Sun Of Earth (Jacob+Renesmee) escrita por Cláudia Ray Lautner


Capítulo 10
Sortuda




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*****

Lucky
Jason Mraz feat Colbie Caillat
(clique aqui para ouvir)

Você consegue me escutar? Estou falando com você!
Do outro lado da água, Do outro lado do profundo oceano azul.
Sobre o céu aberto, oh nossa! Meu bem estou tentando!

Garoto eu te escuto, em meus sonhos.
Eu sinto o seu sussurro do outro lado do mar.
Eu te guardo comigo em meu coração.
Você faz as coisas fáceis quando a vida fica difícil.

Sortuda, pois estou apaixonada pelo meu melhor amigo.
Sortuda por ter estado onde estive.
Sortuda por estar voltando pra casa novamente.

Não sabem como demora
Esperar por um amor como esse
Toda vez que dizemos adeus
Queria que nos beijássemos novamente
Vou esperar você, eu juro que vou esperar.

Sortuda, pois estou apaixonada pelo meu melhor amigo.
Sortuda por ter estado onde estive.
Sortuda por estar voltando pra casa novamente.

Sortudos por estarmos apaixonados de todas as maneiras.
Sortudos por termos ficado onde ficamos.
Sortudos por está voltando para casa algum dia.

E então estou velejando pelo mar.
Para uma ilha aonde vamos nos encontrar.
Você ouvirá a música preencher o ar.
Vou colocar uma flor em seu cabelo.

Apesar da brisa das árvores.
Se moverem tão graciosamente
V
ocê é tudo que vejo.

Enquanto o mundo continua girando.
Você me abraça forte aqui, nesse instante.

Sortuda, pois estou apaixonada pelo meu melhor amigo.
Sortuda por ter estado onde estive.
Sortuda por estar voltando pra casa novamente.

Sortudos que estamos apaixonados de todas as formas.
Sortudos por termos ficado onde ficamos.
Sortudos por estar voltando pra casa novamente...

*****

O vento acompanhado de uma leve garoa, batia em meu cabelo, enquanto eu colocava a cabeça para fora da janela do Rabbitt vermelho. Fechei meus olhos, inspirando cheiro da terra molhada, do musgo, da floresta que passava por nós rapidamente.

Era quase crepúsculo, mas o sol ainda lutava para lançar sua luz através das nuvens espessas antes de se pôr. Seus raios esparsos brilhavam nas minúsculas gosta de água que flutuavam no ar, transformando tudo em minha volta de uma forma mágica.

– Vai cair pra fora do carro! – Jacob disse brincalhão, seu riso ecoando dentro do veiculo.

Ri com ele e voltei para dentro, passando a mão no cabelo úmido, ajeitando as mechas teimosas que haviam escapado do rabo de cavalo. Seus olhos estavam brilhando de empolgação, um sorriso maroto estampado em seu rosto. Só de olhá-lo eu corava.

– É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha! – respondi a provocação, enquanto me inclinava para mexer no rádio a procura de algum som que me distraísse dele, apesar de ser praticamente impossível. Encontrei uma estação que estava tocando uma música pop e deixei ali.

Encolhi as pernas, colocando os pés em cima do banco, abracei meus joelhos e fiquei movendo a cabeça no ritmo da música, tentando permanecer calma.

Estávamos a caminho de La Push, para um uma espécie de sarau Quileute, com os meninos da reserva. Os anciãos estariam lá também, mas nada de muito sério. Também era uma despedida de solteiro dupla, para Kim e Jared que se casariam dali a dois dias.

Eu estava muito nervosa. É claro que todos na reserva sabiam que agora eu e Jake estávamos junto, até porque não havia nada que Jacob pudesse esconder de seus companheiros de matilha. Mas eu não havia visto nenhum deles ainda. Isso iria ser constrangedor, com toda a certeza.

Três semanas se passaram e não houve mais nenhum imprevisto com a criatura que me perseguiu ou "Filho da Lua", como minha família chamava. Ninguém mais cruzou com algum rastro, nem soubemos de nenhum ataque de animal fora do comum nas redondezas.

