A Ovelha e o Porco-espinho escrita por Silver Lady


Capítulo 14
I Wanna Feel Real Love...


Notas iniciais do capítulo

Eu não sou dona de Bulma e Vegeta, nem da canção apresentada neste capítulo. Feel é uma das músicas de Robbie Willians que mais gosto, e achei que cabia como uma luva em relação aos sentimentos de Bulma.



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Disclairmer:Eu não sou dona de Bulma e Vegeta, nem da canção apresentada neste capítulo. Feel é uma das músicas de Robbie Willians que mais gosto, e achei que cabia como uma luva em relação aos sentimentos de Bulma.

I Wanna Feel Real Love

Come and hold my hand

Venha e segure a minha mão

I wanna contact the living

Quero entrar em contato com os vivos

Not sure I understand

Não estou certo se compreendo

This role I've been given

Este papel que me deram

I sit and talk to God

Eu sento e falo com Deus

And he just laughs at my plans

E ele apenas ri dos meus planos

My head speaks a language

Minha cabeça fala uma língua

I don't understand

Que eu não entendo

Que coisa. Parecia que todo o mundo estava unido contra ela! Quem o velho pensava que era? Bulma Briefs não era pro bico dele, não! O vento fresco a ajudou a acalmar-se um pouco, e ela respirou fundo. Melhor voltar mais tarde, quando houvesse outras pessoas na ilha.

—O Monte Paoz não fica muito longe daqui... — disse para si mesma, num tom um pouco forçado. Porém não conseguiu se fazer virar naquela direção. Goku, com a cabeça sempre nos treinos, mais que provavelmente esqueceria a festa, e depois do último incidente com Vegeta, Bulma não estava muito a fim de encarar os Sons. Mas não restava ninguém mais para convidar. Yamcha estava em outro lado do mundo treinando, Tenshinhan e Chaos idem (e mesmo se ela os achasse, os dois dificilmente compareceriam), Lunch estava Kami sabe onde. Tentou se recordar de amigos de infância, colegas de escola, mas eram apenas rostos borrados e nomes, que não despertavam sentimentos. Era como se sua vida houvesse começado apenas depois que empreendera a busca pelas esferas do dragão.

Bons tempos aqueles. Havia perigo, é claro, mas nada comparado ao que haviam passado nos últimos dois anos, nem ao que estava por vir. Até as escaramuças com a Red Ribbon lhe pareciam divertidas agora, comparadas àquelas violentas guerras com seres capazes de destruir planetas inteiros. Lembrou-se da sensação estranha, quando se descobrira sozinha com o Mestre Kame na praia vazia. Não fora apenas medo, mas também nostalgia; acostumara-se a pensar sempre naquele lugar como cheio de gente. Goku e Kuririn ainda moleques, Yamcha, Pual, Tartaruga, Kameroshi, Lunch... Uma época feliz que não voltaria.

Sentia os amigos cada vez mais distantes e envolvidos com seus problemas pessoais, unindo-se apenas quando havia alguma batalha em perspectiva. Os tempos eram mais sombrios e complicados, agora.

—Bom, a questão é: o que vou fazer agora? — perguntou-se em voz alta enquanto freava o carro bruscamente, espantando alguns animais silvestres. Havia até então guiado mecanicamente, cuidando o trânsito na estrada, mas sem prestar realmente atenção para onde ia. Estava no meio de um campo, o lugar ideal para se pensar um pouco. Tirou o aerocarro da estrada e pousou-o num lugar afastado, depois sentou sobre o capô, para refletir melhor.

A última coisa que queria agora era voltar para casa. Seus pais, claro, providenciariam alegremente para que não faltassem convidados na festa, mas a perspectiva a aterrorizava. Já podia sentir os dedos gordos da senhora Picle em sua bochecha ou os sócios mais jovens do pai assediando-a, de olho num casamento que poderia tornar algum deles presidente da poderosa Corporação Cápsula.

—A quem eu estou enganando? — gritou, mais que perguntou, para um coelho que a fitava com curiosidade — Eu não quero festa nenhuma! — apoiou a cabeça nas mãos, tristemente.

