— James Paul McCartney! — disse uma voz muito zangada. Era John. Paul abriu seus olhos bem devagar, sonolento.  John entrou no quarto e arrancou Paul da cama, encarando-o como se fosse o matar.

— O que é? — Paul responde. — Sabe que horas são? Pois é, nem nove da manhã. Cale a boca e tente dormir um pouco mais. — Ele puxa o cobertor e tenta voltar a dormir.

— Paul, precisamos ir! Você está atrasado.  Eu disse que você não deveria beber tanto à noite e levar a banda mais a sério. — John empurrou Paul da cama, forçando-o a se levantar.

 — Tudo beeem, senhor Eu-devo-fazer-tudo-certo. Estou indo. Vai querer me ver sem roupa ou vai dar licença?

John riu e socou o ombro de Paul amigavelmente.

— Vamos sair logo daqui.

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Os Beatles entraram no avião — com certa dificuldade, porque George ficou preso “acidentalmente” no portão de embarque. Eles não poderiam descansar depois da viagem, teriam uma apresentação no Royal Albert Hall e uma entrevista na BBC para um programa com uma atriz, Jane alguma coisa. Paul não se lembrou o sobrenome dela.

George falava sobre o álbum que eles estavam planejando há semanas, chamado With The Beatles com John. Parecia que ele tinha escrito uma música ou algo do tipo. George não compunha muitas músicas, mas, quando compunha, eram verdadeiros hinos — e até Paul, que tinha o ego mais inflado que todos, achava isso.

— Está nervoso? — Ringo pergunta. Paul olha para ele, distraído.

— Eu não sei, na verdade. Sinto que tem algo... Como posso dizer? Prestes a mudar, eu acho.

— Ah, entendi. Você está nervoso. — ele brinca.

Paul ri: — Cale a boca.

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George foi o primeiro a pular do avião. Alguns fãs e paparazzo estavam ali, e os Beatles tiveram que correr para o carro que os esperava.

Brian Epstein os esperava nervoso.

— Vocês estão atrasados! — ele diz.

— Ah, desculpe, — John diz. — mas a princesa McCartney aqui estava dormindo. Nós quase o deixamos para trás.

— Princesa Lennon — Paul corrige. — Você tem que entrar no espírito da coisa, amor.

— Ok, já entendemos. — Brian interrompeu. — Estão preparados para a entrevista? Lembrem-se: Não digam nada desnecessário e--

—Ajam naturalmente, já sabemos. — George completa.

— I'll play the part and I won't need rehearsing.
              All I have to do is act naturally. — John cantarolou. Os outros riram.

A viagem para o Albert Hall foi entediante. Todos estavam um pouco nervosos. Eles estavam na Inglaterra, seu próprio país, tinham que fazer bonito.

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O concerto estava perto agora. Muito perto. Paul tinha o mesmo sentimento desde que acordara, que algo iria mudar, naquele dia. Talvez fosse a solidão, Paul não namorava ninguém havia um bom tempo, mesmo sendo um beatle. Ele podia ter qualquer garota do mundo, mas queria ter uma que o amasse por quem ele era, e não porque era famoso.  E claro, que ele amasse também. Ele se sentou em frente ao piano e começou a tocar Little Child, uma música que ele e John compuseram e que iria ser lançada em novembro, dali a alguns meses.

— Hm, parece que eu estava certo. — Ringo diz. — Você está mesmo nervoso.

— É, talvez. É como eu te disse mais cedo, parece que algo grande está para acontecer. Algo além da apresentação. — Paul explicou.

— Tem certeza que está bem? Você sabe que podemos cancelar. Não queremos perder o baixista.

— Não, não precisa. Eu vou ficar bem.

— Trinta minutos! — John entrou, passando o braço em Ringo. — Vocês não estão ansiosos? Vai ser o máximo, tipo, o maior concerto de toda a minha vida.

— Ah, John, francamente. Já fizemos concertos mais importantes. — Ringo diz.

— É verdade. — Paul concorda e George brota do nada com um sanduíche. Ele se senta ao lado de Paul. — Puta merda, George, você não consegue parar de comer? Onde você arrumou esse sanduíche?

— Na cozinha, é lógico, Paulie. — ele responde, examinando o sanduíche de forma tão apaixonada que Ringo começou a rir.

Paul até a cantina e preparou um sanduíche de pasta de amendoim, como aqueles que a sua mãe preparava quando ele era pequeno. Lembrar da sua mãe fez sua visão ficar embaçada. Ela ficaria tão feliz se o visse hoje.

Ele voltou para o camarim, onde os outros riam de uma piada que John acabara de contar.

— Ei, como vocês imaginam que essa Jennifer Alguma coisa é? — pergunta.

— Jane Asher. — George corrige. Ela parece ser bonita. Eu a vi outro dia... É uma atriz, a Alice de Alice no País das Maravilhas.

— Aquele de 1939? — John pergunta, arregalando os olhos.

— Não, esse era O Mágico de Oz.

— De todo jeito eu gostaria de conhecer Alice. Ela era bem criativa. Alice e todos os outros do País das Maravilhas.

— Está tudo em sua cabeça, John — Ringo imita a voz do Gato, fazendo todos caírem na risada.

— Cinco minutos! — um cara gritou enfiando a cabeça pela porta.

— Então, quem pula fora? É agora ou nunca. — John diz.

Como ninguém disse nada, todos pegaram seus instrumentos e se prepararam para entrar no palco.