É claro que continuávamos em alerta. Ninguém saia sozinho para caçar e os lobos estavam em constantes vigilâncias por suas terras.

Eu sabia que era arriscado, mas passada uma semana de total tensão, eu decidi não interromper minha vida nem a de Jake, por causa de uma ameaça que aparentemente não existia mais.

Pelos visto o Filho da Lua, o lobisomem tradicional, a criatura ou o que quer que fosse, realmente havia deixado o continente.

Difícil foi convencer meu pai a me deixar vir a La Push, mas ele ficou mais tranqüilo quando percebeu que eu estaria na companhia de mais de uma dúzia de lobisomens. E que eu e Jake, estaríamos próximos aos olhos de águia de Billy.

Mas não me importava. Nada poderia me atingir, desde que eu estivesse com Jacob.

Nem a criatura desconhecida, nem o Johan e sua possível prole de semi-vampiros, poderiam me assustar quando estava com ele. E esse era o sentimento mais egoísta do mundo. Mas eu não podia evitar.

Nunca em meus mais lindos sonhos, eu teria sonhado que minha vida seria tão incrível assim ao lado dele. E o melhor é que continuávamos os melhores amigos. A relação com ele era fácil como respirar.

Sorri ao pensar que já estávamos juntos com um casal, há mais de três semanas. O tempo parecia voar quando eu estava com Jacob.

– Pelo seu sorriso, deve estar pensando em algo pervertido. – ele me provocou sem tirar os olhos da estrada.

– Na verdade, eu estava pensando em você. – eu disse, rindo da expressão que ele fez.

– Não disse que era perversidade! – ele riu , se esquivando do beliscão que tentei dar em suas costelas.

– Para! Não é nada disso. Só estava lembrando que estamos há três semanas juntos.

– Eu sei. – ele respondeu sem piscar, ainda sorrindo.

Que coisa! - eu pensei. Imaginava que homens eram desligados com datas, mas Jake lembrava.

Ele estacionou em frente à velha cabana vermelha do Billy. A garoa havia cessado, percebi com alegria. Ia ser uma gostosa noite ao ar livre, sem tensões ou preocupações.

– É bom mesmo que esteja contando! – brinquei ainda emocionada por ele ter lembrado. – Porque quando chegarmos a um ano, vou querer meu presente!

– Puxa! Um ano? Achei que você ia querer presentes com mais freqüência. – ele fingiu espanto arregalando levemente os olhos.

Era sempre assim com Jacob. Sempre me fazendo rir. Essa era a vantagem de estar apaixonada por meu melhor amigo.

Arfei surpresa quando ele levou a mão no bolso para retirar um pequeno embrulho.

Seus olhos brilhavam. Jake pegou minha mão e depositou ali o saquinho de algodão trançado.

– Jake! – arfei enquanto lutava com as palavras. Isso não era justo! Eu não havia trazido nada para ele.

– É só uma lembrança. – ele deu de ombros. – E não, eu não quero que você me compre nenhum presente!

Revirei os olhos. É claro que ele sabia que eu estava pensando nisso!

– Mas não é justo! – reclamei fazendo beicinho. – Eu também quero te dar um presente.

Ele segurou meu rosto e me beijou.

– Quantas vezes terei que te dizer que você é meu presente?- ele perguntou mostrando a fileira de dentes perfeitos e soprando seu hálito quente em meu rosto.

Tomei a iniciativa e beijei o canto de sua boca, antes de beijar-lhe os lábios cheios.

– Não vai abrir?- ele perguntou com entusiasmo.

Mas ele estava enganado se pensava que tinha conseguido me distrair.

– Vou sim. Depois que você me prometer que irá receber de bom grado um presente meu. – lancei meu desafio.

Ele me olhou sério por um momento. Mas logo riu e me abraçou.

– O que eu nego para você? Tá, tudo bem. Pode me dar a porcaria do presente! – disse de bom humor.

Me segurei para não dar um grito histérico, tamanha era a satisfação. Ele nunca me deixava dar nada para ele. Limitei-me a distribuir-lhe diversos beijos no rosto e em seguida em sua boca. Ele retribuía. Sabia exatamente o que dar a ele!

–Obrigada, obrigada! – repetia pra ele entre risos.

