*****

Foi como se ela nunca houvesse partido. Senti-la contra meu corpo, em meus braços, seus lábios doces nos meus, seu cheiro inebriante, meu pedaço do Paraíso na Terra.

Enquanto tentava controlar minha respiração e desacelerar meu coração, prometi a mim mesmo que nunca mais a deixaria partir. Morreria por ela. Lutaria contra tudo e todos, mas a teria sempre junto a mim.

Separei nossos lábios, encostei sua testa na minha e olhei dentro dos olhos que carregavam tantas promessas. Prometiam apagar da minha alma qualquer lembrança ruim, as sombras dos dias que passei sem ela.

Nessie começou a rir, emocionada. O som me fez ficar leve, como há muito não me sentia.

— Não acredito que você está aqui! – disse, enroscando os dedos em meu cabelo.

Sorri, enquanto pegava suas mãos delicadas e as levava ao meu peito, para que ela pudesse sentir minha pulsação.

– Talvez seja só um pesadelo e você vai acordar a qualquer momento.

Ela riu novamente.

– Não. Não é um pesadelo. É um sonho e espero nunca mais acordar... –murmurou.

Os seus olhos brilhavam e suas bochechas estavam coradas de novo. Ergui minhas mãos e lhe acariciei o rosto saudoso, enquanto Nessie fechava os olhos.

– Mesmo que você quisesse acordar, eu não permitiria. – brinquei, engrossando a voz, fazendo uma péssima imitação de Darth Vader. – Será minha prisioneira para sempre!

Nessie sorriu e me fitou com intensidade.

– Promete? – perguntou com voz esperançosa.

– Prometo! – jurei e mais uma vez tomei sua boca na minha.

*****

Íris - Goo Goo Dolls

(clique aqui para ouvir)

E eu desistiria da eternidade para te tocar

Pois eu sei que você me sente de alguma maneira

Você é o mais próximo do paraíso que já estarei

E eu não quero ir para casa agora.

E tudo que posso sentir é este momento

E tudo que posso respirar é a sua vida

E mais cedo ou mais tarde se acaba

Eu só não quero ficar sem você essa noite

E eu não quero que o mundo me veja

Porque eu não acho que eles entenderiam

Quando tudo é feito para não durar

Eu só quero que você saiba quem sou eu.

E você não pode lutar contra as lágrimas que não virão

Ou o momento de verdade em suas mentiras

Quando tudo se parece como nos filmes

É, você sangra apenas para saber que está viva.

E eu não quero que o mundo me veja

Porque eu não acho que eles entenderiam

Quando tudo é feito pra não durar

Eu só quero que você saiba quem sou eu.

E eu não quero que o mundo me veja

Porque eu não acho que eles entenderiam

Quando tudo é feito pra não durar,

Eu só quero que você saiba quem sou eu.

Eu só quero que você saiba quem sou eu.

Eu só quero que você saiba quem sou eu.

Eu só quero que você saiba quem sou eu.

*****

Nunca havia visto um céu tão escuro quanto este. – pensei fitando a imensa escuridão, através da entrada da pequena caverna que Nessie nos trouxe, um buraco em um paredão rochoso.

Não possuía uma única estrela sequer. A lua já tinha sumido há algum tempo, mas o sol não dava indícios de que iria aparecer.

Mas para que se precisa do sol, quando eu tinha minha fonte de vida e calor bem ali, em meus braços deitada sobre meu corpo, descansando a cabeça em meu ombro?

Minha mão subia e descia pelas suas costas, sentindo a maciez de sua pele nua.

Nessie ainda ofegante ergueu seu rosto para mim. Sua pele tinha a tonalidade de um copo de leite, mas suas bochechas estavam coradas. Só ficavam assim quando ela estava tímida.

Sorri sentindo meu desejo por ela crescer novamente, mesmo após as horas que estávamos ali, nos entregando um ao outro, praticamente a céu aberto, sobre uma manta xadrez vermelha.

Seus cabelos cor de bronze pareciam fazer parte do fogo que crepitava ao nosso lado, deixando tudo laranja. A fogueira estava quase extinta já tendo queimado toda madeira, restando apenas brasas.

– Senti tanto sua falta... – ela murmurou, deslizando seus dedos em meu peito.

