Transtorno De Boderline escrita por Liz03


Capítulo 15
Amnésia


Notas iniciais do capítulo

Gente, cá estou eu de novo. Este capítulo tem muitas divisões, espero que não fique confuso ou tedioso.

Tenho duas músicas legais para vocês ouvirem para esse capítulo:
1) 21 Guns - Green Day
2) Vambora - Adriana Calcanhoto

*Lembrem de comentar o que estão achando da história e também dos biscoitinhos da sorte. Vamos:



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Amnésia é a perda de memória que pode ser total ou parcial, constante ou episódica, temporária ou permanente dependendo das causas.

Estavam naquele quarto do Lar com várias mensagens nas paredes, ele sentou-se no colchão velho enquanto ela escolhia e lia uma mensagem.

“Perdoar é tão importante quanto amar, e só numa vida de amor o perdão é possível.”



– Acho que isso é uma mensagem subliminar para amanhã Vitor – ela disse fazendo menção a visita que fariam ao pai dele no dia seguinte e sentou-se a seu lado fazendo a cama enferrujada ranger reclamando – Você é forte o bastante para pelo menos ouvir.

Ele sorriu num suspiro, mirou o chão um tanto pensativo, respirou fundo.

– Se eu te contasse um pouco mais da minha história agora....você ficaria ofendida por eu não ter dito antes ou julgaria que esse é o momento certo?

– Eu vou estar pronta para ouvir quando você estiver pronto para falar.

– Ok...- limpou a garganta – Vamos começar dizendo que esse colchão velho, fedido e bolorento, foi minha cama por um bom tempo. Dos quinze aos dezenove, na verdade. Eu morei aqui no Lar durante esse tempo. Eu vim parar aqui quando fugi de casa, e eu fugi de casa depois que briguei com meu pai (eu sempre brigava com ele, mas daquela vez foi a pior de todas), ele queria que eu voltasse para casa, e eu não queria de jeito nenhum, então o Frei Oliver, que era amigo da minha mãe, me acolheu e meu pai concordou desde que ele pudesse contribuir financeiramente com o Lar, o Frei relutou um pouco em aceitar uma diária, algo do tipo, mas era o jeito.

Certo, certo...Em que ponto estamos agora...?...Ah! Por que eu briguei com meu pai? Bem, digamos que tínhamos incompatibilidade de ideologias, de gênios e de quase tudo. Ele sempre foi frio, distante, não só comigo...com a minha mãe também. Eles só não brigavam tanto porque ela ia deixando pra lá. E ela deixava pra lá tentando preservar alguma coisa próximo a uma família, mas não existia nada disso. Éramos eu e ela, e ele separado. E ela? Ela era a melhor de todas, ela era carinhosa, sempre contava histórias, sempre ríamos e fazíamos coisas juntos. Foi ela quem escreveu a maioria dessas mensagens das paredes...Ela escrevia quase todo dia esses bilhetinhos e colocava no meu quarto ou em algum lugar que eu achasse, os desenhos a maioria fui quem fiz pra ela...

Mas eu sei que ele fazia muito mal a ela...Nem quando ela ficou doente ele deu atenção. Sempre na porcaria daquela empresa. Sempre, sempre. Um dia, ela já estava muito mal, ele disse que a pior coisa daquela situação era a burocracia do funeral, eu ouvi, ele disse isso mesmo. Ela estava morrendo e ele lamentava a porcaria do funeral. Quando tudo aconteceu, eu tinha uns treze anos, ainda aguentei por quase dois anos, mas não dava, ou eu ia acabar me matando ou matando ele. Não falo com ele há mais de dez anos, contando “bom dia” como conversa. Bem, eu sei que ele se casou de novo com uma mulher bem mais nova que ele, que deve está mirando o testamento, continua com a porcaria da empresa como você sabe. Empresas Campani. Grande bosta. É, é esse o resumo. Uma grande, enorme, grotesca, adimensional, bosta.




Fez-se silêncio. Pan não teve coragem de virar-se e olhá-lo. Todas aquelas lembranças, a mera ideia do quanto ele deve ter sofrido, o rancor que ele carregava junto a uma personalidade tão inusitada e doce. Sentiu raiva do pai dele, um nojo fez seu coração disparar. E ela queria lhe dizer que erguesse a cabeça, que se orgulha de quem ele era, uma pessoa boa apesar de uma existência regada a sofrimentos. Que ouvisse o pai amanhã com a certeza de que ele era um pobre coitado, que precisava se desvencilhar desse ódio que corrompia seus pensamentos. Queria também abraçá-lo e beijá-lo e olhar bem fundo em seus olhos dizendo-lhe que ela estava lá para o que ele precisasse, que ele não estava sozinho e nunca mais estaria. Mas não pôde. As palavras se perderam em sua garganta sufocada com toda aquela história.

