O Pacto escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 21
Rumo às estrelas




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/268551/chapter/21

Quando desceu para a sala, ele se deparou com todos os seus amigos e viu tristeza nos rostos de cada um. Mônica foi a primeira a falar.

- A gente vai sentir sua falta, Xaveco...

- Eu sei, gente. Também vou sentir a falta de vocês, mas...

- Nós sabemos que será o melhor pra você. – Cebola falou dando um tapinha em suas costas. – Agora você vai ficar bem sarado e bombadão! O Titi vai morrer de inveja.

(Titi) – Você vai ter que comer muita colher de angu para conseguir essa belezinha aqui. – Ele falou mostrando seu bíceps para o amigo, depois colocou um braço ao redor dos ombros do amigo e falou – E se você conhecer alguma gatinha espacial, não esquece o seu amigão do peito aqui, valeu?

(Aninha) – Titi! Seu assanhado duma figa!

Todos deram uma risada, desfazendo um pouco o clima de tristeza. Toda a turma levou presentes, pequenas lembranças para que Xaveco nunca esquecesse de que mesmo longe, ele ainda tinha amigos na Terra. Maria lhe deu um abraço e um beijo no rosto.

- Antes de você ir, eu tenho uma boa notícia: minha mãe conseguiu um psicólogo muito bom e as consultas começam semana que vem!

- Sério?

- Vai ser difícil, quer dizer, já está sendo! Mas eu vou conseguir!

- Claro que vai! Devagar você consegue!

Ela sorriu, concordando. Ainda havia um longo caminho a percorrer e ela sofria muito com sua dificuldade em se alimentar e com a imagem distorcida que tinha em seu corpo. Pelo menos, ao reconhecer o problema, ela tinha dado o primeiro passo. O resto viria com o tempo.

__________________________________________________________

Do lado de fora da casa, Denise pensava se devia ou não entrar. Aquele era o último dia do Xaveco na terra e ela só ia vê-lo de novo nas férias de julho do ano seguinte.

Desde que ele perdera sua fama, ela também sofreu muito por ter perdido o destaque e o seu lugar sob os holofotes. E durante muito tempo Denise descontava sua raiva e frustração nele, que até então era visto como culpado de tudo. Aquela atitude, porém estava lhe custando suas amizades já que todo mundo parecia estar do lado do Xaveco e no fim ela ficou apenas como a interesseira que abandonou o namorado quando ele deixou de estar por cima.

Sem falar que foi por causa dele que ela deu vexames impensáveis, que tinham sido gravados e postados no youtube. Como superar tamanha vergonha? Como não sabia a real causa daquela perda temporária de insanidade, ela acabou colocando a culpa nele.

E também havia outro motivo. No fundo, bem lá no fundo, ainda havia algum sentimento por ele embora ela não quisesse admitir. Era humilhante demais aceitar que gostava, ainda que um pouco, daquele perdedor.

Um carro chegou, estacionando em frente a garagem e ela viu descer dali a irmã do Xaveco e também o Astronauta. Com certeza tinham vindo buscá-lo e o seu coração apertou. Se ela não falasse com ele agora, só dentro de vários meses teria outra chance e então poderia ser tarde demais.

Em uma nova escola, ele poderia conhecer e se interessar por outras garotas e ela acabaria caindo no esquecimento.

- Vamos, Denise! Força na peruca, você consegue! Vai, criatura, vai!

Os dois entraram na casa e ela ainda não conseguia se decidir. Foi só quando Xaveco saiu, acompanhado por toda a turma e pelos seus pais, é que ela percebeu que ele estava indo embora para valer. Ele levava uma mala em uma das mãos e nas costas uma mochila tendo sua guitarra presa a ela. Aquele instrumento poderia lhe servir de distração nas horas vagas caso ele não arrumasse algum chato como colega de quarto.

Mônica, que estava ao lado do Xaveco lhe dando palavras de incentivo, acabou notando a presença da ruiva, que estava olhando tudo de longe meio escondida atrás de uma árvore.

- Xaveco, parece que mais alguém apareceu, olha!

