Pov. Justin

– Nós temos que ir com Demi. - falei enquanto a observava seguir calada os policiais.

– Pra que? Pra irmos pra casa com um brinde de uma bala entranhada em nosso corpo? Se ela quer morrer, ela que morra sozinha. - Miley falou se encostando no carro e tirando um cigarro da bolsa.

– Mas e se ela precisar de ajuda. E se Selena estiver dependendo de nós?

– Eles são policiais Justin. - ela falou soltando a fumaça abaçanada de sua boca.

Me conformei com a ideia de que eles conseguiriam salvar Selena, mas algo me inquietava. Eu sentia que precisava estar lá, junto de Demi, pra salva-la.

Pov. Selena.

– Estamos fugindo ? - perguntei enquanto tentava focar em outra coisa, além da minha imensa dor de cabeça.

Christian deu uma risada bêbada porém baixa, e se virou pra mim. - Acha mesmo que vou ficar aqui esperando os policiais me pegarem? - ele continuou me puxando pelo estádio. - Eu tenho o lugar perfeito pra nós dois.

Estremeci. E se os policiais não conseguissem me salvar? E se eu ficasse lá, em um estado de quase morte, com Christian podendo fazer qualquer coisa comigo? Senti um calafrio na nuca, que logo foi interrompido pelos gritos dos policiais.

– ALI! EU VI ALGUMA COISA! - gritava um.

– Merda. Filhos de uma vadia. - Christian falou correndo dentre os bancos.

É minha oportunidade, pensei. - AQUI, POR FAVOR! AQUIIII! - gritei. Christian se virou e seus olhos me fuzilaram.

O barulho da bala atravessou a barreira do som e acertou em cheio a perna de Christian. Aproveitando-me da situação, me desgarrei e tentei correr. - FILHA DA MÃE! - ele gritou se contorcendo no chão. Eu podia enxergar os policiais ao longe, e enquanto corria, ouvi novamente o barulho da bala.

– AHHHHHH! - gritei enquanto caia no chão. - Voc-você atirou em mim? - vociferei ao ver o sangue em abundância em minha perna. - SOCORRO POR FAVOR!!! - gritava na esperança dos policiais chegarem logo.

Christian se arrastou até mim, e inacreditavelmente conseguiu se levantar e me arrastar para debaixo dos bancos de novo. - Falei pra não brincar com fogo, eu te avisei! - ele vociferou. Pude ver a dor em seus olhos causada pelo buraco em sua coxa misturado com a raiva doentia que estava sentindo de mim. - EU TE AVISEI! - ele gritou.

– Não dá mais, Christian. Já te pegaram. - minha respiração estava ofegante, e a dor que eu sentia nas pernas era simplesmente incomparável com qualquer outra dor que eu já tenha sentido. - Eles vão te pegar. E e-eu vou sair viva.

Christian andava de um lado pro outro, com a arma apoiada em sua cabeça. Em um movimento súbito, ele parou, como se cogitasse algo em sua mente. - Mas se eu fizer todo esse trabalho deles não valer a pena. Fazer eles correrem de um lado pro outro em um estádio vazio, em vão? - ele falou sorrindo.

– O que vai fazer, me matar? - perguntei irônica. Mas a resposta veio no movimento dos braços musculosos de Christian. A arma metálica refletia a pouca luz que havia. - O que? VOCÊ VAI ME MATAR MESMO? SOCORRO! - gritei desesperada.

– Quando os policiais chegarem aqui, você vai ser um cadaver com um vestido roxo. - ele riu. - Vamos fazer a contagem regressiva?

Pude sentir todos meus pensamentos congelarem e eu não sabia o que fazer. Meus olhos fecharem automaticamente, como se meu corpo já estivesse preparado pro que vinha a seguir.

– No três, tá chica? - ele falou rindo.

– 1...

Nada de Justin...

– 2...

Sem mais Demi...

– e 3!

O barulho da arma, foi alto porém um pouco abafado. Senti como se o mundo todo tremesse. Morrer é fácil. Fácil demais. O cérebro para de funcionar, o que faz o coração parar de bater.

Mas no sentido literal, a morte pode ser muito mais complexa. Acabar com um corpo, enquanto a alma transita calmamente pra fora dele. De alguma forma, a alma fica viva. Então de certa forma... não morremos.

Nunca tive medo da morte. Tinha medo de como iria morrer. Deixando problemas pra trás. Deixando pessoas tristes. Tinha medo principalmente, da dor que iria sentir. Mas morrer... é mais fácil que isso. É fácil demais.

Enquanto meu corpo caia no duro chão, mais um tiro. Dessa vez mais alto, e espontâneo.

Eu estava morrendo, pra que Christian iria me atirar de novo?

Foi quando, nos ultimos momentos em que minha visão capturava alguma coisa, eu vi. Christian caía, lentamente no chão, assim como eu. Em questões de segundos.

2 tiros.

2 vítimas.

Enquanto Christian ia caindo, um par de olhos grandes e escuros me olhava arregaladamente. Eu via tudo, como se o mundo estivesse mais lento. A arma caindo da mão do par de olhos escuros. Christian batendo o rosto no solo. O sangue escorrendo de mim. Minha boca precisa soltar seu ultimo suspiro. Minha voz, precisava marcar presença pela ultima. Com a voz fraca e rouca, dei meu ultimo sinal. - Dem-demi? - perguntei antes que meus olhos se fechassem.

Os cabelos negros, e bochechas redondas. E meus ouvidos captaram um ultimo som, para que finalmente pudesse descansar.

– Estou aqui, Sel.