A Ovelha e o Porco-espinho escrita por Silver Lady


Capítulo 7
Capítulo 7 "Contaminação"?


Notas iniciais do capítulo

 Eu não sou dona de Dragonball, bláblá... enfim, vocês sabem. ;)     



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A capital do planeta Shamuru não estava entre as cidades mais bonitas que já haviam visitado _ na verdade, era primitiva, se comparada à Cidadela de Freeza, ou mesmo à antiga capital dos Saiyajins. Não que fizesse diferença para Vegeta e seus companheiros. Destruir locais como aquele era rotina, e a única coisa que poderia interessá-los seria um desafio. Não fora o caso dos Shamurujins.

A lua criada por Vegeta para transformá-los em oozarus havia se apagado há algumas horas atrás. Estavam sentados em volta de uma fogueira, no meio das ruínas, comendo um animal que haviam encontrado nas ruínas, talvez mascote dos homens-cogumelo* .

—Ah ah ah ah! — riu Nappa — Viu como aquele gordo correu? Esmagamos eles como pulgas!

—Os que você não pulverizou antes, como sempre faz — retrucou Radditz —Você sempre torra a maior parte com seu ataque antes que a gente tenha chance de se divertir!

—Radditz, você não passa de um choramingas — resmungou Vegeta, de mau humor. Criar luas acabava com seu poder de luta, e ele odiava sentir-se fraco. Freeza devia estar mandando-o de propósito para planetas que não possuíam satélites naturais: seria bem a cara dele, embora o miserável preferisse humilhações menos sutis — Mas tem razão. Se Nappa não moderar esse bafo asqueroso, Freeza não poderá vender os planetas que arrasamos. E vocês sabem como ele fica de mau-humor quando não consegue o que quer.

Nos olhos dos dois guerreiros, Vegeta podia ver o ódio e o ressentimento por terem de se submeter um pivete de onze anos. Mas também havia medo e respeito, devidos tanto à sua posição real como ao seu incrível poder de batalha. Deu uma mordida no assado meio cru e cuspiu de lado:

—Eu não sei por que Freeza ainda nos manda para lugares como este.

—Se está procurando desafios, Vegeta, vai ficar decepcionado — riu Radditz — Não há raça no universo que se equipare à dos Saiyajins. A menos que esteja querendo desafiar o próprio Freeza.

Nappa lançou um olhar chocado para Radditz, depois olhou amedrontado para seu príncipe. Vegeta fechou os olhos e sorriu:

—Radditz, você fala demais. Melhor tomar cuidado com sua língua daqui por diante, se não quiser que eu a use para lustrar minhas botas.

Radditz estremeceu.

—D...desculpe, Alteza. _ ele baixou os olhos _Não acontecerá de novo.

O sorriso de Vegeta esticou-se imperceptivelmente.

—Você não me chama assim há muito tempo. Será que os anos sob o comando de Freeza fizeram você esquecer o respeito devido ao seu príncipe?

O ar ficou pesado. Radditz entreabriu os lábios para dar uma desculpa que não havia, porém Nappa silenciou-o agarrando seu ombro. Calmamente, Vegeta deu-lhes as costas, saboreando o medo deles, como uma sobremesa. Era um contraste reconfortante, comparado com as zombarias invejosas de Kyui, e com as torturas e humilhações nas mãos de Freeza, Dodoria e Zarbon.

Voltou-se para dizer alguma coisa, mas surpreendentemente, viu apenas as ruínas vazias.

—Nappa? Radditz? Para onde vocês foram?

Só o uivo do vento respondeu. Ergueu-se no ar e olhou em volta, irritado:

—Sabem que não gosto de brincadeiras! É melhor aparecerem, antes que eu me zangue de verdade!

—Eles não estão aqui, Vegeta — disse uma voz.

Vegeta olhou por cima do ombro.

Goku estava a alguns metros de distância, olhando-o friamente.

—Não se lembra? Eles estão mortos.

—Kakaroto! Como se atreve a aparecer aqui?!

O Saiyajin alto continuou a falar, como se não tivesse ouvido:

—Não era o que você queria? Ficar livre deles?

As pernas de Vegeta estavam mais longas, e ele correu na direção do rival. Em vez do usual traje azul e vermelho com ombreiras, vestia um velho uniforme preto com um buraco na barriga. Por mais que se esforçasse, no entanto, Goku parecia cada vez mais longe dele, embora não saísse do seu lugar.

—Kakaroto! Espere! Não se vá!