Fechei meus olhos, desfrutando da sensação de seu toque e meu coração inflando com suas palavras.

“Eu também senti sua falta”, era uma frase muito pequena para descrever o que passei longe dela.

– Então porque não voltou...? – perguntei num fio de voz. A pergunta escapou da minha boca antes que eu pudesse conte-la, mas não soou acusadora. Soou melancólica.

– Eu não podia. – ela me respondeu, sussurrando. – Por mais que eu quisesse, por mais que cada minuto longe de você me matasse, não podia voltar...

Suspirei e acariciei com meu dedo a ruga que começava a se formar em cima de seus lindos olhos, me arrependo de ter feito a pergunta. Não queria trazer nenhuma memória triste, mas essa conversa era mais que necessária. Queria deixar claro a ela o quanto era importante para mim e que não me importava de enfrentar a guarda Volturi inteira, sozinho, apenas pela chance de ficar ao lado dela.

– Por quê? – perguntei retoricamente.

Seus olhos castanhos me fitaram com um misto de adoração e culpa. Nessie suspirou e pude ver em seu rosto a incerteza.

Ela entreabriu os lábios rosados, ainda inchados dos beijos que trocamos.

– Eu sou muito egoísta, Jacob. Sempre fui. Já estava na hora de parar de pensar no que eu quero e fazer a coisa certa. – sua voz delicada, era apenas um fio.

Balancei a cabeça de imediato, discordando desta afirmação, mas quando ia abrir a boca e expressar minha indignação, ela me censurou com um olhar.

– Você não pode negar isto. Quantas vezes eu e minha família já não colocamos toda a reserva em risco, simplesmente por ser o que somos? – ela continuou sem alterar o tom de voz.

Comprimi os lábios. Apesar de resignado, não podia negar o fato de que sanguessugas eram sinônimos de problemas.

Mas não ela. O que Nessie havia feito de errado?

Nunca em toda a sua vida havia ferido um ser humano. Exceto por Bella em sua gravidez complicada, mas foi obviamente sem qualquer intenção.

Ela era a luz no fim do túnel para todos nós. Quantas pontas soltas não foram atadas após sua vinda para este mundo? Quantas pessoas mudadas pelo seu simples respirar, quantas vidas transformadas para melhor?

A minha mudança era a mais evidente. Ela era meu esteio, minha base sólida depois de tanto sofrimento, que passei por Bella.

– Não é verdade, Nessie. Você nos salvou de muitas maneiras possíveis...

Nessie me fitou com olhos um tanto melancólicos.

– E quanto aos Volturi? E quanto aos filhos da Lua? Vai me dizer que também não é culpa minha? - perguntou e um sorriso sem humor surgiu em seu rosto. Não havia hostilidade em sua pergunta, apenas tristeza e um sentimento de culpa.

– Consequências das escolhas que fazemos. – respondi, enquanto ajeitava uma mecha de cabelo ruivo rebelde.

– Escolha... – ela murmurou, mais para si mesma do que para mim. – Uma palavra engraçada de se usar, considerando que você não teve a sua...

Ela se interrompeu quando levantei o tronco do meu corpo, apoiando meu peso nos cotovelos. Ela sentou-se sobre minhas pernas e ajeitou os cabelos longos, para que cobrissem seus seios.

Lutei contra o desejo forte e repentino que corroeu meu corpo, diante este ato de timidez.

Segurei seu rosto entre as minhas mãos e a encarei.

– Eu escolhi estar aqui hoje. Eu e mais ninguém e o imprinting não tem mais a ver com isso. Estou aqui por que prefiro morrer, a ficar mais um minuto longe de você! Por que fui ao inferno, só de imaginar o quanto devia estar sofrendo por minha causa! E estou aqui por que sinto algo tão forte por você, que não consigo colocar em palavras e sei que sente o mesmo por mim... – disse em um sussurro.

Acariciei sua face com o polegar e ela fechou olhos.

– Eu te amo, Renesmee. – murmurei. – Por ser a outra metade de minha alma, por ser o meu ponto de gravidade, que me mantém onde estou e como sou. Mas acima de tudo, a amo por quem você é, e tenho certeza que teria te amado mesmo sem o imprinting. Bastaria apenas me dar à chance de te conhecer.

