A Ovelha e o Porco-espinho escrita por Silver Lady


Capítulo 13
Parem de Me Dizer o Que Fazer!




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Fazia dois dias que Vegeta não aparecia. Com o caos que ultimamente reinava em sua casa, Bulma até sentia inveja dele. Ou melhor, sentiria, se não estivesse tão aborrecida e preocupada. Aborrecida porque perdera tanto tempo e ganhara umas olheiras em cima daquele projeto e o cafajeste não dera o menor sinal de reconhecimento. Bulma não esperava um obrigado, é claro; mas puxa, depois de tantas insinuações, só sendo muito tapada para não perceber que ele estava um pouquinho interessado nela. Era de se imaginar que, depois de ver tudo o que ela fizera por ele... sei lá... que Vegeta cumprisse a sua promessa de “pagar” a roupa. Mas não: mal ele se vira pronto e vestido, fora direto resolver sua picuinha com Goku. Típico de homens. Yamcha era a mesma coisa, sempre a deixava de lado por um jogo de beisebol, uma luta, uma aventura. As mulheres sempre ficam em segundo lugar, quando não em último. Já não se admirava que Chichi fosse tão agarrada no filho, com certeza para compensar as desatenções de Goku.

Era justamente Goku uma parte da causa de suas preocupações. Quando Vegeta demorara em voltar, Bulma havia telefonado para os Sons e recebera a confirmação que sim, ele estivera lá. A voz de Chichi ainda tremia de medo e indignação ao contar como aquele “demônio” ameaçara matá-la, e Goku voltara para casa todo machucado e sujo, sem dar nenhuma explicação. Sem falar, é claro, que puseram a vida de Gohan em perigo... Ela esperava agora que Bulma percebesse o perigo que estava abrigando em casa e...
Bulma desligara um tanto aliviada, e apreensiva também. Pelo jeito, Vegeta havia perdido de novo. Era quase impossível que ganhasse, mesmo; mas, se por algum milagre ele conseguisse realmente se tornar Super Saiyajin e vencer Goku, dificilmente pouparia a vida de seu rival. Bulma sentia o coração apertar-se só de pensar nessa possibilidade. Se o pior acontecesse, não poderia mais continuar abrigando em sua casa o assassino de seu querido amigo. Podia imaginar os olhos acusadores dos outros se voltando para ela. Mas...

Deu um suspiro triste. A verdade é que mesmo sabendo o que Vegeta faria com tanto poder nas mãos, queria sinceramente que ele se tornasse Super Saiyajin. Não era justo que tanto sofrimento e esforço dessem em nada. Aquela segunda derrota poderia aniquilá-lo completamente.

“Não adianta ficar pensando nisso.” refletiu “ Vegeta já é adulto, e tem que aprender a agir como tal. Com certeza, ele me desprezaria se soubesse que estou preocupada... ia dizer que não tenho nada com isso, e estaria certo. Tenho é que me preocupar comigo mesma pra variar. Se ao menos eu conseguisse um pouco de paz...” pensou, estremecendo ao ouvir passos subindo a escada do terraço. M... Fora descoberta.

Suas esperanças de descansar um pouco haviam sido frustradas pelo caos em que a casa sempre ficava durante os preparativos da sua festa de aniversário. Todo ano era a mesma coisa. Embora Bulma adorasse festas, seu aniversário não a entusiasmava muito, talvez por já ter chegado aos trinta, ou porque essa festa sempre fora mais dos seus pais do que realmente dela.

A briga que fora, na festa dos seus doze anos, para que os pais não mandassem mais vir mágicos e palhaços... eles simplesmente não entendiam que ela já estava crescida demais pra isso! Seu pai ficara tão desapontado... E a mãe sempre a deixava maluca, enfiando-lhe catálogos e revistas de festas pelos olhos, mesmo depois que Bulma já havia escolhido a decoração; e no último minuto sempre a mudava. Quando a filha saltava furiosa, a simpática loura apenas sorria: “Mas você fica trocando de ideia a todo instante querida, nunca sabe o que quer.”

