As cenas da vida passam à minha frente,

um espetáculo do qual nunca faço parte

por mais que eu me esforce para me integrar.

No fim, as cenas passam, correm, sem eu nunca alcançar.

Frente aos meus olhos uma grande mancha negra

através da qual havia me desacostumado a olhar...

O frio da escuridão arde meus olhos,

nem mesmo assim consigo chorar.

E as cenas... O espetáculo vai acontecendo do lado de fora da minha cela.

Novamente eu a tranco e jogo a chave pela janela.

Ainda é seguro correr para os braços dela,

mesmo que não haja ninguém por lá.

Assim, o borrão cobre totalmente a minha vista.

Também, não me interessa mais olhar.

O que me resta é encolher num canto úmido da minha mente

para manter pelo menos meu corpo aquecido.

Porque o coração...

Ele é apenas uma pedra fria

rachada, prestes a despedaçar.

Na altura dos acontecimentos diferença mínima não fará;

Me apóio então com os dois pés no chão molhado,

terrível dificuldade.

Andar sozinha sem ninguém pra me abraçar

daqui a pouco deixa de ser novidade.

Novamente minha busca na cabeça,

novamente as ilusões,

novamente os amigos que não existem,

novamente reprimindo o desespero...

(26 e 27/09/2002)