– Tá bom! Agora abre seu presente. – ele me repreendeu sorrindo.

Me endireitei no banco e peguei o embrulho, com a curiosidade me consumindo.

Puxei a pequena fita de couro que amarra o embrulho e o laço de desfez revelando o conteúdo.

Uma onda de ternura invadiu meu peito quando identifiquei o que era.

Era um pingente de um minúsculo lobo entalhado na madeira. A cor era de um marrom incrível que combinava com a pele de Jacob.

Senti meus olhos marejarem. A delicadeza da peça me emocionou da mesma forma que o gesto. Ele não poderia ter me dado nada melhor.

Olhei para Jacob que estava em expectativa, esperando eu dizer alguma coisa. Como poderia colocar em palavras, agradecimentos para um gesto tão lindo, tão perfeito?

Afaguei seu rosto e minha mão repousou em seu pescoço. Deixei que ele visse através do meu dom, a emoção que estava sentindo.

Ele sorriu satisfeito e pegou minha mão.

– Sabia que você ia gostar! – ele declarou presunçoso.

Mostrei a língua para ele.

– Eu gosto de tudo que você faz!

Ele beijou meu rosto e puxou minha mão esquerda, que estava a minha pulseira trançada colorida, a mesma que ele havia me dado no meu primeiro Natal, quando eu ainda era pequena.

– Posso? – ele perguntou levantando as sobrancelhas.

– Claro. – respondi num sussurro.

Ele encaixou entre as tramas a pequena argola que sustentava o pingente. Quando acabou, beijou os nós dos meus dedos.

– Lindo. – eu sussurrei observando o contraste da pele dele com a minha.

Ele deu de ombros, pensando que eu estava falando do pingente.

– É só uma lembrança. – repetiu - Para que você lembre-se de mim quando eu não estiver por perto.

– Como se eu precisasse de um mini-lobo para me lembrar de você. – revirei os olhos. - Já está em todos os meus pensamentos.

Ele estreitou os olhos.

– Está é uma afirmação muito comprometedora Renesmee Cullen. – provocou contendo um sorriso.

– Porque? Eu não estou nos seus? – levei à mão a boca e arregalei os olhos fingindo choque.

Ele riu e me puxou.

– Está nos meus pensamentos, muito antes do que você imagina. – sussurrou antes de colar os lábios nos meus.

Seu hálito quente invadiu meus sentidos. Minha garganta ardeu em reposta ao calor dele, mas não me importei.

Jake acariciou minhas costas, enquanto eu envolvi seu pescoço e nos separamos apenas quando ele precisou de ar.

– Vem. Todos devem estar esperando. – ele disse.

Soltei um suspiro resignado enquanto ele saia e dava volta para me abrir a porta. Sempre que as coisas esquentavam um pouquinho, ele fugia. Não sei se por medo de mim, de Edward ou dele mesmo.

Desci do carro para a noite fria e logo me aconcheguei em Jacob. Ele estava apenas com uma camiseta verde desbotada de algodão e uma bermuda jeans escura, mas não parecia sentir frio.

– Billy vai conosco?

– Não, ele já está lá. – ele disse e então olhou pra mim. - Sabe que todos já sabem não é? – ele perguntou, enquanto passava o braço por meus ombros.

Abaixei o rosto, para que ele não pudesse ver o quanto isso me incomodava.

– Claro. Poderia ser diferente?

Ele balançou a cabeça.

– Claro que não. Mas percebi que você está nervosa. Você se preocupa demais Nessie.

Suspirei.

– Só queria que você me dissesse o que estão pensando. Você sabe, sobre nós...

Ele olhou para frente, pensando um pouco.

– Sem edições, por favor. Você e minha família me poupam demais! – resmunguei.

Ele riu.

– Nessie, todos te adoram aqui... – ele calou-se quando fiz uma careta. - Ta bom, nem todos, mas a grande maioria. E sempre te receberam bem. Até mesmo Paul e Jared.

Fiquei em silencio. Nunca disse para Jake a forma que Paul me tratava, quando ia à casa de Rachel. E nunca diria. Não queria desentendimentos por minha causa.

Ele tomou meu silencio como consentimento e continuou.