Ele olhou para onde ela apontava e viu Denise, que parecia muito hesitante. Será que ele deveria mesmo ir falar com ela? Desde que terminaram, os sentimentos dele tinham ficado abalados, mas não foram extintos de vez. Ainda havia sobrado alguma coisa. Será que valia a pena?

(Cebola) – Vai lá falar com ela, vai!

- Eu não sei... quando eu perdi tudo, ela só ficou tripudiando e não ligou a mínima pro meu sofrimento!

(Cebola) – Não precisa reatar o namoro com ela não e isso nem seria bom. Mas não vai embora sem ao menos fazer as pazes. Vocês se conhecem desde criança, não pode ficar essa coisa ruim entre os dois.

Por fim ele decidiu. Pensando bem, ela não podia ser totalmente responsabilizada pelos seus momentos de loucura durante o namoro. Parte daquilo foi influência daquele monstro. Somente parte, já que depois de ter acabado o encantamento, o restante foi mesmo por conta dela.

- Cinco minutos. – Astronauta falou e Xaveco correu na direção da ruiva, que saiu detrás da árvore e ficou olhando o chão, como que com vergonha de encará-lo.

- Então você vai mesmo, né? – ela perguntou baixo.

- Pois é. Eu pensei muito e acho que vai ser melhor assim. Eu vou aprender muita coisa nessa nova escola, será uma grande aventura pra mim.

- Então tá. Boa sorte e tomara que dê tudo certo pra você.

- Valeu.

Denise se remexeu um pouco, bastante inquieta e tentou balbuciar algumas palavras.

- E bem... er... tipo assim, quer dizer...

Ela engasgou algumas vezes, como que se precisasse fazer um grande esforço para poder dizer algo.

- Desculpa aquelas coisas no meu blog... eu não sei onde estava com a cabeça.

- Tranqüilo. Espero que você também tenha se desculpado com a Maria.

- Eu já conversei com ela. E as outras meninas também. Não sei o que deu na gente, que loucura!

- Pois é.

Seu envolvimento com aquela entidade permaneceu em segredo entre ele, Mônica, Cebola, Cascão e Magali. Ninguém mais soube daquilo, nem seus pais. Eles decidiram que o melhor seria colocar uma pedra sobre aquele assunto e seguir em frente.  

O clima ruim entre os dois tinha se desfeito, embora o sentimento não fosse mais o mesmo. Ainda havia algumas feridas que levariam tempo para cicatrizar e talvez cada um tivesse que seguir um caminho diferente. Se esses caminhos iam se encontra no futuro, só o tempo poderia dizer e ele não pretendia forçar mais nada. As coisas deveriam seguir seu rumo naturalmente. E pensando bem, reatar o namoro não seria boa idéia com ele estudando a milhares de anos-luz da Terra. O melhor mesmo era que cada um vivesse sua vida, experimentasse coisas novas e aguardar o que a vida tinha a oferecer para ambos.

Mesmo que o namoro não fosse reatado, ele ficou feliz por pelo menos eles terem feito as pazes. 

O som de uma buzina chamou a atenção dele, que viu que estava na hora de se despedir.

- Então é isso, tá na hora. Nas férias de julho eu volto.

- Volta mesmo que eu vou ter um monte de fofocas quentíssimas pra você!

- Mal posso esperar. Se cuida, valeu?

- Eu sempre me cuido, gatz. – Ela falou lhe dando um beijo na face.

Ele sorriu e voltou correndo para o carro, onde todos se despediram dele efusivamente. Houve choro, palavras de incentivo, todos bateram palmas e até deram três vivas para o Xaveco.

- É estranho como a gente só dá valor a alguém quando perde... – Mônica falou mais para si mesma olhando o carro desaparecer na esquina.

Quando o carro foi desapareceu da vista deles, todos ficaram ali mais um tempo lamentando a partida do amigo e o quanto iam sentir a falta dele. Era a primeira vez que eles viam alguém da turma indo embora e a dor da separação ia marcá-los por muito tempo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Pacto" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.