Nessie voltou a me fitar e eu senti sua pulsação acelerada contra as palmas de minhas mãos. Ela ergueu as suas e as repousou no meu pescoço.

– Me desculpe, Jake. – ela pediu – Eu que devia estar dizendo estas coisas, considerando o quanto fui idiota achando que poderia passar um dia longe, sem morrer aos poucos. Mas a verdade é que eu não suportaria te perder. Vê-lo ferido ou magoado por sua família, é demais para mim.

Nessie suspirou e roçou sua boca na minha. Meu corpo inteiro estremeceu.

– Mas eu não pensei que seria tão difícil. – ela continuou em sua confissão sussurrada - Achei que seria mais forte que meu pai e que conseguiria me manter afastada para mantê-lo seguro. Mas não consegui! Não consegui nem enganá-lo! – reclamou com a voz torturada. As lágrimas começaram a rolar pela pele fina de pêssego. – No instante que te vi, esqueci todos os meus planos e tudo que eu podia pensar era em sentir o gosto dos seus lábios de novo e a sensação da sua pele na minha...

A interrompi, abraçando-a tomando novamente seus lábios. O meu desejo por ela por sua alma pura, aumentava a cada nova palavra que ela dizia e meu coração se encolhendo de dor com suas lágrimas, as lembranças de dias terríveis vindo a minha mente.

Nunca mais enquanto eu vivesse, a faria chorar novamente e mataria com minhas própria mãos quem tentasse tal feito!

– Eu te amo demais, Jacob... - ela repetiu sem fôlego, afastando-se um pouco, para prender seu olhar no meu. – E isso me assusta. É correto amar alguém tão profundamente, que a simples ideia de me levantar e me vestir agora, pareça tortura?

Minha respiração se acelerou, enquanto eu a deitava na manta vermelha e colava meu corpo no seu.

– É a coisa mais certa do mundo, porque nunca mais vou deixar nada te afastar de mim... – rocei meus lábios em seu rosto e pescoço. – Vai ter que me aturar enquanto eu viver!

Ela riu enquanto puxava meu pescoço e enlaçava minha cintura com as pernas.

– Fico feliz em ouvir isso, por que sei que cumpre suas promessas... – ela provocou com a respiração ofegante.

Sorri para ela.

– Essa com certeza eu vou cumprir fielmente! – disse antes de enlaçar suas costas com meus braços e me unir a ela mais uma vez, provando à ela o quanto estava falando sério.

*****

*****

Começou a nevar. Nem teria percebido se Renesmee não tivesse se encolhido contra meu peito, quando uma brisa leve, lançou pequenos flocos para dentro do nosso abrigo e caíram sobre sua pele. Precisei me lembrar de que eu não sentia frio, mas a temperatura do corpo dela não era tão elevada quanto a minha, ainda mais estando nua.

– Precisamos ir... – murmurei e ela escondeu o rosto em meu pescoço.

– Ainda não! – seu resmungo saiu abafado.

Ri brevemente e suspirei, pois sentia o mesmo. Não queria voltar ao mundo real agora. Queria ficar para sempre ali com ela, naquela caverna perdida em meio à neve. Ou talvez fugíssemos para uma ilha tropical deserta, onde seríamos apenas nós dois.

Mas não era assim que as coisas funcionavam.

Ambos tínhamos pessoas em nossas vidas que se preocupavam conosco e que não nos queria longe. Tampouco seria possível nos afastar deles, por nossa vontade.

– Edward já deve estar organizando meu velório. – disse.

Ela levantou o rosto e sorriu maliciosa.

– Esta com medo do meu pai, Jacob Black?

Bufei.

– Nem um pouco. Meu medo é que você pegue uma semana de castigo. – respondi, apertando mais o meu braço em torno de sua cintura.

Ela franziu o nariz e eu ri de sua careta adorável.

– Já estou bem grandinha para ficar de castigo. – ela disse entrando na brincadeira.

– Claro, claro! Esqueci que você já é uma quarentona! – provoquei e Nessie arregalou os olhos.

– Retire o que disse! – ela ordenou entre dentes.

– Nunca! – respondi.