– Então, para eles está sendo uma grande notícia. É como se todos já esperassem que isso acontecesse.

Corei com essa possibilidade. A minha ligação com Jacob é assim tão evidente?

– E eu não quero te assustar, - continuou. - mas essa reunião de hoje a noite é uma espécie de comemoração, por estarmos juntos. Além é claro do casamento de Kim e Jared.

Paralisei em meu lugar quando ele disse isso.

– Como assim? – perguntei num fio de voz.

Não dava para acreditar! Droga! Iria morrer de vergonha.

– Não se preocupe! – Ele me deu um sorriso tranquilizador. – Ninguém vai ser indiscreto.

– Tem certeza que é uma boa ideia?

Ele me deu um beijo na testa.

– Claro que sim! Eu já disse. Você se preocupa demais. – ele puxou minha mão para continuarmos andando.

Como não me preocupar? Estava prestes a entrar em uma roda enorme de familiares do meu namorado. Tá certo que eu já conhecia todos, mas isso não me impedia me sentir como se estivesse indo para uma espécie de circo onde eu era a atração principal.

Olhando ao norte, na direção da praia, pude ver o clarão laranja da fogueira que os jovens Quileutes passaram a tarde arrumando. Não havia sido fácil considerando que é quase impossível se conseguir madeira seca por aqui e ainda havia chovido quase a tarde toda. Também já conseguia ouvir as conversas animadas e a música.

Fomos andando até lá com calma, sem pressa.

– E como andam as coisas com Leah? A sósia boazinha dela ainda está por aqui?

Ele riu alto.

– Claro, claro. Jhon faz muito bem à ela. Ele provou ter boas intenções afinal.

Sorri com genuína felicidade. Como era bom ver finalmente as coisas dando certo para Leah. Isso provava a minha tese de que a rejeição havia feito muito mal a ela e que agora estava se redescobrindo.

– E Sam não está mais paranoico?

– Não. Mas também não é todo amores com o cara. Ele aprendeu a tolerar.

Rapidamente passou pela minha cabeça algo extremamente sarcástico para dizer, mas fechei minha boca. Não era da minha conta.

As arvores ficaram, mas espaçosas uma entre as outras e avistei a praia, e a enorme fogueira.

Os garotos estavam jogando futebol, enquanto os mais velhos e as mulheres estavam em volta do fogo se aquecendo. Rachel estava sentada em uma espreguiçadeira, enrolada num cobertor parecendo uma enorme trouxa de roupas, com Paul ao seu lado para lhe aquecer.

Quando saímos da floresta, todos os olhares se voltaram para nós, os humanos com alguns segundos de atraso. E o silencio dominou.

Puxa! Todos estavam ali. Desde Billy em sua cadeira de rodas e pelo visto o único ancião ali, até os mais novos Collin e Brady. Até a pequena Claire estava ali, totalmente encapotada com um casaco enorme, fazendo castelos na areia.

O silêncio estava se tornando quase esmagador. Pareciam que estavam todos congelados, ao nos olhar. Alguns olhares de contentamento e outros um pouco mais hostis. Não precisava dizer que os últimos vinham de Paul e Jared.

Apertei mais a mão de Jacob e me aproximei mais dele, me arrependendo do momento que decidi vir para Lá Push.

Rachel olhou em volta, retirou as mãos do cobertor e as bateu uma na outra, uma vez.

– Então, quem quer marshmallows? - ela gritou, mais alto que o necessário, tirando todos do transe.

Todos voltaram ao que estavam fazendo antes de aparecermos.

Jacob me puxou para que seguíssemos até a fogueira.

Murmurei um “boa noite” quando passei por Billy.

Então uma criaturinha pequena e magricela de cabelos escuros, abraçou a minha cintura com as mãos geladas.

– Nessie! – Claire exclamou, inclinando a cabeça para trás para me olhar. – Como você está linda!

– Claire! Você é que está! – disse enquanto me abaixava para depositar um beijo nas bochechas redondas.

– Sabia que fiz oito anos antes de ontem? – ela me questionou, com olhos sapecas. – Mas ganhei poucos presentes. – ela reclamou fazendo beicinho.