Sem falar nos convidados. Bulma sempre convidava os amigos, mas poucos vinham, por estarem treinando ou vivendo aventuras em algum cafundó perdido no mapa. Em compensação, seus pais sempre convidavam todos os empregados e amigos deles, na maioria pessoas que Bulma adoraria ver pelas costas. Como os sócios do pai, uns tipos frios de nariz torcido que a mediam de cima a baixo, julgando-a uma dondoquinha incapaz de herdar a chefia da poderosa empresa. Pior que isso, só as amigas da sua mãe, que falavam o tempo todo nas filhas maravilhosas casadas com homens perfeitos, e indagavam POR QUE Bulma ainda não havia se casado. “O tempo está passando, menina. Você não vai ser bonita a vida toda...”

Numa ocasião memorável, sua mãe convidou de surpresa um ex-colega de Bulma que procurou mostrar como estava bem-sucedido na vida e o erro que a jovem havia cometido por nunca ter aceitado seus convites para sair nos tempos da faculdade. Yamcha literalmente mandara o sujeito para o hospital.

Era sempre o bem-humorado Yamcha que a ajudava a segurar a barra dos preparativos, No aniversário ele sempre a presenteava com um buquê de rosas (SEMPRE rosas) e uma caixa de bombons ou uma bijuteria que não fosse muito cara. Depois, arrumava um jeito de escaparem antes do final da festa e a levava ao cinema ou a algum outro lugar simpático. Embora ele também fizesse a mesma coisa todo ano (exceto as vezes que não estava fora, treinando), Bulma sentia falta do seu bom-humor em situações como aquela. Era a primeira vez em muito tempo que realmente tinha saudades dele, e o motivo só acentuava sua impressão que seus sentimentos pelo ex-ladrão nunca haviam ido muito além da amizade. Isso, claro, não melhorava sua presente disposição.

Depois de horas de tormento, a cientista aproveitara um momento em que fora aparentemente esquecida para fugir, em busca de um pouco de paz. Assim, refugiara-se no terraço mais alto da casa, com uma pilha de revistas, algumas fatias de bolo de chocolate e latinhas de refrigerante. Infelizmente, o sossegou durou apenas umas duas horas.

—Bulminha, querida! Até que enfim achei você! — cantarolou alegremente a senhora Briefs, apesar de ofegante, chegando ao último degrau — Mas por que veio aqui pra cima? Não conseguia te achar em lugar nenhum!

—A intenção era essa — Bulma resmungou, mesmo sabendo que seria inútil. Sua mãe era surda a insinuações, e absolutamente não compreendia a necessidade das pessoas de às vezes ficarem sozinhas. A senhora Briefs abanou a cabeça:

—Não sei de quem você herdou esse seu mau humor, nos dois lados da família somos todos tão bem dispostos — e voltou a sorrir — Acho que você vai adorar estes aqui! Olhe!

E jogou o enésimo catálogo de decoração de festas no colo de Bulma, bem em cima da revista que ela estava lendo.

—De que adianta eu dar a minha opinião? Você sempre acaba mudando de ideia no último minuto e trocando por um que VOCÊ escolheu — a moça replicou, empurrando o catálogo para o lado.

—Francamente, Bulma, se eu não tivesse sofrido as dores do parto, poderia suspeitar que você não é minha filha. Afinal, é o seu aniversário, você tem a obrigação de estar feliz. Está se matando de tanto trabalhar e vai acabar ficando cheia de rugas precoces. Sei que está triste porque Vegeta não agradeceu a roupinha que você fez pra ele depois de todo aquele trabalho...

—NÃO ESTOU TRISTE!

—... mas você sabe como ele é tímido, e sempre tão ocupado. Tenho certeza que ele adorou a roupinha nova, só não sabe como dizer...

—Acho que este vai servir — resignadamente, Bulma apontou sem olhar uma das fotos do catálogo, depois ocorreu-lhe algo — Você subiu todos esses lances de escada só pra me perguntar isso ou queria mais alguma coisa?