Os olhos de Goku piscaram, tomando uma fria cor azul. O cabelo ergueu-se e brilhou numa chama dourada:

—Somente os fracos precisam da companhia de outras pessoas — disse com a voz de Vegeta.

Goku desapareceu numa explosão de luz, atirando o príncipe para trás. Ele girou no ar e ficou flutuando no espaço, sem rumo. A luz suavizou-se, tomando uma pálida coloração azulada. O rosto de Bulma apareceu na tela holográfica, cheio de reprovação:

“Está vendo? Eu disse que você ia ficar sozinho. Mas você me escuta? Nunca!”

—Você é não é ninguém para falar, portanto cale a boca! — Vegeta respondeu cruelmente.

Os olhos dela o fitaram com tristeza, e depois se desvaneceram na escuridão.

Vegeta abriu os olhos. Estava de novo na enfermaria da Corporação Cápsula.

—Humpf. Outro pesadelo idiota — bufou. Olhou automaticamente para o lado, onde Bulma estaria dormindo com a cabeça apoiada na mesa.

A mesa estava vazia.

Abriu a boca, sem conseguir proferir um som. As paredes da enfermaria se curvaram e começaram a se aproximar, o quarto ficando cada vez menor, como se quisesse fechar sobre ele. Não podia reagir, estava imobilizado pelo que parecia ser um grampo de cabelo! Sentiu-se afundando novamente, enquanto sua visão se turvava.

Ele estava nu e gelado, em meio do que parecia uma bruma avermelhada. Não conseguia se mover: era como se cada célula do seu corpo estivesse pesando com a angústia que sentia, e da consciência de não ter absolutamente mais nenhuma esperança.

—Voltei ao Inferno... — murmurou, mas havia algo estranho em sua voz. Parecia vibrar dentro de sua cabeça.

Abriu os olhos mais uma vez. Estava estendido de bruços no chão da câmara de gravidade. A bruma vermelha era a luz da máquina ligada, que ele percebera através das pálpebras. Remexeu-se de má vontade, sentindo-se todo dolorido. Devia ter dormido de exaustão, o que já vinha se tornando rotina, e acordara com o som da própria voz. Há quanto tempo estaria deitado ali?

Apoiou-se sobre as mãos e ergueu os olhos para a parede oposta, como se esperasse alguma coisa aparecer. Depois deu-se conta do que estava fazendo e enrugou a testa em autocensura. Desligou a máquina de gravidade e arrastou-se até o banheiro, com os vestígios do sonho ainda em sua cabeça.

Nappa e Radditz. Dois imprestáveis com cérebro de mosca. Não pensava neles desde sua primeira batalha na Terra. Quem poderia imaginar que o irmão daquele palhaço cabeludo pudesse superá-lo?

Radditz devia estar rindo dele, de algum lugar lá no inferno, junto com Nappa. O reflexo no espelho do banheiro retribuiu sua expressão de raiva. Não se lembrava de ter visto nenhum dos dois durante sua breve passagem pelo além; na verdade, antes do sonho, não se lembrava sequer de ter estado lá. Porém, qualquer forma que tivesse o Inferno, não seria pior do que o marasmo em que vivia agora.

Abriu o chuveiro, amargurado. Nos últimos meses, havia seguido a rotina que lhe parecia ideal:levantava - se antes do amanhecer e treinava até depois da meia-noite, com apenas rápidos intervalos para as refeições. Os raros contatos que tinha com a família dos loucos aconteciam quando precisava comer ou exigir do velho mais robôs de treinamento. E só. Qualquer coisa mais era dispensável. Não precisava mais se preocupar com as rabugices da mul... de Bulma, pois desde a noite em que ela enfiara o pote na sua cabeça parecia ter se esquecido dele. Valera a pena ter ficado com o cabelo engraxado e cheio de sal. Nada o impediria agora de alcançar o sonhado nível de Super Saiyajin.

Idiota.

Estava bem mais poderoso, é verdade, mas de que adiantava, se sempre que subia de nível Kakaroto já o ultrapassara muito antes? Sempre que isso acontecia, Vegeta cerrava os dentes e esforçava-se mais ainda, esgotava sua energia até não poder nem mais voar; e não foram poucas as vezes que se esquecera de comer ou que treinara pela madrugada adentro, até o sol raiar. Porém tudo o que conseguia era frustrar-se cada vez mais. O que havia de errado? Por que não progredia? Começou a ter ataques de exaustão, freqüentemente acordava sem ter sequer noção se era dia ou noite. Sonhos confundiam-se com realidade; às vezes, achava que estava de volta aos velhos tempos. Outras vezes, via aquela maldita mulher junto dele, censurando-o... e quando finalmente acordava, estava só. Sempre só. Às vezes Vegeta se pegava espiando a parede, mas ela nunca mais tornara a ligar aquela maldita tela. Certa vez, acordara na enfermaria de novo. Sua mão apertou o sabonete.