Não aquele tipo de festa, pelo menos. Sem motivo algum, sentiu lágrimas ameaçando subir-lhe aos olhos, porém respirou fundo e se conteve. Ultimamente, todo mundo queria alguma coisa dela, mas ninguém jamais lhe perguntava o que queria. Ora, querida, você nunca sabe o que quer.

—Cale a boca, mãe — resmungou. Claro que sabia o que queria. Queria um tempo para si mesma, queria se sentir de novo jovem e irresponsável, esquecer de todas as obrigações pelo menos por alguns dias. Queria se sentir viva de novo, pois daqui a três anos talvez não houvesse mais vida nenhuma.

I just wanna feel

Eu só quero sentir

Real love feel the home that I live in

Amor de verdade, sentir o lar onde vivo

Cos I got too much life

Porque tenho vida demais

Running through my veins

Correndo pelas minhas veias

Going to waste

E indo para o lixo

Enquanto pensava, desceu do capô do carro e andou pelo campo. O sol estava gostoso, refrescado pela brisa, e ela se animou um pouco. Teve vontade de tirar os sapatos, e só não o fez por lembrar que poderia haver cobras e aranhas. Mas deitou-se um pouco na grama, colheu uma florzinha e ficou brincando com o talo.

—Gostaria de poder ficar aqui... — murmurou, e quase em seguida levantou os olhos. Suas próprias palavras despertaram uma idéia que já vinha cutucando lá no fundo há alguns minutos. Podia fazer isso... se... Olhou rápido para a caixa de cápsulas que sempre trazia consigo; tinha um avião, motos e uma casa. A carteira estava recheada de cartões de crédito e dinheiro. Perfeito. O que não tivesse nas cápsulas ou na casa, compraria mais tarde.

Na Corporação Cápsula, o telefone tocou. Atendeu o Dr. Briefs, que estava na cozinha.

—Alô? Bulma? Está tudo bem? Sua mãe e eu queremos saber quando é que você volta. Conseguiu convidar seus amigos? Não? Como é? Vocês vão ter que partir em outra aventura? Mas, querida, e a festa de aniversário? Sim, sim, claro que a salvação do mundo é mais importante que a sua festa... pelo menos eu acho que é.

—Quem é? — quis saber a senhora Briefs, que acabara de dispensar os entregadores.

—Bulma ligou pra avisar que precisa viajar de novo. Parece que ela e os amigos vão ter que evitar outra ameaça à Terra – um cientista maluco, ou coisa parecida. E vão ficar uns d... — ouviu alguma coisa no telefone e corrigiu — uma semana fora.

—Oh, tudo bem — a loura fez um gesto com a mão — Desde que cheguem a tempo para a festa. Seria uma pena desperdiçar todos esses doces e salgados — falou, virando-se na direção das pilhas de caixas que ocupavam toda a mesa da cozinha, cujas pernas pareciam ligeiramente arqueadas.

—Espere um pouco, vou perguntar. Alô, Bulma? Ainda está aí? Tem certeza que não dá pra vocês e seus amigos voltarem a tempo, nem que cheguem um pouco atrasados? — ele afastou um pouco o telefone do ouvido — C-Calma... sei que salvar o mundo é importante. Mas é que a sua mãe vai ficar decepcionada. Ela já encomendou os doces e salgados para a festa e... Como é? — escutou em silêncio por alguns instantes, então se virou, animado, para a mulher:

—Bulma disse para dar a festa assim mesmo. Que é pra gente convidar todos os nossos empregados e amigos, e dar a festa em sua homenagem.

—Oh, que coisa maravilhosa! — a senhora Briefs juntou as mãos de felicidade — A nossa filha é tão boazinha, sempre pensando na gente. Vou já avisar as minhas amigas!

Do outro lado da linha, Bulma ouviu o comentário da mãe e revirou os olhos.

—Papai? Sim, eu ouvi. Não, não me agradeçam, não seria mesmo direito botar toda essa comida fora. Não fique triste por mim. Este tempo fora vai me fazer melhor que todas as festas do mundo. Divirtam-se, amo muito vocês. Vou me cuidar, sim, tchau.

