Após a noite e sua cor escura se estabelecer totalmente, expandida até o horizonte montanhoso, nós fomos para os dormitórios encontrar nossas parceiras de banda e as líderes. O prédio parecia estar em agitação com toda a ideia do campeonato e os treinos que aconteciam no campo lá fora. Yurippe convidou-nos para um chá antes do jantar, nos reuniu na sala de representantes e ligou seu projetor na parede, após Shiina ter desligado as luzes.

— Boa noite, meninas. Hoje vamos começar a dividir suas posições no campo e pensar em jogadas estratégicas para o jogo de amanhã. Eu sei que é meio louco ter deixado isso só para agora, mas pensem bem: poderia ter escolhido dias atrás e alguém nos bisbilhotasse e tentasse copiar nossas táticas, certo? – Ela apontou uma régua para uma simulação de campo diamante na projeção detrás dela e moveu-a. Yusa é quem mudava os slides no computador. Estava bastante escuro, mas eu conseguia notá-la por ali.

— Okay, mamãe soberana! – Sekine colocou as mãos na cintura e revirou os olhos. – O que temos para hoje?

— Sekine-chan, ela ainda é nossa superior. – A namorada dela disse baixinho antes de dar uma mordiscada num bolinho tipo cupcake.

— Certo. E o que faremos desta vez? – Cruzei os braços e mantive o foco na simulação, enquanto isso, eu percebi que Iwasawa se encostou ao meu ombro. Ela parecia estar cansada aquela altura da noite.

Uma vez que começada a ‘aula’ sobre as táticas de jogo, Sekine adormeceu no ombro de Irie e o resto das garotas ficou atenta à longa palestra. Gostei do rumo em que tudo ocorre. Iwasawa tratou de ficar na janela e na porta observando se não havia qualquer movimento de algum time adversário por ali, já que a trapaça do Naoi já era um aviso a mais para que nos tornássemos mais cautelosas com relação aos jogos.

— Nunca saberemos o que Ayato poderá aprontar desta vez, minhas caras. – Yuri alertou-nos, apoiando as mãos de repente sobre a mesa.

— Na verdade, descobrimos uma das artimanhas dele, Yurippe. – Levantei a mão e ela subitamente virou o rosto para mim.

— Como descobriu? – Ela sentou-se sobre a mesa, apertando a régua entre os dedos.

— Bom, quando eu e a Iwasawa estávamos lanchando no mirante, vimos ele ali no bosque forjando uma luva que possivelmente ele vai usar no jogo.

— Ele provavelmente vai fazer algo com as bolas de basebol também... – Iwasawa fez uma suposição.

— Isso seria quase impossível da noite para o dia, ia levar muito tempo. Ele pode ter feito algo com a luva do Hinata. – Shiina dissertou, enquanto encostava-se ao canto da parede ao fundo da sala como de costume.

— É verdade... – Irie sussurrou baixo e se encolheu pensativa.

— Então podemos nos infiltrar no depósito de materiais da quadra essa madrugada para pegar outra luva... Assim correremos menos riscos. Mas creio que esse não é o único truque que ele deve estar armando. – A voz de Kanade se fez presente, sincera e fria.

— Bem lembrado, Kanade-chan... – Yurippe coçou o queixo e analisou novamente o slide, dando uma volta curta por detrás da mesa.

— Vamos ficar de olho no que podemos fazer desta vez. Infelizmente não temos mais poderes. – Shiina olhou para o alto, pensativa.

— Nós temos poder. Ainda temos força e astúcia, certo? – Eu pisquei, mantendo meus braços encolhidos.

— Exatamente. Yurippe ainda consegue lutar corpo a corpo, Kanade ainda é muito forte e rápida, Shiina é tanto quanto, Hisako é uma esportista nata, Sekine consegue bolar planos maléficos com rapidez e Irie... Bem, ela é boa em seguir ordens da Sekine-chan. – Yusa analisou cada uma de nós enquanto vagava pela sala. Senti-me meio que honrada pelas palavras.

— O-Obrigada, eu acho... – Irie disse com uma cara levemente emburrada.

— Não se preocupe, Irie-chan. O seu poder é martelar essas batidas de coração apaixonado nas caixas da sua bateria! – Iwasawa sorriu após pronunciar as palavras de coragem. A baterista pareceu estar mais calma e fechou os olhos devagar, acabando por debruçar a bochecha avermelhada sobre a cabeça da namorada. Supus que ela fez o mesmo que eu faria com Iwasawa: apreciar o perfume. Como era bonito o amor em pequenos gestos. Puro e sincero.