Jacob riu da pequenina esperta.

– Não! Jura? – entrei na brincadeira. Eu havia me esquecido do aniversário dela. – Mas não esquenta, porque eu tenho um monte de vestidos lá em casa, de quando eu tinha a sua idade. Eu posso trazer pra você, com a condição de ganhar um pedaço de bolo!

Ela deu um gritinho agudo.

– Claro que sim! Dou quantos pedaços você quiser! – ela gritou pulando em minha volta e voltou a me abraçar. – Obrigada Nessie! Vou contar para o Quil! – ela disse, já correndo para onde Quil estava jogando bola com os meninos.

– Ei, eu não ganho um abraço?! – Jacob gritou rindo.

Claire apenas fez um sinal de “espere” com as mãos.

Dei uma risadinha baixa de choque observando Claire se afastar, lembrando que ha pouco tempo nós costumávamos brincar juntas. E agora eu já estava na fase adulta enquanto ela ainda era uma criança. Algumas coisas em minha natureza vampiresca ainda me assustavam.

Balancei a cabeça enquanto Jake me puxava em direção a minha melhor amiga e agora cunhada. Em tese.

Me sentei em um tronco do outro lado da Rachel, que estava parecendo que ia explodir de tão grande. Ela poderia dar a luz a qualquer momento, mas era muito teimosa e não queria ir para o hospital antes da hora.

Jake se sentou no mesmo tronco ao meu lado.

– Como está se sentindo? – perguntei enquanto segurava sua mão.

Ela me deu um sorriso superficial e repuxou um pouco a manta que a cobria.

– Não muito bem. Mas não queria perder a despedida de Kim e Jared. Então, estou aqui me esforçando para não vomitar.

Balancei a cabeça em reprovação.

– Não deveria ficar aqui no frio. – Jacob criticou. Então olhou para Paul. – Deveria leva-la para dentro.

Paul bufou.

– Como se eu já não tivesse tentado! – ele reclamou, mas eu via em seus olhos a imensa preocupação que sentia. – Boa sorte para você, se quiser tentar!

– Parem de serem tão mandões! - ela reclamou enquanto fechava os olhos e se recostava. – É só um pouco de mal estar.

Em segundos ela estava ressonando. Devia estar bem aquecida, pois tinha uma semi-vampira com temperatura elevada de um lado, um lobisomem do outro e uma enorme fogueira na frente.

Paul olhou para mim e Jacob e um sorriso sarcástico cruzou seu rosto.

– É um dejavú Jacob? - ele perguntou fazendo o rosto de Jake ficar vermelho de ira.

Senti os dedos dele tremerem e o vi cerrar os punhos. Mas então, olhou para Billy.

– Onde está Sam? – Jacob perguntou para o pai, enquanto vasculhava a enorme caixa térmica de comida. Seus braços ainda estavam tensos.

– Ele está com Embry fazendo ronda. Por precaução. – ele respondeu com sua voz de trovão. Os olhos estreitos de Billy para Paul eram críticos.

Jake parecia que ia dizer alguma coisa, mas acabou dando de ombros.

Fiquei intrigada por uns instantes com isso, mas resolvi deixar passar e olhei pela primeira vez em nossa volta.

Kim e Jared estavam mais distantes sentados em um troco avulso, trocando carinhos e sorrisos. O momento era tão intimo que corei só de olha-lhos. Não pareciam dispostos a comemorar com mais ninguém.

– Argh! – ouvi Brady reclamar. – Alguém arranje um quarto pra eles! – gritou em voz alta, fazendo Kim corar e todos os outros explodirem em gargalhadas, exceto Rachel que roncou.

Peguei um espeto de marshmallow que Jake me ofereceu, enquanto ele se ocupava em disputar cachorros-quentes com Quil e Collin. Me perguntava para onde ia toda essa comida que eles comiam? Eram todos atléticos, mas comiam numa noite o suficiente para alimentar uma pequena família americana durante uma semana.

Fiquei rindo da cena, até um arrepio familiar correr por minha espinha. Olhei em volta por reflexo e encontrei o olhar de um rapaz sentando em um tronco ao lado de Leah Cleawater. Seu queixo estava travado, com uma tensão contida.