Sobrou apenas um – Eu...sinto muito – que logo foi respondido com batidinhas nas costa.

– Doutora, não fique triste por mim, seria injusto com sua própria pessoa – ele segura o rosto dela com o indicador e o polegar, de modo que, seus olhos se encontram – Você me deixa em paz comigo mesmo – ele beija-lhe o pescoço – Você é como encontrar dinheiro no bolso da calça – diz isso sorrindo e beijando-lhe a bochecha – A melhor surpresa – agora o beijo é em sua testa – Você, minha querida, é o melhor verso que alguém já escreveu – ele passa seu nariz perto dela, respiraram o mesmo ar por alguns segundos, até que ele completa com um sorriso e uma voz de discurso poético – Não fique triste pelas coisas que eu lhe falei. Passaram. E, como você mesma disse, amanhã vou virar definitivamente essa página – beijou suavemente sua boca por breves segundos – Não seja injusta de pensar que existe a possibilidade de qualquer coisa triste se abater sobre mim enquanto tenho você. Não, não.

Vitor tinha essa habilidade com as palavras. Em qualquer parede rabiscada ele poderia encontrar, com sinceridade, qualidades dignas de um Picasso. Ele encontrava sofisticação nas coisas simples. Continuaram a ler as mensagens das paredes. Uma delas resumiu a vida muito bem.

“ O acaso é a visita que chega sem convite e vai embora quando a conversa começa ficar boa. Espere o inesperado.”



***

– Por favor, por favor, por favor – ela insistiu pela milésima terceira vez.

– Não...

– Por favor, Bê .... o que custa...?- ela tinha aquele olhar imperativo e ao mesmo tempo suplicante.Era uma ordem, mas ela fazia com que ele pensasse que era um pedido.

– Não. Não. E...não

– Me dê uma boa razão e eu disisto

– OK, fácil – disse passando o guardanapo na boca – Eu não gosto de encontros arranjados, eu não quero conhecer ninguém agora, e não estou deprimido antes que você diga qualquer coisa, só quero ficar sozinho. Pode escolher um desses motivos.

– Bernardo! – Zoe tomou o copo de refrigerante dele para que o único foco da conversa fosse o que ela estava dizendo – Primeiro – ergueu o dedo indicador – não é um encontro, é apenas um momento de descontração entre amigos - fez o número dois com os dedos- Segundo, se você não quer conhecer ninguém, você está sim deprimido. E terceiro, eu sou sua amiga e sei do que você precisa, eu já disse a ela que você iria. Você vai, se não gostar pronto, não lhe chamo mais.

– Você sempre diz isso, Zoe, sempre...- ele pega o copo de volta- E me desculpe, mas são sempre umas mulheres chatinhas, narcisistas sei lá...- bebe um gole – Aaahrr! Eu vou, eu vou! Mas por sua causa, entendeu? por isso, ok?

Ela fez que sim com a cabeça. Não importava o motivo que o fazia ir, ele iria. Vitória dela. Sorriu e apertou as bochechas do amigo.




***

– Ai eu disse pra ela: Hellooo, isso aqui é Louis Vuitton, queridinha. Ela não sabia onde colocava a cara, acreditam? – ela disse sorrindo.

Zoe, Tiago – o namorado da Zoe, e Bernardo sorriram também. Só que o sorriso deles foi aquele que se dá quando não se acha a menor graça, mas precisa-se manter a educação. E assim passaram um bom tempo, já que, ela não parava de contar causos ‘divertidíssimos’ de quando esteve em Nova Iorque ou Paris ou Milão ou sei lá. Depois de mais uma hora, no mínimo, ela –finalmente- despediu-se lamentando o fato de ter um compromisso depois dali. Todos mostraram sua insatisfação educada com a saída precipitada.

Zoe e Tiago também não se demoraram muito, mas Bernardo disse que ficaria mais um pouco, pediu mais uma cerveja e uma porção de tira-gosto. Zoe passou a mão pelo cabelo dele.

– Desculpa Bê, eu sei que foi horrível – ela disse dando-lhe um beijo na bochecha.

– Tudo bem, não foi tão ruim. Você estava certa, eu precisava sair de casa – Bernardo disse consolando a amiga.

– Ah...então tem alguma chance de você querer sair com ela de novo...?

– Não, nem pensar, por favor mais uma conversa sobre sapatos e sobre plásticas no nariz e eu me mato de uma maneira fashion.

Despediram-se. No começo ele teve vontade de gritar no meio da conversa e ir embora, o desespero de ouvir aquela mulher fútil falando futilidades de uma maneira fútil...E não foi pela futilidade, foi por ela mesmo. Mas agora ele estava rindo. Talvez fosse a cerveja ou era só humor negro mesmo.