Sozinho.

Ela fingira se importar com ele, apenas para deixá-lo sozinho. Como os outros... Teve a sensação de que as paredes do box se curvavam opressivamente sobre ele. Uma sensação pegajosa em sua mão distraiu-o do pânico que começava a se formar, e ergueu-a à altura dos olhos. Inferno. Havia esmigalhado o sabonete.

Desligou a água e começou a passar no corpo a pasta que restava, concentrando-se em seus movimentos, na sensação do próprio toque sobre a pele, tentando esquecer a enfermaria vazia. Pegou-se imaginando como seria se as mãos que o ensaboavam não fossem as suas... lembrava do calor dela, dos seios macios apertados contra seu corpo, mas não lembrava o toque de suas mãos. Abriu o chuveiro de novo, tentando apagar aqueles pensamentos com água fria. Era bem mais fácil controlar-se no espaço, aonde havia poucas mulheres e menos tempo ainda para pensar besteira. Poderia seduzi-la. Seria fácil, já que ela obviamente também o desejava, e assim também fixaria sua posição naquela casa. Mas aquela desgraçada poderia usar sua fraqueza para espezinhá-lo de novo.

“Foi por isso que me trouxe aqui, não foi? Você está tão sozinho quanto eu.”

Cerrou os olhos com força. A vergonha e humilhação ainda queimavam dentro dele. A não ser quando Freeza o derrotara, nunca se sentira tão vulnerável e indefeso... Fora como se o olhar dela houvesse desintegrado as suas roupas, deixando-o tão nu como estava agora. Como se sentira ao ter de implorar que Kakaroto fizesse o que ele não conseguira...

—Em que me meti... Tudo por culpa de Kakaroto.

Sim, era culpa de Kakaroto. O desgraçado salvara sua vida e depois lhe dera as costas, pouco ligando que Vegeta fosse levar uma vida menos que miserável. Essa era a chamada bondade dos terráqueos, um veneno capaz de transformar um Saiyajin numa caricatura de um guerreiro! O pior é que aquilo parecia estar contaminando-o também. Ele mesmo não se reconhecia mais, nem mesmo em seus sonhos.

“Toda a minha vida eu permaneci isolado. Por que isso me incomoda só agora?”

A solidão, ensinara seu pai, fortalecia o guerreiro. Apenas os seres fracos precisavam se amontoar uns com os outros, como vermes. Por outro lado, mesmo que um príncipe não precisasse de ninguém, sempre havia a necessidade de se sentir servido e admirado. Talvez por isso tivesse se acostumado a ter a mulher em volta dele. Mesmo quando perdera tudo, sua herança e até sua superioridade em poder, ainda lhe restavam Nappa e Radditz. Ambos o matariam alegremente, se pudessem, mas seu respeito era sincero. Não importava que Freeza e seus dois subordinados, ou mesmo os membros da Tropa Ginyu fossem infinitamente mais fortes, aos olhos de seus súditos Vegeta ainda era o Número Um. Além disso, eram os últimos sobreviventes de sua raça, e possuíam a mesma cultura e um modo semelhante de pensar.

Fora talvez por isso que sonhara com eles?

Não que significasse alguma coisa. Vegeta não sabia que, mesmo entre seu povo, era comum que guerreiros de um mesmo grupo desenvolvessem relações de amizade ou até algo mais (como Bardock e sua equipe), até porque tais coisas jamais eram admitidas abertamente. Para o orgulhoso príncipe, uma aliança só serviria enquanto pudesse tirar vantagens. Quando não precisava mais de seus aliados, sentia-se livre até para matá-los, se quisesse. Como fizera com Nappa, e teria feito com Radditz, se Kakaroto e o Namekiano não lhe tivessem prestado o favor de matar o imprestável.

Podiam chamá-lo de monstro, mas pelo menos ele não fazia segredo de que usava os outros, sem a desculpa da amizade ou qualquer outra chantagem sentimental.

“Sempre que precisam de um aparelho ou de um lugar pra ficar, é só Bulma, você precisa nos ajudar; mas, quando sou eu que preciso de alguém pra conversar, todos somem.”

