Não consegui prestar atenção na aula por nenhum momento, fiquei rabiscando frases no meu caderno e pensando no que poderia ter acontecido com a Gabi. Tentei achar algo na minha memória, mas eu não lembrava muito sobre a noite passada...

O sinal tocou e eu corri para a carteira da Gabi, não falei nada, só olhei para ela em busca de uma explicação.

– “Oi, Thais.” “Tudo bem?” – Ela falou.

–“Estou bem, mas pelo visto você não está.” “Pode ir me contando o que aconteceu.” - Respondi.

–“Ok.” “Mas estou um pouco surpresa por você não desconfia do que se trata.” “Afinal, você estava lá...”.

–“Desconfiar de que?” “Lá onde?” “Você está me deixando preocupada, Gabs.”.

– “Na festa, você não se lembra de nada?” – ela me olhou desconfiada.

– “Mais ou menos, estou um pouco confusa sobre ontem.”

–“Quem mandou ficar bêbada? Haha.” – ela me jogou um olhar malicioso.

– “Eu não fiquei bêbada.” – eu não me lembro de ter bebido nada, só pra começar.

– “Ok, Tha, depois converso com você sobre seu problema com bebidas” “Enfim, o que aconteceu é que o Alex estava na festa ontem e ele levou aquela nova namoradinha dele, e eu não sei o que deu em mim. Eu fiz a maior besteira.” – ela contou, quase chorando.

– “Calma, me explica isso direito.” – me sentei do lado dela, olhando seu rosto com cuidado. Eu sabia que ela detestava chorar na frente de qualquer pessoa.

–“Ele foi à festa com uma garota que eu não conheço e eu fui tomada por uma enorme raiva, então quando a garota saiu, acho que foi no banheiro, sei lá, pouco me importa, eu fui falar com ele, acho que ele ficou um pouco assustado mas a gente conversou por uns 10 minutos e... Eu o beijei” “E a namorada dele viu. E sim, a gente brigou.”

– “O que? Vocês brigaram? E como eu não me lembro disso?” – eu realmente estava muito confusa, eu teria me lembrado de uma coisa dessas, ate mesmo porque eu amo ver briga. “Esquece, apenas me diga como você está agora.”

–“Eu estou bem, estou envergonhada e arrependida, mas não adianta me lamentar por algo que já passou, não é?” “E respondendo sua outra pergunta, você provavelmente não se lembra porque estava mais ocupada em dar em cima do meu irmão. E você ainda tem coragem de falar que não ficou bêbada.” – sorriso malicioso.

O sinal tocou e as ultimas aulas foram passando, as palavras da Gabi continuavam na minha cabeça. O que eu tinha feito? Eu nunca tinha nem chegado perto de bebida antes, mas o que mais me preocupava era o Rodrigo. Eu realmente espero que isso tudo seja invenção da Gabi, eu não posso ter feito isso. Mesmo que eu estivesse bêbada, eu ainda teria no mínimo um pouco de dignidade, certo? Não.

O sinal tocou, acabou o primeiro dia de aula.

Levantei-me e juntei minhas coisas, com sorte conseguiria escapar do colégio sem ter que falar com ninguém.

Não foi o que aconteceu.

Porque assim que sai da sala me deparei com o Rodrigo, seu cabelo loiro estava bagunçado como sempre e ele estava ouvindo música com os fones de ouvido, mas assim que me viu ele sorriu.

Em qualquer outro dia eu teria retribuindo o seu sorriso, mas a vergonha sobre o que eu supostamente tinha feito ontem à noite me fez corar e me manteve paralisada. 

A Gabi veio logo atrás de mim e fez uma expressão de alivio assim que viu o irmão.

- “Ainda bem que você cumpriu sua palavra, não me leve a mal, mas eu realmente duvidava da sua pontualidade” - ela falou enquanto arrumava sua bolsa em seus ombros.

- “Do que vocês estão falando?” – perguntei confusa. A curiosidade sempre vence a vergonha no fim das contas.

- “A parti de agora você não estará mais sozinha no transporte escolar, Tha” – Rodrigo falou dando um sorriso travesso.

Corei. Novamente.

- “Esqueci de te contar, nossos pais se recusaram a trabalhar como motoristas para a gente esse ano. Vamos ter que nos virar de transporte escolar.” – Gabi falou com uma cara indignada.

- “Também sofremos ameaças, se nos atrasarmos e o motorista partir sem a gente, estamos mortos. Palavras do senhor e senhora Tavares.” – Falou o Rodrigo enquanto fazia uma encenação de enforcamento.

Sorri.

- “Então, é melhor a gente ir logo.” “O Marcus realmente não tolera atrasos.” – falei me referindo ao motorista que na verdade, nem ligava muito para isso.

Andamos até a frente do colégio e quando chegamos lá a besta já estava esperando. Entrei e sentei no banco que mais gostava. Nem muito atrás, nem muito na frente, do lado da janela.  A Gabi sentou do meu lado e o Rodrigo foi lá para trás onde um amigo dele e outra garota, que eu não sabia o nome, estavam sentados.  A garota assim que me viu me encarou com uma cara nada amigável e abraçou o Rodrigo como se estivesse jogando algo na minha cara. 

Do colégio para a minha casa leva em media uns 15 minutos. Aproveitei esse tempo para forçar a Gabi a contar tudo que tinha acontecido no dia anterior.  E ela contou. E eu descobri o motivo da garota ter me olhado feio.

Seu nome é Jennifer e segundo a Gabi ela supre uma paixão incontrolável, porém não correspondida pelo Rodrigo. Ela estava na festa ontem e não ficou muito feliz de me ver com o Rodrigo.

- “Você não pode está falando sério.” “A garota me odeia porque passei uma parte da festa com seu irmão”? “Nós somos amigos!”

- “Thais, você ainda não entendeu, certo?”

- “Entender... O quê?”

- “Após algumas doses de champanhe você se animou um pouquinho, praticamente obrigou o Rodrigo a dançar com você e depois... Bem, você o beijou.”