—Oh, é mesmo, já ia esquecendo! Ainda não tivemos tempo de mandar os convites e achei que você gostaria de fazer isso sozinha, já que o ano passado ficou tão aborrecidinha por causa daquele seu ex-colega de escola que veio aqui... Um rapaz lindo, quem diria que ele era tão grosseiro...

Bulma levantou-se mais animada. Aleluia! Talvez a festa daquele ano fosse diferente, afinal!

—Ótimo! Desta vez vamos fazer uma coisa mais íntima, só com os meus amigos mesmo. Nada de sócios do papai desaprovando tudo que eu faço, ou da senhora Girioni e da senhora Prune falando como as filhas são perfeitas...

—Ora, Bulma, você não deveria levar tão a sério tudo o que as nossas vizinhas dizem. As coitadinhas só falam isso de inveja porque as filhas delas largaram a faculdade pra cuidar daqueles maridos bobocas, enquanto você tem uma carreira brilhante. E elas conhecem você desde pequena, se não convidá-las vão ficar magoa...

—MAS AFINAL, É O MEU ANIVERSÁRIO OU O SEU?

****

Bulma acabou decidindo convidar os amigos pessoalmente, assim poderia tomar um pouco de ar fresco. Enquanto guiava o aerocarro sobre o mar, aspirou profundamente o ar salgado. A primeira parada seria a casa do Kame. É verdade que o velho e Oolong invariavelmente ficavam bêbados e davam em cima das convidadas, mas, como dissera Kuririn, a gente precisava aceitar os amigos como eram, se não quisesse se transformar num ermitão. Além disso, sabia que poderia contar com os três, se o resto não aparecesse – o que era mais que provável.

Aspirou a brisa do mar que empurrava seu cabelo solto, saboreando a sensação de liberdade.

—Ahhh... precisava realmente sair um pouco!

Encontrou Kameroshi na frente da casa, esticado numa cadeira de praia com uma revista (pornô, é claro) cobrindo o rosto. O velho deu um pulo com o barulho do motor quando o carro se aproximou da ilha, mas quando viu quem era se alegrou:

—Bulma! Hello! Isso é que é uma coincidência. Eu estava justamente sonhando com você...

—Posso imaginar — Bulma desceu do carro com uma careta e transformou-o de volta numa cápsula —Kuririn e Oolong estão aí?

—Foram fazer compras. Precisa falar com eles?

—Nada de urgente, mas... — naquele momento Bulma sentiu falta de alguma coisa e olhou em torno — Onde está a tartaruga?

—Foi viajar e só volta daqui a um ano. É o primeiro dia de paz que eu tenho em quase dez anos — ele se recostou na cadeira com um suspiro satisfeito.

Bulma deu um largo sorriso amarelo. Bem que havia achado a ilha muito quieta.

—Bom, então não vou interromper o seu sossego. Volto mais tarde, quando estiver todo mundo aqui — e foi se afastando, mas o velho se levantou rápido e cortou a frente dela:

—Não estava me referindo a você, Bulma. Você e seus peit... digo, você e sua beleza são sempre bem-vindos aqui — conduziu-a até a cadeira de praia —Fique aqui pra esperar os rapazes, já devem estar quase chegando. Vou lhe trazer um suco — e saiu antes que a moça pudesse recusar.

Desde que Bulma conhecera Kameroshi era a primeira vez que se encontrava completamente sozinha com ele. O mestre de lutas era um velho amigo seu e (no fundo) uma boa pessoa, mas também era um tarado incorrigível. O que ele faria sem Goku, Lunch, Kuririn ou mesmo a tartaruga por perto para controlar seus instintos?

Talvez fosse melhor fugir antes que ele voltasse... mas o velho já estava de volta, com um copo de suco e uma lata de cerveja numa bandejinha.

—Tome, é um suco muito gostoso! — ele enfatizou ao servi-la. Aproveitou, claro, para dar uma secada no decote dela:

—Belo vestido — sorriu apreciativamente — Nunca vi você com ele antes.

—E nunca mais vai ver! — a cientista apanhou rápido o suco e deu um empurrãozinho no velho. Diabo! Com tanta coisa pra vestir, tinha que botar justo aquele maldito vestido cereja! Logo que chegasse em casa, ia doá-lo para o baú de caridade!