Como alguém podia se deixar enganar assim? Tentara fazer aquela cabeça-dura enxergar a verdade, mas ela preferia ficar choramingando pelos cantos. Teimosa como Kakaroto.

“Eu jamais poderei ser frio como você.” dissera ele, quando Vegeta tentara chamá-lo à razão.

Era engraçado, mas até que Kakaroto e a mulher se pareciam. Ambos eram estupidamente otimistas, e tinham uma ingenuidade esperada apenas numa criança. Então subitamente a inocência desaparecia e o olhar se tornava frio, avaliador, parecendo varar através dele. A mudança era impressionante.

“Aqueles dois são um enigma. Não me surpreenderia se soubesse que eles foram amantes”. Quase automaticamente, a imagem da esposa de Kakaroto apareceu em sua mente. Vegeta estremeceu, ao lembrar de sua voz queixosa e suas roupas sem graça. Pior que a aparência, contudo, era o fato de que aquela criatura não trouxera a seu rival nenhuma vantagem, a julgar pela maneira como viviam. Kakaroto devia ser mesmo louco, jogando sua vida fora daquele jeito quando poderia estar vivendo no luxo ao lado de uma mulher que ao menos era atraente. É verdade que Vegeta não sabia de nada sobre o passado de seu rival. Talvez ele tivesse casado com a morena por despeito, porque Bulma já estava noiva daquele inseto desfigurado... grunf. E que importância isso tinha? Estava pensando igual àquelas porcarias que Bulma e a mãe viam na tevê. Se demorasse mais naquele lugar, acabaria usando cachinhos! Mas, sem saber por quê, a idéia de Kakaroto e Bulma juntos o repugnava, mais do que dela com aquele trouxa chamado Yamcha.

No reflexo dos azulejos, os rostos sorridentes dos dois pareciam zombar dele, duvidando da sua capacidade.

"Digamos que você consiga", ela o desafiara. E, quando dissera a Kakaroto que ainda iria superá-lo, o outro rira-se dele "Ah, claro".

_Vão ver, os dois! Vou liquidar a todos um por um... primeiro, os bonecos de lata... depois, você, Kakaroto... _ sorriu malignamente _ e depois, será a sua vez, Bulma.

Os azulejos tilintaram com um som semelhante ao de pratos quebrados. Uma nuvem de pó e partículas se formou no ar e dissipou-se quase em seguida, revelando uma teia de aranha de rachaduras cercando um buraco com a forma de um punho.

****

A porta do quarto de Vegeta abriu-se com um sopetão, seguida quase imediatamente pela porta do armário. Um cheiro sutil e familiar chegou às suas narinas do Saiyajin, antes dele praticamente mergulhar atrás de suas velhas roupas de batalha. Ela devia ter vindo fazer a arrumação. Franziu a testa, sentindo seu espaço novamente invadido. Bom, ela não o incomodaria mais. Logo estaria longe no espaço, livre de pensamentos lúbricos e daquele absurdo desejo por companhia. Ficaria por lá até os três anos se passarem, voltando ocasionalmente para reabastecer-se de combustível. Era o único jeito de descontaminar-se daquele ambiente de malucos e voltar a ser um verdadeiro Saiyajin.

Praguejou, lançando roupas para todos os lados. Onde diabos estavam suas roupas de batalha?

Havia recebido as mesmas de volta, depois de limpas e remendadas, logo no dia seguinte ao retorno de Kakaroto. Desde então, o mantivera guardado no fundo do armário, como uma relíquia. Diversas vezes havia pensado em exigir do velho um traje novo, mas sempre adiara. Agora não havia mais tempo... droga. Os trajes Saiyajins eram resistentes, mas aquele não ia durar muito mais; teria também que levar algumas daquelas roupas elásticas que usava na câmara. Talvez devesse procurar algum planeta mais avançado onde fosse possível conseguir réplicas do traje, em caso da tecnologia da Terra não ser suficiente para produzir o tecido e a armadura de borracha especial. A última coisa que queria era combater os androides vestido como um terrestre!

O quarto já estava uma bagunça, e nada daquela &*% de traje. Maldita mulher intrometida, devia ter mudado tudo do lugar, ao fazer a limpeza!

Então parou.

Bulma nunca fazia limpeza alguma: era sempre a loura burra quem alegremente arrumava o seu quarto, ou então um dos robôs da faxina.

*Shamuru – jogo de palavras com “mashuru-mu”, ou cogumelo, em japonês.


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