— Então é isso, galera. – A voz de Yuri cortou minha linha de pensamentos. – Nos encontraremos amanhã, um pouco mais tarde, às sete horas. O campeonato irá começar por volta das dez da manhã, então preciso que estejam prontas pelo menos até as oito, principalmente as Girls Dead Monster.

— Sem problemas. – Kanade moveu a cabeça em confirmação. Shiina apenas fez um sinal positivo, seguida por Yusa.

— Certo, inclusive precisaremos de ajuda para levar a bateria da Irie. – Eu lembrei que sempre demorávamos um pouco mais de tempo para movê-la para o palco.

— Vai ser muito bom tocar em um novo show para vocês, meninas. – Nossa vocalista disse sorridente antes de todas resolverem se retirar da sala. Shiina e Yusa levaram Irie e Sekine sobre os ombros, disputando quem chegaria primeiro no quarto. Suponho que elas deveriam chegar juntas, já que ambas era muito velozes.

— Vou amar vê-las novamente vibrando num show. – Yurippe apertou o meu ombro, assim como o da Iwasawa. – Boa noite e se cuidem. Vejo vocês lá.

— Boa noite, Yurippe-san! – Respondemos em coro.

Por detrás, vi a tímida Tachibana-san acenar e seguir a líder para dentro do dormitório. Pergunto-me quando isso aconteceu... Elas eram inimigas e agora são como duas irmãs inseparáveis, fico feliz com isto. Continuei caminhando silenciosamente ao lado da minha mais que amiga e continuei mergulhada nos meus pensamentos nostálgicos.

— É bom ver como aquelas duas se dão muito bem. – Ela disse baixinho, segurando e apertando minha mão carinhosamente. Um calor confortável se apossou de meu corpo agora sensível.

— Sim, pra quem tinha tanto ódio e rancor, acho que elas mantêm uma relação maravilhosa agora. – Abri a porta do quarto lentamente, para não causar nenhum ruído. Pena que é uma tarefa difícil.

— Elas podem ter ideias incríveis. – Entrou no quarto e analisou envolta, acho que ela estava pensando em tomar um banho antes de dormir, assim como eu.

— Concordo. – Apenas a observei retirar uma toalha do armário enquanto me sentava na cama, tirando os sapatos que esquentavam os meus pés. Suspirei ao senti-los livres, mexendo os dedos.

— Quando será que elas deram o primeiro beijo? – Ela piscou antes de entrar no chuveiro. Arregalei os olhos. Como assim? Kanade e Yurippe se beijando? Se bem que não seria um casal ruim, mas poxa, a Kanade namora.

— Kanade e Yuri já se beijaram?! – Eu exclamei, um tanto assustada.

— Quem?? Eu falei da Sekine e da Irie, Hisako! – Ela gritou de volta.

— Sua idiota! Por que não disse antes? – Esbravejei e senti meu rosto corar com a estupidez em que a situação me fez passar. Era de meu costume ter o pavio curto.

— Pensei que nossas mentes estavam conectadas. – Respondeu num tom baixo, mas audível. Meu coração parou por um segundo, fazendo-me pensar que talvez eu tenha me exaltado. Eu não gostava de parecer que estava decepcionada para Masa. Partia-me o coração vê-la triste ou magoada por qualquer coisa que fosse, imagina com palavras minhas. Seria um pecado fazê-lo mesmo com uma besteira. – Me desculpe.

— Eu quem peço desculpas. – Subitamente abri a porta sem permissão e a abracei. Um profundo abraço sincero e amoroso, não me importava se o chuveiro estava molhando minha roupa. – Me desculpa, Iwasawa... – Sussurrei quase com a voz embargada, mais como um sopro saindo dos meus lábios.

— Hey... – Ela respondeu baixinho e me abraçou de volta, deslizando a mão sobre meus cabelos soltos. – Você sabe que não precisava ter pedido desculpas por isso, não é? Já recebi broncas piores de você, haha. – Eu corei ainda mais, não só pelo fato de ter feito cena por uma coisa tão boba, mas porque eu estava ali no chuveiro, abraçando uma Iwasawa completamente nua e molhada pela água morna que caia sobre nós duas. E ela não estava se importando com isso, apenas me segurando com todo o apreço do mundo.

— C-Certo, e-então me desculpe por ter sido tão invasiva, M-Masa... – Eu supliquei novamente para que pudesse criar uma situação em que me tirasse de tanto constrangimento, apesar de estar maravilhosamente bem naquele local, daquela maneira.

— Está tudo bem, você é minha namorada, certo? – Ouvi as doces palavras em minha orelha assim como uma das mãos que levantou o meu queixo e meus lábios foram tomados por um beijo suave e rápido, como uma chuva de verão que deixa a terra sedenta por mais.