Ela me atacou aos beliscões.

– Ai! – reclamei rindo. – Tá bem, tá bem! Eu retiro o que eu disse! – me rendi erguendo as mãos.

Ela soltou uma gargalhada melodiosa. Seus olhos brilhavam e seu rosto estava corado.

A Nessie que conheci e sempre amei estava de volta. Um pouco diferente, é verdade, mais madura talvez. Podia ver a diferença quando olhava em seus olhos e eu não podia esperar outra coisa depois de tudo que ela havia enfrentando durante tão pouco tempo. Mas ainda era minha Nessie.

Ela se levantou e jogou minha jaqueta em meu rosto, para que não a visse se vestindo, mas pude ver de relance a curva suave de sua cintura, que terminava nos quadris pequenos e redondos.

Droga! Hoje eu tinha certeza que Edward me mataria!

Mesmo depois de horas com ela, meu corpo ainda a desejava e reclamava por ter que se afastar.

Suspirei.

Mas morreria feliz, sabendo que nunca havia perdido seu coração e que sim, nosso amor era capaz de curar toda e qualquer marca.

*****

A tempestade de neve ficou mais forte assim que pusemos os pés na varanda.

Edward nos abriu a porta antes de batermos. Seu queixo estava tenso, mas ele não olhou para mim. Ele fitava algum ponto da noite escura e fria atrás de nós.

Nessie abaixou os olhos e ajeitou constrangida uma mecha de cabelo emaranhado atrás da orelha.

– Entrem, antes que congelem. – Edward disse com um sorriso nada genuíno no canto de sua boca, tentando diminuir o desconforto dela.

Nessie entrou de cabeça baixa, sem responder.

Eu a segui cautelosamente e pela visão periférica, analisava todos os movimentos de Edward para o caso de estar planejando alguma traição, porque por mais que se importasse com a felicidade de Renesmee, ele era antiquado demais para aceitar a forma que nosso relacionamento evoluiu.

Mas Edward apenas fechou a porta, com o mesmo sorriso sem humor.

A sala estava vazia, exceto por Bella que estava sentada na poltrona próxima à lareira.

Ela olhou para nós dois por um momento e então sorriu para Nessie.

– Filha, por que não sobe e toma um banho. Precisamos conversar com Jake.

Franzi a testa para o pedido de Bella, pois ambos sabíamos que ela ouviria, mesmo estando no andar de cima.

Renesmee me fitou e me deu um sorriso fraco tentando me deixar tranquilo quanto à conversa. Eu dei de ombros.

Ela revirou os olhos e subiu as escadas correndo.

Sorri, enquanto sentava no sofá próximo a Bella.

– Espero que tenha trazido uma aliança desta vez... – Edward murmurou entre dentes, se prostrando ao lado da poltrona de Bella.

Droga! – pensei.

– É, parece que não. – ele disse, olhando para a esposa que parecia sem jeito.

– Você sabe quais são minhas intenções com ela. Uma aliança é apenas um acessório e Renesmee não se importa com essas coisas. – respondi. – Sem contar que eu tinha pressa para vir.

Uma aliança era algo muito pequeno e insignificante para representar a intensidade do que eu sentia por ela.

Bella olhou para Edward com um olhar persuasivo e tocou-lhe o braço. Ela mais do que ninguém entendia que quando se amava alguém, uma aliança era insignificante.

Me casar com Renesmee era um sonho, que eu pretendia realizar logo. Mas nossos sentimentos eram mais importantes que meras formalidades.

– Edward, amor, deixe que eles resolvam isso no tempo deles. – disse a ele com voz doce e então olhou para mim, um pouco menos amorosa. – E eu espero que seja logo.

Sorri para minha segunda melhor amiga.

– Com certeza! – disse balançando a cabeça.

Bella assentiu. Edward suspirou mais aliviado.

– Mas antes, preciso de uma última coisa. – eu disse.

Bella me olhou curiosa. Edward trincou os dentes.

– Mãe, pai, gostaria de lhes pedir vossas bênçãos. – provoquei.

– Mais uma dessa e dormirá lá fora, na varanda! – ele sibilou.

Ri alto e pude ouvir os sinos do riso de Nessie no andar de cima.

*****