Uma Canção de Amor escrita por Kamiragem


Capítulo 2
O Susto.


Notas iniciais do capítulo

Bem, estou atualizando antes do pretendido, espero que gostem!



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Capítulo 2. Susto

Em pouco tempo Tamaki e Haruhi encontraram uma sala de estudos quase vazia e silenciosa. Com o passar da tarde, os alunos mais barulhentos seguiam para seus clubes ou suas casas, liberando as salas.

Escolheram uma mesa ampla, próxima a janela que tinha uma bela vista para o poente. A garota pegou caderno e lápis. O rapaz sentou ao lado dela, ainda inibido.

- Então, como começo? – Haruhi perguntou.

- Vejamos, primeiro imagine uma pessoa para quem queira se declarar. Depois, se declare...

Haruhi lançou um olhar descrente.

- Disso eu sei, sempai... ¬¬

- Ok, ok. Que tal isso, fale das qualidades dessa pessoa. Compare-a com coisas maravilhosas, sempre exaltando a superioridade do ser amado. Use temas sublimes, como flores, estrelas, a lua, o céu, os anjos... Isso vai fazer a pessoa se sentir valorizada.

Outro olhar desconfiado foi lançado.

- Sempai, então você tem uma técnica friamente planejada? – Ela se referia aos elogios que o rapaz distribuía indiscriminadamente.

- Não, doce filhinha, o que eu tenho é um dom! – ele parecia realmente acreditar nisso.

- Aff...

Haruhi tentou então escrever algo, as linhas saíram com dificuldade, mas aos poucos um pequeno texto apareceu.

- Deixe me ver...

“O seu olhar brilha como o sol. Com você por perto não consigo ver outras estrelas. Estou cego por sua beleza, e me enlouquece a tristeza quando vc se vai...”

Tamaki a olhou sério. Ela interrogou motivada pelo olhar.

- Algo errado?

- Não. Mas soa tão frio. Você elogia sem sentimento nenhum...

“É o que você faz todo o tempo.” Pensou Haruhi, mas decidiu guardar para si, não queria perder tempo discutindo.

- Por que não relata seu sofrimento por um amor não correspondido? Amores platônicos sempre dão boas canções. – Tamaki sugeriu. – Ouça isso: ‘E mesmo que você me humilhe, e pise no meu coração. Ainda assim eu não me importo, eu não suporto é viver sem o seu amor...’

- Isso é muito degradante... – A garota discordou. – Além disso, como posso tirar sentimentos por uma coisa que nunca me aconteceu?

Tamaki sabia pouca coisa sobre a vida amorosa da menina. Sabia sobretudo que ela estava focada demais em seus objetivos acadêmicos para sequer dar uma chance ao coração de se apaixonar. Mesmo assim ele insistiu.

- Sim, mas é esse o sentido, também pode exaltar o poder que o ser amado tem sobre você: ‘Pelas ruas onde anda, onde manda em todos nós, somos sempre mensageiros esperando a tua voz. Teus desejos - uma ordem - nada é nunca e nunca é não. Porque tens essa certeza dentro do seu coração.’

A jovem se admirou com os versos.

- De onde é isso sempai?

- Ano passado tivemos que coletar músicas que parecessem canções do trovadorismo. As minhas deveriam parecer com canções de amor.

- Muito mais fácil que redigir uma. – Ela lamentou.

- Mas bem que eu gostaria de te-lo feito. – Haruhi deu um meio sorriso e replicou.

- Eu adoraria se você pudesse fazer.

Os dois ficaram em silêncio, ambos imaginando como seria mais fácil.

- Eu até poderia tentar... – Ele falou, tímido.

- Nada disso, esse é o MEU trabalho, eu mesma devo fazer. O sempai já me ajudou muito. – O sol se punha no horizonte quando ela virou-se pra ele, sem perceber que estavam próximos. Ele estava achando graça da seriedade dela.

- Posso te dar mais um exemplo, se quiser. – O rapaz disse, quase sussurrando. Ela assentiu. – ‘Amor da minha vida, daqui até a eternidade, nossos destinos foram traçados na maternidade... paixão cruel desenfreada, te trago mil rosas roubadas. Pra desculpar minhas mentiras, minhas mancadas. Exagerado, jogado aos seus pés eu sou mesmo exagerado, adoro um amor inventado.’

Conforme ele ía falando, Tamaki se aproximava de Haruhi, até que, ao fim de suas palavras, ele encostou de leve seus lábios nos dela. Antes que qualquer outra coisa pudesse acontecer, ela se afastou, o olhar surpreso.

- Se-sempai...? – Ela se virou para a mesa, ainda constrangida.

- Haruhi... gomen ne. Eu não quis... – Tamaki começou a se desculpar enquanto a menina guardava os pertences.

- Está tudo bem... – Ela disse sem encará-lo. – Está tarde, é melhor eu ir andando. – Virou então de costas e saiu da sala, deixando o rapaz falando sozinho.

***

“Por que ele fez aquilo?” Haruhi seguia encucada pelo caminho que diariamente pegava para ir para casa. O senso de sentimentos que a garota tinha era um tanto limitado. Durante todo o tempo que ela passara no ginásio, e agora no colegial, ela via as pessoas apaixonando-se e ficando desconcentrada da escola. Ela mesma não se permitia pensar em nada mais que seus estudos, ignorando certos sentimentos externos voltados para si.

