Até Amanhã. escrita por sofia


Capítulo 2
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Ooi turminhaa c:
Eu queria agradecer ao único review da minha mafagafinha ♥3
Aqui o capítulo 1 c:
Mais reviews? *le felicidade*



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Abri os olhos como se tivesse acabado de vivê-lo. Mas era quase tão terrível quanto.

Era sempre a mesma coisa, desde o mês passado. O garotinho. Morto, afogado no próprio sangue. Eu, acordando, berrando, em pânico, suando frio. Era repetitivo. Olhei de relance para o meu relógio. 6:30 da manhã. É, provavelmente eu tinha acordado meu pai com os berros.

Desci até a sala. Minha irmã estava lá, deitada, com a TV no volume mínimo. Eu sabia que ela não estava dormindo.

Sentei lentamente e comecei a fazer carinho em seu cabelo, e ela me olhou, com o canto do olho, e sorriu. Sorri de volta para ela.

-Pesadelos de novo? – perguntou. Ela me entendia.

Assenti lentamente.

-Lucke também tem tido pesadelos ultimamente. Estranho não?

Acenei para Lucke, que devia estar em algum lugar por aí. Meu pai e eu aprendemos a conviver com Lucke, por mais que ele só fosse visível para minha irmã.

Fitei-a. Será que ela estava querendo dizer que nós tínhamos alguma ligação?

Meu pai chega na sala e eu desligo a TV, rapidamente.

-Lola, porque você está acordada? E ainda vendo televisão?

Encarei-o. Não era óbvio? Talvez só para a minha irmã.

-Insônia - menti. Ele sempre caia nessa.

Ele veio de fininho até o sofá e me abraçou por trás.

-É só me chamar, está bem? Não precisa ficar berrando para me acordar.

Eu ri.

-Vai voltar a dormir? – ele franziu o cenho.

Mais pesadelos. Não, obrigado.

-Ér, acho que vou dormir aqui no sofá mesmo. Obrigado. – sorri levemente.

Ele sorriu, assentiu e voltou para o seu quarto, e eu voltei a falar com a minha irmã.

-Porque você se escondeu do papai? – disse, rindo.

-É divertido! O Lucke adora fazer isso, e eu não posso deixar ele sozinho, não é?

Eu ri.

-Claro que não.

Ela riu, e deitou a cabeça no meu colo.

-Lucke é muito ciumento. – disse ela – isso ás vezes me irrita. Espere um pouco! – rugiu ela com Lucke. E voltou sua atenção para mim.

- Vamos tomar café. – convidei-a. – Daqui a pouco papai acorda. Você vai se esconder dele de novo?

Ela deu uma risada sapeca, e fomos até a cozinha. Botei dois pães no forno:

-Acabou? Tudo bem, eu como outra coisa – disse ela, dando de ombros.

Comecei a preparar a mesa, e no segundo seguinte, meu pai estava lá.

-Bom dia. – disse ele – pelo menos já são 8:30, agora dá pra acordar né. – eu ri – conseguiu dormir de novo?

-Uhum – menti.

Papai se sentou a mesa e pegou seu jornal, enquanto comia sua torrada. Olhei para a cadeira vazia ao meu lado. Franzi o cenho. Onde aquela menina estava? Olhei de baixo da mesa. Havia alguns farelos de biscoito no chão, e perto dos farelos...

-Cassy! – exclamei, rindo. Talvez um pouco alto de mais, pois papai me olhou de relance, talvez fingindo que não tivesse ouvido.

Ignorei isso e continuei a tomar meu café, tranquilamente. É a única coisa que tem acontecido ultimamente. A ignorância. Ignorar realmente é o melhor jeito de se lhe dar com os fatos?

Terminei meu café, e antes de qualquer coisa, meu pai me chamou para conversar com ele em seu quarto. Eu já sabia sobre o que ele queria falar comigo. Droga.

Subimos as escadas lentamente, em silêncio, tentando adiar aquele momento cada vez mais. Qual o meu problema em ficar de boca calada?

Sentei na sua cama, que rangeu um pouco. Mas era tão bom sentar ali...

-Lola... – começou ele.

Bufei.

Ele me encarou.

-Você quer alguma ajuda? Porque eu ouvi você, e eu sei como as coisas andam e....

-Eu não preciso de nada disso, pai. Eu estou completamente bem.

Ele franziu o cenho.

-Lola...

-EU NÃO QUERO! – berrei, me descontrolei, e bati a porta do quarto com a maior força que consegui fazer.

Desci correndo as escadas e tranquei a porta do meu quarto. Minha irmã e Nutella estavam lá.

Nutella é a nossa cadela, uma Fox terrier que a gente havia achado solta por aí, na rua. Cassy é fascinada por Nutella.

Enfiei a cara entre as mãos e comecei a soluçar. Cassy se sentou ao meu lado e fez carinho no meu cabelo. Aquilo pelo menos me reconfortava um pouco. Nutella começou a ganir bem baixo, e eu levantei a cabeça, lentamente.