— U-Uou... S-Sim... – Gaguejei ao receber o toque com tanto desejo e percebi logo que um calor entre minhas pernas estava se instalando. Era difícil se controlar ao ter a pessoa que mais amava ali, lhe demonstrando tanto cuidado e ainda mais sem vestir roupa alguma. Porém, pensei em me afastar rapidamente para acabar não fazendo algo que ela não estivesse preparada ainda. Talvez Iwasawa ainda não fosse muito sobre pensar nesse tipo de coisa...

— Pra onde está indo? – Ela suspirou baixinho, fazendo um beicinho e eu saí do banheiro para pegar uma toalha e me secar.

— Minha roupa está ensopada. – Oh sim, literalmente. Principalmente a roupa interna... – Vou me secar e te espero na cama, pode ser?

— Certo! Já estou quase saindo.

Suspirei profundamente e terminei de enxugar o meu corpo quente. Meu olhar se fixou primeiramente no teto escuro e passeou pela janela, com uma cortina cor bege que eu pensava seriamente em trocar para algo mais “rock” como Masa diria, depois olhei para fora dela, haveria te ter constelações incríveis no céu a esta hora, mas meu corpo pedia certo descanso. Havia violões e as guitarras guardadas ali no canto do encosto, próxima à escrivaninha cor branca.

O barulho do chuveiro cessou e em poucos minutos Iwasawa estava ali, se debruçando sobre a cama e usando uma regata preta e uma boxer branca. Deus... Hoje essa garota queria me fazer morrer do coração de algum modo, meu coração estava a sair pela boca.

— Hisako...? – Ela indagou enquanto meus olhos viajaram pelo seu rosto, seu corpo e suas vestes. Aquela voz me fazia muito bem, não era de se negar.

— Oh, sim? – Balancei o rosto e um sorriso apareceu nos lábios dela, os olhos magenta brilhavam como nunca.

— Eu gosto do seu cabelo solto, fica muito bonito. – Masa deu uma leve embaraçada na minha franja com os dedos longos e eu ri baixo, meu rosto esquentou de imediato.

— Obrigada, eu acho, haha. Você sabe que vai ser a única me ver assim, não é? – Dei a língua e ela o sorriso se manteve no rosto da minha vocalista, os dentes brilhavam em meio ao escuro do quarto.

— É um privilégio maravilhoso! – Ela se jogou em cima de mim e fez um pouco de cócegas na minha barriga. Tentei conter as gargalhadas, mas era um pouco difícil. – Boba! – Um beijo no meu rosto. – Eu amo você.

— Iwasawa... – Desviei os olhos no momento, como uma boa ‘tsundere’ e enchi as bochechas. No fundo, meu estômago estava repleto de borboletas. Uma das sobrancelhas tom magenta se levantou e logo retruquei com carinho. – Eu também te amo... Eu amo você demais.

Nossos olhos simultaneamente se encontraram. O quase vermelho nos meus castanhos, as mãos juntas, os corpos grudados. Um novo beijo se iniciou com o clima amoroso que nos rondava e nos conectava. Enquanto os dedos meus percorriam as costas lisas, os dela se perderam nos meus cabelos, causando-me arrepios intensos. A coxa de Iwasawa apertou-me entre as minhas pernas, sua língua acariciava a minha e meu corpo todo correspondia às sensações novas.

Apertei o tecido da regata com os dedos e aproveitei os movimentos deliciosos que os lábios suaves conduziam os meus, logo que o atrito entre os corpos aumentava à medida que os deixassem quase dormentes, não só pela força, mas por conta de já termos nos esforçado bastante durante o dia. Quando o ar faltou, Iwasawa repousou a cabeça sobre meu peito e sussurrou baixinho uma frase maravilhosa de se ouvir.

— Hisako... Eu quero você... Sinto que estou me preparando para o momento certo... – Meu coração disparou ali mesmo e eu apertei-a entre meus braços prontamente.

— Eu s-sinto o mesmo por você, Iwasawa... – Respondi sem alarde e beijei o seu rosto com carinho, me aconchegando junto a ela na cama. – Por hoje, vamos apenas dormir, pois amanhã teremos um grande dia... – Sorri ao imaginar o show de amanhã. Será épico.

— Mal posso esperar... – Ela cochichou ao pé da minha orelha e eu me pergunto se ela falou sobre o show ou sobre o momento que iríamos nos entregar... Mas assim que eu ia perguntar, Iwasawa havia adormecido nos meus braços, como um anjo.

— Boa noite, meu amor... – E assim, eu peguei no sono, sonhando com esse dia.