Londres, 14 de Julho de 1897

A chuva fina caia sob Annabeth. Seu cabelo louro cacheado estava ficando encharcado. Ela segurava com força a barra do vestido, contendo o choro.

Seu pai deu um tapinha em seu ombro, indicando que era a sua vez de jogar a rosa branca em cima do caixão. A garotinha de 5 anos segurou um soluço. Sua mãe não iria gostar de vê-la chorando. O caixão foi adentrando o subsolo, descendo devagar na escuridão.

Quando ela e seu pai estavam saindo, um homem de terno preto junto de um garotinho chamou a sua atenção. Annabeth puxou a manga do pai e indicou os dois, parados sob um carvalho.

Ela já os tinha visto diversas vezes. Eram do Le Cirque dês Nuit, o circo rival do seu. O que eles querem em um momento como aquele?

“Sinto muito pela sua esposa, Frederick. Ela era uma mulher adorável. “ Poseidon disse assim que eles chegaram mais perto. Annabeth duvidava que aquele fosse mesmo o nome do homem de terno preto.

“Certamente. Obrigado pelos seus pêsames.”

Perseu, o garotinho, remexeu as mãos, revelando uma tulipa azul, a flor preferida de Annabeth. Ela arregalou os olhos quando ele a entregou.

“Os truques do seu filho são interessantes. Ele já tem aulas?” Perguntou seu pai.

“Nenhuma vez. Digamos apenas que ele tem um dom. E a sua menina?”

“Annabeth realiza façanhas impressionantes para uma criança de cinco anos. Pretendo começar suas aulas em breve.”

Annabeth se mexeu, desconfortável naquele lugar. Ela queria voltar para casa, ir para debaixo das cobertas e chorar pela morte da mãe, como qualquer outra criança faria.

Frederick pegou sua mãe e apertou levemente. Ele conhecia bem sua filha para adivinhar que ela queria ir embora.

“Nos vemos por aí, Poseidon.” Ele disse se despedindo. Os homens apertaram as mãos.

Era estranha a relação de seu pai com o homem de terno cinza. Os dois viviam competindo e apostando, mas ela sabia que eles eram melhores amigos. De um jeito estranha, é claro.

[...]

Londres, 5 de Setembro de 1900

A garotinha loura prendia a respiração enquanto seu pai fazia um corte em cada um dos seus dedinhos de criança.

“Agora os cure.” Mandou ele, assim que terminou.

Annabeth fechou os olhos e se concentrou. A dor começou a passar. Os cortes cicatrizavam rapidamente e o sangue desaparecia. Quando ela abriu seus olhos novamente, não havia nenhuma cicatriz em seus dedos.

Ela certamente fazia maravilhas em sua idade. Sua mágica estava cada vez melhor.

“Papai, por que eu não posso fazer isso na frente das outras pessoas?”

Ele não respondeu de imediato.

“Porque, querida, nós fazemos mágica de verdade. Não aquela mágica falsa e ilusionista que há em outros lugares.”

Annabeth refletiu sobre aquilo.

“Agora vá dormir. Amanhã temos que sair cedo.”

“Para onde vamos?”

“Dublin”

Ela ficou um pouco triste. Não que Annabeth não gostasse de viajar para todos os lugares com o circo. Apenas que ela gostava especialmente de Londres.

“Boa noite papai.”

“Boa noite, querida.”

Quando Annabeth se aconchegou debaixo das cobertas não deixou de pensar em sua mãe. Ela lembrou de quando sua mãe a colocava para dormir.

“Faça um desejo querida.” Ela dizia sempre depois de beijar sua testa. “Algum dia ele vai se realizar”

Naquele momento, tudo o que ela queria, não iria volta mais.