—Desculpe não convidá-la para entrar, mas a casa está um pouco bagunçada, e eu não esperava visitas — ele disse, buscando outra cadeira e sentando-se na frente dela — Sabe como é a casa de um solteiro... Kuririn e eu fazemos o possível, mas não somos como Lunch. Ela era uma excelente dona de casa quando não espirrava.

—Que bobagem — Bulma parou com o copo de suco a meio caminho da boca — Já visitei vocês várias vezes depois que Lunch foi embora e a sua casa sempre esteve impecável.

—Gentileza sua.O problema é que faz muita falta uma presença feminina aqui. Especialmente depois que Kuririn terminou com a Marron, aquela garota maravilhosa... muito parecida com você, aliás — ele deu um suspiro saudoso.

Bulma não gostou da comparação, especialmente porque a inteligência de Marron deixava muito a desejar.

—E acho que você deve levar uma vida muito solitária naquela casa imensa, cheia de empregados... Não vai tomar o seu suco?

O citado suco tremia ligeiramente, esquecido na mão da mulher.

—Não sou solitária. Tenho a companhia dos meus pais, e meus amigos estão sempre me visitando _ela respondeu asperamente, colocando o copo intocado sobre a mesa.

Ele sorriu e arrastou sua cadeira mais para perto:

—Ora, morar com os pais não é a mesma coisa que ter sua própria família. Uma mulher não está completa sem um homem pra passar a vida ao seu lado, uma companhia carinhosa...

Bulma se levantou e avançou na direção do velho, tão rápido que ele recuou, virando a cadeira e derrubando o resto da cerveja em sua camisa:

—SERÁ POSSÍVEL? ATÉ O SENHOR VEM ME FALAR NISSO?! SERÁ QUE NINGUÉM TEM NADA PRA FAZER ALÉM DE DAR PALPITE NA MINHA VIDA?

Surpreso com o ataque, Mutenroshi conseguiu apenas se encolher embaixo da cadeira virada, sem entender o motivo daquela reação tão violenta. Quando teve coragem de espiar por baixo de seu “casco” improvisado, Bulma já estava atirando a cápsula do aerocarro na areia. Ela nem o olhou:

—Lembrei que tenho um compromisso. Até mais tade! — jogou-se dentro do veículo e disparou mar afora. Quase esbarrou com o aerocarro do velho, que vinha trazendo Kuririn e Oolong.

—O que Bulma estava fazendo aqui? — quis saber o monge, assim que desembarcaram.

—Não sei — resmungou Kame de mau humor, sacudindo areia da roupa —Ela queria falar com vocês, mas depois mudou de ideia...

—Que malcriada! — indignou-se Oolong — Podia pelo menos ter dado um olá pra gente.

—O que o SENHOR fez pra ela fugir desse jeito? — inquiriu Kuririn em tom acusador.

—Nada. Não fiz nada! — rosnou o velho, furioso.

Que droga. Aquela parecia a oportunidade perfeita para testar um filtro de luxúria que roubara há alguns anos da irmã, a bruxa Uranai. Sempre sonhara em usá-lo com Lunch, Bulma ou Marron... mas nunca conseguia porque nas ocasiões em que uma das mulheres estava por perto invariavelmente havia outras pessoas também. E agora, quando finalmente seus sonhos eróticos estavam prestes a se realizar, aquela garota maluca tinha um dos seus ataques de raiva, assim do nada, e o deixava na mesma com o precioso filtro desperdiçado. E mesmo se ela tivesse tomado o suco, Kuririn e Oolong teriam chegado logo em seguida e estragado tudo. Um dia de muita sorte... acabara se tornando de muito azar.

O porquinho viu o copo de suco que Bulma havia deixado, esquecido, sobre a mesinha junto às cadeiras.

—O que é isso? — cheirou — Hum, suco de laranja...

—NÃO BEBA ISSO!!!! — Kameroshi deu um pulo e agitou freneticamente os braços - um pouco tarde demais.


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