Transtorno De Boderline escrita por Liz03


Capítulo 4
ICDA


Notas iniciais do capítulo

Oi gente, queria dizer algumas coisinhas:
1) Como vocês perceberam temos algumas coisas relacionadas à medicina na fic. Sobre isso queria dizer que para escrever eu dou uma pesquisada no google (leio Wikipédia e até dou uma passada de olho em alguns artigos), mas como meu conhecimento é apenas esse provavelmente cometi ou cometerei alguns deslizes. Se você é um médico, desculpe. Outra coisa, talvez se você não tem um estômago forte não seja uma boa ideia colocar imagens no google para ver as doenças, talvez sejam imagens fortes, fica a dica.
2) Eu me inspirei em alguns livros, séries, filmes, músicas, pessoas, eu, você, nós...enfim...
3) A pedidos: Biscoitinho da sorte. Funciona assim quem comentar vai ganhar um trecho aleatório de um poema, música, livro.... o/



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A Síndrome de Riley-Day, ou a sigla ICDA é uma desordem do sistema nervoso autônomo que afeta o desenvolvimento e a sobrevivência dos neurônios sensoriais, simpáticos e parassimpático no sistema nervoso autônomo sensorial, resultando variáveis sintomas incluindo: insensibilidade à dor, incapacidade de produzir lágrimas, fraco crescimento, e pressão arterial lábil (hipertensão episódica e hipotensão postural).

PAN

Depois do almoço eu ficaria na urgência, recepcionando os pacientes mais graves, tomando as primeiras providências e, enfim, encaminhando-os para os devidos especialistas. A urgência é um lugar meio aflito, as pessoas chegam desesperadas e geralmente com dor, quando já chegam apagados aflitos ficam seus acompanhantes. Mas é divertido, a adrenalina e tal. Sem falar que às vezes é inevitável não rir. Como o homem que chegou sem parte do dedo depois de ter apanhado da esposa (aliás fica o registro, muitos homens chegam com alguma parte faltando depois de terem chegado em casa tarde da noite – agradeçam a Deus quando essa parte é o dedo....). E muitos casos se seguiram, afinal era sexta-feira e o pessoal adora se acidentar nas sextas-feiras.

Cheguei em casa às 19 horas. Tomei um banho, respondi mensagens, pedi uma pizza gigante, como metade dela enquanto ouço Jeff Bruckley . Liguei para o Gustavo, mas o celular estava desligado, o que era comum sempre que ele fazia hora extra na loja. Fui ler algo antes de dormir e tentar descobrir como eu acertaria meu sábado com três compromissos inadiáveis : Amigos, família e noivo. Bem, posso ficar com a Zoe e o Bê de 16 às 17:30, vou correndo para a casa dos meus pais receber a Carol que volta de Paris depois de estudar moda e peço para o Gustavo me buscar lá, dai a noite é nosso. Com o planejamento feito posso, enfim, pegar no sono. No sábado pela manhã eu deveria me exercitar, ir à academia, geração saúde (palmas frenéticas do Doutor Dráuzio Varella). Mas ao invés disso eu fico de pijama até a hora de me arrumar para a sair, vejo TV e o pc, e tomo café da manhã com a outra metade da pizza de ontem e nescau (com uma porção extra de leite em pó que é para ficar com aquela camada light ).

Chega a hora de me arrumar, pego uma calça jeans , meu all star vermelho e a camisa preta de manga longa da Sibila Trelawney, perfeita para uma tarde com amigos. É claro que se a minha mãe e minha irmã me veem vestida assim passam no drive-thru do manicômio e me deixam por lá mesmo. Então levo na mochila um camisa rosa claro com algumas rendas atrás e uma sapatilha preta. Pego o carro dirijo até a casa de Zoe. O Bê ainda não tinha chegada, assim ficamos conversando um pouco.

ZOE

A Pan chegou com a camisa da Sibila, não pude não rir. Com aquela camisa ninguém diria que ela era uma cirurgiã. Conversamos sobre o trabalho, ela sobre o hospital, eu sobre os projetos do escritório de arquitetura. Ela me explicou que não poderia ficar tanto como queria, já que, a irmã voltava hoje. A bendita Carol, não esqueço da cara de nojo dela sempre que me via lá na casa delas. Nunca entendi como duas irmãs podiam ser tão diferentes. Na verdade, nunca entendi como a Pan foi ficar diferente dela e da mãe. Deve ter levado um tombo do berço quando era pequena. Santo tombo! Uma mulher extremamente magra, braços e pernas compridos, parecia uma modelo, com um rosto fino e um nariz arrebitado. Nojenta. Mas sendo justa, o pai dela não era má pessoa, o que nos leva a outra pergunta: Como um cara gente fina casa com uma mulher chatíssima? Pois é, eu que não sei. Na verdade, se tratando desses temas amorosos eu não sei é de nada. Porque tudo parece uma grande safadeza. É sim senhor! Sa-fa-de-za. As pessoas com o coração mais entregue, com maior disponibilidade para amar (amor de verdade) ou nunca acham alguém ou acham um traste. E os(as) trastes sempre saem lucrando.

