Jonathan Davis escrita por 09041977


Capítulo 8
8th.




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   Gerard suspirou, talvez mostrando alguma impaciência.

- Tudo bem. - murmurou. Ele estava saindo do quarto, quando eu, impulsivo como sou, prometi que mais tarde iria contar todas as minhas peripécias.

   Já sozinho, comecei andando em círculos, observando cada canto daquele quarto. Sem graça e isolado. Tal e qual como eu.

   Sentei-me no colchão parcialmente empoeirado sobre as estacas grossas e firmes da infraestrutura da cama. Creio que estava a tentar mentalizar-me sobre a mudança que havia feito. Não sou ambicioso, só quero dar-me bem com a minha vida, embora as pessoas que me rodeiam, que aparentam ser tão belas, com um estilo de vida invejável, me queiram tornar um monstro. Toda essa beleza e todo esse estilo social, não são puros. Para manter essa postura, precisam de ser artificiais para o Mundo Exterior. Usar roupas caras, ter boa aparência e aparentar serem cultos, faz parte. Mas isso não é para mim. Não quero ser mais um ator apenas fazendo o seu papel de menino feliz e bonito. Não, não quero acabar frustrado e sozinho como eles. Não quero acabar podre de fingimento.

   O interior da minha cabeça parecia agora uma maratona de pensamentos que ansiavam por ser ouvidos. Aquele som polífono voltou a penetrar a minha caixa timpânica, que logo me desassossegou.

   Dessa vez o remetente era outro. Atendi com a ideia de que não iria falar, apenas escutar.

"- Alô?" - ouvi uma voz feminina do outro lado. Uma voz que para mim sempre fora destrutiva e malevolente. Inquietou-me o facto de estar certo de que era a minha madrasta, mas ainda assim prossegui com a ideia de ficar tácito.

"- Não vai falar, é? O seu pai está insuportável. Eu vou descobrir onde você está. Eu vou, seu filho da puta!" - senti-me um tanto abalado, pela rigidez cínica da voz dela. E tive a impressão de ouvir uma segunda voz, dengosa.

"- Vou-te comer, mocinho!" - aquela voz era-me algo conhecida. Era Edward!

Ouvi passos do corredor e olhei para a porta. Brian (Marilyn Manson), havia chegado. Ficou apenas a mirar-me, silenciosamente e indiferente.

  Virei a minha atenção para as vozes humilhantes que estavam, mais uma vez, a destruir a minha sanidade.

   Comecei a ouvir gemidos do outro lado. Primeiramente, não tive reacção, apenas não conseguia perceber se estaria a minha mente a brincar comigo ou se tudo aquilo era mesmo real. Desliguei o aparelho e fiquei a fitar um ponto aleatório no soalho. A dor era imensa, tão imensa como o nojo que estava agora a sentir. Sentei-me no chão, apático. Encolhi-me e, fraco e com nada a perder, chorei.


   Brian ficou a cotemplar a cena, provavelmente não saberia o que fazer. Contudo, foi-se aproximando.

De forma hesitnte, colocou a sua mão fria sobre o meu ombro.

- Oiça, eu não o conheço, de forma nenhuma. Não tenho jeito para lidar com os problemas dos outros. Espera um pouco.- e assim, tão preocupado e tão imaturo ao mesmo tempo, me deixou ali em prantos.

   Não me lembro de quanto tempo fiquei soluçando, até o Gerard chegar. Sentia uma dor tão forte no meu coração que me apetecia arrancá-lo com as minhas próprias mãos. Faria tudo para aquela dor passar.

   Gerard veio a meu socorro, deixando Brian atrás, contemplando de novo.
Ajoelhou-se e tentou o diálogo comigo, porém sem sucesso. A dor estava a destruir-me.

Abraçou-me. Era tudo o que eu precisava. Apenas um abraço. Os meus soluços foram diminuindo e logo eu me fui acalmando. E, de olhar perdido e nariz avermelhado, o encarei. Limpei as minhas lágrimas com a manga do meu casaco adidas.

- Pode-me ajudar? Por favor. - implorei, irresoluto.

- Preciso saber o que se passa primeiro. Vai-me contar? - perguntou, colocando a sua mão sobre o meu braço.

Como resposta, oscilei timidamente a minha cabeça, positivamente.

- Vem. Vamos os três ao parque. Aqui as paredes têm ouvidos. - Disse ele, ironicamente.


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