O passeio á Universidade de Seattle não fora muito comentado na escola em geral. Mas eu podia ver a excitação nos olhos de Brendon no sábado á tarde, enquanto tomávamos café na ”Waffles & Music”. Não havíamos falado muito sobre o assunto diante dos outros problemas que estávamos enfrentando, mas uma pequena tarde de primavera, com o Sol esquentando nossas peles frias depois dos dias de chuva parecia vir á calhar para nos distrairmos das coisas ruins.

      -Vai ficar na ala de Artes Plásticas? – Perguntei enquanto bebericava meu cappuccino e acenava para Catherine que havia acabado de chegar para substituir uma atendente.

      -Provavelmente sim... Já se decidiu sobre o que vai fazer? – Seus pequenos olhos cor de âmbar sorriram enquanto comia um pedaço de torta de limão.

      -Não... Estou pensando em fazer Letras. Alguma coisa á longo prazo. – Respondi com a garganta seca. Pensar no futuro me assustava. Tinha medo de perder o rumo, de fracassar na única coisa que talvez fosse boa na minha vida.

      -Letras... Então você vai escrever um livro e eu vou ilustrá-lo? – Brend se divertia com os planos breves que fazia e parecia nunca pensar que nós podíamos não estar mais no mesmo caminho naquela altura.

      -Hey, meus livros não vão ter ilustrações!

      -E a capa? – Ele me olhou provocativamente e eu sibilei frustrada.

      -Vai ser preta. – O irritei. Ele virou a cara, fingindo aborrecimento. – Ou talvez não. – E Brendon me encarou de novo e suavemente.

      Ficamos um tempo apenas comendo e bebendo nossos cafés enquanto assistíamos um reality show qualquer na TV. Sua presença me aliviava ao mesmo tempo em que me incomodava. Ficava vermelha ao perceber toda a sua proximidade quando ás vezes eu braço encostava-se ao meu. Sorria fracamente para mim mesma. Era um sentimento estranho e carregado de emoções, enfurecido ás vezes.

      -Vamos andar por ai? – Brend pagou a conta e pegou em minha mão para me guiar á porta de saída. Assenti sorrindo e ele me conduziu á calçada. Depois soltou minha mão que gostaria muito de protestar e se encolheu dentro de sua camisa pólo.

      Começamos á andar lado a lado silenciosamente. Aproveitando a brisa que soprava e o perfume de rosas do pequeno jardim de uma casa á alguns metros de nós.

      -Você se lembra da primeira vez que nos falamos? – Ele se remexeu, incomodado. Eu o olhei e apenas vi um vestígio de pensamentos em seu rosto. – Faz três anos. Eu queria voltar naquele dia...

      -Eu me lembro muito bem. – Ri brevemente e olhei para o horizonte, recordando.

      -Você sabe que aquele professor não gosta de discutir! Foi hilário o Owen discutindo com ele sobre comunismo! – Michaela fora minha companhia no intervalo desde o começo do ano. Ela comentava sobre o ocorrido na aula de Sociologia com suas duas amigas, Sutton e Caroline. Eu ri para não ficar fora da piada, mas aquilo não era o papo certo para mim.

      Depois de alguns minutos após essa conversa, chegaram na mesa alguns garotos de portes iguais. Altos, com cabelos loiros ou claros penteados para trás e um sorriso brilhante no rosto. Na época, John Manson namorava com Mich. Ele não era igual ao babaca do Owen, mas também não tinha muito conteúdo. Ele chegara com mais dois amigos que eu nunca soube o nome e se apoiaram na mesa, se exibindo por completo. Revirei os olhos.

      -E ai, Mich? Quem é a sua amiga? – Um garoto de cabelos castanhos e olhos esverdeados me encarou por alguns instantes enquanto Michaela terminava seu amasso com John.

      -Hm... Essa é a Rachel. Ela é nova. – Mich tentava recuperar o fôlego enquanto falava. Sorriu, me encorajando. – Por que não leva a Rach para dar uma volta pela escola?

      Arregalei os olhos e observei toda a cantina. Tentando pensar numa ótima desculpa para escapar do passeio. Ele parecia tão arrogante e confiante que me dava ânsia de vômito.A algumas mesas de distância de nós, um garoto de cabelos um pouco acima da orelha e óculos de aro grosso e preto lia “O Morro Dos Ventos Uivantes” e parecia muito concentrado. Estava sozinho e vestia roupas simples e largas. O fitei com interesse, sentindo-me sendo puxada para aquela solitária mesa. Me levantei em um impulso e olhei com ar de desculpa para Mich.

      -Me desculpe, mas eu preciso ir falar com o meu parceiro de laboratório... Estamos meio apressados. Fica pra outra hora. – Sorri falsamente ao garoto amigo de John com expressão de bobo.

       A cada passo, sentia meu coração se apertando. O garoto, que eu iria descobrir que se chamava Brendon, parecia cercado por uma aura de tranqüilidade. Arrastei uma cadeira para se sentar ao seu lado. Ele ergueu o olhar, espantado, depois abriu um sorriso fraco em minha direção e eu retribuí.

      -Oi, sou a Rachel. – Falei simplesmente, estendo a mão para cumprimentá-lo. Ele fez o mesmo, e eu não pude deixar de perceber o quanto suas mãos eram quentes e macias. Sorri mais ainda.

      -Brendon. – E eu senti nossos olhos se encaixarem perfeitamente na vista do outro, e algo em meu estômago fervilhar.

       Foi assim que os meus primeiros anos de vida começaram.