Talvez a graça da vida seja essa, o fato de nada dar certo seja a moral da história, mas isso leva a conclusão de quem quer que tenha criado esse jogo era um grande sacana. Talvez eu esteja sendo dramática, sim muito provavelmente estou, mas quem não o é?

BERNARDO

Quando chego elas já estão lá. Zoe com o cabelo preso sempre me lembrava a Aretha Franklin no momento intermediária da carreira. Pan. E seu cabelo preto meio penteado, seus óculos de armação preta e lentes grandes, olhos cor de terra e corpinho de bolacha. Ela, aliás também não gostava de ser chamada de bolacha.

– Bê! – disseram as duas e vieram me abraçar

Trouxe o videogame e nós ficamos conversando enquanto jogávamos. Os anos passaram e esse tipo de coisa não mudou, nós três conversando e rindo. A Zoe continua a mesma, impulsiva e teimosa, mas absolutamente sincera e uma amiga que qualquer um queria. E a Pan continua a Pan, engraçada e destrambelhada, boa e companheira. Já que vamos ser amigos agora (eu e você) acho que tudo bem se eu disser que me apaixonei por ela desde o primeiro dia de colégio, desde que ela derramou molho de cachorro-quente em mim, desde que ao pedir desculpas e tentar limpar minha farda multiplicou a mancha por dez, eu me apaixonei pela garota insegura e, ao mesmo tempo, com total segurança de si; por aquela menina engraçadinha que talvez risse porque era melhor do que chorar; e quando eu e Zoe fomos à casa dela pela primeira vez ficou claro que toda aquela insegurança tinha endereço. A mãe e a irmã dela são peruas em tamanhos variados (uma mais velha e a outra mais nova), e obviamente não simpatizaram nem um pouquinho com a gente. Mas tudo bem não é? Porque o mais importante era a Pan simpatizar. E quase toda noite eu colocava uma música boa para tocar e dormia criando várias cenas perfeitas em que eu a dizia que era apaixonado por ela e nem parecia mais tão assustador. Porém, pela manhã, minha coragem sumia e quando eu a encontrava na escola e, posteriormente, na faculdade, ficava sendo o amigo de sempre mesmo. Mas um dia eu criaria coragem, a própria Zoe – que já percebera minha situação há tempo- me incentivava, dizia que o pior que poderia acontecer era ela dizer que não sentia o mesmo, que eu tentasse.

Não tentei.

Até que um belo dia ela aparece dizendo que estava namorando. Tive vontade de matar o infeliz ou ela ou a mim ou todo mundo. Então, depois de muito desespero, pensei que ficaria tudo bem, que ela não ficaria para o resto da vida com ele. Tive mais certeza disso quando conheci o cara. Na verdade, foi uma ponta de esperança e ao mesmo tempo uma decepção. Um cara todo engomadinho, um quê de playboyzinho. Não poderia durar, não com a Pan, mas não foi mesmo ela quem o escolheu? Quero dizer, se eles estavam juntos ela deveria gostar de alguém assim, confere? E foi aí que me dei conta que eu não era o que ela procurava em alguém, não tendo por base esse protótipo de filhinho de papai. A Zoe também não gostava dele, mas a diferença entre nós é que ela não fazia qualquer esforço para esconder isso.

PAN

O tempo passou rápido, como sempre passa rápido demais quando estamos com os melhores amigos que temos. Troco de roupa. Dirijo até a casa dos meus pais e chego pontualmente às 18 horas.

– Pan! – diz minha mãe assim que passo pela porta – Aleluia! Pensei que a Carol vindo de Paris chegaria primeiro que você

– Mas você disse 18 horas mãe!

– Sim, mas eu também lhe dei educação suficiente para saber que sempre devemos chegar dez minutinhos mais cedo – continua falando agora já mexendo no meu cabelo- Meu Deus! O que houve com seu cabelo! Parece que você não lava há séculos!