Desligou, aliviada. Sabia que seus pais não ligariam para seus amigos para confirmar, ou mesmo saber se ela estava bem. Eles nunca faziam isso. O pensamento causou-lhe uma pontinha de amargura. Sempre fora grata pela liberdade quase ilimitada que tivera desde a infância. Pais normais nunca teriam deixado uma menina de dezesseis anos andar pelo mundo sozinha, ou simplesmente largar a escola e tudo o mais para se meter em perigos contra monstros e terroristas. Por outro lado, Bulma às vezes tinha a sensação de que lhe acontecesse alguma coisa, seu pai continuaria distraído com seus inventos e bichinhos de estimação e sua mãe continuaria alegremente a procurar confeitarias novas, sem que nenhum dos dois sentisse falta dela.

Bom... agora estava livre.

***********

Os dois primeiros dias foram celestiais. Montou a casa no meio do campo e ficou até tarde comendo sorvete e vendo televisão, na mais absoluta preguiça. Acordou tarde e comeu na frente da tevê, coisa que não fazia há anos. Depois, já cansada daquele panorama, encapsulou a casa, apanhou uma moto e saiu por aí sem rumo. Passou numa cidadezinha que não conhecia e divertiu-se comprando mais cápsulas e algumas bugigangas, depois lanchou num pequeno restaurante. Dois rapazes mexeram com ela, e Bulma custou a livrar-se deles, com a ajuda de um dos garçons. Mas percebeu que não atraíra simpatias, por isso resolveu ir embora rápido.

Sem motivo algum, o incidente a fez lembrar-se daqueles soldados do exército dos coelhos, que também a haviam assediado. Se Goku não estivesse com ela...

Um ronco de dinossauro ao longe a fez estremecer. De súbito, ficar sozinha já não lhe parecia tão atraente. Era meio chato não ter ninguém com quem conversar.

O preço da liberdade era a solidão. Talvez por isso pessoas como Vegeta e Piccolo preferissem viver isoladas dos outros. Admirou-os por isso, por aquela independência, mas sabia que jamais poderia ser assim. Precisava da companhia de outras pessoas – mesmo que estas na maioria das vezes a deixassem maluca.

As lembranças do tempo que viajara com Goku lhe deram outra idéia. Poderia fazer de novo o que tentara fazer catorze anos atrás e Pilaf havia impedido. “Era o que eu deveria ter feito, em vez de ter perdido meu tempo com Yamcha e com... com outros homens que não mereciam a minha atenção,” pensou. Já que estava livre de novo, iria atrás das esferas do dragão e desta vez desejaria um namorado. Um companheiro lindo, carinhoso e protetor, e não ficaria mais sozinha.

Só havia um problema. Desencapsulou o aerocarro em que saíra de casa. Não levou muito tempo para confirmar que havia deixado o radar do dragão lá. Inferno! A festa já devia estar acontecendo. Teria de voltar, e dar um jeito de entrar lá sem ser percebida.

I don't wanna die

Eu não quero morrer

But I ain't keen on living either

Mas também não estou louco por viver

Before I fall in love

Antes de me apaixonar

I'm preparing to leave her

Já estou me preparando para deixá-la

Scare myself to death

Me mata de susto

That's why I keep on running

Por isso continuo fugindo

Before I've arrived

Antes de ter chegado

I can see myself coming

Já posso me ver vindo

Já escurecia quando chegou perto de casa. Do pequeno bosque que ficava atrás da casa, ficou parada ao lado do carro olhando o movimento, as pessoas que entravam. Estava pensando num bom plano quando ouviu uma voz sarcástica às suas costas:

—Está com medo de entrar naquele hospício? Não admira. Nem eu quis me arriscar a chegar perto da câmara de gravidade.

Bulma deu um pulo. Antes mesmo de se virar já sabia quem era, por isso já tinha uma bronca na ponta da língua, embora não pudesse disfarçar o brilho de alegria em seus olhos. Mas tudo o que ia dizer foi imediatamente esquecido ao divisar o vulto sentado no chão a alguns metros dela.

—V...V... Vegeta!!!!

