eu vou jantar! — Bulma deu um passo para o lado a fim de se desviar de Vegeta, mas o safado acompanhou seu movimento, e a moça quase esbarrou nele.

—Pelo que já conheço do seu ritmo, é melhor começar agora, ou essa maldita roupa só vai ficar pronta daqui a três anos. Não posso esperar tanto.

—Mas eu estou morrendo de fome! — Bulma praticamente ganiu — Como quer que eu trabalhe ass...

—Eu trago o seu jantar aqui, querida, não se preocupe — apaziguou a senhora Briefs — Estou tão contente que você e Vegeta estejam se entendendo de novo! Venha, Vegetinha, eu fiz onigiri!*

Sem responder, é claro, ele foi simplesmente passando pela mulher na porta sem pedir licença, e ela saiu atrás dele sempre a tagarelar deixando uma infeliz e faminta Bulma sozinha.

—Onigiri! — ela gemeu — Faço um favor pra ele, e em troca ele me deixa presa no meu laboratório, e vai encher a pança com os meus onigiri! O que eu fiz pra merecer isso?

Seu estômago respondeu com um longo e cavernoso ronco. Os ouvidos de Bulma soltaram fumaça. Agarrou a primeira coisa que estava à mão - o protetor peitoral de Gohan - e ergueu o braço para atirá-la longe.

A cabeça de Vegeta surgiu no umbral da porta.

—Azul — disse, simplesmente. Lançou um olhar rápido para a mulher petrificada com a armadura na mão como se aquela pose dela fosse muito natural e ele estranhasse apenas a falta de resposta.

—Foi o que perguntou antes, não foi? — insistiu — Faça minha roupa azul — e sumiu em seguida, batendo a porta.

Bulma ficou mais alguns segundos naquela posição depois que a porta fechou, sem saber se sentia vergonha, raiva, ou o quê. Então percebeu que, sem motivo aparente, estava com a respiração presa, largou a armadura na mesa, respirou fundo e... começou a rir. A expressão impassível dele quando a vira com aquela coisa de borracha na mão, a cara de pau dele exigindo a sua maldita roupa azul mesmo arriscando-se a levar uma "armadurada" na cara... Devia mesmo ter jogado aquilo nele, o desgraçado, mas ao lembrar a cena só sentia vontade de rir.

I'm a bundle of confusion

Estou inteiramente confusa

Yet it has a strange appeal.

Mas me sinto estranhamente atraída

A hilaridade só aumentou ao lembrar a maneira como Vegeta enfrentara Chichi. Esqueceu a aflição, o medo e a raiva que sentira servindo de mediadora no confronto dos dois titãs, e sobrou apenas o ridículo da situação. Nunca vira antes alguém reagir sem medo à famosa fúria da esposa de Goku, quanto mais deixá-la sem fala daquele jeito! “Bom...” pensou, recuperando um pouco do fôlego “depois de ter enfrentado Freeza, Zarbon e outros monstros do espaço, a Chichi deve ser cafezinho pra ele!”

Aquilo causou outro surto de risadas. Bulma achou que o seu peito ia explodir, já estava toda dolorida por dentro e os olhos ardiam. Apoiou-se na mesa, ofegando, e finalmente recuperou a calma. Enxugou os olhos e sorriu.

A cada dia que passava, ela se pegava admirando Vegeta por uma razão ou outra. Entendia agora, ou pelo menos achava que entendia porque Goku o tratava com tanto respeito. Bom... uma coisa era certa: era difícil ficar entediada com aquele maluco por perto, apesar dele ser um cafajeste. Cantarolando, voltou para o trabalho.

Did it all begin with him,

Tudo começou com ele

And the way he makes me feel

E o jeito que me faz sentir

I like the way he makes me feel...

Eu gosto do jeito que ele me faz sentir…

Vegeta voltou até a sala de jantar, curtindo a sua vingançazinha. Quem o visse tão sério e impassível jamais poderia adivinhar que ele estava lutando para não rir. A expressão daquela mulher ridícula quando ele a impedira de deixar o laboratório... E depois, quando lhe ocorrera que ela deveria estar se referindo à cor que ele queria para a roupa, e viera correndo antes que ela decidisse mesmo fazer o uniforme "roxo de bolinhas"... fora tão engraçado vê-la estática ali, com a armadura na mão... A cara dela quando ele espiara pelo umbral da porta... Ficara esperando ouvir a armadura zunir sobre sua cabeça, mas não acontecera nada. Não duvidava que ela ainda estivesse ali parada, com a peça de borracha na mão e aquele olhar de “dã”.

Nunca sentira tanta vontade de rir desde... nem se lembrava mais quando.

I'm not sure I understand

Não tenho certeza se entendo

But I like the way I feel.

Mas gosto do jeito que me sinto.

Durante o jantar, a senhora Briefs teceu elogios entusiásticos sobre o lindo sorriso de Vegeta, e até o Dr. Briefs admirou-se por seu hóspede estar tão “bem”-humorado. Felizmente, Vegeta estava pensativo demais para ouvir o que diziam.

Sim, talvez ficar na Terra mais um pouco pudesse ser muito proveitoso. Não sabia por que se sentia tão bem... mas gostava.

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*Onigiri - bolinho de arroz japonês, geralmente recheado com pêssego ou picles de ameixas.


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