-Vai ficar tudo bem. Papai não te entende, mas eu entendo, não é? Vai dar tudo certo. – disse Cassy, com firmeza na voz. Isso me acalmou. Respirei fundo e fui à cozinha pegar um copo d’água. E Nutella começou a latir loucamente.

-SH. Cala a boca, Nutella. – rugi. Alto o suficiente para o papai descer e ver o que estava acontecendo. Eu e minha boca.

-Era só a Nutella – falei, e subi as escadas o mais rápido que consegui, para fugir de outra ‘conversa’ animadora. Ótimo.

A porta bateu com mais força do que eu pensava, e Cassy me olhou, franzindo o cenho. Me segurei para não berrar com ela.

Me joguei na cama voltei para a mesma cena, com as mãos na cara. Só que dessa vez eu seria forte o suficiente para não chorar. Cassy sentou ao meu lado. Algum dia isso teria que acabar. Mas nada mudou. Nós continuamos ali, nas mesmas posições, sem mexer nada. E assim se passaram 10, 20, 30 minutos, até que meu pai decide bater na porta.

Ele olha com o canto do olho para mim. Minha irmã estava escondida debaixo da cama. ARGH. Por que ela gostava tanto de se esconder?

-Lola... Você está melhor?

Assenti, lentamente.

Ele sentou ao meu lado.

-Quer conversar? – ele já sabia da resposta.

Enfiei a cara no travesseiro. Ele acariciou meu cabelo. Que nem Cassy havia feito minutos atrás. É, talvez papai me entendesse um pouco também.

Mas as mãos de Cassy eram macias, como um anjo. Um anjo.

Algumas pequenas lágrimas caíram de meu rosto. Lembranças. Não, aquilo não eram lembranças, eram só ilusões. Abracei meu pai. Ele sorriu.

-Quer só esquecer isso? – assenti, limpando as lágrimas lentamente. – vamos comer chocolate? – eu ri. Meu pai sempre tinha as ideias mais absurdas nessas horas. Ouvi Cassy soltar um gemido. Ela também queria.

-Vai descendo, eu já vou – sorri.

Meu pai desceu e eu puxei Cassy de debaixo da minha cama. Ela deu uma risada sapeca.

-Se você quiser chocolate, vai ter que descer.

Ela abaixou a cabeça. Ela segurou a minha mão e descemos as escadas lentamente. Ela rapidamente correu para o sofá. Sentei do lado dela e meu pai trouxe os chocolates, e foi ficar com a gente. Minha irmã deu um leve sorriso a meu pai, que pareceu retribuir. Tomei meu chocolate quente calmamente. Não, não é que meu pai não gostasse de Cassy, nem nada parecido, é só que desde que minha mãe nos deixou, Cassy meio que criou uma bolha entre ela e o mundo. Mas era diferente comigo, como ela era para mim. Uma coisa forte nos prendia.

Por um segundo, tudo melhorou, todos os meus problemas, tudo acabou. Levei meu chocolate até a cozinha, terminando de bebê-lo. Sorri para meu pai e subi para o meu quarto de mão dadas com Cassy.

O Sol estava se pondo, e Cassy estava apontando freneticamente para o canto do quarto, rindo e pulando. EM situações normais, eu entraria em pânico, mas eu constatei que deveria ser apenas Lucke.

E talvez seus pesadelos.

Pesadelos.

Ignorei esses pensamentos.

Ignorei Cassy, e peguei o antigo violão da mamãe, olhando o sol se por pela janela do meu quarto, as nuvens sumindo, lentamente. Mamãe dizia que aquele violão era cheio de histórias, assim como o colar que meu pai guardava na terceira gaveta da mesa de cabeceira, escondido por uma caixa de lenço de papel. O colar tem um pingente de uma pequena garota, sentada em um balanço. Mamãe contava para nós que aquela era ela quando pequena. Desde então, Cassy insistia para que papai botasse um balanço no jardim, e ele nunca a ouviu. Talvez, hoje em dia ele pensasse no caso. Até que um balanço não seria tão ruim assim.

Olhei para o lado, sorrindo para Cassy, mas ela não estava ali. Ela devia ter se escondido em algum lugar com Luke, quem sabe. Abri o armário lentamente.

-Cassy?

Não obtive resposta.

Debaixo da cama, trancada no banheiro, em baixo do armário, atrás da estante, nada.

OK, digamos que eu não sou boa em procurar.

-Cassy? – repeti, dessa vez mais alto, mas não o suficiente para meu pai ouvir. Se não tudo começaria novamente.

Meus pensamentos foram interrompidos pelo latido esganiçado de Nutella contra a porta da sala. Antes que pudesse pular em cima dela, ou tentar distrair ela com comida, reparei na pequena gota caindo sobre a porta, lentamente. Esbugalhei meus olhos. Não estava chovendo. Há poucos minutos atrás o sol estava ali. Não estava chovendo. Nutella tem medo da chuva, de trovões. Enquanto a gota descia, e meu pânico só sobia, eu conclui uma coisa:

Meus pesadelos finalmente tinham ido para a realidade.


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Notas finais do capítulo

Tá bem grande né, hahah.
Reviews?



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