Dormi mal, com os acontecimentos da noite anterior tomando a minha mente. Quando cheguei à cozinha, todos já tomavam o café-da-manhã. Meu olhar imediatamente procurou meu melhor amigo, que, como sempre, comia com apetite um prato gigante. Ele brincava com o maknae, os dois rindo e batendo um no outro, visão que, inexplicavelmente, aumentou minha raiva. Por que estava assim só por olhá-lo?

–Bom dia, hyung! – Jongup foi o primeiro a me notar e a me cumprimentar, com os olhos cheios de sono, mas o sorriso radiante de sempre.

Os cumprimentos dos outros logo se seguiram, menos os de Daehyun e Junhong, ainda absorvidos na brincadeira. Respondi com um “bom dia” baixo e me sentei em uma ponta da mesa, do outro lado de onde estavam o outro vocalista e o maknae. Se Daehyun estava tão ocupado com o garoto de cabelos azuis que nem percebia a minha presença, ele não ia ligar se eu sentasse longe dele, não é? Enquanto pensava nisso, finalmente meu amigo percebeu que eu estava lá. Já estava na hora mesmo!

–Bom dia, Jae! – Ele parecia bem mais animado que na noite anterior. Já esquecera o vídeo dele? Eu não... por mais que quisesse.

–Bom dia... – Apesar da raiva, não queria magoar meu amigo agindo de maneira estranha quando ele não tinha feito nada (além de dançar daquele jeito com alguém, e de brincar com o maknae e de não ligar pra mim, mas isso nem deveria estar me afetando tanto), então tentei soar o mais neutro possível. Mas algo deve ter transparecido em minha voz, pois ele me olhou um pouco intrigado, até que eu abaixei a cabeça e ele voltou ao café.

Após a refeição, fomos aos nossos treinos diários, pois teríamos uma apresentação de Crash naquela noite para um grande público, e estávamos ansiosos para fazermos o melhor. Apesar de tentar me concentrar ao máximo, meus sentimentos para Daehyun continuavam a me atormentar. Quando o via conversar com Yongguk-hyung sobre algum detalhe da apresentação, ou quando Himchan-hyung tentava abraça-lo, ou quando Junhong brincava com ele, sentia algo irritante dentro de mim. Quase não puxei assunto com ele durante o dia, e quando sentia seu olhar me procurando, olhava para o outro lado, fingindo estar interessado em alguma outra coisa. Esse sentimento se acalmou quando ficamos a sós, treinando canto, e voltei a sentir a enorme paz que eu sentia em nossos ensaios. Fiquei mais quieto que o habitual, contente em somente observar meu amigo cantar... e como ele fazia isso bem! Sua expressão determinada, sua concentração, sua energia, a perfeição técnica e o sentimento que ele depositava nas notas, tudo isso prendeu minha atenção de modo mais intenso do que o habitual.

Porém, essa calma toda foi desaparecendo, enquanto via Jongup repassar com Daehyun alguns passos da nova coreografia. Quando o vocalista errava, os dois riam, e o dançarino ia corrigi-lo com paciência, às vezes segurando o braço dele para mostrá-lo o movimento correto. Aish, por que essa proximidade toda? Não precisava fazer tudo isso só pra ensinar o Dae...que eu aposto que errava de propósito, só para rir e receber atenção do dongsaeng. Eu tentava fazer minha melhor cara de bravo, na esperança de que meu amigo percebesse e aprendesse logo a coreografia, mas minha tentativa não deu muito certo, já que meus únicos resultados foram de Himchan:

–Ei Jae, pare de fazer biquinho e encher as bochechas assim, essa pose aegyo é minha! – Nem é, todo ulzzang que se preze faz isso. Não que eu seja um, claro.

E de Zelo me perguntando com um interesse e uma esperança genuínos:

–Youngjae-hyung, você consegue guardar nozes na bochecha que nem os esquilos? – Nunca tentei, mas acho que não, minhas bochechas não são grandes assim... são?

Já Dae...ele olhou para mim por alguns instantes, e seus lábios curvaram em um sorriso, mas Jongup o chamou e ele logo voltou ao treino. Esse idiota, não entendeu minha expressão ameaçadora, mas muito mal compreendida!

