Sophie

— Anime-se Sophie — a voz irritante de Ella me fez abrir os olhos. Olhei-a de soslaio. — Vai ser divertido.
— Ah, muito divertido ir a um parque Ella. — revirei os olhos. Diga-me você, que diabo eu iria fazer em um parque de diversões? Eu odeio brinquedos. Odeio aquelas crianças correndo de um lado para o outro atrás da sua vez na fila. Odeio o calor, as pessoas, a comida, até mesmo ir ao banheiro se tornava algo para odiar em parques de diversões. Lembro-me da ultima vez em que fui a um parque. Estávamos de férias de São João — pois é assim que pobre se diverte — em Florianópolis (idéia de Juliet) e havíamos inventado de ir a um parque novo na cidade. Foi à pior experiência da minha vida. Eu vomitei, fiquei com dor de cabeça, perdi meu brinco favorito e ainda por cima tive que ficar ouvindo Char reclamar sobre não servirem saladas. Ah, faça-me um favor, me tire desse carro agora mesmo Deus. Espevitei os olhos pelos quatro cantos do carro e nada. “Obrigada pela ajuda”, pensei chateada. Eu realmente teria de agüentar aquilo outra vez.
— Charlotte, você pode, por favor, tirar os pés de cima do meu colo? — resmungou. — Eu realmente queria chegar limpa até esse tal death num sei lá o que mais lá. — empurrei seus pés. Char estava sorrindo como uma criança de cinco anos. Ela adora parques.
— É Drooping to death — ela disse, obvia. Sorri de lado. Eu usava um jeans apertado, sapatos altos que custaram quase 300 reais, uma blusa de manga cumprida e cola mediana. Será que não poderíamos estragar o solo dos meus sapatos em um shopping ao invés de irmos a um parque estúpido? — É tão fácil de lembrar o nome. — ela bufou.
— Char querida, quando eu quiser sua opinião...
— Sophie Rodriguez! — Juliet gritou do banco da frente. Revire os olhos encostando-me no banco. Amy estava empoleirada em seu canto. Os olhos estavam longe.
— Pensando em Harry? — eu a cutuquei. Amy deu de ombros. Todas estavam apaixonadas. Todas menos Charlotte, é claro. Ela só se preocupava em perder peso, não queria saber de namorados. Observe, eu disse todas. É isso mesmo que você entendeu. Talvez eu esteja gostando de Liam. Mas é só talvez ok! Mordi o lábio ao lembrar-se de como ele ficava lindo quando estava sendo intimidado por mim. Sei que não sou a melhor, e sei que não consigo me relacionar muito bem com as pessoas, mas pelo menos não sou tão sem graça quanto Ella ou tão desastrada como Juliet. De repente estávamos parados. Lá se vai meu salto de 300 reais naquele chão sujo. Enquanto caminhávamos pude notar a quantidade de crianças ali. Elas estavam por toda a parte. Eu não suporto crianças! Sou filha única e graças a Deus. Sentamos em um banco para dividir os ingressos.
— Quero ir à montanha-russa. — Charlotte praticamente gritou.
— Mas você tem medo de altura. — Ella a encarou. — Não acha melhor ir em outro brinquedo?
— Não! Eu quero ir à montanha-russa. — ela resmungou. Parecia um bebê. Eu ri. — Juliet segura minha mão. Certo Julis?
— Ela tem escolha? — Amy disse e todas nós rimos. — Porque não vamos todas na montanha e depois vamos a outro?
— Todas nada, eu vou ficar sentada bem aqui. — bati os pés no chão. — Não vou gastar meu sapato nesse chão nem morta.
— Então porque você veio? — Ella cruzou os braços.
— Deixa eu ver...PORQUE VOCÊS ME OBRIGARAM. — mostrei a língua.
— Depois eu que sou a chata. — ela mostrou-me a língua de volta. Sorri irônica.
— Tudo bem. — Juliet deu de ombros. Não parecia se importar pela minha falta de interesse no passeio. Aposto que ela estava triste, pois não havíamos convidado os meninos. Na verdade Char havia sido muito clara quando gritou “não chame os meninos”. Não é que ela não gostasse dos meninos, ela só queria passar um tempo com as meninas. Eu até que entendia ela. Também queria isso, mas minha idéia de diversão era bem diferente das delas. Juliet disse que era para ligar se precisasse de algo. Lá vem ela dando uma de mãe pra cima de mim. Eu estava salva do chão sujo, das crianças, das filas, dos brinquedos. Isso que importava. Vou apenas curtir a vista e deixar rolar. É!

Juliet

Deixamos Sophie sozinha, espero que um louco venha e a ataque nesse parque para ela ver como é bom não acompanhar as amigas em um passeio como aquele. Ok, mentira, não precisa disso tudo. Entramos na fila da montanha russa — que por sinal estava gigante. Essas crianças estão radicais demais — e ficamos esperando. Amy e Ella iam em um carrinho e eu e Char íamos em outro, porque Char tem medo de altura e montanhas russas são altas — óbvio Juliet.

