Sim, era isso... Lentamente, vi seus olhos tom magenta escuro se abrirem... Eu tremi em nervosismo e felicidade ao mesmo tempo, as lágrimas apenas caíam, sem esforços.

— I-Iwasawa..? – Sussurrei baixo, denunciando minha ansiedade em saber se ela estava consciente. O silêncio ainda prevaleceu, mas ela ainda apertava minha mão com firmeza.

— H-Hisako... – Quando eu já estava perdendo as esperanças de que ela pudesse dizer algo, meu nome saiu. Um pouco falho, mas saiu...

Naquele momento, eu senti meu corpo arrepiar e meu coração parar por um segundo para depois disparar desesperadamente, apenas para apreciar aquela doce voz sair mais uma vez para mim... Só para mim. Afinal, era meu nome que ela chamou...

— Iwasawa? V-Você está bem? – Segurei sua mão com ambas as minhas mãos, sentindo seu calor e a suavidade de sua pele. Ela me olhou bem nos olhos, abrindo um pequeno sorriso da qual eu ansiava para ver. Eu não sabia como agir, estava com as emoções à flor da pele.

— V-Você me salvou, de fato... Obrigada por me tirar do escuro... – Ela disse baixinho e eu me lembrei automaticamente do sonho. Sim, aquele sonho.

— E-Eu sempre vou estar do seu lado, Iwasawa... – Aquele sorriso continuava ainda mais meigo. Meu coração se derretia a cada segundo que eu a olhava, contemplando seu belo rosto, seus belos olhos agora abertos, mesmo que expressassem seu cansaço. Parecia que não dormia há semanas, porém, continuava perfeita...

— Iwasawa-san! Você acordou! – Yui foi se remexendo e girando as rodas de sua cadeira até chegar próxima a ela. Sua expressão radiante me deixou ainda mais feliz por Iwasawa ter acordado, agora a rosada estava para sair da cadeira de tão contente por sua senpai estar consciente.

— Y-Yui? Você também está aqui... – Ela respondeu um pouco fraca e agradeceu. – Obrigada pela música... – Yui não poderia estar mais feliz, um sorriso de imensa felicidade resplandeceu e suas pequenas presas eram exibidas com toda aquela alegria.

— Obrigada... – Gentilmente ela agradeceu, afirmando com a cabeça em um movimento quase impercebível.

— Ela realmente acordou?! – Bruscamente, ouvimos o barulho da porta e logo em seguida a voz do médico, seguido de Otonashi que veio atrás.

— Sim, ela acabou de acordar. – Eu respondi com um grande sorriso no rosto e os dois homens na porta se aproximaram para observar Iwasawa de perto.

— Graças a Deus você acordou. Nós estávamos quase perdendo as esperanças. – Otonashi observou o estado dela e se contentou com o que viu. O médico já foi examinando os olhos e a garganta dela, para ver se estava tudo realmente certo. Tive que me afastar por breves segundos, mas ela não deixou, senti sua mão apertar com mais força no instante em que dei um passo para trás pensando em dar mais facilidade para que o médico fizesse suas observações.

— Fique aqui, por favor... – Ela suplicou e antes que o médico repreendesse, viu o olhar dela de profunda necessidade e consentiu. Naquele instante eu me convenci que deveria estar ao seu lado o máximo de tempo possível que eu pudesse.

— Não se preocupe... Não vou sair, Iwasawa... – Suavemente acariciei sua mão, sentindo sua pele macia e seus dedos entrelaçados aos meus. Era uma sensação incrível, eu não imaginava que isso iria acontecer tão cedo, mas ao mesmo tempo eu estava tão feliz e animada.

—É senhorita Masami. Você parece estar em perfeito estado, não sei como, mas parece mais que aconteceu um milagre ou coisa do tipo. – Milagre... Penso que, talvez a música seja um meio de trazer milagre para quem a escuta e a guarda no coração.

— Eu não entendo muito bem, a gente só cantou uma canção nova... – Yui indagou ao ouvir o médico.

— Talvez a terapia tenha feito um efeito mais rápido do que calculamos anteriormente, certo doutor? – Otonashi respondeu ao anotar tudo em sua prancheta de trabalho.

— Sim, vocês fizeram muito bem em tocar uma música. É algo que ativa o cérebro, pois as ondas sonoras são captadas com muita facilidade por quem está em coma. Já ouviram falar ‘Quem está em coma ainda consegue ouvir tudo’? Talvez isso possa ter acontecido. – Ouvimos tudo atentamente e ansiosas para que pudéssemos falar mais com Iwasawa. Eu precisava falar com ela, saber como ela se sentia, como estava e o que queria fazer agora que havia acordado.

— Entendi... O subconsciente age de maneiras que a gente nem imagina... É por isso que eu propus essa terapia. Que bom que você melhorou Iwasawa-san. – Ela consentiu e eu sorri, não poderia estar mais feliz. – Você se lembra de mim ainda? – Ela coçou a nuca e fez um esforço para pensar, ainda que a balançou ao perceber que ainda ao havia reconhecido aquele rosto.

—Ele é o Otonashi-kun. Apareceu uma vez para ver o nosso ensaio. Ajudou com a elaboração de uma terapia que lhe ajudasse a acordar. – Tentei explicar ao acariciar os cabelos quase cor-de-rosa dela, cabelos maravilhosamente sedosos e macios. Eu não parava de pensar na possibilidade de ficar a sós com ela, isso fazia minhas pernas tremerem. Olhar o rosto dela me fazia lembrar algo que aconteceu há certo tempo...

“Nós fugimos dos professores que tentavam confiscar nossos instrumentos e acabamos parando atrás de uma planta que servia de corredor nos arredores da escola. Eu ajoelhei para poder descansar e respirar um pouco, mas antes que eu pudesse abrir a boca para suspirar, senti um abraço repentino.

—Eu sei que demorei um tempo para responder, mas eu agora sei o que eu quero. Você me fez sentir algo incrível quando estava no palco. Eu quero formar uma banda com você. – Fiquei estática por alguns segundos ao que ela disse e por estarmos caindo lentamente sobre a grama, ela por cima, olhando em meus olhos e falando com toda a sinceridade do mundo. Eu podia ver sua alma com aquele olhar, se me permite dizer. – Eu quero cantar mais contigo. Eu preciso de você, Hisako! Então, você ainda quer ficar... Comigo? – Eu achei que meu coração fosse explodir de tanta felicidade. Eu poderia ter abraçado e beijado ela ali mesmo, mas sabia que essa reação talvez pudesse assustá-la. – Se você ainda... Sentir vontade de formar uma banda... Mas... – Ela começou a corar e hesitar, por insegurança, mas notei que ela implorava para que eu aceitasse a proposta que eu mesma havia feito anteriormente. No entanto, era muito melhor ouvir da boca dela esses pedidos. Eu fiquei muito feliz por isso.

— Eu também preciso de você... Eu estou tão contente de finalmente ter conhecido alguém como você. – Sussurrei num misto de sentimentos ao tocar aquele belo rosto pálido e as maças do rosto levemente rosadas pela timidez. Iwasawa sorriu de canto, daquele jeito charmoso que me fazia delirar por dentro.

— A partir de agora, estou aos seus cuidados...”

Saí da minha linha de pensamentos ao ouvir a voz levemente fraca dela, mas que pronunciou uma frase que marcou muito pra mim.

— Eu não me lembro de muitas coisas, mas... Eu lembro perfeitamente de todas as vezes que tocamos juntas, Hisako...