Yui e Yurippe sentaram-se na frente da sala, já que não tinham simpatia alguma pelo povo que sentava no fundo. Eram bagunceiros e tagarelas. Não que as duas não fossem, mas preferiam a frente, onde podiam ter um contato mais próximo com os professores... Especialmente Yuri, que era fascinada por seu professor de matemática:
- Hoje temos aula dele!
- Sim, para minha desgraça... Ai, ai...
- Quer deixar de ser problemática?
- Não sou eu que tenho uma paixão impossível pelo professor! Fala sério, que matéria mais chata! Bah!
- Fala isso porque você fica de recuperação todo bimestre. Não desconte na matéria!
- Tanto faz, continua chata.

Continuaram discutindo. Yui teve de escutar sua amiga falando todas as qualidades do professor. Já estava acostumada já que toda semana, nas sextas, a primeira aula era dele.

Vindo da porta, chegaram Otonashi e Hinata sentando-se atrás das duas garotas:
- Oi pivetinha! Yuri!
- Hinata! – disse Yurippe retribuindo com animação o cumprimento do amigo
- Hm! Como se você fosse me afetar me chamando dessa maneira! Se toca! Ao menos minha mentalidade tem uma idade bem superior a sua! – disse Yui frustrada
- Há Há Há! O que? Você só pode estar brincando com minha cara...
- Não sou eu que venho encher o saco dos outros pela estrutura delas, moleque desmiolado.
- Só lhe dei este apelido, pois tem muito haver com você, oras!
- Pois pare! Sei que sou baixinha não preciso que fiquem reforçando isso para mim.

Hinata ficou espantado com a resposta da garota. Ela não parecia animada como sempre. Tinha olheiras estampadas em sua face, que de tão branca era possível ver cada rastro de cansaço. Tinha uma feição doentia. Olhos para baixo evitando encontrar com os dele. Postava sua cabeça na carteira e logo dormia, acordando rapidamente. Por mais que ele a botasse para baixo, tinha uma enorme preocupação com a garota. Não gostava de vê-la assim. Sentiu um forte aperto no peito o que o forçou a se estender sobre sua cadeira e espreguiçar-se para desviar seu mau jeito. Ficou calado. Não sentiu vontade de conversar com ninguém.

Depois de alguns minutos, uma garotinha da mesma estatura de Yui chegou como sempre chegava: séria, tímida, despercebida e quieta. Tinha os cabelos esbranquiçados e um grande olhar cor de mel. De alguma forma, aquela garota despertava uma grande ira em Yuri:
- Veja lá, Tachibana Kanade... Sempre dando uma de santinha.
- Não sei o que você vê de ruindade nela. Para mim ela é realmente uma santinha...
- Conheço esse tipo de gente Yui! Elas se fazem de boazinhas, mas no fundo são as principais causadoras de desgraças.
- Não acredito em você.
- Eu sei que não, você tem que ver com seus próprios olhos, cética.
- Sou mesmo!

Seguiram com os olhos cada passo da pequenina. Ela sentou-se delicadamente em uma carteira da segunda fileira, bem quieta como costumava ser. Era uma garota que causava preocupações aos professores. Tirava notas altíssimas, mas nunca fora vista com amigo algum:
- Viu? Vê algum mal nessa garota? Está para nascer gente mais inocente!
- Ai ai, você viu... Ingênua...

Havia batido o sinal. A aula passou rápido para Yurippe e durara uma eternidade para Yui. Sem olhar para traz, as duas saíram as disparadas.

Otonashi olhou com estranheza para seu amigo:
- Yui está escondendo algo da gente...
- Sério? Ela disse algo?
- Sim... Disse que não queria que eu soubesse de alguma coisa.
- Hm. Que estranho, cara. Ela costuma contar as coisas para você.

Levantaram-se e saíram segundos depois. Hinata ainda não estava em seu estado normal. Lembrou-se de Yui reproduzindo uma cara irritada e ao mesmo tempo cansada. Suspirou e continuou a andar. Sentiu como se seu coração fosse explodir de culpa. Não deveria ter falado com ela daquela maneira... Ou pelo menos deveria ter se desculpado... Uma onda de desconforto bateu em seu peito lhe deixando triste por dentro. Mas sabia disfarçar com um sorriso falso, se fazendo de uma pessoa feliz.
Otonashi logo percebeu a amargura de seu amigo:
- Vá falar com ela quando a aula acabar. Eu sei que ela vai entender.
- Ham? Você acha mesmo que estou preocupado com isso? Há Há Há...
- Bom... Eu acho.
- Hm. Estou um pouco mesmo... Não entendi nada, cara.
- Nem eu! Ao menos Yuri está normal, talvez signifique que não seja algo tão ruim assim.
- Ela contou para Yuri?
- Sim, elas foram para traz do pilar quando você chegou.
- Então tem haver comigo, não é?
- E com Yui. Só! Essa é a conclusão?
- É? O que será que fiz a ela?
- Não sei... Por isso é bom que você converse com ela.
- Ok.