No carro, a caminho da apresentação, permaneci quieto e tentei me concentrar na paisagem que passava, mas meus olhos insistiam em procurar o outro vocalista antes que eu me controlasse e voltasse a olhar pela janela. Aish, por que eu sentia tanta necessidade de olhar para alguém com quem eu supostamente estava irritado? De vez em quando, sentia que ele retribuía tais olhares, mas tentei ao máximo parecer indiferente.

Logo estávamos no camarim, nos aprontando para entrar no palco, e discutindo sobre que “casal” terminaria a música.

–Não era eu e Jae hoje? – Daehyun perguntou. Era verdade... mas eu não saberia como agir normalmente com ele daquela vez. Antes fazia tudo tão naturalmente... mas agora, algo me deixava nervoso só de pensar na proximidade que teríamos no final da coreografia.

–É... – Himchan pareceu ouvir meus pensamentos, me encarando com uma expressão estranha antes de continuar – mas acho que seria mais legal se eu e Guk fizéssemos dessa vez!

–O que??? – O líder evidentemente foi pego de surpresa – Por que? Deixa eles... – Agora era a vez de Yongguk-hyung se calar com um olhar do ulzzang.

–Oras, eu sei que, no fundo dessa sua pose de machão, você adora esse final fofo, não é, papai? – Himchan claramente se divertia em provocar o mais velho.

–Na-nada disso!

–Oh, por que não melhoramos mais ainda nosso final? – Continuou o “comandante”, ignorando os protestos do outro – Podemos fazer como o Dae e o amiguinho dele, que tal? – Nessa hora, o mencionado engasgou com a comida.

–Parem de falar disso!

–Você está doido? – Yongguk protestava – Fazer isso no palco, eu...

–Ah, então prefere que façamos isso no quarto, a sós? – O ulzzang sorria de um jeito pervertido.

–Yah, Kim Himchan! Vou te bater! – O outro já se levantava, bastante vermelho.

–Isso é violência doméstica, Gukkie! Não vai bater na mamãe, vai? – Himchan falava com uma voz manhosa, fazendo aegyo.

Infelizmente, não pudemos ver o desenrolar da “novela”, pois nos chamaram, já havia chegado a hora da apresentação. Havia muitas babys lá, e a empolgação delas logo me contagiou, como sempre. Daehyun também estava agitado, cantando animadamente e pulando, revelando a camisa transparente por baixo da blusa. Por que as estilistas estavam fazendo-o usar aquilo? Ele estava mostrando demais seu corpo, não precisava disso...

Yongguk e Himchan acabaram por fazer o final, o mais novo piscando e o mais velho fazendo uma cara bastante séria, o que não pareceu impedir os dois de descerem do palco com as mãos entrelaçadas, trocando olhares.

Quando voltamos para o dormitório, a maioria correu direto para as camas. Eu decidira fazer algo divertido antes de dormir: jogar Starcraft e responder a alguns tweets das babys... então como fui parar no Youtube, clicando no infame vídeo pre-debut do meu amigo?

–Eu...eu vou ver só uma vez. Não prestei atenção direito na música – Falava para mim mesmo.

Porém...uma vez virou outra, e outra, e eu prestava cada vez menos atenção à música e mais aos movimentos que Dae fazia, a todos os detalhes de seu corpo, da sua expressão, da maneira como tocava o outro... e quando me dei conta, já substituía em minha mente o outro garoto por mim. Imaginava-me descendo, acompanhando cada curva do corpo do meu amigo até ficar de joelhos para ele. Imaginava-o colado a mim, descendo, os lábios e as mãos percorrendo o meu corpo. Imaginava-o subindo e nossos lábios se encontrando...

Ma-mas... o que eu estava pensando? Daehyun era meu amigo, meu melhor amigo... porém, as batidas aceleradas do meu coração, o calor que tomou meu corpo, especialmente minhas bochechas, a sensação estranha na minha barriga eram sinais claros do que eu percebera ontem, mas vinha negando: eu desejava que ele fosse mais, muito mais que isso.