Eu acordo subitamente com o barulho da campainha e em questão de segundos estou descendo as escadas cambaleando, quase caindo, se alguém estivesse me observando nesse momento riria de mim. Ao abrir a porta encontro um risonho e feliz Austin.

K: O que você está fazendo aqui? Ainda mais essa hora? – Digo olhando para meu pulso, sem relógio –

A: Bom dia pra você também Káh. Parece que está de bom humor hoje. – Ele disse gargalhando enquanto eu o fuzilava –

A: Vamos dar uma volta. E para sua informação já são nove e meia.

K: Você sabe se eu quero ir contigo?

A: Não, mas de qualquer jeito você vai.

K: Aonde nós vamos?

A: Não sei, só quero dar uma volta.

Abri a porta deixando-o entrar e subi para tomar uma ducha rápida. Em quinze minutos eu estava pronta, e ao descer as escadas Austin estava engolindo um bolinho assistindo desenho.

K: Ei, esse era o último bolinho!

A: Eu estou te fazendo um favor, não quero te deixar gorda.

Comecei a bater nele com uma almofada enquanto ele ainda tentava terminar o bolinho. Nós dois ríamos.

A: Para com isso!

K: A culpa não é minha se você é um idiota. Vamos logo antes que eu desista.

Saímos de casa e fomos em direção a seu carro. Ele não me disse onde estávamos indo, mas parece que aquela história de não saber aonde a gente ia era só uma desculpa. Pude ter certeza que ele já havia planejado o passeio há tempos.

K: Legal, um parque de diversões. – Disse ele parou o carro no estacionamento –

A: Vamos, quero ir na montanha russa.

K: Mas depois a gente vai na roda gigante.

A: Ok baixinha. – Ele disse passando o braço pelos meus ombros -.

A montanha russa não era tão grande o que me deixou na verdade entediada. Isso porque eu gosto de ficar sentada parada enquanto a roda gigante gira. Mas é claro que o bobão do Austin gritou que nem uma menina o que pelo menos me rendeu algumas gargalhadas.

K: Eu quero um algodão doce.

Ele me olhou com cara de “sua gorda!” o que fez ambos de nós rirmos, mas no final das contas ele acabou me comprando um algodão doce azul. Subimos na roda gigante e depois de um bom tempo enquanto as pessoas subiam ela começou a girar. Deu uma volta e parou quando nossa cabine estava no alto. O dia estava lindo mas ainda se fazia um frio congelante, eu estava surpresa pelo fato de não estar nevando. Lá de cima não se escutava quase nada dos sons altos produzidos pelos brinquedos, das vozes das pessoas... Até que a minha tranquilidade cessou quando o assunto passou a ser John.

A: Eu fiquei sabendo do seu beijinho com o Johnny viu? Quando que eu disse que você podia sair por ai beijando outros meninos, baixinha?

Normalmente eu riria dessa piada, mas não com esse assunto. Eu abri a boca, mas nenhum som saiu da minha garganta seca, fechei-a rapidamente e olhei para baixo.

A: Olha, me desculpa por ter chegado nesse assunto, mas eu só quero te ajudar. – Ele disse colocando os dedos no meu queixo me fazendo olhar para ele, assim como John havia feito algum tempo atrás -.

Essa memória fez algumas lágrimas brotarem em meus olhos, e sem conseguir levantar minha mão para secá-las, deixei com que elas escorressem livremente.

A: Por que você fugiu daquele jeito?

Eu estava evitando essa pergunta de mim mesma, por que sabia que qualquer que fosse a resposta ela iria me machucar e poderia machucar os outros.

K: E... e... Eu sinceramente não sei Austin. Eu não sei o que aconteceu. Primeiro ele me disse que me amava e depois ele me beijou. Eu simplesmente não consegui digerir aquilo tudo, e você mais do que ninguém sabe como eu me sinto em relação a... Relacionamentos.

A resposta havia sido vaga, e não explicava muita coisa. Na verdade não explicava nada. Mas isso foi o que eu consegui responder.

A: Eu sei. – Ele disse me abraçando – Mas só acho que você conhece o John o suficiente para poder quem sabe, confiar nele. Eu acho que esse seu medo, está realmente escondendo o que você sente. Você é uma menina forte. O que eu estou tentando dizer é que você deveria tentar arriscar, deveria seguir seu coração.

Ele continuou a falar, mas depois dessa frase eu realmente havia parado de escutar, não sei se ele havia percebido, mas acho que não. Olhei fixamente para o céu, enquanto a roda começava a descer. Os únicos pensamentos em minha mente eram sobre meu pai, sobre os momentos que passamos juntos. Principalmente sobre o dia em que a foto foi tirada. A foto que tem uma frase que sempre me intrigou, a frase na qual eu nunca soube o significado ao certo, a frase que sempre  –mesmo que um pouco –  me assombrara.