– Mãe, meu cabelo sempre foi assim – digo tirando discretamente, para que ela não relute – Cadê o papai?

Balança a cabeça ainda olhando para meu cabelo quando diz, finalmente, que o meu pai está no escritório.

– Pai, fazendo o que?

– Pan – ele levanta os olhos e sorri – Estou revendo uns livros antigos, mas você como está? Nunca mais apareceu...

– O hospital está tomando boa parte do meu tempo, uma correria – sento na cadeira a sua frente – Precisamos marcar para tomar aquele cappuccino no Caneca, né?

– Ah sim! Por favor, nem que eu tenha que inventar uma doença para tomar um cappuccino com a melhor médica que esse mundo já viu

– Nem pensar em doença, pai, por favor ein?!

Ele ri brincalhão e eu riu porque ele está rindo. Ouvimos alguém bater na porta e uma voz entra no escritório nos dizendo que deveríamos estar na sala. Eu respondo um “já vamos, mãe” e ele, um “tudo bem, querida”.

– E o Gustavo, não veio....

– É mãe, na verdade, ele vem me buscar aqui porque vamos sair depois e....

– Mas porque ele não fica?! Não precisa sair de perto de sua família para se divertir Pan – diz ela fazendo voz de ofendida

– Ora meu bem, um casal jovem, um sábado à noite, eles devem ficar a sós, não acha?!- diz meu pai diplomático

– Eu só acho que um homem como o Gustavo gostar de uma moça como você – então ela faz uma pausa para usar palavras que não me ofendam (ou que ofendam menos), para variar – não que você não seja boa o suficiente....de jeito nenhum! Um mulher digna, culta, promissora...mas dignidade numa relação não é o bastante, certo?! Então estou dizendo que você não devia excluí-lo de sua relação familiar porque ele pode não gostar

– Foi ele quem me chamou para sair mãe - sento no sofá ao lado do meu pai - acredite se quiser – riu

Há muito deixei de ligar para essas (in)diretas (in)voluntárias da minha mãe. Até mesmo porque ela não faz por mal (geralmente). Ela e minha irmã me amam, e eu sei disso, só temos modos de viver e de demonstrar isso de uma maneira bem diferente.

Enfim, minha irmã chegou. Com várias novidades para contar, com várias tendências europeias para nos transmitir. Com muitas roupas esquisitas para mudar meu look. Agradeci uma peça bizarra que eu não sabia nem o que era. Sim, vou usar. Claro que eu gostei, obrigada pelo presente. Não, não achei estranha...quer dizer não é o que eu costumo usar, mas...é, é eu sei...é, obrigada. Enfim, o Gustavo chegou. Ficou um pouco para cumprimentar todos, para enfim sairmos.

– Que saudades, meu amor – dou um beijo em sua bochecha assim que entro em seu carro

– Eu também estava com saudades, linda – diz segurando minha mão – Não está ansiosa para a surpresa?

– Nem um pouquinho...- riu – Estava esperando para ver se você soltava uma pista

– De jeito nenhum, vai ser surpresa total

Seguimos caminho, na verdade, eu já suspeito o que seja, mas sempre dizem que não é bom esperar tanto para não criar expectativas.... Me diga apenas como não imaginar o que seu noivo está prestes a lhe dizer quando diz que tem uma surpresa? Mas não quero não parecer surpresa quando ele me perguntar se aceito me casar com ele. Então certamente farei a maior cara de surpresa de todos os tempos.

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Confissão

Aborreço-te muito. Em ti há qualquer cousa

De frio e de gelado, de pérfido e cruel,

Como um orvalho frio no tampo duma lousa,

Como em doirada taça algum amargo fel.


Odeio-te também. O teu olhar ideal


O teu perfil suave, a tua boca linda,

São belas expressões de todo o humano mal

Que inunda o mar e o céu e toda a terra infinda.


Desprezo-te também. Quando te ris e falas,


Eu fico-me a pensar no mal que tu calas

Dizendo que me queres em íntimo fervor!


Odeio-te e desprezo-te. Aqui toda a minh’alma


Confessa-to a rir, muito serena e calma!

……………………………………………………..

Ah, como eu te adoro, como eu te quero, amor!…

(Florbela Espanca)



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Notas finais do capítulo

E aí tá melhorando? O poema aí não é apenas um poema legal avulso, faz parte da história. É como um epílogo do capítulo.
Biscoitinho da sorte já está valendo.



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