Mas agora tinha sido diferente. Tamaki tinha tentado beijá-la. Isso era concreto demais para ignorar. Duas coisas distintas passaram pela sua cabeça: ele poderia ter dado uma de anfitrião para cima dela (ou, como diriam os gêmeos, pervertido), ou ele poderia estar mesmo apaixonado. De qualquer forma, ela tinha um problema.

Ainda era cedo da noite, mesmo assim as ruas já estavam escuras e pouco movimentadas. O ar fresco serviu para distrair um pouco a mente. Em pensar que chegaria em casa a ainda teria que fazer a tal canção. Mas isso preocupava tanto quanto o dia seguinte, como será que o rapaz a trataria depois daquilo. Ela não podia imaginar a sua própria reação. A distração da mente a impediu de perceber o vulto que a seguia.

***

Tamaki permaneceu sentado olhando o pôr do sol. A cabeça dele só guardava o pensamento e s sensação dos breves e macios lábios de Haruhi. Era errado... ela era sua filha! Aos poucos o sentimento foi ficando claro em sua mente. Ele a amava, como uma namorada, não como uma irmã ou uma filha. Ele queria beijá-la, dessa vez de verdade.

Outras coisas lhe vinha a mente, ela saíra sem olhar nos olhos dele. Estaria com raiva? Chateada? Estaria se sentindo enganada? Mas sendo a Haruhi, podia nem mesmo estar dando importância ao fato.

Olhou a paisagem pela janela, as primeiras estrelas apareciam. Seria uma linda noite.

Noite. Estava mesmo tarde. Era perigoso, mesmo para uma garota vestida de rapaz, andar pelas ruas sozinha. Ele levantou e pegou o telefone. Chamou o motorista e resolveu ir atrás da garota, mesmo que fosse apenas para dar-lhe uma carona pra casa.

***

O homem mal vestido estava a uma esquina de distância de Haruhi. Sua intenção, ainda incerta, variava entre um assalto e um seqüestro. Ele não planejara um só passo do que iria fazer, seguiria o calor do momento, como das outras vezes, sentia prazer em apavorar as pessoas. E aquele garoto vestindo um uniforme da famosa instituição aparecera num momento oportuno. Ele tinha que aproveitar.

Desacompanhado, andando à pé, pequeno, aparentemente indefeso. A faca que levava em seu casado era mais que suficiente para rendê-lo. Os pais, provavelmente muito ricos, dariam qualquer coisa para tê-lo de volta.

Chegou mais perto. Haruhi andava distraída, a casa não estava longe. Apesar disso, estava escuro e o pai recomendara muitas vezes para não andar sozinha.

O homem apressou o passo, a garota percebeu e atravessou a rua. Não havia ninguém por perto. Foi quando o homem correu, a jovem olhou para trás mas já era tarde. O estranho puxou o braço dela, imobilizando-a, ao mesmo tempo a fez sentir o objeto afiado nas costelas.

Rapidamente entraram num beco. Ele começou a sussurrar as instruções no ouvido. O hálito era repugnante, assim como o cheiro do homem em si.

- Boa noite moleque, o que faz sozinho na rua a essa hora? Se perdeu?

Haruhi estava assustada, mas não queria que o homem percebesse que era uma garota, podia ser bem pior.

- Responda! – Ele falou mais alto. A ponta afiada da faca já tinha ultrapassado as camadas de tecido do uniforme e agora feria a pele.

- Estou indo para casa... – Ela falou, a voz ríspida de tensão.

- Casa? Por aqui? Esse uniforme não me engana... Pode tentar mentir para mim filho, mas eu não recomendo. – Ele puxou a carteira de Haruhi de dentro da bolsa escolar que usava.

O pouco de dinheiro que ela levava o deixou decepcionado, enfurecido, na verdade. Revistou o restante da valise, derrubando livros e cadernos no chão sujo. Pela primeira vez na noite ela teve vontade de chorar, mas se conteve.

- Onde está o resto? – Ele estava quase gritando. – Onde estão os cartões, computador, telefone?

- Eu não tenho nada disso. – O nervosismo tomou conta da voz dela. – Sou bolsista nessa escola!

O assaltante olhou-a em fúria, puxando a carteira para ver a identidade. Mas não foi na palavra bolsista que ele se concentrou, mas na indicação do sexo da garota.

- Quer dizer que o rapaz é na verdade uma garotinha? Uma colegial? Hoje a noite pelo menos poderei me divertir... – dito isso ele se aproximou, prendendo-a contra a parede. A faca entrando quase sem atrito na pele, manchando o uniforme azul de vermelho.

Haruhi apertou os olhos. “Okasan”, ela pensou sem saber como se livrar daquela situação. O homem se mexeu bruscamente e caiu no chão. Quando Haruhi olhou ao redor, viu Tamaki com um rosto ilegível. Os guarda-costas renderam o assaltante e o anfitrião finalmente olhou nos olhos apreensivos da garota em choque.

- Você está bem? Ele te machucou? – Ele segurou-a pelos ombros. – Haruhi?

- Bem... – Ela respondeu, mas uma fina lágrima desceu pela face. Ele a abraçou e ela correspondeu, tremendo.

O motorista recolhia as coisas da garota. O choro foi se acalmando e ela soltou-se lentamente dos braços do amigo. Ele tirou os cabelos da frente dos olhos dela.

- É melhor te levar para casa... – Tamaki tentou apoiá-la abraçando-a pela cintura. Ela gemeu e el sentiu a umidade morna na roupa dela. – Está machucada?

Mas a garota não chegou a ouvir, desmaiando nos braços dele.

Fim do capítulo 2.


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Notas finais do capítulo

Agradeço a Winry Haruno pelo review! Beijos!