Seus traços morenos, cabelos negros e altura descomunal, não deixavam dúvidas de que aquele era Jhonatan Uley, irmão de Sam. Além é claro de estar ao lado de Leah.

Leah me fitou, sem nenhuma hostilidade. Era bom ver que ela permanecia com seu novo gênio. Tocou o braço de Jhonatan e sua expressão relaxou de imediato quando ele olhou o rosto dela. Ela sorriu pra ele e Jhon devolveu o sorriso em sincronia. Então começaram a conversar em voz baixa e pude entender muito pouco do que diziam. Mas graças aos céus, eu não era o assunto.

Me senti mal invadindo a privacidade deles e tentei não ouvir a conversa, me concentrando nas conversas paralelas dos outros em volta da fogueira.

– Olha só quem está aqui! – Seth gritou bem no meu ouvido e me deu um abraço quente nos ombros.

Ri do jeito espontâneo dele. Ele parecia um menino apesar de seus vinte e poucos anos.

– É bom ver você também Seth! –eu respondi entre risos.

Jacob levantou e puxou-o pela camiseta, para que ele me soltasse.

– Tá, chega! – ele brincou – Vai procurar outra garota para azarar! Esta já tem dono! – ele riu enquanto prendia Seth pelo pescoço.

Ficaram nesta luta até rolarem na areia. Era muito divertido e emocionante ver como eles eram uma grande família.

Eu estava certa o tempo todo. Ele pertencia a este lugar e eu nunca seria capaz de pedir-lhe para abandonar o seu povo. Até mesmo em meus momentos de maior egoísmo, não poderia pedir isso a ele.

Seth conseguiu escapar dele, voltando correndo para o campo de futebol improvisado e Jacob veio até mim ofegante.

– Quer dar uma volta na praia? – seus olhos brilhantes e seu sorriso enorme me encaravam esperando.

Como dizer não a ele? Balancei a cabeça em afirmação, e ele puxou minha mão para que eu pudesse me levantar. Foi como se uma corrente elétrica me atingisse.

Minha pele formigava em contato com a dele.

Fomos andando de mãos dadas pela a areia.

As nuvens estavam escuras, mesmo depois de ter chovido a tarde toda, mas não parecia que choveria agora. Elas estavam lá apenas para esconder a lua e as estrelas de mim.

O mar estava tranqüilo e a brisa gelada que vinha dele e bagunçava meu cabelo, era agradável estando ao lado de quem estava.

– Jared e Kim estão só carinhos hoje. – cometei com um sorriso e vi ele fazer uma careta.

– Melosos demais. – ele reclamou e me deu um olhar maroto.

Dei um soco leve em seu ombro.

– Não acha que somos melosos aos olhos dos outros? – perguntei enquanto me aconchegava mais nele.

– Claro que não! Somos um casal discreto. – ri dele. Com certeza não por vontade dele, mas por minha timidez.

Olhei de novo para a água turva e as palavras de Paul minutos atrás voltaram em minha mente.

– O que Paul quis dizer com dejavú, Jake? – perguntei receosa e apreensiva com a reação dele, tendo em vista como ele agiu com o cunhado.

Como previsto, seu queixo ficou tenso e o ouvi trincar os dentes.

Era óbvio, que Jacob já havia trazido outra garota à reserva. Senti meu coração ficar pesado com a possibilidade que estava diante de mim.

Mas não havia como fugir. Eu queira saber. Eu precisava saber. Mesmo que isso me machucasse.

Mas como sempre, ele ficou calado.

– Jake? – sussurrei olhando para seu lindo rosto. – Pode me dizer qualquer coisa. Sabe disso, não sabe? – perguntei repetindo as palavras dele de semanas atrás.

Seus olhos ficaram momentaneamente tristes, mais ele escondeu isso rápido e me deu um sorriso.

– Ele só estava lembrando de uma situação parecida que aconteceu muito tempo atrás. Nada importante. – me garantiu num sussurro tranquilizador.

Mas ele não me enganava. Essa era a voz que ele usava quando estava querendo esconder algo de mim.

