Últimos Meses escrita por Allie Próvier


Capítulo 1
Capítulo 1




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How to save a life:

(http://www.youtube.com/watch?v=35YovZDw9HY)

(Ouçam durante a leitura, por favor!)

Há alguns dias, fez um mês que ela se foi.

Ainda é meio estranho pensar no quanto o tempo se passou rápido, ou lento. No quanto eu sofri nos primeiros dias, e agora consigo sorri novamente. É claro, quando acontece algo engraçado ou me contam uma piada ridícula, meu primeiro pensamento costuma ser: “Quando eu chegar em casa, preciso contar isso à ela!”... mas aí a tristeza bate. Porque eu posso até chegar em casa, mas não conseguirei falar com ela. Nem em casa, nem na rua, nem no colégio, nem por telefone, nem por email – como era nossa forma de comunicação nos últimos meses.

Últimos meses. Também dói pensar neles. Foi doloroso para mim, para ela, para seus amigos, para sua família, seu amor, para todos. Nossa pequena estava doente, lutando pela vida. Sofrendo dentro de um hospital e a cada dia querendo voltar para casa. Dizendo para mim que queria se esbaldar no Mc Donald’s e poder abraçar seu namorado bem apertado. Brincar com suas cachorrinhas e... e o que mais? Ah sim, se livrar daquele tormento. Ela estava confiante, estava segura de que sairia bem daquela situação.

Estava certa de que voltaria para nós, forte como ela era. Guerreira como ela sempre foi.

E as risadas que tive com ela continuam sendo as melhores. E as nossas piadas, e nossas brigas. Existem brigas boas? As nossas eram ótimas. Porque não se passavam 5 minutos e lá estávamos nós duas juntas novamente, se apertando e implicando uma com a outra. Tinha gente que duvidava da nossa amizade, sempre nos acharam meio estranhas porque ficávamos juntas num mundinho só nosso. Não nos misturávamos com as patricinhas nem corríamos atrás dos meninos populares. Não ficávamos gritando nem espalhando por aí que pegamos “4 fulaninhos” numa festa. Mas poucos sabiam que não precisávamos disso. Éramos amigas de verdade, e amigas de verdade precisam ficar grudadas uma na outra apenas para contar quantos garotos pegou? Não. Bastava uma estar do lado da outra, sem falar nada, e já se tornava um momento ótimo. Único.

Ainda mais único e especial se for pensar nisso agora...

Agora não teremos mais momentos assim. Agora eu não a tenho mais ao meu lado. Agora não tenho mais seus coraçõezinhos no meu caderno, nem sua risada no meio da aula. Não tenho aqueles olhinhos de cãozinho piscando pra mim, me pedindo bala. Não tenho mais nada dela. Apenas as lembranças e algumas fotos.

É doloroso pensar que tudo o que planejávamos para o futuro, tudo que antes era distante, agora passou a ser impossível. Inalcançável. Intocável. Porque seríamos nós duas contra o mundo, se divertindo, viajando com nosso dinheiro e nossa liberdade, sem pais fuxiqueiros.

Ainda dói. Dói escrever esse texto e ignorar algumas lembranças para não chorar. Dói ter que me obrigar a não falar dela, porque sei que vou ficar triste momentaneamente. Dói lembrar dela no meio dos amigos, e forçar um sorriso e dizer que está tudo bem. Meio que me culpo por me obrigar a não lembrar tanto dela, só para não sofrer. É egoísmo. Mas acho que ela não gostaria de me ver sofrendo.

Mas sabe aquela frase: “Fico feliz só por ter tido você na minha vida”? Acho que é assim, não é? Enfim...

Ela não poderia deixar de ser verdade agora.

Enfim, esse texto é dedicado à Juliana Paes – e não, não é a atriz. É apenas a minha melhor amiga, a pessoa em quem eu sempre vou confiar, pro resto da minha vida. Que me ajudou e me revoltou diversas vezes. Que me fez rir e chorar. Que fez eu sentir o que era ser uma mãe, uma protetora. E que agora, sei que os papéis se inverteram. Sei que aonde quer que ela esteja... está olhando por mim.

E, como eu sempre dizia... “é bom que esteja mesmo”.




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Notas finais do capítulo

Descanse em paz, minha bb ♥ eu te amo.