O Pacto escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 22
Fim?




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Ivan procurava freneticamente entre seus guardados e não encontrava de jeito nenhum.


– Maldição! Eu não acredito que isso aconteceu! Como pode?


Ele tinha guardado o talismã muito bem, sob um forte feitiço que manteria aquela criatura presa por um bom tempo. Então, o que tinha dado de errado? Será que ele não era forte o bastante?


– Eu acho que vou precisar de ajuda, mas que droga! Enquanto isso aquele monstro vai destruir a vida de outras pessoas.


Não tinha jeito. Mesmo contrariado, ele sabia que tudo ia começar novamente, com aquela coisa atacando novas vítimas e ele andando constantemente ao seu encalço tentando evitar, muitas vezes sem sucesso, que a criatura matasse outras pessoas.


Só que daquela vez ele não pretendia fraquejar. Em sua lista de contatos havia muitos feiticeiros com grande força e poder que talvez tivessem condições de ajudá-lo. Foi um erro querer fazer tudo sozinho e ele não pretendia errar outra vez.


– Só queria saber para onde ele foi agora...

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Seus pais gritavam freneticamente, panelas eram jogadas no chão e dali para a agressão física era apenas questão de tempo. Ela saiu correndo de casa e sentou-se no meio do quintal para chorar. Por que ela tinha que viver naquela família tão desajustada? Por que sua vida tinha que ser uma droga?


Os vizinhos já tinham ouvido toda a gritaria e foram para a beirada da cerca a fim de presenciar algum espetáculo. Não era raro os dois irem brigar no meio do quintal, onde a platéia poderia ser bem maior.


– Vanessa, seus pais estão brigando de novo? – uma vizinha fofoqueira perguntou o óbvio, interessada apenas em saber os detalhes tenebrosos da briga para contar as amigas no dia seguinte.


“Não, sua imbecil! Eles só estão declamando poemas em voz alta!” ela quis responder e permaneceu em silêncio, apenas fazendo que sim com a cabeça.


– Ai, coitada! Tão nova e tem que aturar isso! – outra vizinha lamentou. – Se você quiser, pode vir pra casa até os dois acalmarem. Fica aí não que pode até sobrar pra você.

A moça concordou, pois sabia que a mulher tinha razão. Antes, as agressões do seu pai eram apenas para sua mãe. Nos últimos tempos, ele passou a descontar sua raiva sobre a filha também.

Vanessa foi para a casa da vizinha, que lhe deu um copo de água com açúcar para que a moça se acalmasse. Depois a mulher foi cuidar dos seus afazeres, deixando-a na sala vendo televisão com seus filhos. Ela não prestava atenção ao programa de TV, pois só conseguia pensar na própria vida e no quanto era infeliz.

Seu pai era um vagabundo que não trabalhava e ainda explorava da sua mãe. Quando não havia o que comer em casa, ele se achava no direito de reclamar e sair espancando quem estivesse na frente. Sua mãe, coitada, nunca reagia. Vivia em constante medo e preferia manter aquele casamento fracassado a tomar uma atitude e botar aquele malandro para fora de casa.

Ela não sabia de quem sentia mais raiva, se dele ou dela. Ou talvez de si mesma, que era uma garota feia e sem graça. Por mais que tentasse, ela estava bem acima do peso e sofria bullying constante das colegas na escola. Ela sempre ficava a margem de todos e nenhum rapaz sequer olhava em sua direção. Os poucos que olhavam eram só para lamentar sua aparência.

Como se não bastasse, nem inteligente ela era. Ela só conseguia o suficiente para não ser reprovada e por mais que tentasse, o conteúdo das matérias nunca entrava em sua cabeça. Era como se seu cérebro tivesse vindo com defeito e ela não conseguia acompanhar o ritmo dos outros alunos. Nos esportes ela era uma negação e só de vez em quando lhe deixavam ficar no gol e ainda assim sofria com as piadas e comentários maldosos.

– Ih, ela é tão gorda que a bola não passa de jeito nenhum. Hahha!

E assim era sua vida. Ela não tinha paz dentro de casa, não tinha paz na escola, em lugar nenhum. Várias vezes ela pensou em fugir de casa e logo desistia da idéia. Feia daquele jeito, ela não ia servir nem como garota de programa. Se fosse depender daquilo, ia morrer de fome com certeza. E por ser tão burra, ela não conseguia aprender a fazer nada e jamais teria condições de se manter sozinha. Algumas meninas da sua idade, 15 anos, tinham um emprego de meio período que lhes garantia alguns trocados para comprar roupas e coisas essenciais a uma garota. Ela não podia. Feia, burra e com dificuldade para aprender, seu futuro certamente seria se juntar com algum malandro e levar a mesma vida terrível e miserável da sua mãe.

– Vanessinha, sua mãe tá te chamando.

– Já vou. Obrigada, D. Ana.

– De nada.

Ela foi até o portão, onde sua mãe a esperava com a cabeça baixa, morrendo de vergonha daquela situação.
 

“Grande coisa... ela morre de vergonha mas não faz nada pra mudar. É mulher de malandro mesmo!” ela pensou sentindo raiva daquela droga de vida.

– Seu pai saiu e vai ficar a noite toda fora. Vem, vou fazer alguma coisa pra você comer...

