Desde o dia anterior eu não parava de pensar sobre a cena que eu conseguira me lembrar da noite de sábado. Eu sabia que havia algo depois dela que era de extrema importância que eu soubesse. Sempre que podia, fechava os olhos e me concentrava para tentar achá-la. Mas sempre falhava debilmente.

      Brendon continuava me evitando, andando pela escola como se fosse um criminoso. Eu não conseguia conter o nervosismo e a tristeza por tudo aquilo. Por que ele ficara tão estranho de um tempo para cá?

      Depois de apanhar minha bandeja com uma maçã, um suco de maracujá e pão com pasta de amendoim me dirigi ao refeitório. Me sentindo mais sozinha ainda. Olhei para todas as mesas apinhadas de aluno totalmente iguais. O grupo dos skatistas era formado por garotos de camisetas de marca, com calças escorregadas abaixo da bunda – ridiculamente – e bonés de aba reta. Haviam milhares de grupos de garotas populares, quase sempre de cabelos loiros e lisos e brilhantes olhos claros. E, claro, os pares perfeitos para essas garotas, de cabelos penteados com gel em um típico topete mauricinho e camisetas coladas que marcavam seus peitorais definidos. Olhei com nojo para aquele bando de idiotas.

      Finalmente avistei os cabelos dourados sobre a luz do Sol de Michaela. Andei até a mesa de cinco lugares. Ela estava acompanhada de suas duas amigas, Caroline e Sutton.  Caroline tinha cabelo Chanel um pouco mais claro que o meu e sedutores, pequenos e amendoados olhos acinzentados. Sutton tinha cabelos cor de trigo ondulados e olhos castanhos. Todas elas me olharam enquanto me acomodava na cadeira da ponta.

      -E ai Rach! Fiquei sabendo que você se descontrolou na festa da Tracy. Está tudo bem? – Mich disse enquanto sugava o resto de seu suco. Me perguntava como ela descobrira isso.

      -Nem me fale... Ainda bem que o pessoal planejou aquele ataque de latinhas contra o Andrew e o Jack. Eu estou explodindo de raiva. – Respondi frustrada. Peguei a maçã reluzente e dei uma grande mordida. Caroline e Sutton apenas observavam-nos enquanto conversávamos. – Ainda mais porque parece ter acontecido alguma coisa naquela noite que eu não me lembro e Brendon não quer me contar.

      Michaela de repente pareceu aflita e desconfortável. A fitei, desconfiada.

      -Você sabe... – Acusei-a, fazendo um pequeno drama. Ela olhou para mim alarmada. Mas depois de um tempo relaxou, derrotada.

      -Me desculpe Rach. Eu só vi. Mas eu não posso falar nada. Eu prefiro que Brendon te conte. – Respondeu-me. A fuzilei, não exatamente com raiva, mas com um tipo absurdo de frustração. Tudo aquilo estava me deixando muito intrigada, estava a ponto de surtar.

      Continuamos comendo e conversando sobre a festa de sábado, mas o assunto do segredo não fora comentado novamente.

      Era nove da noite. Passara o dia inteiro checando minha caixa de mensagens do celular de cinco e cinco minutos e espiando para ver se Brend não entrava no MSN. Estava tarde e não havia mais nada a ser feito. Coloquei meu pijama de flanela e fui dormir. O sono veio rápido, mas não varrera todos os meus pensamentos.

      -Ah, esqueça... – Eu estava perto de Brendon, sentada em um banquinho de madeira. Ele tinha os braços passados ao redor de meus ombros, sustentando minha cabeça. Passei as mãos pelos seu cabelos. - Você é, sem dúvida alguma, a alcoólatra mais linda do mundo.

      -Heeey... Eu... Eu não sou uma... alcóla... Isso ai... – Ouvi a mim mesma dizer.

      Um silêncio profundo e intenso se alongou pela cena. Os olhos de Brendon não tiravam a atenção dos meus. Pude ver sua íris negra ficar opaca e suas sobrancelhas se juntaram dando um ar sério á ele.

      Senti que ele se aproximava de mim cada vez mais, até que senti seu hálito de cereja e álcool sobre minhas bochechas. Cerrei os olhos e me aproximei mais. Meus lábios se encontraram com o dele que se pressionou sobre os meus. Senti as palmas macias de sua mão segurarem meu rosto e eu também repeti o movimento. Nós nos mexíamos sincronizados. Sua boca era o encaixe perfeito da minha. Por um momento perdi o ar e me alarmei. Me afastei um pouco de seu rosto e o olhei novamente com ternura. Brendon me ajeitou para que eu ficasse com a cabeça apoiada em seu ombro e passou seus braços por trás de mim. E, de novo, só houve silêncio.

      Acordei levantando-me da cama com rapidez. Eu soava e ofegava. Apertei os olhos para enxergar no escuro. Estava em meu quarto e acabara de despertar de um sonho. Normalmente sonhos são apenas pensamentos enquanto dormimos. Mas aquilo parecia tão real... Era como se fosse uma lembrança.

      Uma lembrança perfeita.