– Estava lembrando de alguma garota de seu passado obscuro, do qual você nunca fala? - disse com humor na voz tentando atenuar um pouco a minha acusação.

Seus olhos tiveram novamente aquele lampejo de tristeza, que ele novamente escondeu com um sorriso.

– Isso. – ele me disse, e eu senti como se uma fissura estivesse se abrindo diante de mim.

Respirei fundo uma vez. Eu precisava saber – era o que eu repetia a mim mesma.

– Quer me contar? – perguntei num fio de voz.

– Sim. – ele me disse com seus olhos profundos sondando a minha alma. – Mas não hoje. Hoje é uma festa. Estamos comemorando e não quero você triste por qualquer motivo.

– Promete que me conta em breve?

– Prometo. Logo após o casamento de Kim e Jared eu lhe contarei tudo que quiser saber, sobre a droga do meu passado. – ele me deu seu sorriso que me tirava o fôlego.

Fiz um muxoxo.

– Não fale assim. Nada que vem de você tem pouca importância.

Ele balançou a cabeça.

– Tudo em minha vida só tem importância, depois que você entrou nela.

Sorri com isso e dei-lhe um beijo no rosto. Meu peito aquecido com suas palavras. Ele tinha razão. Não tinha importância. Nós, aqui e agora era o que importava.

Mas eu não conseguia expulsar a curiosidade mórbida da minha cabeça. A única coisa que eu podia fazer era esperar. Sem pressa.

Nós voltamos a caminhar de mãos dadas, sob o céu carregado.

Meus pés começaram a ficar pesados na areia e eu tirei meus sapatos e meias. Um calafrio percorreu novamente meu corpo quando meus dedos pisaram na areia fria e molhada.

Jake percebeu e passou o braço por meus ombros, esfregando meu braço. E a corrente elétrica estava ali de novo.

Esqueci todo frio que sentia, toda a preocupação com a criatura, toda a curiosidade sobre seu passado, quando olhei seu rosto. Seus olhos eram duas chamas vivas e por sua boca passava um ofegar rápido.

– Sente isso? – ele me perguntou num sussurro.

Não conseguia dizer nada. Apenas movi a cabeça. Claro que eu sentia.

Não conseguia pensar em nada, com ele tão próximo exalando seu calor confortável e estimulante ao mesmo tempo. Ele me atingia em ondas que faziam meu coração disparar.

As borboletas no meu estomago se agitaram como nunca.

Segurei seu rosto e ele encostou a testa na minha, seu hálito se misturando com o meu enquanto apenas desfrutávamos dessa sensação.

Fechei meus olhos e lentamente ergui meu queixo de forma que o meu nariz roçava no dele.

Suas mãos desceram por meus ombros e foram deslizando por meus braços até chegar em minhas mãos, as quais ele segurou e levou a seu peito e eu pude sentir o bater descompassado do seu coração.

Eu sabia que ele estava hesitando. Jacob tinha medo de me magoar ou desrespeitar de alguma forma. Dizia que eu me preocupava demais, mas era ele o primeiro a se afastar quando eu só o queria perto.

Eram as dúvidas sobre meus sentimentos e a sobre como todos reagiriam e isso que o mantinha longe. Só agora eu podia perceber.

Eu não iria deixar isto nos afastar, nem intervir em nossa vida juntos. Eu já era adulta apesar de meu tempo neste mundo ser curto, minha mente e corpo estavam completamente desenvolvidos, a ponto de saber exatamente o que eu queria. E o que era certo e errado.

E minha vida com Jacob era mais do que certa. Meus sentimentos por ele talvez fossem a coisa mais certa desse mundo louco em que vivíamos, ambos afetados pelo sobrenatural.

Com a convicção instalada em meu peito e minha alma, terminei a distancia entre nós e colei meus lábios nos dele. Jake abriu a boca e eu pude sentir o calor de sua respiração na minha língua. Envolvi com ternura seu pescoço, enquanto ele alcançava minha cintura para um abraço apertado.

Fomos interrompidos pelo ensurdecedor uivo de um lobo, ao sul.

Jacob me soltou de imediato e olhou com olhos arregalados para a direção do som.

– É o Sam! – ele disse entre dentes.

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Notas finais do capítulo

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