O Saiyajin franziu a testa, obviamente enojado com a piedade no rosto dela. Ele parecia literalmente saído de uma guerra. O uniforme que dera tanto trabalho a Bulma estava imundo e ensangüentado, e tão rasgado que era quase um atentado ao pudor. Seu cabelo parecia ter sido (des)penteado com as garras de um animal selvagem. Mas o que mais chocou Bulma foi sua postura. Estava inclinado pra frente, os braços pendendo ao longo do corpo, as pernas meio dobradas para dentro, como um boneco de pano jogado no canto de um quarto de criança. E, embora a expressão de seu rosto parecesse a mesma de sempre, havia nela alguma coisa que a cientista não conseguiu definir.

A vontade de Bulma era de correr e abraçá-lo. Em vez disso, aproximou-se timidamente e ficou a olhá-lo, com ar triste.

—O... Olha só pra você. Depois de todo o trabalho que eu tive pra fazer a sua roupa! Ainda bem que eu fiz várias cópias, porque senão você ia se dar mal, viu? É a última vez que te ajudo no...

Vegeta mal parecia perceber a presença dela. Seus olhos pareciam fitar alguma coisa que só ele podia ver.

—Tudo bem — disse num tom inexpressivo, que não era absolutamente o dele.

Aquela era a última coisa que Bulma esperava ouvir. Engasgou o resto do discurso e ficou a olhá-lo boquiaberta:

—C-C-C-Como é?

Uma pontada da velha irritação surgiu no rosto de Vegeta e ele virou a cabeça na direção da moça, mas sem olhá-la nos olhos:

—É surda? Pra mim está ótimo, não vou mais ter que me rebaixar precisando da sua maldita ajuda. Agora, pode ir embora, e comemorar. Não era isso o que você queria? — virou a cabeça para o lado, como se esperasse que com isso ela fosse embora.

Porém Bulma se aproximou, de mansinho.

—Você... não precisa mais de mim porque se transformou em Super Saiyajin, é isso? — indagou esperançosa.

A testa de Vegeta se franziu de ódio por aquela mulher que o fazia recordar sua suprema humilhação. Mas, tinha importância agora? Nada importava.

—Eu nunca serei um Super Saiyajin — falou tão baixinho que nem tinha certeza se ela havia escutado.

Os braços de Bulma penderam ao longo do corpo, como se cedessem ao peso do que aquela afirmativa implicava.

—E... está falando sério? — a expressão e o tom de voz eram como se ela houvesse sofrido também a derrota.

Vegeta lançou-lhe um olhar de curiosidade, porém não respondeu.

Ficaram parados ali em silêncio, olhando as luzes na casa, um ventinho frio soprando em suas costas como uma sensação de fatalidade. Porém Bulma não era mulher de ficar parada muito tempo. Tocou o ombro dele de leve.

—Venha comigo — pediu suavemente.

Ele não se mexeu. Bulma abriu a boca para repetir o convite, então se lembrou de uma coisa:

—Espere... Consegue entrar lá no meu laboratório e voltar sem ser notado?

A pergunta era tão estranha que Vegeta não pôde ignorar, embora continuasse a não olhar pra ela:

—Por quê?

—Fiz várias cópias da sua roupa de batalha, e as cápsulas estão na gaveta da minha mesa. Também vai precisar de umas roupas comuns, porque não vou andar na rua com alguém vestido de astronauta pra todo mundo ficar olhando.

Dessa vez ele virou a cabeça e olhou-a nos olhos:

—O que a faz pensar que eu vou com você?

Ela indicou a casa com o olhar:

—Prefere voltar pra lá e esperar as amigas da minha mãe? Elas são ainda piores, posso garantir. E se não me engano, a filha mais nova da senhora Picle ainda está solteira e louca pra arrumar um namorado bonit...

Pela primeira vez, desde que o encontrara ali, Vegeta esboçou uma reação. Seus olhos se arregalaram, horrorizados. Em meio segundo, ele desapareceu, depois voltou com uma sacola na mão.

—Vai ficar aí rindo ou vai entrar nessa porcaria que chama de carro? — rosnou.


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