A decepção era guardada dentro de mim, pois aquela frase parecia ser um ensinamento que me pai deixara para mim, e eu simplesmente não consegui aprender. Eu sempre achei que ele estivera desapontado comigo esse tempo todo. Mas toda essa insegurança em um segundo sumiu. E foi ai que eu realmente eu entendi a frase.

A única coisa que fiz foi colocar a mão na boca e sussurrar “Oh, John”.

A: O que?

K: Eu preciso encontrar o John. AGORA!

E então a roda parou e o homem abriu a porta da cabine, eu praticamente me joguei para fora e saí correndo. Só me lembrei que estava de carona quando eu cheguei no estacionamento e não consegui abrir a porta do carro. Austin veio andando n aminha direção tranquilamente, como se nada tivesse acontecido.

K: Vamos Austin! Você é sempre tão lerdo?

A: E você sempre tão chata?

Eu consegui soltar um som abafado, que era para ser uma risada. Mas eu não podia negar, estava mesmo muito animada.

A: Onde você quer que eu te deixe?

K: Eu não sei, onde você acha que ele está?

A: Não faço ideia. Vou tentar ligar para ele.

Depois de mais uns dois minutos de angústia, e cinco tentativas John finalmente atendeu.

A: Ok, ele está na praça do Big Ben.

K: O que você está esperando? Vamos!

A: Eu estou esperando o sinal abrir. Paciência mulher!

 Eu consegui soltar uma risada em meio a todo o meu ânimo. Mas ao mesmo tempo eu pensava em como John havia se sentido depois que eu havia saído correndo. Será que ele estava bravo comigo? Por que ele poderia estar, e eu não teria nenhuma desculpa ou nenhum motivo para fazê-lo pensar ao contrário. Bloqueei esse pensamento e tentei me focar em outra coisa, o que funcionou e chegamos na praça rápido. Novamente me joguei para fora do carro e saí correndo.

K: Obrigada Au! – Gritei já pisando na grama, acho que ele nem escutou, mas quando me virei para olhar seu carro já não estava mais lá -.

Eu acho que deveria ter parado para olhar em volta, mas continuei correndo e nenhum sinal dele. Depois de vinte minutos percorrendo a praça concluí que ele deveria ter saído. Pensei nos possíveis locais de encontrá-lo e rapidamente estava na London Eye. Nada. Fui no restaurante que tínhamos ido ontem. Nada. Até que enquanto percorria a calçada em busca dele encontrei a cabine de telefone. Um calafrio percorreu minha espinha, mas decidi adentrá-la. As pequenas janelinhas ainda estavam cobertas de neve, impossibilitando-me de enxergar dentro dela. Abri a porta, só que dessa vez com um pouco mais de cuidado, deixando somente alguns pequenos flocos caírem, mas... Ele também não estava lá dentro.

Minha esperança finalmente havia acabado. Eu sei que poderia encontra-lo na escola amanhã, mas eu realmente precisava falar com ele hoje. Me desculpar, explicar as coisas, eu não sei mas eu realmente precisava. Agachei-me encostada no canto, e uma lágrima gelada correu por minha face. – Káh? – Ótimo, agora eu estava escutando coisas. – Káh! – Senti algo me tocar, algo não, um dedo. Abri meus olhos e fiz um pouco de esforço para reconhecer a figura, meus olhos ainda estavam meio embaçados.

K: Johnny?

 Falei baixo quase num sussurro. Pisquei mais umas vezes, e antes de mais nada me joguei em cima dele, que retribuiu o abraço rapidamente.

J: O que você está fazendo aqui?

K: Eu estava te procurando. Olha me desculpa por ontem e... – Ele não me deixou terminar –

J: Ei, não tem problema. Fique calma. Por que está chorando?

K: Eu... Eu não sei direito.

Ele deu um sorriso fraco e com as costas da mão, limpou a única lágrima. Correspondi o sorriso e coloquei minha mão em cima da sua, que ainda estava em meu rosto. Olhei para cima e pude notar que seus olhos estavam num azul piscina incrível. Nesse momento eu não sentia medo, dor, angústia. Eu não sentia nada, nada que me impedisse. De alguma forma eu sabia que estava pronta.

Ele selou nossos lábios com um beijo calmo. Apaixonante. Sua língua pediu passagem e eu cedi sem me preocupar. Mas dessa vez eu o beijei com vontade, o beijei como se quisesse que ele fosse somente meu. Eu acho que ele havia percebido e sorriu, quebrando o beijo. Eu acho que eu não podia estar mais feliz.

J: Você não vai fugir de novo, não é?

Balancei a cabeça negativamente, eu deveria estar sorrindo de orelha a orelha. Daria de tudo para ver minha cara nesse momento.

J: Me promete uma coisa?

Olhei para ele curiosa, olhei bem dentro de seus olhos azuis, como se quisesse decifrá-los. Ainda não conseguia parar de sorrir.

K: O que?

J: Me promete que será somente minha?

Nunca tive tanta certeza de uma resposta antes.

K: Prometo.