– Eu já comi na casa da D. Ana. Só quero dormir um pouco.

A mulher não respondeu nada e as duas caminharam em silêncio. Falar o quê? O quanto a vida era uma droga? Não havia nada para falar e ela foi andando um pouco atrás da sua mãe, remoendo sua insatisfação contra tudo.

Quando estavam a poucos metros do portão de casa, algo brilhante lhe chamou a atenção. Aquilo estava escondido no meio do matinho que tinha crescido entre um paralelepípedo e outro e o brilho dourado pareceu ter se intensificado quando ela se aproximou.

– Nossa, que pulseira linda! – ela pensou examinando rapidamente o seu achado e colocando no bolso. Ela nunca tinha nada de bonito para usar. Primeiro porque sua mãe mal podia pagar as despesas básicas e nunca lhe sobrava sequer uns trocados para comprar lanche na escola. E também porque ela se achava feia demais para usar as coisas lindas que suas colegas de escola usavam. Mesmo sendo bijuterias simples, compradas em lojinhas e camelôs, tudo parecia ficar mais bonito nelas, que eram magras e lindas.

A casa estava uma desordem. Panelas atiradas no chão, pratos quebrados, moveis virados e seu pai tinha espalhado pela casa um saco de feijão. Vanessa teve que ajudar sua mãe a limpar tudo e resmungou o tempo inteiro. Sua mãe não tinha capacidade para colocar limites em seu pai e ela ainda tinha que pagar por sua incompetência?

Quando se viu livre, ela foi direto ao seu quarto. Aquele dia tinha sido uma completa droga e nada podia consertar aquilo. Ou quase nada. Ela tirou novamente a pulseira e ficou contemplando com mais calma. Era bem dourada, com pequenas bolinhas ao seu redor e um pingente super fofo em forma de um coração com asas.

– Puxa, que coisa linda! Adorei! – mesmo imaginando que era só uma bijuteria, ela ficou feliz com o seu achado, a única coisa boa que tinha acontecido no dia inteiro. Sem pensar duas vezes, Vanessa colocou a pulseira em seu braço e ficou olhando o resultado com um sorriso alegre no rosto.

Sem ela saber como e nem porque, a pulseira começou a brilhar intensamente até ela precisar fechar os olhos por causa de tanto brilho. Quando pode abrir os olhos, Vanessa levou um grande susto ao se deparar com um rapaz bem a sua frente.

Não era um rapaz qualquer. Ele era alto, parecia ter um corpo atlético e longos cabelos loiros que iam até a metade das costas. Seus olhos verdes brilhavam como duas esmeraldas e ele vestia um traje elegante, que parecia muito com o dos príncipes dos contos de fadas.

– Q-quem é... – ela gaguejava pelo susto e também por ter ficado pasma com a beleza daquele rapaz a sua frente. Era o mais belo e formoso que ela tinha visto em sua vida.

– Meu nome é Ícaro e eu sou o seu príncipe da felicidade.

– O meu o quê? – ela perguntou incrédula e mal acreditando no que ouvia.

– Eu sou uma entidade que vive nessa pulseira que você acabou de colocar. Há tempos eu venho procurando uma garota especial e merecedora dos presentes que eu tenho a oferecer e finalmente minha busca chegou ao fim.

– Eu ainda não tô entendendo nada.

Ele deu um sorriso quente, chegou mais perto e pegou em sua mão. O perfume dele chegou até suas narinas, lhe deixando inebriada. E seu toque era quente e suave como ela nunca tinha sentido antes.

Sem falar nada, ele pousou um beijo suave em sua mão, fazendo com que as pernas dela virassem maria-mole.

– Eu trago alegria, felicidade e prosperidade a todos que usarem esse artefato místico. Como minha nova senhora, é meu dever lhe servir e realizar todos os seus sonhos.

– Todos os meus sonhos? Tá falando sério?

– Muito sério, linda senhorita! De amanhã em diante, sua vida mudará totalmente e você terá tudo aquilo com que sempre sonhou e muito mais! Eu estarei sempre do seu lado, lhe dando tudo o que seu coração desejar e cuidando zelosamente para que cada segundo dos seus dias sejam sempre perfeitos! Você nunca mais derramará uma lágrima de tristeza comigo por perto!

Aquelas palavras tão bonitas, junto com aquele sorriso encantador, aquele olhar hipnótico e o toque suave da sua mão fez com que todas as suas defesas fossem rompidas. Se aquilo era mesmo verdade, finalmente sua vida ia melhorar e ela mal esperava para ter todos os seus sonhos realizados como aquele rapaz lindo tinha prometido.

Vanessa estava tão feliz que sequer reparou em um brilho perverso passando pelos olhos do rapaz, que a olhava como uma fera olhava sua presa.

“Essa presa é muito melhor do que a anterior e eu vou me esbaldar!” ele pensou sem deixar transparecer o que ia em seu intimo. “E dessa vez, ninguém irá me impedir de sugar a vida dessa tonta até a última gota!”


Fim(?)


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Notas finais do capítulo

Pois é, acabou a história. Eu até teria desenvolvido um pouco mais, só que tão pouca gente comentou que eu acabei achando que a fanfic não fez lá muito sucesso. Tudo bem, agora é partir para a próxima e vou dizer uma coisa: se segurem em suas cadeira porque o bicho vai pegar geral!



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