– Noite difícil, hein? – ele estava tão distraído rindo de uma maneira que colocava suas faculdades mentais em dúvida que nem percebeu quando a garçonete apareceu para recolher a lata de cerveja.

– Um pouco – respondeu meio desatento – É a vida...

– Nem me fale

– Noite difícil também?

– Não, na verdade, hoje eu saio até mais cedo – ela apoiou a bandeja na cintura – Mas olha, como garçonete de barzinho eu sou um pouco psicóloga, se precisar desabafar já está incluso nos serviços.

Ele sorriu, agora de um modo mais normal, ela contou brevemente algumas histórias hilárias de pessoas que passaram pelo bar. E caminhava em volta da mesa para limpá-la com uma toalhinha que trazia consigo, e ficou claro que ela mancava de uma perna. Tinha um cabelo curto e tinha também uma tatuagem de elefante no pescoço- que ficava bem amostra já que o cabelo era curto. Bem, além de ser garçonete psicóloga (ou seria psicóloga garçonete?) ela era com certeza uma figura curiosa. Ele estava analisando o quão peculiar aquela criatura era um pouco por conta do efeito da cerveja outro tanto porque não tinha nada de melhor a fazer.

– E qual o seu caso?

– Bem...fazendo um resumo...uma amiga minha me arranjou um encontro com uma mulher que falava de marcas de sapatos e plástica no nariz.

– Com certeza é um motivo justo para beber – ela deu-lhe tapinhas no ombro – Mas veja bem, você entrou aqui melhor do que vai sair?

– Hum, não, acho que não.

– Então, siga em frente – e já estava saindo para atender a mesa 4, quando ele perguntou qual era seu nome.

– Ramona – ela disse e completou com um menear de cabeça – Mas todo mundo me conhece como Mona ...não que todo mundo me conheça, quero dizer que os que conhecem chama de Mona...não é 100% , é meio que 99% ou 95% não sei – sorriu e virou-se para perguntar o que os outros clientes gostariam.

Não demorou e ele pediu a conta e um táxi , chegou em casa com disposição apenas para tirar os sapatos. No dia seguinte, além de uma senhora dor de cabeça acordou também com a sensação de que estava ligeiramente aliviado. De modo que, resolveu chamar os amigos para jogar conversa fora, rir, falar bobagens etc. E teria o feito. Caso houvesse encontrado o celular. E enquanto procurava pela casa em locais prováveis e improváveis para deixar um telefone, a campainha tocou.

– Ah...oi.. – ele disse surpreso de ver a garçonete psicóloga do outro lado da porta

– Sabe qual é a coisa que eu menos gosto dos bêbado? – sem esperar que ele respondesse ela continuou – Eles esquecem as coisas. E abrindo a bolsa mostrou o celular dele – estendeu para que ele pegasse – Eu tive que ligar para uma mulher dos seus contatos que eu descobri que era sua tia, para saber onde você mora.

– Me desculpe, mesmo – respondeu um tanto envergonhado.

–Tá tudo bem...- ela sorriu com o canto da boca e foi andando – Tchau então.

Ele ainda olhava o telefone quando lhe ocorreu um modo de agradecê-la pelo esforço.

– Espera. Olha....será que eu poderia lhe retribuir com um almoço?

Ela virou-se com uma cara pensativa – É...bem,eu to morrendo de fome nesse exato momento...E você até tem cara de ser legalzinho – Legalzinho? – Mas...não vai ficar me cantando nem dando em cima de mim né?! Porque se você já estiver apaixonado só por eu ter trazido seu celular o caso é mais grave do que eu pensei.

– Não, não...de jeito nenhum, me de-desculpe, não é isso... - ele estava ficando atrapalhado de um jeito desastroso- só, só um almoço de agradecimento, tem uma lanchonete aqui perto, tem sanduíche de bacon... você gosta de bacon? Que-que é tipo po-porco só que em forma de ba-bacon...

Ela pôs a mão na cintura, fez uma cara muito séria.

– Adoro bacon , ok, aceito.

Caminharam até a lanchonete, ele teve que ir num ritmo mais lento do que de costume para acompanhar o ritmo dela que era mais devagar por conta da perna que mancava um tanto.Eles pediram um X-põe tudo que tiver de ingrediente e conversaram sobre bêbados, bacon e como quando a gente gosta de uma pessoa, essa pessoa gosta de outra que não gosta tanto dela quanto nós. Riram muito, ao ponto dos outros clientes olharem de soslaio para reprimi-los, e a tarde estava só começando. Não foi mau julgamento de bêbado, Mona era uma figura que tinha muito mais coisas interessantes além de uma tatuagem de elefante no pescoço.


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Notas finais do capítulo

Então como está? Digam ai. Um xeeeru o/



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