No caminho do hotel até aqui, as meninas ficaram enchendo meu saco falando que eu fiquei triste quando Char me proibiu de chamar os meninos. Elas são idiotas, acham que eu iria ficar triste com isso? O que eu mais gosto é passar um tempo com as minhas melhores amigas, apesar de que passamos todo tempo juntas. Nossas mães haviam ligado para nós quando a mãe de Amy fez o favor de avisá-las que nós éramos um dos assuntos mais comentados do Twitter e que subiram uma tag contra mim. Minha mãe realmente fez um teatro ótimo porque ela quase me convenceu de que estava preocupada comigo, mas é claro que lembrei que aquela era a minha mãe, a mãe que não ama sua filha. Lembrei da conversa que tive pelo telefone com ela:

— Juliet, volte pra casa agora! — gritava.

— Acha mesmo que eu vou voltar? — eu ri irônica. — Pois fique sabendo que só vou voltar quando essas duas semanas acabarem, não me espere tão cedo pra chegar nesse inferno que você chama de casa.

— E ser odiada nesse Twits não é um inferno? Aliás, você tá namorando esse Z... Alguma coisa, não está? — ela fez muitas perguntas, eu odeio isso.

— É Twitter mãe. — suspirei fechando os olhos. “Se controla Juliet”, pensei. — E não, não é um inferno ser odiada no twitter até porque to pouco me fodendo para o que essas Directioners malucas acham de mim. — eu sorri, dando de ombros em seguida. — Não mãe, eu não estou namorando o ZAYN. — minha voz se elevou ao falar o nome dele.

— Juliet, você tá bem mesmo? — minha mãe deveria ser atriz, porque ela pareceu mesmo estar preocupada comigo.

— Mãe, desde quando você se preocupa comigo? Desde nunca, né? Por que você não tá cuidando do seu filho querido, chamado Lucas? Aliás, fale pra ele que estou morrendo de saudades dele, está bem? — meu irmão era o único ser com quem eu não brigava naquela casa, minha mãe pode até gostar mais dele, pode me comparar a ele, mas ela nunca vai estragar essa amizade que eu tenho com o meu irmão. Tudo fica mais alegre quando ele está por perto e tenho certeza que ele vai tirar muito da minha cara com essa história de Zayn Malik e One Direction quando eu estiver de volta. Saudades daquela mala! — Olha mãe, to muito ocupada agora, ok? Tchau. — e desliguei na cara dela.

Alguns gritos me tiraram da repentina lembrança, pensei que era alguma criança, mas eram as meninas me chamando pra entrar no carrinho da montanha russa. Quando eu ia subir as escadas pra chegar à montanha russa, eu tropecei e só não caí de boca no chão porque fui ágil o suficiente pra colocar a mão na frente. Ouvi risos histéricos vindo da fila, mas não liguei até porque com certeza eram crianças.

Char segurou com força a minha mão — quase a quebrou. Suspirei. Sentamos em nossos carrinhos e esperamos todos os acentos serem verificados. Aqui as coisas são tão profissionais que chega a dar inveja. Logo estávamos subindo lentamente. Char agarrou minha mão com força.

— Calma Char. — falei soltando minha sua mão. — É só uma montanha russa e... — ela começou gritar porque o carrinho começou a cair. Ok, até eu havia ficado com medo no inicio, pois o trilho era muito alto.

Eu ria que nem uma retardada porque não há nada mais engraçado no mundo do que ver Char com medo. Ela sempre se faz de durona e foi ela que quis ir na montanha russa, mas quando o assunto é altura, ela parece uma criança de sete anos por causa do medo.

A montanha russa demorou no máximo três minutos. Uma coisa que eu não gosto em parques de diversões lotados: nós ficamos mais tempo na fila do que no brinquedo. Char estava pálida — mas do que ela já é — e eu novamente tive ataques de risos. As pessoas me encaravam porque tecnicamente era pra eu estar preocupada com Char, mas eu já a vi ficar assim tantas vezes que agora nem me preocupo mais.
Quando voltamos para o lugar que Sophie estava, nós tivemos um pequeno susto: ela não tava mais lá.
“Onde será que fica o algodão doce?” perguntei a mim mesma. Sophie é viciada em algodão doce e ela com certeza deve ter ido comprar um, dois ou até três. Saí procurando pelo parque desesperada, será que minha idéia de um louco atacar a Sophie deu certo? Santo Deus! Eu só estava brincando.

Nós a achamos na barraca de algodão doce — assim como eu tinha previsto.

— Graças a Deus! — Amy disse.

— O que foi? — Sophie perguntou confusa.

— Nós achamos que você havia sido atacada por um louco. — falei. Na verdade só eu pensei nisso.

— Mas é claro que não! Parem de ser bobas. — Sophie riu — A gente pode ir embora agora? Porque se vocês não sabem esse sapato está me matando! — ela resmungou.

— NÃO! — todas nós gritamos juntas. — Quem mandou vir como se tivesse indo pra um desfile de moda? Saiba que estou muito confortável com o meu Vans. — falei. Eu estava com uma camiseta do Ramones cor vinho, uma calça jeans rasgada e um Vans cor vinho também.

Sophie reclamou mais algumas vezes, mas nós a ignoramos. Se divertir, era isso que nós íamos fazer o dia inteiro.